20- Preciso de você (parte II)
Nosso momento de paz e tranquilidade foi lindo, apesar de curto. Pois logo depois de dizermos as últimas palavras fomos interrompidos pela porta do quarto sendo aberta e batida bruscamente por meu pai que não parecia nada feliz por nos ver juntos...
- Espero não estar atrapalhando... Allice, você não se emenda, sabe o que penso sobre esse sujeito. E ainda assim basta ele aparecer e dizer meia dúzia de palavras e você já volta correndo para ele!?
Depois de dizer isso papai olhou de forma fria para meu acompanhante e logo após esbravejou que ele não se aproveitasse da situação e da minha fragilidade. E que ficasse longe de mim porque ao contrário do que pudesse parecer eu tinha quem me defendesse. Louis ficou zangado como jamais vi e respondeu com amargura que essa defesa não fora tão eficiente ou não teria me acontecido tudo que houve...
Papai ficou transtornado tanto pela ousadia da acusação infundada como pela culpa que sentia sempre que pensava o quanto havia falhado em me proteger no passado e agora novamente.
Criou-se um impasse entre os dois homens a quem mais amei em toda a minha vida. De um lado um pai amoroso e superprotetor que sentia ter errado em não conseguir evitar todo o mal que me fora feito e, do outro um homem frustrado e igualmente massacrado pelo remorso e pela dor de ter que admitir a própria falha ao deixar para trás a mulher que afirmava amar. Pelo menos era essa a impressão que eu tinha naquele instante.
Ao sentir que ambos poderiam chegar às vias de fato, eu me coloquei entre eles e supliquei que parassem com aquela disputa incoerente sobre quem seria mais culpado ou quem poderia ter feito mais por mim... Afinal não existia nenhuma forma de mudar o passado. Restava que nós nos voltássemos para o futuro e tentássemos seguir adiante.
Pedi a Louis que me deixasse conversar a sós com papai, depois de relutar um pouco ele se retirou prometendo que estaria do outro lado da porta me esperando, provando que falava sério quando prometeu que jamais me deixaria outra vez...
Olhei nos olhos do homem que me criou e vi neles preocupação, angústia e tristeza. Antes de falar qualquer coisa eu abri meus braços e sorri entre lágrimas ao sentir o abraço mais reconfortante que carinhoso que poderia haver naquela ocasião. Tentei conter o choro, mas foi impossível ao escutar meu progenitor pedir perdão por não ter correspondido às expectativas...
Eu o assegurei que ele não era o culpado, que o amava infinitamente e que o carinho, o amor e a dedicação que ele e mamãe me prestaram durante toda a infância e adolescência eram meu refúgio e que eles sempre foram meu porto seguro. Papai se emocionou mais ainda. Ele chorava e ria ao mesmo tempo enquanto afagava meus cabelos e secava meu rosto choroso.
Depois de nos acalmarmos tivemos uma boa conversa na qual esclareci que meus sentimentos por Louis não haviam mudado, que nos amávamos e que não pretendíamos nos separar por nada no mundo.
- Você está certa da decisão que tomou? É realmente o que quer? Arriscar mais uma vez nesse relacionamento? - Ele me cobriu de perguntas para se certificar que não haveria arrependimentos da minha parte.
- Sim, eu tenho certeza!
- Você o ama muito, estou certo?
- Sim, papai, o amo com todas as minhas forças.
- E ele, será que a ama da mesma forma?
- Eu não duvido, sei que ele me ama.
- Então, você não se importa com o fato de ele ter te abandonado grávida?
- As coisas não foram assim. O senhor sabe, que eu também tive uma parte dessa culpa. E sim, eu me importo. Mas sei que Louis e eu saberemos resolver nossas diferenças.
- Certo, vejo que já pensou em tudo. Mas e quanto a Isa? Como vai explicar a ela sobre um pai que ela não conhece?
- Papai, este é outro problema que teremos que resolver. Mas tenho a impressão que sua neta amará saber que tem um pai de verdade.
- Tudo bem, filha. Posso ver que está decidida. Não a impedirei, agora já você pode decidir sozinha. Mas caso ele a faça sofrer terá que arcar com as consequências.
- Combinado, papai eu darei seu aviso. E o restante da família o que pensa sobre tudo isso?
- Você quer dizer sua mãe! Bem, ela não ficou muito contente no início. Mas decidiu que é melhor vê-la com esse almofadinha do que sofrendo pelos cantos. E além do mais ele poderá ajudar a proteger você e Isa.
- Também penso da mesma forma. Eu amo o senhor, nunca se esqueça disso!
- E eu a você, agora preciso ir. Tenho que preparar para o trabalho e ainda pretendo trocar duas palavras com meu "genro". Amanhã passarei aqui. Quem sabe tenha mudado de ideia! Disse isso e piscou divertido.
- Papai, seja gentil com ele. Lembre-se de que ele é o pai de sua neta!
- Sim, querida, eu garanto que me lembrarei.
No final ele não parecia totalmente convencido, porém estava disponível a um diálogo mais flexível. Segundo ele mesmo concluiu, eu já era adulta, tinha uma filha com ele e estava apta a decidir por mim. Nesse caso ele me apoiaria como sempre fez...
Por último ele anunciou que conversaria com Louis e que depois resolveríamos as demais questões. Papai se despediu de mim com um terno beijo na testa e se foi.
Demorou algum tempo para Louis retornar, já estava me preocupando quando de repente ele surgiu com um aspecto estranho e o rosto avermelhado. Ao ser questionado sobre o que aconteceu ele tentou disfarçar, mas acabou confessando que ele e meu pai tiveram um atrito e que agora as coisas estavam esclarecidas entre os dois.
Só então, eu enxerguei o hematoma no lábio inferior e no maxilar. Fiquei chocada quando a compreensão passou pela minha cabeça e eu entendi que a briga foi bem mais séria do que supus no início.
- Nunca imaginei o senhor, um médico renomado se degladiando por aí... Lamentável, doutor Louis!- Ele me olhou torto antes de vir até mim...
- Situações de desespero pedem medidas desesperadas! Eu precisei provar ao seu pai que nem a oposição dele ou qualquer outra coisa me fará desistir de nós dois.- Ele se aproximou ainda mais e segurou minhas mãos entre as suas e beijou cada uma delas com delicadeza. Depois mirou-me profundamente ao declarar com muita emoção:
- Allice, "quando nos conhecemos eu cri que havia encontrado a mulher ideal a qual eu precisava. Eu me apaixonei por você e sei que foi recíproco. No dia em que eu soube que temos uma filha me senti o homem mais sortudo da face da terra, ali eu vi que minha vida adquiriu um novo significado, uma alegria imensa me contagiou... Eu sei que temos muitos problemas e dificuldades a vencer. Mas tenho fé que seremos capazes de superar tudo e sei que seremos felizes. Minha vida sem você não tem razão de ser. Eu não quero perder você. Ah, mon Amour. Je t'aime. Haja o que houver!!!"
Após essa enxurrada de declarações, Louis me deixou sem fala... Eu já me encontrava sem palavras quando tentei dizer algo ele me calou mais uma vez com um beijo que iniciou calmo depois se transformou em um beijo urgente e repleto de necessidade... Até que me contorci e gemi por causa da dor fina que percorreu meu tórax me recordando dos fatos recentes que me deixaram acamada.
- Pardon, mon petite. Eu me empolguei e acabei me esquecendo de sua condição. Eu a machuquei? - Louis se apressou a perguntar.
- Eu estou bem, já passou. Foi apenas uma dorzinha.- Tentei sorrir minimamente apesar de ainda sentir uma queimação interna.
- Deixe-me ver mais uma vez esses curativos. Talvez tenha arrebentado alguns pontos. Que belo médico eu sou, negligenciando minha principal paciente. - Ele afastou minha camisola hospitalar e verificou o local onde havia retirado o projétil que me acertou, as fraturas e os demais hematomas visíveis. Eu apesar de ter noção que seu toque era estritamente profissional, me senti constrangida por causa da exposição do meu corpo mesmo consciente de que ele deve ter visto muito mais anos atrás. Mas eu contava com a amnésia alcoólica dele.
Ao sentir minhas bochechas queimarem eu soube que não haveria como esconder dele o que se passava por meus pensamentos.
- Você está corando futura senhora Beaufort? Imagine se estivéssemos em outro tipo de quarto bem diferente desse de hospital!?
O que ele disse me causou um constrangimento ainda maior. Corei até a raiz dos cabelos... E naquele momento eu me sentia novamente a garota que não resistiu a tentação e se entregou ao namorado num momento de fraqueza. Que se converteu na fonte da minha maior tristeza e também da minha maior realização. Me senti desconfortável com as recordações... Depois de tanto tempo parece que eu ainda não havia superado totalmente o passado. Louis percebendo meu desconforto terminou seu rápido exame e me liberou. Sentando mais uma vez na poltrona ao lado da cama. Ele me olhava sem dizer nada como se buscasse as palavras corretas para falar. Eu não suportando aquela tensão momentânea procurei a primeira desculpa para me afastar por alguns minutos. Pois precisava raciocinar e digerir tudo que havia se passado comigo nas últimas horas.
- Louis, eu preciso mesmo tomar um banho. Será que você pode sair por uns instantes? - Eu não tinha a intenção de ser grossa, mas necessitava de espaço...
- Eu irei chamar uma enfermeira para a ajudar.
- Não, não precisa. Eu prefiro fazer isso sozinha!
- Allice, não sei se você tem condições de ficar muito tempo sozinha e além disso pode ocorrer um acidente, você escorregar, cair e se machucar...
- Não se preocupe, eu sou mais forte do que pareço. Você pode me esperar aqui no quarto. Prometo que se precisar eu o chamarei.
Reconhecendo que não conseguiria me convencer do contrário ele desistiu de insistir e ficou me esperando enquanto eu segui mantendo todo o controle para não transparecer o quanto estava precisando estar só com meus pensamentos. Ao adentrar no cômodo todo revestido de azulejos eu senti um certo alívio. Ao retirar o tecido que cobria meu corpo me assustei com o aspecto deplorável em que me encontrava. Minha pele estava opaca, amarelada e existiam vários hematomas em muitos lugares. Eu não conseguia parar de lembrar das cenas ocorridas dentro daquela velha casa abandonada. Então eu chorei pela primeira vez desde que despertei. Chorei pelo asco causado pelas lembranças das mãos de Flávio me tocando, dele me beijando mesmo sem eu querer, dele tentando tirar minhas roupas. Chorei ainda mais pelo pavor que senti ao imaginar ele conseguindo o que queria... Eu passava o sabonete pelo meu corpo uma, duas, três, quatro, cinco... Tantas vezes que perdi a conta, enquanto me esfregava tentando retirar qualquer vestígio que pudesse ter restado da presença asquerosa do monstro que destruiu minha vida mais uma vez... Minhas lágrimas eram muito dolorosas. Meus onde não havia a coloração arroxeada agora existia a vermelhidão causada pela fricção da esponja de banho que estava servindo como arma para aliviar a dor interna que eu tentava retirar. A água do chuveiro estava numa temperatura boa. Mas o frio que eu sentia me de aumentar a intensidade o que fez todos os vidros do boxe embassarem. Depois de algum tempo eu senti o local da lesão mais séria doer muito, o que me fez perceber que escorria um pequeno filete de sangue. Eu soube que deveria parar o que estava fazendo, mas eu não conseguia. Tinha que tirar de mim todo rastro que pudesse haver daquele canalha repulsivo. Mesmo com a água correndo intensamente pude ouvir uma voz conhecida me chamando. Ao desligar o chuveiro reconheci imediatamente quem me chamava e sem mais demora me cobri com a primeira toalha que encontrei e abri a porta o mais rápido possível. Encontrando do outro lado a minha querida irmã que sem perder tempo me abraçou forte me levando às lágrimas outra vez.
E ali nos braços de minha irmã eu chorei tudo que ainda tinha para chorar. Ela não me perguntou nada apenas me consolou dizendo que ficaria tudo bem e que me amava infinitamente. Depois de um bom tempo ela me ajudou a me vestir uma camisola minha e me cobriu com meu roupão favorito, me deixando um pouco mais aconchegada. Depois de me acalmar chamou uma enfermeira para trocar os curativos e me dar os medicamentos enquanto me atualizava sobre como a família estava reagindo aos últimos acontecimentos e como minha filha sentia minha falta, mas garantiu que todos estavam bem, inclusive Isa que não parava de perguntar por mim e que ela queria me ver a cada minuto do dia... Júlia se deitou ao meu lado e ficou comigo até eu adormecer. Eu me sentia exausta. Só queria acordar pela manhã no meu próprio quarto e descobri que tudo não passou de um pesadelo. E poder esquecer tudo de ruim que havia acontecido nós últimos dias. No meio da noite eu acordei com o forte brilho dos raios e ao me levantar abri uma das janelas do quarto para poder sentir as gotas de chuva molharem minhas mãos ciente de que não poderia sair e usufruir daquele frescor delicioso da chuva sobre meu corpo... O quarto estava totalmente escuro com exceção da luminosidade gerada pelos clarões das descargas elétricas naturais. Então eu não percebi que havia alguém me observando com grande interesse e bem de perto...
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Voltei! Finalmente consegui postar a segunda parte desse capítulo decisivo. Então o que acharam dos últimos acontecimentos??? O que será que vai acontecer agora??
Espero que não tenham me abandonado. E perdão pela demora, à medida que as coisas se encaminham para o desfecho se tornam mais difíceis de escrever. Pois é... Estamos bem perto do final. Mas não temam ainda temos algumas coisas para ajustar. Por isso não percam o próximo capítulo.
Até breve!!😘😘😘😘😘😘😘
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