03_ O caos de uma cafeteria
ㅡ Hi... ㅡ Ele observou o cardápio e eu me repreendi por estar encarando ele com tanta admiração. Parecia até que nunca tinha visto um cara bonito na vida. ㅡ I'm not sure... Do you recommend anything? ㅡ Ele perguntou, de uma maneira estranha, admito. Sua pergunta geralmente soaria gentil e convidativa, mas ele estava sério e parecia sem paciência. O que me trouxe um pensamento idiota à mente de como ele seria sorrindo, devia ser mais bonito ainda.
ㅡ Our cafeteria is known for its great cheese breads. ㅡ Apontei para o menu em sua frente indicando a imagem e legenda do pão de queijo, imaginei que ele não conhecesse por não ser brasileiro.
ㅡ Okay, I will want to try it. ㅡ E assim ele voltou a encarar o celular sem mudar sua expressão de desagrado em momento algum.
ㅡ Something to drink? ㅡ Anotei o pão de queijo na comanda.
ㅡ Only sparkling water. ㅡ Concordei com a cabeça e saí de perto da mesa após marcar a água com gás na comanda. Me aproximei do balcão com um sorriso no rosto que Carol logo entendeu.
ㅡ Ele é bonitão, né? ㅡ Ela sussurrou.
Abri o vidro, puxei um dos pães de queijo, que eram grandes demais, na minha opinião, coloquei num prato e pus na bandeja.
ㅡ Muito. ㅡ Concordei com ela abrindo a geladeira e puxando uma água com gás. ㅡ Mas parece estar num dia ruim. ㅡ Coloquei a garrafa na bandeja ao passo que ela colocou um copo de vidro com gelo.
ㅡ Se ele quiser, eu melhoro o dia dele. ㅡ Ela sorriu arqueando e abaixando as sobrancelhas. Ri dela e voltei à mesa do rapaz.
ㅡ Here it is. If you need anything else, just call. ㅡ Deixei a comida em sua mesa e saí após não receber nenhuma resposta.
As horas foram se passando e a cafeteria foi enchendo. Carol foi embora assim que seu expediente acabou e eu me vi sozinha com a outra funcionária que não gostava do trabalho, dos clientes e nem de mim. Ou seja... Eu estava lascada.
Em meio ao corre corre de serve pedidos, cobra a conta do cliente, ouve reclamação, conserta algo que a outra funcionária fez errado, limpa mesas e ouve a chefe gritando, me encontrei encostada no balcão tentando recuperar o fôlego.
Meus pés ainda estavam doendo da aula de ballet, e correr pelo salão de mocassim não era a coisa mais confortável do mundo.
ㅡ Eu não te pago para ficar parada. ㅡ A chefe parou ao meu lado. Olhei para ela ainda com a respiração irregular e fiz o possível e o impossível para não revirar os olhos.
Um dos clientes estalou os dedos chamando nossa atenção e eu não tive escolha a não ser apertar o avental na cintura e ir até ele.
ㅡ Em que posso ajuda-lo? ㅡ Perguntei ao notar que tanto ele quanto as outras duas pessoas da mesa já tinham pedido e e seus pedidos já estava na mesa.
ㅡ Eu não pedi isso. ㅡ Apontou para seu próprio prato que continha uma panqueca salgada que parecia ser de peito de peru.
ㅡ Desculpe, mas quem anotou o pedido do senhor? ㅡ Ele apontou para a outra funcionária que estava parada na porta do restaurante olhando lá para fora. ㅡ O senhor pode me dizer o que realmente pediu para que eu possa trazer? ㅡ Retirei o seu prato.
ㅡ Pedi de lombo suíno. ㅡ Assenti e me afastei voltando ao balcão.
ㅡ Qual o problema? ㅡ A chefe perguntou após notar que eu voltei com uma panqueca intocada.
ㅡ Pedido errado. ㅡ Indiquei a garota parada na porta com os olhos e a chefe apenas revirou os olhos votando para a cozinha. Jeito dela dizer que era meio que minha responsabilidade chamar a atenção da garota. O problema é que eu já estava cansada de chamar a atenção dela, sem contar com o deboche que ela fica sempre que faço isso.
Devolvi o pedido à cozinha e expliquei a situação. O cozinheiro reclamou e xingou uns cinco palavrões. Voltei para o salão antes de ouvir o sexto e passei direto para a porta.
ㅡ Pedido errado de novo. ㅡ Foi tudo o que eu disse, pronta para voltar a atender os clientes.
ㅡ Ah, me poupe! ㅡ A garota, literalmente, gritou. Olhei para ela devagar com os olhos arregalados, desacreditada que ela tinha gritado e atraído a atenção da maioria dos clientes.
Virei-me para as pessoas, pedi desculpas com o sorriso mais simpático que consegui e puxei a garota para a calçada, fora da visão das pessoas.
ㅡ Qual o seu problema? ㅡ Fiz uma careta. Ela apenas revirou os olhos e encarou a rua já não tão movimentada.
ㅡ Eu não tenho nenhum problema, para de pegar no meu pé. ㅡ Respirei fundo para não respondê-la com a mesma ignorância.
ㅡ Olha, eu não sei o que você tem passado e nem o motivo de você trabalhar aqui, mas se existe um motivo, eu espero que você se lembre bem dele, porque vai perder o emprego se continuar com essa atitude. Já é um saco trabalhar aqui, se ficar dificultando as coisas, vai ser pior. ㅡ Ela me encarou. ㅡ Eu to cansada de arcar com as consequências das coisas que você faz de qualquer jeito, a partir de hoje, se você levar o que fazemos aqui na brincadeira, eu não vou mover um dedo para consertar nada. ㅡ Ela continuou me encarando. ㅡ Agora entra lá e faz o seu trabalho, ou pede a merda da demissão logo.
Esperei que ela entrasse batendo o pé e toquei minha cintura. Eu costumava ser compreensível com as pessoas, costumava tentar entender o lado e tudo mais, mas cansei de tentar entende-la e ela continuar tratando tudo e todos ali como chacota.
Após sentir que meu sangue já não estava mais fervendo, passei a mão por meus cabelos e voltei para a cafeteira.
[...]
ㅡ Arg... ㅡ Passei a mão na testa ao notar que já estava quase na hora de fechar a lanchonete. Só haviam duas mesas ocupadas, um com um casal e uma com um... Não! Ele ainda estava aqui??
ㅡ Você fecha, né? Brigada! ㅡ A garota saiu do restaurante após lançar seu avental sobre o balcão. Fiz o que pude para não joga-lo de volta na cabeça dela.
O casal acenou indicando que queriam a conta e eu fui até eles. Eles pagaram, agradeceram, deixaram uma gorjeta, o que não costuma acontecer muito, e saíram da cafeteria, fazendo assim o tal gringo ser o único presente no salão. Eu fiquei tão ocupada durante o expediente que nem ao menos notei que ele ainda estava ali, provavelmente estava trabalhando, já que mexia num notebook.
ㅡ A chefe tinha que ter uma conversa séria com essa garota. ㅡ O cozinheiro apareceu na porta da cozinha com uma expressão cansada. ㅡ Bem... ㅡ Deu um tapa na ombreira da porta. ㅡ Temos que fechar, avise a ele que a cozinha já fechou.
Assenti e tirei o meu avental. Passei a mão por meu cabelo novamente tentando amenizar os fios bagunçados e fui na direção do rapaz.
ㅡ Excuse me? ㅡ Ele parou de digitar e olhou para mim. ㅡ Sorry to bother you, but we're closing. ㅡ Coloquei a conta sobre sua mesa e ele a abriu. Saí de perto dele voltando ao balcão e terminei de limpa-lo para deixar tudo organizado. A chefe passou por mim acenando com um sorriso que ela só dá quando quer alguma coisa ou quando está indo embora e saiu da cafeteria. O cozinheiro também se despediu, mas perguntou se eu queria ajuda para fechar. Eu disse que não precisava e fiquei a sós com o gringo na cafeteria.
Observei-o colocar o valor dentro do porta conta e guardar o notebook na mochila. Ele saiu do restaurante sem olhar para trás ou agradecer, mas eu já estava acostumada com isso. Quando fiquei sozinha, fui até a mesa para pegar a conta já esperando encontrar o valor certo do que ele consumiu, mas parei de andar quando vi uma nota de cem reais a mais.
Ele me deu R$100,00 de gorjeta? A maior gorjeta que já recebi aqui foi de R$20,00 de um político que queria ostentar para seus amigos na mesa.
Virei-me para trás para olhar a porta por onde o rapaz havia saído pensando em como as coisas podiam ser diferentes do que julgamos. Do jeito que ele foi tão na dele sem nem olhar para mim durante o atendimento, não esperava nem cinco centavos de gorjeta.
Voltei ao balcão para guardar o valor da conta na caixa registradora, mas estranhei um guardanapo dobrado ali dentro. Abri-o me deparando com um: Good Job escrito em caneta azul. Sorri sem perceber e guardei o dinheiro na caixa. A gorjeta embrulhei no guardanapo e coloquei no meu bolso.
Voltei aos fundos para trocar de roupas e já voltei apagando as luzes. Liguei o alarme e fechei a cafeteria. Coloquei os fones de ouvido, soltei a música da sequência da aula que tivemos hoje e fui para casa tentando lembrar os movimentos apenas com os braços. Teve pessoas que me olharam estranho? Sim, mas eu evitava fazer quando tinha gente por perto. Mas... As vezes eu não via e era uma vergonha.
ㅡ Arg! Lar! ㅡ Exclamei ao acender a luz da minha sala, arrancar os sapatos, colocar a bolsa no chão e me jogar no sofá. Eu estava cansada, mas gostava da sensação de ter feito tudo o que devia.
Puxei o celular do meu bolso trazendo junto a gorjeta e o guardanapo. Observei as palavras escritas nele novamente pensando em como a letra era bonita. O cara era bonito e tinha letra bonita. Além disse também era generoso. Ou não... Já que ele recebe em dólar, provavelmente. Enfim... Isso não importa.
ㅡ O que importa agora é tomar um banho beeem longo e comer alguma coisa. ㅡ Me levantei do sofá e fui agir minha vida.
•••
Continua...
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