04_ Um dia incrível
Assisti um filme de terror ontem a noite e acordei com um pesadelo. Pelo menos acordei na hora.
Fiz tudo o que costumava fazer nas minhas manhãs ansiando a hora de ir para o estúdio. A CA era como minha segunda casa, talvez a primeira, já que passo mais tempo lá do que na minha própria casa, cresci naquele lugar e conheço praticamente todo mundo, então sempre ficavam ansiosa para estar lá. E é claro que o fato de termos um aluno misterioso dando aula hoje ajudava na minha ansiedade, sem contar que eu queria ver o Nicolas; passei a manhã inteira cantarolando pela casa feliz porque vamos sair hoje a noite.
Enfim, o dia tinha tudo para ser incrível.
Após me arrumar e sair de casa, recebi uma mensagem da minha mãe me pedindo para passar na casa dela a tarde, pois tinha feito empadão. Ela sabe que amo empadão.
Ta vendo, o dia já está sendo incrível.
Caminhei calma e animadamente até chegar na CA. O dia era de sol, assim como ontem, estava muito calor e novamente agradeci por ficar numa sala com ar condicionado. Eu sou muito calorenta e quase morro no verão.
ㅡ E aí, Sosô. ㅡ Foi o que Kevin disse quando parei perto dele. Ele estava enchendo um copo descartável no bebedouro.
ㅡ Já descobriu algo? ㅡ Puxei a garrafa da mochila e abri a tampa para enche-la quando ele terminasse.
ㅡ Sobre o aluno que vai dar aula? ㅡ Assenti. Ele se afastou do bebedouro para que eu pudesse usar e deu um gole na água. ㅡ Não, não ouvi nem vi nada. Acho que isso é tudo caô de Mônica.
ㅡ Eu criei super expectativa com relação a isso, espero que você esteja errado. ㅡ Ele riu e acenou para alguém que entrava. Virei-me para olhar e vi Íris empurrando a porta de vidro e entrando com a sua careta de desânimo diário. Ela sorriu apenas quando nos viu. ㅡ Você, como sempre, muito feliz de estar aqui.
ㅡ Óbvio, eu amo esse lugar. ㅡ Disse a frase inteira entre dentes com o sorriso mais falso que já vi.
ㅡ Me fala uma coisa que você ama de verdade. ㅡ Kevin cruzou os braços.
ㅡ Harry Styles. ㅡ Ela sorriu.
Ri fechando a minha garrafa, mas paramos de falar quando um grupo de bailarinas passou por nós, quem estava na frente era a garota que pensa que todos gostam dela.
ㅡ Boa tarde... ㅡ Kevin sorriu para ela, mas levou um vácuo e um revirar de olhos. As garotas apenas seguiram e viraram o corredor.
ㅡ Nesse momento ela está espalhando para todo mundo que você é super apaixonado por ela e ela te deu um fora. ㅡ Íris disse balançando a cabeça para ele.
ㅡ Não ligo, ela é gata. ㅡ Ele sorriu de novo. Dessa vez quem revirou os olhos foi Íris, seguido de um tapa que o fez correr dela e ela atrás dele. Ri dos dois e dei uns passos para seguir na direção deles, mas parei quando alguém tampou meus olhos com suas mãos sem dizer nada.
Com a mão que não segurava a garrafa, toquei a mão tentando identificar quem era.
ㅡ Paulo? Júnior? Yago? ㅡ Chutei nomes aleatórios de pessoas que nem conheço e ouvi sua risada. ㅡ Nicolas! ㅡ Ele me soltou e apareceu ao meu lado com um sorriso vestígio da risada que deu.
ㅡ Animada para hoje a noite? Porque eu estou. ㅡ Ele ajeitou a mochila nas costas e caminhou comigo.
ㅡ Muito! ㅡ Sorri. ㅡ Nunca fui a um show de rap, apesar de gostar bastante.
ㅡ Eu não sabia mesmo que você gostava de rap. Que rappers gosta de escutar?
ㅡ Gosto muito do Wiz Khalifa, mas também ouço August Alsina, Kevin Gates, Nicki Minaj e alguns coreanos que você não deve conhecer. Mas, acho que não ouço nenhum rapper brasileiro, tirando os raps de anime. Escuto muito 7 minutoz. ㅡ Entramos no elevador que estava sendo segurado por Kevin.
ㅡ Eu também ouço muito eles! ㅡ Nicolas sorriu. ㅡ O rap do Gaara é brabo demais.
ㅡ Da Akatsuki também. Já ouviu o do Minato? Do Itachi? ㅡ Entramos no elevador.
ㅡ Pow! É muito bom! Dia dez de outubro... ㅡ Ele começou a cantarolar um verso do rap do Minato.
ㅡ Foi quando meu filho nasceu... ㅡ Cantarolei junto com ele e rimos no final. Acho que aquele foi o meu primeiro " momento " com ele que conversamos como se realmente fôssemos amigos, geralmente nossas conversas são apenas sobre dança durante as aulas de dança.
ㅡ Nossa, vocês são um horror. ㅡ Íris fez uma careta e nós dois rimos de novo. ㅡ Pelo menos você encontrou alguém que entenda disso para conversar. ㅡ Disse olhando para mim e logo depois fitou Nicolas. ㅡ Geralmente ela fala comigo, mas nunca assisti um episódio de anime na vida.
ㅡ Nunca mais fale comigo! ㅡ Kevin colocou a palma da mão aberta na frente do rosto dela.
ㅡ Como se eu fizesse muita questão de falar com você né, seu animal! ㅡ Ela deu um tapa na mão dele.
ㅡ Nós que somos um horror? ㅡ Nicolas cruzou os braços e arqueou uma sobrancelha. Os deram de ombros segundos antes da porta da do elevador se abrir.
Saímos de dentro dele e já entramos em nossa sala, que era a primeira porta do corredor, bem na frente do elevador.
ㅡ E aí? Quem é o aluno que vai dar aula hoje? ㅡ Kevin perguntou para cerca de onze alunos que estavam ali dentro se alongando.
ㅡ Ninguém sabe ainda. ㅡ Um deles respondeu.
ㅡ E não vão saber hoje. ㅡ Mônica entrou na sala logo atrás da gente. ㅡ Sei que estavam super curiosos para saber quem daria a aula hoje, mas ele não pôde comparecer, só virá amanhã. ㅡ O brilho de todo mundo sumiu na hora.
ㅡ Criei teorias atoa. ㅡ Kevin se jogou no chão. ㅡ Espera! Se for alguém daqui, é só ver quem faltou hoje. ㅡ Mônica cruzou os braços e encarou o garoto como se ele fosse patético.
ㅡ Não faltou ninguém hoje. ㅡ Nicolas disse após olhar ao redor da sala.
ㅡ Quer dizer que não é ninguém da nossa turma. ㅡ Kevin coçou o queixo. ㅡ Então, voltamos a estaca zero.
ㅡ Parem de bancar os detetives e vamos começar a aula. ㅡ Ela foi na direção da caixa de som para conectar o seu celular, mas olhou para nós com os olhos apertados. Conhecíamos bem aquele olhar, e significava que ela estava escolhendo um de nós para alguma coisa. Sabendo que era isso, metade da sala se escondeu atrás do colega que estava ao lado. Ninguém gostava de ser escolhido para nada quando se tratava da aula dela. ㅡ Sophia. ㅡ Eu não costumava me esconder, não gostava de parecer covarde. Eu até poderia ser em outras questões, mas na dança não. ㅡ Demonstre a coreografia.
Assenti e pude ver o alívio no rosto dos outros alunos por não terem sido escolhidos. Demonstrar a coreografia nada mais era que dançar a música sozinha para mostrar ao pessoal o que estávamos aprendendo e relembra-los. Geralmente o professor quem faz isso, mas quando dá na cabeça dele, ele pode escolher um aluno.
A música começou a soar, os alunos se sentaram encostados no espelho e eu comecei a dançar. Era desconfortável demonstrar uma coreografia, porque, geralmente, era uma coreografia que não aprendemos totalmente ainda, então tenho grandes chances de errar. Mas, ao mesmo tempo, era legal pois enquanto eu dançava, o resto do pessoal reagida gritando e torcendo por mim.
[...]
ㅡ Seu boy ta vindo aí, vou meter meu pé antes que o Kevin apareça. Me liga mais tarde para contar como foi! ㅡ Íris acenou e eu olhei para trás. Estava na porta da CA quando vi Nicolas vindo mexendo no celular.
ㅡ E aí? ㅡ Ele parou ao meu lado e guardou o celular no bolso. ㅡ Me encontra na pracinha as 19h30? ㅡ Concordei de imediato. ㅡ Te vejo a noite, Sophia. ㅡ Sorriu e seguiu pela calçada.
Hoje não tinha ballet, então pude ir para casa mais cedo. Ainda era dia quando peguei um caminho diferente, pois tinha que passar na casa dos meus pais.
ㅡ Mãe? ㅡ Abri a porta da sala já dando de cara com a televisão ligada no máximo com o YouTube aberto. O vídeo que passava tinha o título músicas gospel 2022. O engraçado era que tava tocando músicas que eu cresci ouvindo minha mãe cantar pela casa.
ㅡ Vou passando pela prova dando glória a Deus... ㅡ Encontrei minha mãe na cozinha cantando.
ㅡ Mãe? ㅡ Me aproximei dela.
ㅡ Ah, oi, Sophia! ㅡ Me deu um abraço. ㅡ Tudo bem? Você veio nesse sol? Ta maluca?
ㅡ Não tá não tão sol. ㅡ Encarei a coxinha repleta de panos e crochês por todos os lados. ㅡ Cadê o pai?
ㅡ Tá cortando cana lá fora. ㅡ Indicou o quintal de trás com queixo. ㅡ BETO! ㅡ Gritou. Fiz uma careta, mas acabei rindo. Acho que o motivo da minha casa ser tão silenciosa e calma, é porque cresci nessa confusão. ㅡ SUA FILHA TA AQUI! VEM FALAR COM ELA!
Meu pai apareceu na porta da cozinha com um pote cheio de pedaços de cana cortados e descascados.
ㅡ Oi, Sophia. ㅡ Ele me abraçou após deixar o pote em cima da mesa. ㅡ Como é que você está?
ㅡ To bem. ㅡ Puxei uma cadeira da mesa e me sentei. ㅡ E vocês? Está tudo bem por aqui?
ㅡ Ontem acabou a luz, tivemos que jantar com luz de velas. ㅡ Minha mãe comentou.
ㅡ Ah, isso é romântico. ㅡ Ri.
ㅡ Falando em romântico, quando você vai trazer um rapaz aqui para conhecermos? Já está na idade. ㅡ Minha mãe sorriu.
ㅡ Está? ㅡ Meu pai fez uma careta.
ㅡ Na verdade... ㅡ Me ajeitei na cadeira. ㅡ Eu meio que vou sair com um cara hoje. ㅡ Não tive ideia de como seria a reação dele. Nunca fui uma garota muito namoradeira, sempre fui muito ocupada. Então, nunca apresentei um namorado para eles ou se quer falei que sairia com alguém.
ㅡ Oh, é mesmo? ㅡ Minha mãe largou tudo o que estava fazendo e se sentou na cadeira mais próxima. ㅡ Me fale tudo dele.
ㅡ Ah... Ele é legal, é bonito, dança demais, somos do mesmo estúdio. ㅡ Falei tudo com um sorriso bobo. ㅡ Vamos a um show hoje. Eu não sei se ele gosta de mim, então to tentando não criar expectativas, mas é difícil.
ㅡ Ah, é claro que ele gosta de você! Quem não gostaria? ㅡ Ela falou como se eu fosse uma pessoa que tem uma fila correndo atrás.
ㅡ Bem... Talvez eu descubra hoje. ㅡ Dei com os ombros. Meu pai não disse nada sobre, mas acho que isso é coisa de pai. Sem contar que ele nunca foi muito bem em falar abertamente sobre as coisas.
Minha mãe voltou a fazer o que estava fazendo antes e disse que já já me daria um pedaço do empadão. Meu pai voltou a cortar cana e eu abri o Pinterest para procurar inspirações de outfits. Eu estava, literalmente, pensando na roupa que eu sairia com o Nicolas. Nunca pensei que esse dia chegaria.
•••
Continua...
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