Capítulo IV
Landon sabia que a meia noite se aproximava, mas, ao contrário das outras crianças do Reino, ele não estava ansioso pela chegada do bom velhinho, apenas queria que a moça deitada sobre seu chão acordasse.
Eve ainda estava dormindo, mas a temperatura parecia ter baixado um pouco. Landon molhou outra toalha e trouxe até à testa da desfalecida.
O rapaz suspirou impaciente e decidiu passar o tempo lendo, sem deixar o lugar que havia ocupado junto da jovem. O livro era um de seus favoritos, A Bela Redoma da renomada escritora portuguesa Tânia Almeida. Landon se perguntava se, quando adulto, ele seria como Elroy. Haveria também uma Liberty para ele? Em meio aos seus devaneios, ele acabou adormecendo.
− Príncipe, por favor. Acorde!
− Han? O... quê? − balbuciou Landon, sonolento.
− Por favor. Preciso lhe falar... − A voz lhe pareceu remotamente familiar. Landon abriu os olhos e se levantou.
− Moça? Você está bem? Você estava... desmaiada.
Eve desviou as cortinas pesadas e a luz incidiu-lhe nos olhos. O sol estava bem alto no céu. Ela não tinha mais tempo a perder.
− Príncipe, preciso que me escute... – Evelyn tentou, mas logo foi interrompida pelo rapaz.
− Você parece muito doente.
− E estou. E outros também estarão. Príncipe, ouça... − Ela se calou. Seu estômago roncou forte e o menino sorriu.
− Toma, eu trouxe-lhe comida.
− Obrigada.
Eve comeu em silêncio. O lanche que Landon havia trazido na noite anterior era simples, ele não poderia arriscar que os criados desconfiassem. Mas a moça parecia deliciada e isso fez com que o rapaz se sentisse orgulhoso.
− Quem é você?
− Meu nome é Evelyn. Eve... você costuma brincar comigo e os outros na rua, às sextas feiras.
− O quê? Não! Você é adulta, e Eve... ela é deste tamanho aqui. − Ele indicou com a mão, à altura do seu ombro.
− Eu... eu não tenho muito tempo. Ouça, Príncipe Landon. Eu vim do futuro...
− Sem essa! Diga quem é você e o que quer, ou então chamarei o rei!
− Landon, eu digo a verdade. Eu vim do futuro através de um vórtex temporal, criado por Russell...
− O professor Russell? Meu pai diz que ele é maluco.
− Porquê maluco? Só porque tentou alertar sobre a tragédia anunciada? É tudo verdade! E vai acontecer hoje à noite!
− O quê?
− A barreira que protege a terra, aquela...
− Aquela barreira entre os dois Cinturões de Van Allen impede que "elétrons assassinos" atinjam o planeta – completou Landon, tentando mostrar-lhe que não era nenhum ingênuo. − É, eu sei!
− Vai se romper, hoje! Muitos morrerão. Meus pais, os... seus. E outros ficarão à beira da morte, como eu. – Landon agitou a cabeça, recusando-se a acreditar naquela tragédia terrível. – Terá de assumir o trono, amanhã. E sua primeira lei será proibir que se festeje o Natal.
− Mas é claro! Se é verdade o que diz, acha que vou continuar celebrando a data sem meus pais? Deixar que o país o faça, quando tantos vão morrer?
Lágrimas rolaram pela face do menino.
− Eu sei o quanto dói. Acredite. Além dos meus pais, eu também perdi minha infância, minha vida. Eu convivo com a dor, com a culpa por não ter partido com eles. Será que eu merecia viver, mesmo que neste estado, mais que eles? Não, eu não merecia. Mas eu estou aqui agora, vim revê-los pela última vez, porque a minha hora também chegou, Landon. Eu sei que você é só uma criança, e que ficará traumatizado pelo resto da vida. Mas será que é mesmo isso que as outras famílias querem? Acha justo vedar essa possibilidade de felicidade a todas as crianças que cá ficarem e àquelas que ainda vão nascer?
− Cala a boca!
O rei irrompeu pela porta, alarmado pelos gritos que emanavam do quarto do filho.
− Landon, o que está havendo aqui?
A criança correu para os braços do pai, chorando.
− Ela veio do futuro. Disse que Russell fez a máquina... e que a barreira rompeu, e que você e a mamãe vão morrer...
− Impostora! – bramiu o rei, fulminando a garota com os olhos. − Não passa de um golpe, filho.
− Não! É verdade! Só... estou... tentando salvar o Natal − Eve disse, e caiu sobre a cama à sua frente.
− Pai, ela tá morrendo − choramingou Landon.
− Pouco me importa! Levem-na para a prisão!
Dois guardas adentraram no quarto.
− Mas pai...
− Cale-se! Guardas, levem-na e me tragam Russell!
760 palavras
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