Capítulo 26 - Esperança Destruída
— Droga... Não vai dar tempo de protegê-los.
Len apertou os punhos com força enquanto erguia as mãos. Uma camada densa de gelo começou a se formar ao seu redor, crescendo rapidamente até se tornar um domo. Era grosso, quase translúcido, e frio o suficiente para causar arrepios, mesmo a ele. Sabia que era sua única chance de sobreviver ao ataque iminente. A esfera negra, colossal e pulsante, aproximava-se, engolindo tudo no caminho como um abismo faminto.
O impacto foi imediato. Len sentiu o chão sumir sob seus pés, e o som ao redor desapareceu, substituído por um silêncio opressor. Dentro da esfera, tudo era escuridão, como se o mundo inteiro houvesse sido apagado. Ele abriu os olhos, mas nada via além do breu. A sensação de vazio era sufocante.
— O... O que está acontecendo? — sussurrou, sua voz soando pequena e frágil naquele infinito negro.
Subitamente, um som agudo de rachaduras cortou o silêncio. Pequenas fissuras começaram a surgir ao redor, permitindo que raios de luz penetrassem o véu de escuridão. Por um momento, Len sentiu esperança. Mas essa sensação logo deu lugar ao pânico, quando percebeu que a esfera estava se rompendo.
— Não...
Antes que pudesse reagir, a esfera explodiu. Uma onda de energia o lançou com violência, fazendo-o atravessar o ar como uma folha ao vento. Ele bateu no chão com força, rolando por vários metros antes de parar. O impacto o deixou atordoado, e ele permaneceu imóvel por alguns minutos, protegido apenas pelo domo de gelo que havia criado.
Finalmente, Len desfaz a barreira. A sensação de ar fresco enche seus pulmões enquanto ele se levanta, embora seu corpo esteja dolorido.
— Acabei longe... Espero que todos estejam bem — murmurou, ofegante.
Ele observou o local onde estava: um campo vasto, salpicado por flores delicadas em tons de rosa e branco. O cenário era quase surreal em sua beleza. Mais adiante, uma floresta densa formava uma parede de árvores altas, suas sombras se projetando de forma quase ameaçadora.
De repente, o ar ao seu redor começou a mudar. O calor suave do sol deu lugar a uma brisa fria, que rapidamente se transformou em uma corrente gelada. As flores ao seu redor começaram a congelar, suas pétalas ficando quebradiças e brilhantes. Len olhou para suas próprias mãos, mas percebeu que não era ele o responsável por aquilo.
Virando-se, seus olhos se arregalaram ao ver uma enorme bola de gelo despencando do céu, vindo direto em sua direção.
Ele saltou para trás instintivamente, escapando do impacto por pouco. Quando a bola colidiu com o chão, o impacto foi avassalador, levantando fragmentos de terra e neve. Uma onda de ar gélido se espalhou em todas as direções, cortando como lâminas invisíveis.
— Para o mais fraco, você até que tem uma boa manipulação — uma voz ecoou de dentro da neblina que se formava ao redor do impacto.
Len ergueu os braços, adotando uma postura defensiva. A neblina dissipou-se lentamente, revelando uma figura que fez seu coração quase parar.
— Surpreso? Imagino que sim. Agradeça ao seu irmão depois... Isso se você sair vivo daqui — disse a figura, com um sorriso frio.
Len gaguejou, seus olhos arregalados e sua guarda momentaneamente baixa.
— Meu... Meu irmão?!
Sem aviso, a figura avançou. Uma longa espada de gelo surgiu em sua mão, brilhando com uma intensidade letal. A lâmina foi erguida na altura do rosto de Len, pronta para perfurá-lo.
O instinto o salvou. Em um movimento ágil, ele desviou para o lado, escapando por um triz. Mas o clone não parou. Com um movimento fluido, arrastou a espada em um arco horizontal. Len se abaixou rapidamente, rolando para trás para evitar o golpe.
— Que tipo de clone é você?! Sua velocidade é maior que a minha...
— Claro que é — respondeu o clone, com um tom carregado de arrogância. — Um presente daquele que me criou.
— Quem é ele? — Len perguntou, sua voz agora séria e fria como o gelo que o rodeava.
— Ah, isso é algo que você só descobrirá se sobreviver — provocou o clone, rindo.
Len respirou fundo, acalmando seu coração acelerado. Ele ergueu o queixo, encarando o clone com um olhar determinado.
— Se é isso que você quer, então vamos terminar isso.
O clone avançou novamente, sua espada cortando o ar com um som sibilante. Mas Len estava preparado. No momento exato, desviou-se habilmente e tocou o ombro do clone com a ponta dos dedos. Uma camada de gelo se formou instantaneamente, forçando o clone a soltar a espada.
Len girou para trás, posicionando-se para o ataque final. Estendeu a mão aberta em direção ao clone, que o encarava com desespero.
— Sinto muito... Mas isso termina agora. Perecimento Glacial.
Uma onda de frio extremo se espalhou por toda a área. O solo foi coberto por uma camada espessa de gelo, enquanto as flores e árvores congelavam em instantes, tornando-se esculturas de cristal. O clone tentou resistir, mas o gelo subiu por seu corpo, imobilizando-o lentamente.
— Por quê?! — gritou o clone, sua voz carregada de angústia.
— Eu que pergunto — respondeu Len, aproximando-se. — Quem mandou você?
— Acha mesmo que vou responder?! — o clone retrucou, rindo apesar de sua situação.
Len permaneceu em silêncio por alguns segundos, seu olhar frio e implacável.
— Então você não me serve.
O gelo completou seu trabalho, engolindo o clone por inteiro. Len deu as costas, caminhando em direção ao centro destruído da academia. No entanto, após alguns passos, ele sentiu algo... Uma presença. Lentamente, virou-se para encarar o que estava atrás dele.
A neve caía com delicadeza, mas o frio era cortante. O cenário ao redor era um contraste entre o silêncio da natureza congelada e a tensão que pairava no ar. Árvores cobertas de gelo refletiam a luz pálida do céu, como se observassem o reencontro de dois irmãos em lados opostos de uma batalha que transcendeu laços de sangue.
Wally estava ali, parado, apoiado em um clone grotesco, com uma presença tão intensa que parecia distorcer o ambiente ao seu redor. Seu cabelo, antes familiar para Len, agora era um espectro de branco, como se tivesse sido tingido pelas sombras. Ele vestia um longo sobretudo preto, rasgado nas bordas, e uma calça robusta, que lhe dava uma aura intimidadora.
— Acho que... subestimei você, irmãozinho — disse Wally, sua voz carregada de ironia.
O sorriso que surgiu em seu rosto era ao mesmo tempo encantador e perturbador, um reflexo de um prazer sádico em rever Len.
— Sentiu saudades? — continuou, com um tom provocativo. — Eu senti muito a sua, você não faz ideia.
Len ficou imóvel. Seus olhos estavam arregalados, não apenas pelo choque, mas pela confusão e tristeza.
— O-o-que aconteceu com você? — Ele gaguejou, sentindo o peso das perguntas que surgiam como uma avalanche em sua mente.
Wally o observava como um predador que saboreava o medo da presa. Seu olhar era hipnotizante, os olhos vermelhos escarlates cintilavam como os de uma criatura sobrenatural.
— Me diga, Len... Que tipo de treinamento você passou? Não me lembro de você ser tão habilidoso assim — disse Wally, inclinando a cabeça levemente, como se quisesse entender algo profundamente.
— Do que você está falando? — Len respondeu, a confusão em sua voz era evidente.
Wally soltou uma risada grave e quase insana, bagunçando os cabelos com as mãos.
— Ele não te contou, não é?
— Contou? Quem? O que ele não me contou?
Wally gargalhou, o som ecoando entre as árvores congeladas. Era uma risada que trazia calafrios, algo perverso, como se ele estivesse à beira de um colapso de loucura.
— É óbvio... Se ele tivesse te contado, você teria me atacado assim que me visse.
Len deu um passo hesitante à frente, sem perceber que sua respiração se acelerava.
— Atacar? Por que eu faria isso?
— Len... — Wally disse, com a cabeça abaixada, sua voz agora mais baixa e sombria. — Eu matei nosso pai.
Len sentiu como se o mundo ao seu redor tivesse parado. As palavras perfuraram sua mente como lâminas. Ele começou a tremer, e as lágrimas escaparam sem que ele pudesse contê-las.
— Não... não... não! — Len gritou, caindo de joelhos e cobrindo as orelhas, recusando-se a ouvir mais.
Wally caminhava lentamente em direção a ele, o sorriso cruel ainda estampado no rosto.
— Ah, irmãozinho... Eu quero ver você com raiva!
Com um movimento rápido, Wally ergueu a perna e acertou um chute violento no queixo de Len, que foi arremessado para trás, caindo no chão gelado.
— Vamos, levante-se! Você é fraco, mas não a esse ponto — provocou Wally, a voz gotejando desprezo.
Len ergueu-se lentamente, o corpo tremendo, mas seu olhar era de negação.
— Você não o matou... Está mentindo! Isso é um teste, não é? — Ele avançou, segurando os ombros de Wally com força. — Me diga que é mentira, irmão!
O sorriso de Wally se desfez. Seus dentes rangeram com tanta força que era audível.
— Você me enoja, Len.
Antes que Len pudesse reagir, Wally transformou seu corpo em sombras. Len atravessou o vazio e caiu no chão, olhando para o espaço onde seu irmão estava.
— Você ainda não acredita... Então eu farei você entender.
Wally reapareceu em um instante, agarrando Len pelo pescoço. Seus dedos apertavam com força, cortando a respiração do irmão mais novo.
Len tentava congelar o braço de Wally, mas era inútil. Wally parecia invulnerável, cada célula de seu corpo já era parte daquela escuridão.
— Não adianta, você é fraco demais para me tocar!
Wally o lançou com brutalidade contra as árvores congeladas. Len sentiu o impacto ressoar pelo corpo, como se cada osso estivesse à beira de quebrar. Ainda assim, ele se levantou, cambaleando, o olhar fixo em uma luz distante entre as árvores.
— Está com pressa? — Wally perguntou, reaparecendo atrás de Len com uma velocidade impossível.
Ele o atacou novamente, acertando um chute que o lançou para fora do aglomerado de árvores. Len caiu de costas na neve, ofegante, enquanto olhava para o céu.
De repente, um estrondo distante cortou o silêncio, e uma explosão iluminou o horizonte.
— Parece que Heyzel venceu seu clone — comentou Wally com um tom casual. — Enquanto você... Bom, você vai morrer aqui.
Len ouviu aquelas palavras como um desafio final. Apesar da dor, levantou-se mais uma vez.
— Eu não vou perder... Não aqui! — gritou, erguendo os braços.
O chão ao seu redor congelou rapidamente, e estacas de gelo começaram a se erguer, algumas alcançando alturas monstruosas. Elas avançaram na direção de Wally, que desviava com facilidade, rindo enquanto pulava de um lado para o outro.
A batalha continuou em uma dança caótica, até que Wally, com sua velocidade inumana, quebrou ambos os braços de Len e o jogou ao chão novamente.
— Você é patético, irmãozinho — disse Wally, olhando para Len com desprezo. — Não merece nem o poder que tem.
Len gritou, mais de raiva do que de dor, se erguendo novamente e correndo na direção de seu irmão, mas Wally o silenciou com um golpe final, perfurando seu abdômen e destruindo sua energia de manipulação.
— Adeus, Len.
Wally desapareceu, deixando Len ajoelhado na neve, sozinho e à beira da morte.
A neve caía ao seu redor, e um sorriso triste se formou em seus lábios. Apesar de tudo, Len sentia esperança ao imaginar que seus amigos haviam vencido. Seus olhos se fecharam, e a escuridão o envolveu.
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