quero respostas
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Passei a noite inteira encarando o teto, o sono me escapando como areia entre os dedos. Quanto mais eu pensava, mais as perguntas me engoliam. Quem era Vi? Por que ela sabia tanto sobre mim? E o que estava acontecendo ao meu redor? Eu precisava de respostas, e Vi era a única que parecia tê-las.
Na manhã seguinte, depois de um banho rápido e café forte, eu decidi ir atrás dela. Vasculhei os lugares óbvios – os arredores da cafeteria, o bar onde ela sempre aparecia, até alguns becos conhecidos da cidade. Nada. Nem sinal dela.
Uma pontada de preocupação começou a se alojar no fundo da minha mente, algo que eu me recusei a nomear. Vi parecia ser do tipo que sempre aparecia quando queria, mas, dessa vez, a ausência dela era gritante. Ao mesmo tempo, Claire parecia decidida a me enlouquecer com mensagens. As notificações pipocavam uma atrás da outra no meu celular, e eu, simplesmente, ignorei todas.
No fim, só restava um lugar para procurar: o beco onde tudo tinha começado.
Quando cheguei lá, o ar parecia diferente, mais pesado. Uma sensação familiar de alerta percorreu meu corpo. Encostei na parede de tijolos, cruzando os braços, como se tentasse parecer relaxada. Mas, na verdade, estava pronta para qualquer coisa.
Não demorou muito.
Vi apareceu como uma sombra na borda do beco, a luz fraca do dia delineando sua silhueta. Ela estava com aquele sorriso de quem sabe exatamente o impacto que causa – provocante e seguro de si. Seus passos eram lentos, calculados, como se estivesse dançando no ritmo de uma música que só ela podia ouvir.
— Procurando por mim, detetive? – a voz dela veio carregada de sarcasmo, mas havia uma ponta de curiosidade genuína.
— Não sou detetive há muito tempo – retruquei, mantendo meu tom firme.
Ela se aproximou, os olhos acinzentados brilhando com algo que eu não conseguia decifrar. — Ah, mas ainda age como uma. Seguindo pistas, tentando desvendar mistérios... Aposto que até sonhou comigo enquanto juntava as peças.
— Não vou cair no seu joguinho, Vi. Quero respostas.
Ela parou a poucos passos de mim, inclinando a cabeça como se avaliasse minha determinação. — E o que te faz pensar que eu vou te dar alguma?
— Porque você sabe que eu não vou parar até descobrir por conta própria – desafiei.
Vi deu uma risada curta, cheia de deboche. — Sabe, eu gosto disso em você. Essa teimosia. Mas... – ela deu mais um passo, invadindo meu espaço pessoal. — Às vezes, a curiosidade pode ser perigosa, Caitlyn.
Eu não recuei. — Perigoso é continuar no escuro.
Ela ergueu uma sobrancelha, claramente impressionada, mas não deixou a provocação de lado. — Então, o que quer saber, detetive?
Eu mantive o olhar firme, mesmo quando ela deu mais um passo, tão perto que eu podia sentir o calor que emanava dela, misturado ao cheiro de algo metálico, como ferro.
— Quem é você, Vi? – Minha voz saiu firme, mas carregada de frustração. — E como sabe tanto sobre mim?
Vi cruzou os braços, inclinando a cabeça como se ponderasse sobre o quanto deveria dizer. — Eu sou... complicada – respondeu, a provocação ainda presente no tom, mas havia algo mais ali. Algo mais sombrio. — E quanto a saber sobre você... Digamos que temos uma conexão, Caitlyn. Algo mais profundo do que você imagina.
Meu coração apertou no peito, mas não deixei que ela percebesse. — Isso não explica nada. Por que apareceu na minha vida? Por que parece que tudo ao meu redor está desmoronando desde que te conheci?
Vi soltou uma risada baixa, mas sem humor. — Não sou eu quem está causando isso, Caitlyn. É você. Ou melhor, o que você atraiu para sua vida.
Franzi a testa, confusa. — O que isso significa?
Ela se aproximou ainda mais, tão perto que seus olhos pareciam vasculhar a minha alma. — Lembra daquele caso, há três anos? Aquele que te fez abandonar tudo?
Meu corpo inteiro ficou tenso. Claro que lembrava. Como poderia esquecer? Os símbolos gravados nos corpos, as mortes inexplicáveis, os sonhos terríveis que me assombraram por meses.
— Isso foi resolvido – menti, tentando afastar a sensação de pânico.
Vi balançou a cabeça lentamente, um sorriso amargo nos lábios. — Não foi. Você pode ter fugido, mas não escapou. O que você viu naquele caso... era só o começo.
Engoli em seco, mas mantive o olhar firme. — E o que isso tem a ver comigo agora?
Ela deu um passo para trás, finalmente rompendo a proximidade, mas seu tom ficou sério. — Porque você está marcada, Caitlyn. Algo te escolheu naquela época, e agora voltou para reclamar o que acha que é seu.
Minha respiração ficou mais pesada, a mente girando com as possibilidades. — Escolheu? O que... o que isso quer de mim?
Vi deu de ombros, mas havia uma gravidade em sua expressão. — Isso é o que precisamos descobrir antes que seja tarde demais.
— Nós? – perguntei, cruzando os braços.
— Não se engane, docinho – ela disse, o sorriso voltando aos lábios. — Não estou aqui por altruísmo. Se você cair, as coisas podem ficar feias para todo mundo.
Antes que eu pudesse responder, um som estranho veio do outro lado do beco, um sussurro baixo e gélido, como se o vento estivesse falando. Vi se virou rapidamente, o corpo todo tenso como o de um predador pronto para atacar.
— E é por isso que eu disse para tomar cuidado – ela murmurou.
— O que foi isso? – perguntei, tentando manter a calma.
— Algo que estava te seguindo – ela respondeu, os olhos acinzentados brilhando de forma sobrenatural na escuridão.
O sussurro ficou mais alto, e eu soube que o que quer que estivesse lá não era humano.
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