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⁴você de novo?

Cheguei no trabalho ainda com a cabeça no que tinha acontecido. Lucas percebeu de cara.

— Tá parecendo que viu um fantasma. — Ele me entregou uma xícara de café e me encarou. — Ou foi mais um daqueles sonhos que você não quer me contar?

— Não foi nada. — Revirei os olhos, tentando disfarçar.

— Sei. — Ele sorriu com malícia. — Aposto que foi com a foguinho de novo.

Quase derrubei o café.

— Você tá obcecado com essa garota.

— Eu? Você que tá sonhando com ela.

Antes que eu pudesse responder, o sino da porta da cafeteria tocou. Quando olhei, meu coração parou.

Vi.

Ela estava ali, casualmente encostada na porta, com aquele mesmo sorriso de quem sabia mais do que devia.

O som da porta da cafeteria se fechando parecia mais alto do que o normal, ou talvez fosse só o meu coração batendo forte demais.

— Oi, docinho — ela disse, o tom carregado de ironia enquanto seus olhos azuis brilhavam diretamente nos meus.

Lucas, é claro, não perdeu a oportunidade.

— Eu sabia! — Ele sussurrou animado, dando um leve empurrão no meu ombro antes de sair de perto, me deixando sozinha no balcão com ela.

— Você gosta de fazer entradas dramáticas, né? — falei, tentando manter a compostura, embora minha voz tenha saído um pouco trêmula.

Vi deu de ombros e caminhou até o balcão com a mesma calma felina que me fazia sentir que eu era a presa ali.

— Só quando tem alguém especial pra impressionar. — Ela apoiou os cotovelos no balcão, inclinando-se ligeiramente para mim.

Fiquei vermelha, e senti as orelhas queimarem. Peguei a xícara de café que estava preparando e tentei ignorá-la.

— Vai querer alguma coisa, ou veio só pra me atormentar? — perguntei, sem olhar diretamente para ela.

— Depende. — Vi ergueu uma sobrancelha e inclinou a cabeça. — Se eu pedir um café, vai ser tão bom quanto você parece ser?

Eu ri de nervoso e, sem pensar muito, peguei uma xícara com café fresco. Mas a provocação dela tinha me distraído, e minha mão tremeu levemente. Antes que eu percebesse, o café escorreu da xícara e foi parar direto na camisa de Vi.

— Ah, merda! — exclamei, puxando um pano para tentar limpar.

Vi deu um passo para trás, os olhos estreitando enquanto ela olhava para a mancha que se espalhava pela sua camisa preta.

— Sério? — ela perguntou, a voz carregada de irritação.

— Foi sem querer! — Falei apressada, mas o olhar dela me fez recuar.

Ela pegou um guardanapo do balcão e começou a limpar a camisa por conta própria, visivelmente contrariada.

— Sem querer, né? — O tom dela era ácido, mas tinha algo mais ali, uma frustração contida que eu não entendia.

— Eu juro que foi! — tentei insistir, mas Vi levantou a mão, me cortando.

— Tá, tudo bem. — Ela respirou fundo, mas ainda parecia tensa.

Jogou o guardanapo no balcão e ajeitou a postura.

— Acho que já me diverti o suficiente por hoje. — O sorriso irônico voltou ao rosto dela enquanto ela virava as costas para mim. — Até mais, docinho.

E com isso, ela foi embora, me deixando ali parada, sem saber se me sentia aliviada ou arrependida.

Lucas apareceu logo depois, me olhando com uma expressão de puro entretenimento.

— Você tá se superando, hein. — Ele riu, me cutucando com o cotovelo. — Primeiro os sonhos, agora você joga café na mulher.

— Cala a boca, Lucas. — Passei a mão pelo rosto, exausta.

— Ei, não tô julgando. Só tô dizendo que isso tá ficando interessante.

Olhei para a porta por onde Vi tinha saído, ainda sentindo meu coração acelerado. Interessante era pouco para descrever aquilo.

---⏳️

Era noite de novo quando saí do trabalho. A lembrança de Vi na cafeteria não saía da minha cabeça. A forma como ela me olhou, com aqueles olhos penetrantes e aquele sorriso malicioso... Parecia que ela sabia de algo que eu não sabia.

Lucas tinha me dado aquela provocação clássica antes de eu sair:
— Vai sonhar com ela de novo hoje?

Eu apenas revirei os olhos, mas ele riu como se tivesse acertado em cheio.

Enquanto caminhava pelas ruas silenciosas, uma sensação estranha começou a crescer. Era como se alguém estivesse me observando. Olhei ao redor, mas tudo parecia normal. Ainda assim, não consegui ignorar o arrepio que percorreu minha espinha.

Virei no beco perto do meu prédio, o mesmo onde Vi tinha aparecido antes. Por um segundo, pensei ter ouvido passos atrás de mim, mas quando olhei, não vi ninguém.

Eu tô ficando paranoica.

Foi quando a voz surgiu, baixa, quase um sussurro:
— Sempre andando sozinha, hein?

Me virei tão rápido que quase escorreguei no chão molhado. Lá estava ela, Vi, encostada casualmente na parede, como se aquele fosse o lugar mais natural do mundo para se estar.

— Você de novo? — perguntei, minha voz soando mais acusadora do que eu pretendia.

Vi deu um passo à frente, as botas dela batendo suavemente no asfalto. Ela estava com a mesma expressão provocadora de antes.

— Parece que sim. — Ela sorriu, um sorriso que não era exatamente reconfortante. — Gostou do show mais cedo?

— Show? Você quer dizer o quê? Aparecer do nada e agir como se me conhecesse? — Cruzei os braços, tentando não demonstrar o quanto meu coração estava disparado.

Ela riu baixinho, como se achasse minha reação engraçada.

— Relaxa, docinho. Só tava passando por aqui. Coincidência, sabe?

— Coincidência o caramba. — Dei um passo para trás, mantendo meus olhos fixos nela. — Quem é você?

Vi me encarou por um momento, e o sorriso no rosto dela diminuiu um pouco.

— Vamos só dizer que sou alguém que apareceu no momento certo. — Ela deu de ombros, como se aquilo fosse uma explicação suficiente.

— Isso não me diz nada. — Minha voz soou mais firme agora, embora eu ainda sentisse o estômago revirado.

Ela inclinou a cabeça, me analisando.

— Você é teimosa, hein? — disse ela, com um leve tom de diversão.

Antes que eu pudesse responder, Vi deu um passo para trás e ergueu a mão em um gesto de despedida.

— Nos vemos por aí, Caitlyn.

Meus olhos se arregalaram.

— Como você sabe meu nome? — perguntei, minha voz saindo mais alta e firme do que eu esperava.

Vi parou de andar e se virou para mim, aquele sorriso irritante voltando aos lábios.

— Fácil. — Ela apontou para o meu peito. — Tá aí, no crachá.

Olhei para baixo automaticamente, percebendo que ainda estava usando o uniforme da cafeteria, com meu nome bem destacado no crachá preso à camisa.

— Sério? — respondi, sentindo meu rosto esquentar.

— Relaxa, docinho, não precisa ficar tão na defensiva. — Vi começou a andar na minha direção de novo, cada passo parecendo medido. — Mas, se quer saber, você chama atenção. Não só pelo nome.

— Chamar atenção não é bem o que eu quero. — Cruzei os braços, tentando ignorar o jeito que ela parecia tão à vontade ali, mesmo no meio de um beco escuro e molhado.

— É mesmo? — Vi inclinou a cabeça, me analisando como se eu fosse um quebra-cabeça interessante. — Então precisa trabalhar nisso, porque tá falhando miseravelmente.

Antes que eu pudesse responder, ela deu aquele sorriso malicioso de novo e se afastou.

— Até a próxima, Caitlyn. E tenta não jogar café em mim da próxima vez, tá?

Eu pisquei, confusa, enquanto ela desaparecia na esquina.

Vi parecia ter o dom de aparecer do nada, bagunçar meu mundo e ir embora como se não fosse nada.

Mas por que eu sentia que isso era só o começo?




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