Five
Estava mais uma vez sentada em um dos pufs do quarto de Cassy. Ela havia me chamado para fazer as tarefas, como da outra vez sua atenção estava voltada para o celular. Os acontecimentos da noite de ontem vagavam por minha mente, queria confrontar Cassy fazê-la rever suas atitudes, me perguntava se Benjamin tinha falado sobre os pais com ela. Mas podia apostar que não.
— Com quem está falando?
— Quem você acha? — ela me olha de relance.
— Pois eu tenho certeza que com o Benjamin não é. Você sabe pelo menos como ele está?
— Deve estar bem, ué.
— Você realmente não se importa com ele, né?!
— Por que você se importa? Pensei que você não gostasse dele — ela deixa o celular de lado.
— Isso foi antes deu conhecer ele de verdade.
— Ah, então você agora conhece, né?! Pra ficarem de papinho após o trabalho...
Franzo o cenho para ela.
— Caio viu vocês ontem, ele me contou.
— Não foi nada de mais, Benjamin estava me falando sobre os pais dele — falo me explicando. — Você está insinuando alguma coisa? — estava me sentindo profundamente ofendida.
— Sei lá, só achei estranho vocês dois de conversa.
— Olha, Cassy, eu acho que você já foi longe demais com tudo isso. Benjamin está passando por um momento delicado, não merece mais ser enganado.
— Você realmente quer que eu termine com ele, não é?
— Acho que essa é a coisa mais sensata que você poderia fazer, já ter feito, no caso.
— Já entendi, eu não sirvo para o Benjamin, você quer o caminho livre...
— O quê? Não!
— Quer saber Ally? Estou cansada de você, assim como do Benjamin, quer contar pra ele, conte. Não preciso de vocês!
Fico perplexa.
— Cassy...
— Acho melhor você ir embora.
— Você é uma escrota sabia? Você que não merece minha amizade nem o amor do Benjamin — saio pisando duro da casa de Cassidy.
Raiva. Mágoa. Decepção me invadiam. Eu pensei que Cassy fosse minha amiga apesar de tudo, mas eu estava enganada. Cassidy era podre, egoísta, não pensava em ninguém além dela. Não iria me deixar abalar por uma amizade falsa como a dela. Cassy não merecia minhas lágrimas.
*
Não podia mais adiar, hoje era o dia que revelaria toda a verdade a Benjamin. Depois da minha discussão com Cassy pensei bastante a respeito até vir trabalhar e estava decidida eu iria criar coragem e contar para Benjamin que ele estava sendo traído. Agora estava claro para mim que Cassidy nunca ligou para ele ou até mesmo para mim, eu só fui conveniente para ela, ela me usou, nunca foi minha amiga de verdade. Se ela fosse mesmo minha amiga não teria revertido toda a situação insinuando algo entre mim e Benjamim, eu jamais faria isso com ela. Mas sei que ela não pode dizer o mesmo, e é por isso que não estou tão abalada em ver que nossa amizade teve um fim, acho que foi mais um livramento do que uma perda. E agora eu precisava mostrar a Benjamin quem Cassidy realmente era.
— Preciso falar com você depois que acabar o trabalho.
Os olhos azuis de Benjamin me observam por um instante, sua testa forma um vinco.
— Parece algo sério.
— Por que é.
— É sobre o quê?
— Você vai saber.
— Está enigmática Alissa, atiçou minha curiosidade.
— Foi mal, mas vai ter que esperar.
— Esperar é um martírio.
— Saber esperar é uma virtude — rebato.
As horas pareciam se arrastar. Não estava aguentando mais de nervosismo, sei que tinha tido que saber esperar era uma virtude, mas acabo de comprovar que não tenho ela. Guardei por tanto tempo esse segredo que agora tudo que mais quero é expor ele, e me ver livre e quem sabe libertar Brnjamin também, de um relacionando que vive na sombra da traição.
Penso em como as coisas podem mudar. Nossas percepções. Há alguns dias eu era feliz ao lado de Cassy, a achava a menina mais legal e gentil e bem agora a acho uma falsa e egoísta. Com Benjamin, minhas percepções também mudaram, eu não o conhecia de verdade e o julguei, o rotulei, pra mim ele não passava de um menino superficial, porém eu descobri que Benjamim é suportável, se importa com os outros, e é mais bondoso do que eu podia sonhar, ele tem sentimentos, esses que podem ser quebrados em questão de segundos após eu revelar sobre a traição.
Olhei Benjamin no outro lado do estabelecimento empilhando as mesas enquanto lavava as últimas louças sujas. Quando tudo estava pronto para irmos embora. Jude e Bill se despediram de nós, agora era eu e Benjamin apenas.
Engoli em seco.
— Bom, acho que agora você pode falar o que queria.
— Benjamin, eu nem sei por onde começar.
— Pelo começo, ora — ele dá uma risadinha.
Sentia raiva de Cassy por ter me posto nessa situação. Nem coragem de terminar com o coitado ela teve.
— Eu não sou boa com palavras, Benjamin, só com números. Mas eu preciso te contar uma coisa, algo que vem me incomodando a algum tempo, mas primeiro você tem que entender que eu não podia falar nada, não cabia a mim...
— Do que você tá falando Alissa? Não estou entendo nada — Benjamin franze o cenho.
Resolvo ser simples e direta.
— A Cassidy está te traindo.
— O quê? — a voz de Benjamin sai alto. — Como assim? Me traindo?
— É, Benjamin, ela está saindo com outro pelas suas costas.
— Como você sabe disso? Ela te contou? Quem é esse filho da puta?
— É o Caio do terceiro ano.
Benjamin gira o corpo para o lado seu rosto virado para rua. Os punhos cerrados.
— Desde quando sabia disso que me veio contar agora?
— Já faz um tempo.
— Então estou sendo corno já faz um tempo, vocês me enganaram. Como eu fui ser tão burro? — suas mãos agora estavam no cabelo.
— Eu sinto muito Benjamin!
— A sente? Por que não me contou antes, caramba? Estava vendo eu ser feito de trouxa, depois de eu ter contato sobre minha família, você me aconselhou contar pra minha mãe; mas fez o oposto, ajudou a Cassidy a esconder isso de mim.
— Eu queria contar Benjamin, eu falei pra Cassidy terminar com você, mas ela não fez isso, eu não sabia o que fazer... eu estava que nem você, em um dilema, será que não me entende? — falo em desespero tentando me desfender.
— Agora não importa — Benjamin vai para rumo de sua moto.
— Benjamin espera você não pode sair assim tão alterado.
Ele tenta dar partida mas a moto não pega. Tenta de novo e nada. Então ouço o som do capacete se chocar no asfalto.
Olho seu rosto iluminado pelo poste, algumas lágrimas lhe escorriam dos olhos. Podia sentir os meus úmidos.
— Benjamin, me desculpa.
— Primeiro eu pego meu pai traindo minha mãe agora descubro que eu estava sendo traído, não sei qual decepção é a maior. — ele se levanta e pega o capacete de volta. — Mas de uma coisa eu sei, as maiores decepções sempre vêm de quem mais confiamos — ele me olha uma última vez.
Eu não sabia o que mais falar. Talvez não tivesse nada mais a ser dito. Benjamin deu partida na moto e então sumiu pelas ruas. Eu estava profundamente triste, nem em um bilhão de anos poderia me imaginar nessa situação. Pensei que me sentiria mais leve por dizer a verdade, mas sinto um peso no coração. Benjamin só me fez sentir ainda mais uma cúmplice de Cassidy.
*
No dia seguinte que contei a Benjamin toda a verdade ele não apareceu no colégio e no trabalho também, no próximo dia mais uma vez ele não veio estudar. Cassidy estava sentada na mesa do pessoal do terceiro ano ao lado de Caio, provavelmente eles estavam juntos agora. Ela e Benjamin devem ter tido uma discussão antes de terminar o relacionamento, me perguntava quando Benjamin apareceria, será que ele estava trancado em seu quarto sofrendo escondido? Sentia compaixão por ele, talvez fosse melhor não estar aqui e já ver a ex-namorada agarrada a outro, uma coisa era saber outra era ter que ver.
Estava tão concentrada em meus pensamentos que nem notei alguém se aproximar. Era ele. Benjamin. Se sentou rápido na minha frente.
— Oi — ele sorri mínimo.
— Oi. Como você está?
— Tentando superar tudo que aconteceu ultimamente na minha vida.
— Eu sinto muito mesmo, Benjamin, de verdade.
— Eu sei, obrigado. E me desculpa por ter feito você se sentir culpada em não ter me falado, eu sei como se sentiu sim, mas é que na hora eu estava com muita raiva e acabei descontando em você.
— Tudo bem, Benjamin, eu entendo. Sabe, a Cassy não te merece, e nem a mim.
— Vocês deixaram de ser amigas?
— Sim, ela nunca foi minha amiga de verdade.
— Bom, agora eu só quero distância da Cassy, ela fez a escolha dela, você está certa, não vou ficar sofrendo por alguém que não merece.
— Fico feliz que pense assim.
Ele sorri.
— Sentiu minha falta ontem no trabalho?
Vejo de longe que Cassy olha de relance para nossa mesa. Sei que ela viu Benajmin aqui.
— Sabe que nem percebi sua ausência.
— Nossa, Ally, assim você destrói os restos do meu coração — ele fingi ser afetado.
— Essa não é a intenção. Bem, devo admitir que você é bem competente e gosto da sua companhia.
— Bom saber, pois vou pedir para o Bill se posso ficar lá.
— Quer dizer que provavelmente ainda vou ter que aguentar sua cara as noites?
— Você acabou de dizer que gosta da minha companhia.
— Ainda estou me acostumando a ser gentil com você.
— Continue assim e podemos ser bons amigos.
— Amigos?
— É, podemos começar assim — então o sinal do colégio bate anunciando o começo das aulas.
— Até mais, Ally — ele se levanta.
— Até mais, Ben — ele me olha por um instante, sorri e se afasta.
Finalmente sinto meu coração afrouxar, ele não estava mais pesado, agora suas batidas eram ritmadas ao perceber que estava tudo bem entre mim e Benjamin. Cassidy era uma louca por não ter valorizado alguém como ele, esperava que ela se arrependesse do que fez comigo e com ele. Não sabia se isso ia acontecer, mas de uma coisa eu sabia, eu e Benjamin nos aproximamos e definitivamente não quero que isso mude.
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