12-Luta
Ao despertar senti meu corpo mole, pesado e quase dormente. Mamãe esteva do meu lado e me informou que tinham me dado um calmante para que eu não ficasse ainda mais nervosa do que já estava. Foi ai que ao me lembrar do motivo do meu nervosismo eu perguntei por minha filha mais uma vez.
- Allice, por favor você precisa se acalmar não pode se estressar quando melhorar vai poder vê-la. Mas no momento precisa descansar. - Duas coisas chamaram minha atenção, a primeira foi o fato de minha mãe me chamar pelo nome ela só fazia isso quando estava muito nervosa ou preocupada e a segunda foi ela não responder diretamente a pergunta que fiz. Repeti a pergunta.
- Mamãe como está minha filha? Eu preciso saber não posso ficar tranquila sem saber como ela está!- Depois de relutar um pouco ela respondeu.
- Allice ela está na uti neonatal. - Instantaneamente brotaram lágrimas dos meus olhos eu havia lido muito nos últimos meses e uma das coisas que descobri foi que muitas crianças que nascem prematuras precisam da incubadora mas se ela estava na terapia intensiva significava que o seu caso era grave.
- Preciso ver meu bebê, por favor mamãe me deixe vê-la?
- Filha isso não depende de mim... Você está muito fraca, precisa recuperar suas forças primeiro para poder ir até ela e os médicos não permitem visitas na ala da uti.
- Me diga como ela está pelo menos!
- Assim como você ela é uma guerreira! Está lutando pela própria vida!
Então ela me relatou tudo que houve nos dias em que fiquei inconsciente.
Minha última lembrança foi a batida de carro e as vozes de pessoas desconhecidas ao meu redor.
Me disse que fui trazida rapidamente ao hospital por uma ambulância com um grande corte na perna direita na altura da coxa até o quadril, mas apesar de não ter havido fratura eu sentia uma forte dor e dificuldade para andar. Em consequência do acidente houve um descolamento de placenta e uma hemorragia por isso o parto teve que ser acelerado e optaram por uma cesariana.
Minha filha nasceu algumas horas depois mas devido a gestação ser apenas de 28 semanas ou 7 meses e a perda de sangue ela teve uma parada respiratória e precisou ir para a terapia intensiva. Na incubadora ela recebia ajuda para respirar e para manter a temperatura corporal, recebia alimentação por meio de uma sonda e os médicos esperavam que ela conseguisse respirar sozinha e atingir um mínimo de 2 kg para poder receber alta.
Foram realizados diversos exames para constatar as funções cardíacas, cerebrais e pulmonares. E ainda avaliaram sua visão e mobilidade física para detectar ou prevenir algum tipo de problema decorrente da parada respiratória ou ainda amenizar alguma dificuldade futura...
Decidi que faria de tudo para me recuperar o quanto antes para poder ver minha filhinha. Reuni todas as minhas forças e consegui comer, caminhar mesmo com dificuldade, pelo quarto...
Após alguns dias eu já me sentia melhor e recebi permissão para ver meu bebê.
Foi um momento lindo! Ela havia melhorado um pouco e fora transferida para o berçário, mas permanecia na incubadora. Precisei lavar muito bem as mãos antes de acessar o local. Quando olhei nos olhinhos dela que para meu espanto eram idênticos aos do pai eu não contive as lágrimas de felicidade e emoção...
Não havia decidido ainda qual nome lhe daria, mas naquele momento me veio à mente que a melhor forma de chamá-la seria Marisa, o nome da mãe de Louis pensei que ele gostaria da minha escolha e me dei conta de que talvez ele nunca soubesse. Tão pequenina, tão frágil e também muito corajosa e forte por estar desempenhando sua própria batalha pela vida. Ao lembrar que passei por meu inferno particular. Devido à hemorragia precisei fazer três transfusões de sangue e tive uma infecção muito forte. Mas ao pensar em todos esses problemas eu senti que tudo valeu a pena somente por ter a chance de ver minha filha viva e se recuperando.
Contudo, havia a culpa que eu sentia todos os dias por não ter olhado antes de atravessar a rua. Ser a causadora do acidente que quase tirou a minha vida e o pior a vida do meu anjinho não era nada fácil de aceitar.
Recebi alta poucos dias depois da primeira vez que pude vê-la e com isso fiquei desnorteada por ter que me separar dela, ter que ir para casa sem poder levá-la comigo... Quando eu não estava com ela eu chorava muito, me julgava e condenava por todos os meus erros. Eu precisei de acompanhamento psicológico. Por já ter passado por problemas desse gênero no passado eu era mais suscetível às crises de tristeza extrema. No período em que estive internada anos antes eu não conseguia comer, não dormia quase nada ou em outras ocasiões eu passava um dia inteiro dormindo sem vontade de levantar, comer, tomar banho, me pentear, viver...
Tudo isso por causa de um imbecil egocêntrico e psicótico que se dizia apaixonado por mim, que por tê-lo rejeitado ele me sequestrou, tentou abusar de mim e conseguiu destruir qualquer chance de eu ter uma vida normal. Eu sentia um medo intenso de voltar a ser como naquela época tão difícil em que eu me sentia um lixo, vazia, perdida e sem rumo... Mas havia uma grande diferença, eu não estava mais sozinha tinha alguém que precisava de mim, que dependia dos meus cuidados...
No hospital todos os médicos, enfermeiros e muitos outros funcionários sabiam da nossa história e sempre foram bastante solícitos conosco. Em especial houve uma enfermeira que me ajudou desde o início.
Ana era uma senhora muito gentil e amável, ela me fazia lembrar de minha avó por sua maneira de falar e agir. Ela era cristã e sempre me falava sobre Deus e eu apesar de ter sido educada com princípios cristãos nunca havia tido muita fé. No começo eu achei difícil aceitar o amor de um Deus que permitia tanto sofrimento e injustiça, mas com o passar do tempo Ana me mostrou através da Bíblia e de suas atitudes que o propósito divino não é nos castigar e sim nos mostrar o seu amor e cuidado e que na maior parte das vezes nós somos os culpados por nossos próprios problemas por nos afastarmos dos caminhos de Deus.
Durante as visitas diárias que duravam até duas horas eu podia tocar minha princesinha. No hospital me instituíram que a proximidade física entre os pais era bastante benéfica para a recuperação do bebê prematuro. Novamente a culpa me assolava, pois ao invés de estarmos eu e Isa sozinhas poderíamos estar junto com Louis se não fosse por minha covardia... Ele deveria estar ali comigo dando seu amor e carinho à nossa filha. Eu lamentei e pedi perdão à minha bebê por privá-la de ter um pai.
Depois de tantas picadas de agulha, apertos feitos pelos muitos aparelhos que monitoravam os sinais vitais era reconfortante que meu bebê pudesse sentir o toque de carinho e afago essencial ao processo de recuperação dos prematuros.
Para que Isa sentisse meu amor, eu a tocava, acariciava, falava e cantava para ela. Todos os dias eu a segurava contra meu peito e realizava nosso ritual diário de conversa, carinho e amor. Eu lhe falava sobre seu pai, seus avós, tios. Sempre repetindo o quanto ela era amada por todos.
Isa se tornou minha prioridade. Desde que soube de sua existência eu criei uma grande expectativa em relação à sua vida, ela se tornou minha razão de viver. Vê-la lutando tão bravamente a cada dia pela vida me fazia desejar tomar seu lugar, sentir suas dores e livrá-la daquele sofrimento se fosse possível...
Se eu a amei antes mesmo dela nascer depois de tê-la em meus braços, ver seu lindo rosto, ouvir seu choro, olhar seus olhinho lindos e espertos fez meu coração se derreter. Como eu desejava que Louis estivesse conosco naquele momento!
A batalha foi longa, difícil e também proveitosa depois de dois meses finalmente nós iríamos para casa. Isa já se alimentava sozinha e já havia alcançado os tão esperados dois quilos necessários para ser liberada para ir para casa. Foi um dia de festa Júlia e o restante da família prepararam uma festa para nos receber. Foi maravilhoso!
Todos estávamos felizes, mas por ela ainda não ter imunidade suficiente como um recém nascido normal e requerer muitos cuidados logo depois de receber as felicitações nos retiramos para o quarto que fora preparado especialmente para ela.
Quando mamãe, papai, Tiago e Lúcia já haviam voltado para casa Júlia e Marcos me ajudavam em tudo que podiam. Me ajudavam a cuidar de minha filha e me mantinham sempre entretida e motivada também faziam questão que eu continuasse indo à psicóloga. Depois de meus pais os dois foram meu maior suporte nas horas mais difíceis.
Foi incomparável ver minha filha crescer e se desenvolver depois de sair daquele lugar que um dia eu considerei frio e inóspito e que nos últimos meses se tornou meu segundo lar. Porque onde quer que Isa estivesse lá seria meu lugar.
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Com todo o meu coração!
Até breve!!!
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