1-Rotina
Olá, meu nome é Allice Carvalho e essa é a minha história... O que eu vou contar para vocês aconteceu há muito tempo...
Eu sempre fui exageradamente romântica. Amava romances fossem livros, filmes, novelas, músicas...e me apegava a qualquer estória desse estilo que eu tivesse acesso. Desde muito nova eu vivia para me apaixonar. Pela vida, pelo céu, pela natureza e pelas pessoas. Mas essas paixões eram carregadas de tristezas e decepções mas também tiveram suas pequenas alegrias.
Minha vida transcorria normalmente. Em outras palavras, minha rotina diária era bem cronometrada. Eu acordava cedo, cedo mesmo por volta das seis da manhã todos os dias. Depois de tomar um banho rápido para despertar verdadeiramente eu vestia o uniforme apressada, calçava meus velhos tênis e saía correndo para pegar o ônibus.
Percorrer os cinco quarteirões de casa até a parada dia após dia era cansativo mesmo porque na maioria das vezes eu perdia o primeiro ônibus que passava às seis e quarenta e cinco. Aí único jeito era esperar o das sete horas e pedir a Deus que ele não atrasasse do contrário teria que correr, literalmente, os sete quarteirões que me separavam da parada mais próxima da escola. A viagem de ônibus durava entre trinta a quarenta e cinco minutos ou até uma hora inteira.
Depois desse tempo todo dentro do ônibus eu descia sempre enjoada, todas aquelas voltas me faziam sentir vontade de vomitar. Meu colégio ficava bem em frente a uma praça quase no centro da cidade. Era enorme tinha mais de vinte e cinco salas de aulas apenas em um andar além das outras como a sala da copiadora, laboratório de informática, auditório, cantina, refeitório, cozinha...
A estrutura era muito antiga mas bem conservada. Era a mais tradicional e respeitada dentre todas as escolas estaduais da cidade. Pois é, era uma escola pública muito boa por sinal. Eu comecei a estudar nela no quinto ano através da ajuda de minha antiga professora que sempre gostou de ajudar seus melhores alunos (sim eu sempre fui ótima) três anos atrás e ainda sentia-me como a "novata". Eu era muito introspectiva, falava pouco e minha timidez atrapalhava até minha participação em sala. Esse era meu ponto fraco.
A escola era muito organizada e eu me sentia grata a minha querida professora por ter me indicado, mas eu me sentia solitária. Talvez devido ao tamanho da escola. A quem eu quero enganar, me sentia sozinha porque não tinha muitos amigos, na verdade quase nenhum. Eu preferia me manter afastada das meninas da minha sala porque elas me achavam metida pelo fato de nunca aceitar sair com elas para as diversas festas que faziam. E quanto aos rapazes, nunca fui uma beldade que pudesse despertar interesse imediato. E na verdade preferia assim.
Eu ia e voltava sempre só todos os dias. Durante os intervalos das aulas eu me refugiava na Biblioteca, sempre gostei muito de ler. Quando esta estava fechada eu me escondia por entre os canteiros de flores do jardim. Ou por último no banheiro ou até mesmo numa das enormes quadras se eu conseguisse escapar pelo portão lateral que dava passagem aos alunos da educação física.
Apesar de apreciar ver os "gatinhos" da tarde durante as atividades eu me sentia mal por não poder fazer o que eles e as demais meninas de suas turmas faziam ali. Mas fazer o quê?
Desde bem pequena eu sempre tive vários problemas de saúde: asma, alergias, fraqueza muscular, dor nos ossos... Isso tudo me impedia de brincar normalmente e realizar qualquer atividade que demandasse maiores esforços como correr. Eu ficava vendo meus irmãos mais novos brincarem com seus amigos e me enchia tristeza por não poder fazer o mesmo.
Quem sabe fosse por isso que me isolei durante a maior parte da vida. Me tornando solitária. Meus grandes amigos sempre foram os livros e os animais de modo especial os cães e gatos. Com eles me sentia bem e feliz e quase não sentia falta de pessoas ao meu redor. Na verdade preferia ficar sozinha a ouvir críticas como: "Porque você não sai para brincar como seus irmãos? Porque você é tão mal humorada, nunca sorri? Está sempre de cara fechada! Assim nunca vai arrumar um namorado ou casar?" E eu pensava: Se eles soubessem que não está em meus planos namorar, casar... Provavelmente me internariam num manicômio.
Aquilo tudo me deixava muito chateada. Eu tinha consciência de que eu não fazia as coisas que meninas da minha idade faziam. Que eu não agia da mesma forma e também que não me parecia com meus irmãos com seus comportamentos perfeitamente aceitáveis e normais. Mas eu não podia ser como as pessoas queriam que eu fosse. Não dava para ser daquele jeito! Eu simplesmente não conseguiria ser assim. Ninguém imaginava o que havia na minha mente, o que se passava dentro de mim. Eu não sabia explicar, eu sentia uma tristeza enorme, um vazio...solidão, talvez algo mais...
Na volta para casa eu podia andar com mais calma já não havia tanta pressa. Eu caminhava quase contando os passos. A espera não era longa pelo menos não parecia ser. Chegava em casa sempre depois de meio dia quando mamãe estava em casa eu me esforçava e comia se ela não estivesse não fazia esforço nenhum, fazia as tarefas de casa depois de tomar um banho que dissipava um pouco do calor. Afinal a cidade era quente durante quase todo o ano.
Era um grande incômodo, pois o lugar onde nasci possuía clima bem mais agradável do que esse. Lá tinha muitas árvores e rios fazendo daquele pequeno povoado no extremo sul do estado ter um ar muito bom e frio. Sentia saudade de tudo. Da casa dos meus avós, dos banhos de rio, do cheiro de terra molhada depois de uma chuva, do perfume das plantas que para mim era o melhor de todos que existia no mundo inteiro... Mas tudo isso havia ficado no passado, um passado distante, triste e feliz ao mesmo tempo!
Agora minha vida era diferente. Haviam responsabilidades, desafios...como ser obrigada a interagir em grupo dentro da sala de aula quando um dos professores dividia a turma para realizar algum trabalho. Eu era muito individualista não me considerava egoísta mas talvez no fundo eu fosse um pouco por ser tão distante e isolada de todos até mesmo de minha família também por não suportar pessoas enxeridas. Esse era o único momento em que eu não podia escapar de ter que falar com meus colegas aos quais eu mal cumprimentava. Não me entendam mal. Eu não era orgulhosa ou metida como alguns pensavam. Na realidade meu problema era a timidez e a enorme dificuldade em me socializar.
No fim das contas depois de toda a organização eu fiquei com uma parte do trabalho para explicar na sala na aula seguinte e eu já estava suando e tremendo por antecipação. No dia seguinte na segunda aula eu e meu grupo apresentamos o trabalho sobre evolução. Eu pensei que morreria de tanto nervosismo. Eu estava com as mãos geladas... Falei tão rápido que não sei se alguém entendeu o que eu disse. Apenas diminui o ritmo quando falei que não acreditava na evolução e sim na criação. Ouvi os murmúrios no mesmo instante. Então pontuei que tanto a evolução como a criação são teorias e que os cientistas não têm provas de que nenhuma das duas possa ser verdadeira e que eu preferia crer em Deus e na Bíblia. Fiquei muito nervosa, meus colegas me olhavam como se eu fosse um animal exótico mesmo assim falei no que eu acreditava e não deixei que seus julgamentos me fizessem mudar de opinião ou me constranger.
Apesar de tímida eu não suportava que as pessoas agissem de forma preconceituosa e intolerante. Eu sempre defendi meu ponto de vista, meu silêncio e paciência só duravam até tentarem me humilhar ou escarnecer ai "era farpa para todo lado", como diria minha mãe.
Depois de um pequeno debate um tanto acalorado o professor de biologia deu por encerrada nossa apresentação e disse que ele mesmo acreditava em Deus surpreendendo a todos da sala no início pensei que tivesse dito isso somente para me agradar e encerrar o assunto. Então ele argumentou que realmente não há como provar a teoria evolutiva nem a existência de Deus, mas que a fé não se explica apenas quem crê poderia entender essa verdade. Fiquei admirada com sua atitude.
Ao término da aula soubemos que teríamos um horário vago depois do intervalo teriam mais duas aulas e eu sabia que grande parte da turma daria um jeito de se infiltrar entre as demais turmas que sairiam depois da pausa para o lanche. Eu preferi esperar as demais aulas, eu sempre preferia esperar!
Naquele dia o clima estava muito bom. O frio era aconchegante. O sol se escondia por entre grandes nuvens cinzas. Por causa disso eu conseguia olhar diretamente para o céu nublado sem sentir-me incomoda pela luz do sol. Eu sempre me senti estranha por não gostar de me expor ao sol. Meus olhos e minha pele ardiam logo nos primeiros instantes de exposição por isso eu sempre preferia a noite e a luz da lua que não me feria de modo algum.
Naquele momento soprava um vento fresco que balançava meus cabelos enquanto eu fechava os olhos ante o frescor daquela sensação maravilhosa. Eu pedia a Deus mentalmente para que chovesse. Eu adorava chuvas. Muitas vezes eu chegava em casa ensopada. Quando previa que choveria eu fazia questão de ir andando para casa para poder apreciar cada gota de água geladinha me molhando inteira. Por mais distante que fosse minha casa esse era um prazer indescritível. Estar na chuva era minha realização pessoal, eu sentia uma grande satisfação ao sentir o cheiro de terra molhada e o toque suave das primeiras gotas que caíam sobre mim, molhavam meu rosto e depois me encharcavam completamente.
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Salut!
Olá, sejam todos muito bem vindos a mais uma história! Espero de coração que vocês gostem, curtam comentem e amem minha querida Allice e seu bem amado Louis. Eu, sei devem estar se perguntando quando ele irá aparecer, mas não se preocupem ele virá logo!
Até breve!
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