08_ Foi um sinal!
A aula de ballet se seguia no seu mesmo ritmo. Músicas lentas e clássicas tocavam, bailarinas segurando suas mãos esquerdas nas barras estavam espalhadas por toda a sala, a professora ditava os passos enquanto analisava cada detalhe da postura de cada uma ali.
ㅡ Quando vamos falar do sinal? ㅡ Íris perguntou. Ela estava do outro lado da minha barra, praticamos de frente para mim.
ㅡ Que sinal? ㅡ Tentei não fazer uma careta, já que a professora olhou para mim no mesmo instante. Fiz o plie acompanhando o movimento da mão com o rosto para disfarçar.
ㅡ Da estrela. ㅡ Ela respondeu. Dessa vez não escondi a careta e a encarei.
ㅡ Ta bem, Íris? Ta falando do que? ㅡ Segui a coreografia.
ㅡ Você disse que pediu pra uma estrela cadente ontem que aparecesse alguém que gostasse de você ou algo assim e o Trevor apareceu. ㅡ Ela também seguiu a coreografia enquanto falava. ㅡ Se isso não é um sinal claro, eu não sei o que é.
ㅡ Sinal? ㅡ Segurei a risada. ㅡ Ta me zoando, né?
ㅡ Eu não.
ㅡ Acredita mesmo nessas coisas? ㅡ Arqueei uma sobrancelha.
ㅡ Ei, ei, não foi eu que rezei pra uma bola de gás! ㅡ Virei o rosto para o outro lado para rir.
ㅡ Eu estava chateada e vulnerável, isso não conta. ㅡ Parei de falar quando a professora passou por nós. Ela ajeitou o arco do meu braço e a postura da Íris, logo depois voltou a caminhar pela sala. ㅡ E não, não acredito nessas coisas. Muito menos que tenha sido um sinal.
ㅡ Eu acho que foi. Vai me dizer que não achou o Trevor bonitinho? ㅡ Ela fez uma onda com a sobrancelha. Juro, eu não tenho ideia de como ela consegue fazer aquilo, mas ela simplesmente faz uma onda!
ㅡ Ele é muito bonito. ㅡ Assenti. ㅡ Mas não é o primeiro cara bonito que vejo. Sem contar que o último " bonitinho " que conheci faltou me pisar. ㅡ Balancei a cabeça. ㅡ Não quero saber de nada disso por um bom o ótimo tempo. Não tem nem 24 horas que levei um fora, me deixa... Respirar.
ㅡ Não to te empurrando um cara, só estou curiosa com essa coisa de estrela. Achei uma coincidência e tanto. ㅡ Fizemos o developpé. ㅡ Mas, isso não importa muito. Como você mesmo disse, não tem nem 24 reais que levou um fora, o que me faz lembrar que eu planejava te chamar para ir no parque de diversões hoje.
ㅡ Tem um parque na cidade?
ㅡ Como você não soube? Está na Bela vista, perto da sua casa! Eu que moro lá na casa do cacete já estava sabendo. ㅡ Fiz uma careta tentando me lembrar se havia ouvido algo sobre. ㅡ Eles abrem de terça à domingo, ou seja... ㅡ Ela sorriu.
ㅡ Tem brinquedos bons? ㅡ Perguntei apenas por curiosidade, mas eu sabia que iria. Eu era apaixonada por parques de diversões.
ㅡ Ouvi dizer que tem o Kamikaze, um samba que você fica em pé, barca e esses básicos. Eu sei que vou passar mal, mas quero ir em todos. ㅡ Senti uma ponta de animação brotar no meu peito. ㅡ Que horas você sai da cafeteria?
ㅡ Depende do movimento, mas acredito que umas dez. Ou, posso tentar pegar mais cedo de eu me apressar. ㅡ Tentei calcular as horas na minha cabeça sem me desconcentrar dos passos que estávamos fazendo. ㅡ Se eu sair daqui assim que essa aula terminar, posso pegar quatro e meia e sair oito e meia.
ㅡ Ótimo. Te encontro lá. ㅡ Terminamos a sequência e fomos para o centro da sala para fazer a reverência.
[...]
ㅡ Me diz que você bateu nele.
ㅡ Eu não bati nele. ㅡ Ri passando um pano no balcão da cafeteria.
ㅡ Ah, que isso, Sophia? Nem um tapinha do rosto? O cara foi um idiota! Eu teria acabado com ele na frente da namorada dele. ㅡ Ri novamente balançando a cabeça enquanto Carol ficava mais indignada com Nicolas do que eu. ㅡ Primeiro que já foi errado da parte dele te chamar para sair quando ia levar a namorada.
ㅡ Ele não me chamou para sair. Ele disse que tinha ingresso sobrando e perguntou quem gostava de rap. Poderia ter sido qualquer um a ir com ele. Ele nunca me chamou para sair. Eu quem fiquei me iludindo. ㅡ Ela deu com os ombros.
ㅡ Ta, mas não tinha a menor necessidade dele ter dito aquilo depois. Enfim, eu teria socado ele. ㅡ Um cliente entrou na cafeteria e ela ergueu o corpo que estava apoiado no balcão e foi até ele.
Encarei a tela do meu celular e sorri quando vi que faltavam três minutos para que eu pudesse sair, então já fui para a parte de trás.
ㅡ Ta, eu vou tentar. ㅡ A primeira pessoa que vi lá dentro foi a outra funcionária que eu quase matei na segunda-feira. Ela tinha chegado tinha meia hora para cobrir seu expediente. ㅡ Ah, Sophia... ㅡ Ela virou o rosto para mim e sorriu. Tenho certeza que minha expressão foi de suspeita. ㅡ Preciso que cubra meu expediente hoje.
ㅡ Não dá. ㅡ Falei da maneira mais breve e decidida possível. Abri o meu armário para pegar minha roupa.
ㅡ Que? ㅡ Por um momento ela pareceu realmente desacreditada, como se estivesse certa de que eu diria sim.
ㅡ Eu tenho um compromisso, não posso. ㅡ Segui desdobrando as roupas que estavam no armário.
ㅡ Eu também tenho um compromisso, por isso preciso que cubra meu expediente para mim. Amigas fazem isso. ㅡ Parei o que estava fazendo e a encarei. Ela não podia estar falando sério.
ㅡ Eu cheguei aqui tem quatro horas. Vim mais cedo justamente para poder sair mais cedo. Por que não fez o mesmo se tinha um compromisso importante? Ou, por que não avisou a alguém?
ㅡ Ai, porque só fiquei sabendo do compromisso agora. Por favor, Sophia!
ㅡ O que está acontecendo aqui dentro? Os clientes ficam no salão, não aqui. ㅡ A chefe entrou já no seu tom de bronca diário.
ㅡ Meu expediente terminou. ㅡ Falei com calma. Ela olhou no seu relógio de pulso e assentiu. Logo depois focou seus olhos na garota.
ㅡ Eu tenho um compromisso importante e queria que a Sophia me cobrisse, mas pelo visto ela não quer. ㅡ A garota se sentou.
ㅡ Que compromisso? ㅡ A chefe perguntou.
ㅡ Um aí... ㅡ Ela disfarçou.
ㅡ Não pode fazer esse favor para ela, Sophia? ㅡ Encarei a minha chefe.
ㅡ Eu até poderia se não fosse hoje. Eu também tenho um compromisso e por isso vim mais cedo. Já expliquei isso a ela.
ㅡ E quem é você para achar que seus compromissos são mais importantes que os do outros? ㅡ Como é??
Fiquei encarando a chefe sem acreditar no que ela havia dito, mas não ousei abrir a boca e acabar perdendo o emprego.
ㅡ Pode ir. ㅡ Ela disse olhando para a outra funcionária. ㅡ Parece que a Sophia precisa aprender que somos uma equipe e que temos sempre que nos apoiar. ㅡ Ela me deu um último olhar e saiu da li.
A garota saiu sorrindo logo depois e eu continuei ali com a minha expressão desacreditada.
Mano! A garota tinha chegado tinha meia hora e nem a roupa tinha colocado ainda pois estava aqui atrás mexendo no celular! O que deu nessa mulher para apoiar tanto essa garota??
Quis chorar de raiva, mas me segurei e guardei a roupa de volta no armário. Saí para o salão e me coloquei atrás do balcão. Puxei o celular já pronta para mandar uma mensagem para Íris cancelando tudo.
ㅡ Ei? ㅡ Carol chegou perto de mim com umas comandas na mão. A outra funcionária passou por nós, deu um tchau com um sorriso e saiu da cafeteria. ㅡ Por que ela está indo embora? Ela chegou agora! ㅡ Carol voltou a me olhar. ㅡ E por que você ainda está aqui? ㅡ Só com o meu olhar ela já entendeu. ㅡ Que cretina! ㅡ Sussurrou perto de mim para que os clientes não ouvissem. ㅡ O que aconteceu?
Contei toda a situação que aconteceu lá atrás para ela e ela só faltou querer correr atrás da garota na rua.
ㅡ Por que a chefe mima tanto aquela garota? Ela trabalha com mau gosto, faz tudo errado e ainda assim é a que ela trata melhor! ㅡ Cruzou os braços indignada. ㅡ Quer saber? ㅡ Ela puxou o celular da minha mão me impedindo de continuar a mensagem para Íris. ㅡ Vai, eu cubro você.
ㅡ O que? Não, Carol! Você vai ficar aqui sozinha?
ㅡ O movimento não está lá grande coisa e eu com aquela garota seria a mesma coisa de eu estar sozinha. ㅡ Ela segurou meus ombros e me direcionou para a parte de trás. ㅡ Você merece descansar e se distrair. Não se preocupe com o trabalho aqui.
ㅡ Você tem certeza?
ㅡ Tenho, pode ir. ㅡ Ela sorriu. Sorri para ela e concordei.
Me senti grata por ter uma amiga como a Carol e já comecei a pensar numa maneira de recompensa-la. Troquei a minha roupa, soltei o meu cabelo, peguei a bolsa e saí da cafeteria antes que visse a cara da chefe de novo.
Encarei a rua repleta de lojas abertas, carros passando, postes acesos e pessoas andando para lá e para cá. Não sei porque, mas sempre gostei mais de andar no centro a noite do que de dia.
Fui andando na direção da Bela vista e já sorri quando ouvi os gritos e a música provenientes do parque.
Não demorei a enxergar Íris parada na frente da entrada olhando de um lado para o outro.
ㅡ Gente, eu não vou naquele brinquedo, não! ㅡ Me assustei quando uma garota praticamente gritou no meu ouvido enquanto eu caminhava pela calçada na direção de Íris.
ㅡ Quase deixou a menina surda, Perola! ㅡ Uma outra garota disse e a tal Perola se desculpou comigo.
ㅡ E eu me sinto abençoado... ㅡ Um cara passou cantando junto com eles.
Ri deles e encontrei Íris. Nós nos abraçamos e entramos no parque. Me senti empolgada de novo e respirei fundo antes de seguir com ela para a fila de um dos brinquedos.
•••
Continua...
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