S e i s
Clare
_E por que não vai, querida?
Ah, Guilherme... se você soubesse sob que maldição nasci não farei esse tipo de pergunta a mim. Quero sair, quero voltar a ver o mundo e as pessoas que não sejam sempre as mesmas, fazem meses que não sei o que é ir algum lugar além das dependências do abrigo. Estou com tanto medo e não tenho ninguém além de mim mesma para cuidar de mim, estou até considerando a hipótese de ir até aquela delegada novamente contar a ele a minha situação, no entanto o que ela poderá fazer por mim? Ela não me conhece e seu trabalho embora esteja relacionado não é correr atrás de ameaças invisíveis, na melhor das hipóteses ela vai apenas me achar uma louca paranoica.
_Verdade, eu deveria ir. Gosto de sentar na praça e ver as pessoas passando. — Comendo com a minha falta de emoção comumente, tanto ele quanto a madame me fitam com preocupação. Tento sorrir. — Não posso viver trancada aqui para sempre.
_Oui chèrrie, vá passear, viva. — Viva, exatamente. É tudo o que preciso fazer, e tenho fazer isso direito, ela aperta minha bochecha e sorri cheia de cor, a interrompo antes que diga que sou a mocinha mais bonita que já viu na vida, eu estou acabada, como pode ser possível ?! Eles metem para mim sempre, essa dupla.
_Não diga, por favor. Irei se pararem de dizer isso. — Negocio uma trégua, os dois riem e sou mais apertada ainda, levanto da mesa com o mingau pela metade na tigela. — Vou tentar encontrar um emprego também, me desejem boa sorte, mon na amiges.
_Vai dar tudo certo para a nossa menininha, não esquece de sorrir, o sorriso é a ama da mulher. — A arma, não é? Suspiro porque não consigo sorrir quando não quero e nem quando quero, anos de uma vida sendo reprimida, eu gostaria de ser mais expressiva. — Você consegue, lembra da piada do palácio.
_Ah sim, lembrarei. Obrigada. — A piada do palhaço é tenebrosa, porém admiro o esforço dele, me despeço deixando minha mochila sobre os seus cuidados e respiro fundo antes de pisar fora do lugar. — Coragem, Clare. Seja valente.
Digo a mim mesma saindo na rua movimentada, a primeira coisa que sinto é o calor irreverente do sol, suspiro de alívio sentindo os raios solares me abraçarem, eu amo sol. Se eu fosse uma plantinha... eu seria mais feliz? Deixo os questionamentos de lado e me ponho a andar atenta a todos os cantos em que um possível perseguidor possa estar escondido, a praça não fica longe do centro de acolhimento, mas o caminho requer passar por uma rua estreita e que está quase sempre vazia mesmo que seja um caminho fácil e mais curto, como um atalho. É o mês de férias, não deveriam haver muitas pessoas pelas ruas? Não são nem oito horas ainda e está tudo muito calmo, talvez as pessoas tenham ido passar em lugares mais distantes e paradisíacos ou simples interiores. Ryan iria gostar de ir à praia, meu filho. Com passar do tempo fico cada vez mais brava com a vida que estou levando, sinto que não estou fazendo nada para reaver o que é meu, me sinto impotente e sem recursos, queria encontrar uma direção, uma resposta que resolva os meus problemas, um feijão mágico, qualquer coisa. Passo pela ruazinha lentamente, repito a mim mesma que estou bem e que não há o que temer.
_É um dia lindo, está tudo bem.
Concordo assentindo e aperto a calça jeans, olho para baixo, todas minhas roupas estão velhas demais, ganhei doações e nela veio essa calça, ela é uma calça normal mas é um pouco apertada. Recuperei pesos que não havia perdido graças a dieta equilibrada do abrigo, como todas as refeições principais do dia e são sempre alimentos relativamente saudáveis, me sinto melhor por dentro e voltei ao meu corpo de sempre antes de chegar no limite da vida, sou grata por estar comendo e bebendo sem custo, porém eu quero ter um trabalho, quero ganhar dinheiro e me manter sozinha, quero viver dentro das possibilidades mais básicas de uma pessoa. Estou pedindo demais? Não chego nem a metade de rua quando ouço o som de uma lixeira batendo contra a calçada, paraliso olhando para trás lentamente, não vejo nada, expiro e a lata se remexe novamente me assustando, ah não, ah não... penso em correr e ir para uma lugar seguro, no entanto um barulho semelhante a um miado me parar. Franzo o cenho. Será que é um gato?
_Você conhece algum outro animal que mia, mon cheriè?
Debocho de mim mesma por estar sendo tão obtusa, obviamente é um gato. O alívio me deixa mole, será que ele está metido em encrencas? Está machucado? Me apresso em verificar, viro a lixeira e abro a tampa para ver o conteúdo, cheira mal, porém é lindo, um gatinho com cores cinza e branco mia muito alto e está com a patinha presa em um pedaço de fio, os seus olhos são enormes e de uma cor bizarra como os meus, inclino a cabeça para o lado para ter certeza de que são da mesma cor que os meus olhos, um pouco mais escuro, no entanto assustadoramente semelhantes. Não acredito! Ele mia desesperado e luta contra o seu destino, ah que adorável! Sorrio enfiando as mãos no lixo para encontrar a raiz dos seus problemas, ele me arranha e tenta me morder, faço carinho em seu pelo para que se acalme.
_Está tudo bem, coisinha fofa. Eu só quero ajudá-lo, me deixe ajudar. — Tento e o fio está todo embolado em uma sacola e mais lixo, divido os esforços entre acalmar o gatinho e tirar sua patinha dos fios retorcidos e difíceis de manusear. — Muito bem, eu vou precisar que seja forte agora, preparado?
Faço uma manobra que vai doer um pouco, mas irá soltá-lo, o gatinho briga comigo e por fim nós dois conseguimos. Ele só falta me xingar com miados audíveis, bichano fofinho. O tiro de dentro da lixeira e o aninho em meu corpo, que lindo. Espero que verifique que sua patinha está no lugar as lambidas e faço carinho para mantermos uma paz relativa. Ryan iria adorar ele, ele sempre gostou de bichinhos, não importando se fossem formigas ou joaninhas. Suspiro ao me lembrar do meu bebê, como ele está? Ainda lembra de mim? Sabe que sou a sua mãe?
_Você é muito fofo, meu filho iria gostar muito de você. Gosta de crianças? Você tem um nome, amigo felino? — O encaro melhor procurando respostas para as minhas perguntas, ele só mia e agora está tranquilo, gostaria muito de ter um gato, porém não se pode levar animaizinhos para o abrigo. Lembro do jogo de futebol que Guilherme estava narrando para mim ontem a noite, gostei do nome do time e que é o favorito dele. — Por algum motivo você me remete a essa lembrança, deve ser um bom indicativo, o que acha de se chamar Chelsie?
Espero uma resposta positiva e só recebo um miar baixinho, isso seria um sim? O bom é que tanto se for macho quanto fêmea o nome combinará, coloco ele no chão, mas parece que formamos laços aqui, Chelsie não quer me soltar, ele gruda na minha blusa e tenta me escalar. Solto uma risada baixa sem poder conter, ah, que fofo.
_Quer ir a praça comigo, Chelsie?
Faço a voz boba sem motivo aparente, o gatinho parece aprovar e ronrona para mim, ah, esse sim é tão gostoso de ouvir. O levo comigo pelo resto do caminho e assim me distraio do que vem me atormentando, me sento no meu banco favorito que dá para ver a avenida e a agência bancária na qual dormir algumas vezes, sinto como se fosse uma lembrança muito distante. Suspiro observando o fluxo dos carros, as pessoas que passam sem de fato olharem para alguma coisa, o movimento na entrada da agência está fraco hoje, o que uma pessoa que possui um lugar como esse fez para consegui-lo? Deve ser fruto de muito trabalho e muita dedicação, leio as informações do outdoor "Você evolui e o Braves acompanha você, dê início a uma vida cheia de oportunidade, valorize o hoje e nos ajude a criar um amanhã melhor para aqueles que amamos. Com Braves, você pode." A campanha publicitária é motivadora, será que alguém presta atenção de fato as mensagens que estão expostas ali? Acaricio o pelo espesso do gatinho em meu colo que não para de ronronar, coisinha fofa.
_Valorize o hoje, Chelsie. Escute o Braves, ele sabe das coisas.
Cutuco sua orelha pontudas, seus bigodes tremem e ele me fita com interesse, temos uma conexão, tentei não me apaixonar mas é impossível com ele me olhando desse jeito. Suspiro vencida, como farei para cuidar de você? Não posso levá-lo para o centro comigo... olho para frente tentando encontrar uma alternativa para a química humana e felino que está me fazendo querer levar Chelsie comigo quando avisto um carro preto estacionar na frente da agência, nada anormal, porém é um carro grande demais, sempre que vejo um me pergunto qual o propósito. Ninguém é tão grande para precisar de tanto espaço. A porta abre e homem que sai de dentro do carro estagna meus pensamentos, ah, tudo bem, há pessoas que precisam mesmo de espaço... pisco confusa com o tamanho do motorista, posso estar distante, mas consigo ver alguns detalhes do que acontece do outro lado da avenida.
Uau, que ser humano espaçoso. O homem que saiu do carro é muito alto e grande, usa um terno preto e seu cabelo é de um tom de ruivo natural e brilhante, está preso para trás e daqui posso ver que ele usa óculos escuros, uau... engulo em seco o analisando desde os pés apressados que contornam o carro até a sua cabeça e ouso dizer que o caminho de um ponto ao outro demorou mais do que o esperado, entendo agora a necessidade de um carro desses, em nenhum modelo normal caberia essa pessoa. Não vejo seu rosto claramente, porém não há dúvidas que é um homem impressionante, acho que usa barba. Os segundos em que ele utiliza para abrir a outra porta me deixam em suspense, ninguém como ele estaria sozinho, desvio os olhos para não me decepcionar, me sinto muito idiota por estar pensando em bobagens, curiosa demais com a criatura esplêndida volto a encarar e ver se a sua acompanhante é tão bela quanto ele e para a minha surpresa é uma caixa?
Ele empurra a porta com força e não parece ser tipo de pessoa mais paciente dado o chute que deu na porta, sorrio sem perceber, a forma como ele segura a caixa e a chave do carro é fofa. Logo um segurança da agência está em sua frente e diz algo, sem nenhuma delicadeza a caixa vai parar em cima do rapaz enquanto o ruivo apalpa os bolsos da calça e também do terno, inclino a cabeça para o lado achando tudo muito engraçado. Vejo que ele não encontra o que está procurando e prendo a respiração quando ele volta para o carro e abre aos puxões, uau. Ele é mesmo muito grande... o show que para mim durou horas foram apenas um ou dois minutos, ele logo fecha a porta na mesma calma de antes, aos chutes, e pega a caixa de volta de cima do rapaz que estava parado lá todo esse tempo, deve ser alguém muito importante para receber tratamento especial. Ele tira os óculos, mas está em um ângulo em que eu não consigo ver bem o seu rosto, me inclino para o lado quase caindo do banco e me constranjo por estar tão interessada no homem. Eles trocam algumas palavras e o senhor de terno sobe as escadas da agência em uma agilidade impressionante, uau. Seu corpo é muito grande e parece ser bem distribuído, abro mais os olhos para não perder nada, me esforço para ver se ele vai passar nas portas giratórias. Ignoro a velocidade em que meu coração bate, isso não é normal, porque está batendo? Não Clare, é normal bater, mas porque está batendo tanto e tão rápido?!
Para o meu alívio e agitação ele passa sem quebrar nada, que bom. Um homem desse porte tem que tomar muito cuidado, é um perigo... meu rosto esquenta absurdamente. O que estou pensando, por tudo o que é mais sagrado?! Ele some agência adentro e eu posso enfim respirar, não compreendo a minha fascinação repentina, isso nunca aconteceu antes. Inquieta demais e com o coração acelerado levanto com o gatinho no colo, quem era ele? O dono do banco? Um cliente importante? Está óbvio para mim que não o verei novamente, sou amaldiçoada em demasia e mesmo se não fosse, mesmo se as condições fossem outras, há um milhão de motivos pelos quais não devo pensar nisso, afinal no que estou pensando? Em impossibilidades, certamente. Odeio desejar o que jamais poderei ter, me contento em sempre desejar algo real e possível, algo tangível e que não exija mérito tão grande, aquele homem... vive em um mundo totalmente diferente do meu, não sei quem ele é, mas estou certa de que essa será a única vez em que poderei ver alguém tão fascinante.
Suspiro vencida e me repreendo por estar pensando demais no que não devo e no que não me trará nada além de frustração, andando sem direção me forço a não ir até o banco na praça esperar ele sair para ver novamente, isso seria uma idiotice sem tamanho! Paro em frente a um bar requintado e vintage, está aberto e há pessoas lá dentro, estreito os olhos para ter certeza que há esse papel aqui: "contrata-se ajudante para meio período". Não penso demais, não há muitas escolhas para mim, na verdade não há nenhuma. Entro atraindo um porção de olhares esquisitos, mantenho a postura e paro no balcão de madeira rústica, um senhor de cabelos brancos e roupas de verão está andando de um lado para o outro. Assim que me vê franze o cenho, ergo o dedo indicador solicitando um minuto e ele assente vindo até mim.
_Bom dia, eu sou Clare e vi o anúncio da vaga de meio período, estou interessada, poderia me conceder a oportunidade de me candidatar? — O senhorzinho me analisa e para em meu rosto, ele demostra tanta confusão que me sinto ligeiramente nervosa, mas procuro manter a minha impassibilidade infalível. — Não? Sinto muitíssimo, com a sua licença.
Sem expectativas e exausta de tanto me frustrar viro de costas e suspiro com a negativa, não pareço alguém promissor? O que há de errado comigo? De toda forma é apenas mais um dia comum em minha vida, assim que chego a porta ouço meu nome ser chamado.
_Clare, não é? Espere um pouco, você não me esperou falar, mocinha. — Volto a atenção para ele e percebo seu sotaque estrangeiro quando fala, espanhol talvez. Ele ergue a mão para um assobio que vem de uma parte do local, por que estão olhando para mim? Aperto Chelsie em meu colo, ele dorme muito tranquilamente. — Você parece ser muito nova, quantos anos tem?
_Vinte e um, senhor. — Não sou menor de idade se é o que pensa, ele me analisa novamente e passa a mão pela barba, pessoas batem na mesa e ele olha rapidamente e assente para mim.
_Bem Clare, meu nome é Nicolau, mas pode me chamar de Nick e vou ser breve pois estou ocupado. — Concordo assentindo, vamos, me deixe ajudar e assim você também me ajuda, nobre senhor. — Estou mesmo precisando de uma ajudinha, estamos com mais movimento do que o esperado, vem aqui amanhã esse mesmo horário e eu te passo os detalhes da vaga e não traga seu animalzinho, é melhor deixá-lo em casa.
_Certamente, fico muito grata. Virei no horário, bom dia e obrigada pela oportunidade.
Ah meu Deus, não acredito que consegui ao que parece ser uma entrevista, que adorável. Estou feliz, algo bom enfim está acontecendo, me despeço e lhe ofereço um pequeno sorriso em gratidão, ele me fita muito curioso e acena, ignoro os olhares que recebo e faço o percurso de volta ao centro de acolhimento, não sei antes olhar para a frente da agência bancária e constatar que o carro ainda está lá, luto contra a minha futilidade e meu subconsciente ganha a batalha, me mantenho firme até chegar e aproveito para deixar o gatinho manhoso o mais próximo possível do abrigo para achá-lo fácil quando vier procurá-lo amanhã. Ele mia e se enrosca em minhas pernas, o acaricio.
_Entenda que não posso levá-lo comigo, sinto muitíssimo. Porém nem tudo está perdido querido Chelsie, se tudo der certo você e eu poderemos ter uma conversa sobre moradia e alimentação, até lá estou de mãos atadas. — Aponto para ele estendendo a mão, sua cabeça bate contra os meus dedos, fofinho. — Ora vamos, não torne tudo ainda mais difícil, esteja por perto e eu prometo não esquecer de você. Até.
Me despeço sorrindo porque ele me segue até o fim da rua, percebo que esqueci da sensação de perseguição, chego e participo aos meus amigos sobre a entrevista pela manhã e eles ficam tão ou mais felizes do que eu, amigos valiosos, passamos o restante do dia divagando sobre empregos e experiências passadas quando minha mente perversa me trás as lembranças do homem atraente que vi hoje, penso nisso por várias horas, durante a noite e até em meus sonhos ele me visita inopinadamente, ora eu não o convidei ou ainda lhe dei permissão para me assombrar. Como ele ousa? Sonho com uma pessoa que não me pertence, que não é nada para mim, que não deveria estar em minha mente e no entanto me deu uma das melhores noites que tive depois de muito tempo tendo pesadelos. Acordo mais cedo do que a maioria, é um costume estar de pé antes das cinco da manhã, tomo um banho e até lavo os cabelos, seja como for que estar o mais polida possível. Os penteio e deixo soltos para secarem, apesar da forte chuva que chegou com o avanço da madrugada me sinto animada e esperançosa, visto a mesma calça, a minha melhor blusa, uma camiseta preta lisa e o tênis. Espero ansiosamente o horário acordado entre mim e o dono do bar que mal sinto o gosto do café da manhã.
_Cuidado menininha, está uma chuva forte, colagem. — Coragem, é o que preciso, ele da batidinhas na minha cabeça e sorrir docemente, a madame está na fila para a segunda remessa. — Deixa eu ir lá com a minha senhorinha francesa, o melhor é o final da pantela.
_Obrigada senhor Guilherme, terei cuidado.
Ele corre até a senhorinha corada, aperto o guarda-chuva que ela me emprestou, vamos Clare, não é uma chuva que vai me parar, eu tenho que tentar e preciso conseguir, por mim, pelo meu filho e por todos os que amo. Espero que Chelsie esteja abrigado nessa tempestade, coloco a mochila nas costas e respiro fundo antes de sair. O céu está completamente cinza, chove tanto que as pessoas que caminham pelas ruas estão protegidas com capas e guarda-chuvas como uma camada dupla de impermeabilização, está frio, que bom que soltei o cabelo e agora ele está seco e por estar cumprido demais me cerca como um manto, empurro a franja para trás, os ventos são fortes e violentos, parece que a natureza está se opondo à minha oportunidade. Não mesmo, não importa como, eu cheguei lá. Me detenho na rua em que encontrei o meu gatinho, procuro por ele entre as lixeiras e ele está encolhido em um canto, ah Chelsie! Está molhado, quando me vê mia todo carente, abro a mochila e tiro uma das minhas roupas e improviso uma caminha em um lugar seco e seguro acima de muitas caixas.
_Fique aqui dentro, não saia até que a chuva tenha parado, querido.
Lhe faço um carinho e o deixo para trás por enquanto, quando voltar vou encontrar um lugar para ele. Caminho depressa para evitar me molhar o máximo que for possível, porém meus tênis estão encharcados e a metade de calça também, persevero até estar na avenida em que fica o bar, aguardo na faixa de pedestre e não há ninguém para atravessar além de mim, os carros passam rápido demais pela pista e me preocupa que devido a essa chuva um acidente aconteça, seria horrível, ofego com a força do vento que sobe o guarda-chuva, luto para mantê-lo sobre mim, ah caramba! Solto uma risada ficando praticamente toda molhada com os respingos violentos.
_Ah meu Deus, por que isso é tão engraçado?
Meu cabelo voa em todas as direções, o que eu faço?! Olho para cima e enfim o semáforo fecha, o vento da uma trégua subitamente, o tempo parece congelar por alguns segundos, me apresso em seguir pela faixa, mas um som alto e do tipo que anuncia uma tragédia rasga o céu, um raio, me encolho e solto o guarda-chuva, ah não, não. Paro no meio da faixa e ao olhar para ter certeza de que estou segura ouço mais um som preocupante, dessa vez vem em minha direção, abro mais os olhos ao ver o carro preto enorme vagamente familiar forçar os pneus contra o asfalto na vã tentativa de frear antes de me acertar, engulo em seco ao avistar atrás do para-brisas os olhos azuis mais incríveis e incomuns que já vi, arregalados de susto, me fitam com deslumbramento e surpresa, um olhar fixo e muito intenso que me arrepia mais do que o frio e as rajadas de vento ou ainda os raios estrondosos. Uma coisa esquisita reveste meu corpo, um calor estranho e inquietante, eu já o vi em algum lugar, é o homem mais lindo que meus olhos já viram, ah... em um epitáfio me lembro, o ruivo impaciente do banco! Uau... Não dá tempo de admirar, pois os meus olhos se fecham automaticamente após sentir um forte impacto e uma dor chocante se espalhar pelo meu corpo anestesiando-o por completo até que não haja mais ar em meus pulmões, a última coisa que verei antes de morrer serão esses olhos? Sem poder evitar perco a consciência e também a minha capacidade de resistir, se não importa o quanto eu tente os infortúnios me perseguem continuamente não há razão para ser tão teimosa, eu esperei, esperei com tudo de mim, dei o meu melhor e no fim de nada adiantou. Ryan, a mamãe ama você, para sempre. Viva meu filho, viva por nós dois.
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Olá, o que estão achando? Um aviso: agora os capítulos serão narrados do ponto de vista do senhor Maximus Queew. Não percam os capítulos a seguir!
Votem e comentem.
Bjss e continua...
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