Capítulo 32 - Perdido em minha mente
Harry despertou ao som do canto suave dos pássaros e ao toque gentil do vento em sua pele. A luz do sol nascente banhava o ambiente, e ele abriu os olhos lentamente, ajustando-se à claridade. O céu se tingia de cores mais densas à medida que a manhã avançava, sinalizando o início de um novo dia.
Ele se encontrava deitado em uma cama simples, encostada contra a parede. Acima de si, uma janela aberta deixava entrar a brisa matinal. A construção era antiquada: sem vidros, apenas uma abertura com portinholas de madeira que podiam ser fechadas. O frescor do ar e o aroma da terra úmida confirmavam que estava em um lugar remoto.
Ao olhar pela janela, ele avistou um pequeno lago sereno, onde um píer de madeira se projetava em direção às águas cristalinas. Perto do píer, um modesto barco repousava, balançando suavemente com o movimento da água. Harry percebeu que estava em uma casa modesta, composta de poucos cômodos visíveis. O espaço em que estava parecia ser uma sala integrada à cozinha, com uma cama que parecia estar fora de lugar, como se tivesse sido improvisada ali.
Movendo-se devagar, ele se levantou. Sentiu os músculos ainda tensos, como se sua alma carregasse um peso impossível de ser aliviado. Ao lado da cama, encontrou uma camisa branca de mangas longas e uma gola larga, que vestiu para cobrir o peito nu. Seus pés o conduziram até a porta da casa. Ao cruzar o limiar, ele reconheceu o local, mas algo parecia diferente. Havia familiaridade, mas também uma sensação inquietante de mudança.
Caminhou lentamente em direção ao lago, onde parou para admirar o nascer do sol. Os raios dourados iluminavam o cenário, tornando-o vibrante e cheio de vida. Harry fechou os olhos e deixou o vento acariciar seus cabelos, enquanto o som dos pássaros ecoava ao longe. Por um breve momento, tudo parecia em paz. Porém, a serenidade não durou.
De repente, imagens vívidas invadiram sua mente. Ele viu os rostos de seus amigos, marcados pela dor e destruição. Saya, ensanguentada, com cortes profundos e hematomas; Igros, com os braços quebrados; Len, quase sem vida, com um buraco abaixo do peito, onde antes havia seu núcleo de manipulação. E Kazuki... ele nem sabia se estava vivo. A lembrança do professor, à beira da morte, foi o golpe final. Se tivessem demorado mais um segundo, tudo teria terminado de forma trágica.
Harry se ajoelhou no chão, incapaz de conter as lágrimas que escorriam de seus olhos fechados. Ele apertou os punhos, golpeando o solo com desespero. A culpa e o peso de suas memórias o consumiam. Em um grito rouco, liberou a dor que rasgava sua alma.
— Por quê? — sua voz tremeu enquanto as palavras saíam, carregadas de sofrimento. — Por que nunca consigo proteger ninguém? Por que nunca sou suficiente?
Suas lágrimas caíam incessantes, transformando o chão em um borrão turvo. Sua postura, antes firme, agora parecia frágil. Ele se abraçou, tentando conter o turbilhão de emoções, mas o aperto em seu peito apenas se intensificava.
As memórias voltaram com força renovada, repetindo-se como uma tortura incessante. Uma voz cruel ecoou em sua mente, fria e sarcástica, expondo suas falhas. "Quantas vezes você verá as pessoas que ama sofrerem até aprender? Você é inútil, Harry." Ele tentou abafar a voz, pressionando as mãos contra os ouvidos, mas ela persistia, como uma faca perfurando sua sanidade.
Ele gritou, um som primal e doloroso que parecia fazer o ar ao seu redor vibrar. O céu começou a se nublar, como se sua energia estivesse em sintonia com sua angústia. Mas então, algo quebrou a escuridão em sua mente.
— Está tudo bem, Harry. Eu estou aqui com você.
Uma voz suave e reconfortante interrompeu o caos. Sentiu mãos gentis acariciando seus cabelos. Por um momento, o peso diminuiu. Ele abriu os olhos, ainda marejados, e olhou para o homem que o segurava.
— Tio Alex? — perguntou, sua voz tremendo de incredulidade.
— Sim, garoto. Está tudo bem agora. Eu estou aqui — Alexander respondeu com firmeza, abraçando-o como se pudesse protegê-lo de toda a dor.
Alexander manteve o abraço por longos minutos, murmurando palavras de consolo enquanto Harry chorava em silêncio. Aos poucos, o jovem começou a se acalmar. O calor do abraço e a segurança transmitida por Alex eram como um escudo contra os fantasmas que o assombravam.
— Eu tenho medo, tio... Não do que possa acontecer comigo, mas do que pode acontecer com você — Harry finalmente admitiu, sua voz embargada pelo medo genuíno.
— Nada vai acontecer comigo, garoto. Eu prometo — disse Alex, segurando-o pelos ombros e olhando diretamente em seus olhos. — Você não está sozinho.
Harry assentiu lentamente, mas algo em sua expressão mostrava que ele não acreditava completamente. Ele se afastou, recolheu alguns suprimentos e preparou uma pequena mochila. Alexander o observou, em silêncio, percebendo a determinação silenciosa no garoto.
— Harry, o que você vai fazer? — Alexander finalmente perguntou, sua voz carregada de preocupação.
— Sinto muito, tio Alex — respondeu Harry, sem encará-lo. — Não posso ficar. Não quero que você sofra por minha causa.
Antes que Alexander pudesse detê-lo, Harry desapareceu em um piscar de olhos, levado pelo vento como uma sombra que se esvai. Alexander permaneceu imóvel, olhando para o céu, agora carregado de nuvens.
— Ele é igual a você, meu irmão — murmurou para si mesmo. — Carregar um fardo tão pesado... Espero que ele não se perca no caminho.
Com um suspiro, Alexander voltou para dentro de casa. Ele recolheu roupas do varal e organizou a bagunça deixada para trás. Ao colocar a cesta de roupas sobre a cama, parou por um instante e olhou para a porta. Sua mente divagava, imaginando onde Harry poderia estar e se ele estaria seguro.
— Acho que chegou a hora de visitar Saya — disse para si mesmo, enquanto olhava para o horizonte.
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