Capítulo 23 - A primeira batalha
Próximo ao que restava do grande estádio, agora transformado em escombros, Saya começava a recuperar a consciência. Ela se ergueu lentamente, sentindo os músculos do corpo protestarem contra o movimento. A explosão havia sido tão repentina e avassaladora que não apenas a separara de seus amigos, mas também espalhara outros alunos por toda a área devastada.
Com dificuldade, Saya olhou ao redor. O que antes era a academia, símbolo de aprendizado e proteção, agora era um cenário de destruição total. Os corredores outrora vibrantes estavam irreconhecíveis, transformados em montes de destroços e cinzas. Não houve sequer um momento para reagir ou lutar contra aquilo. Eles foram completamente surpreendidos.
Enquanto tentava caminhar, um pensamento dominava sua mente: Harry. Onde ele estaria? Estaria seguro? A angústia a impulsionava. Clamando por forças que mal possuía, Saya deu alguns passos hesitantes em direção à sala de tratamento, mas então percebeu uma presença.
Uma figura emergiu por entre a poeira e os destroços. A princípio, era difícil discernir quem ou o que era. A silhueta caminhava lentamente, a cabeça baixa, envolta em uma aura perturbadora. Quando finalmente ergueu o rosto, Saya sentiu o chão sumir sob seus pés.
A expressão de Saya congelou, os olhos arregalados e a boca entreaberta. Sua mente lutava para processar o que via. Sua cópia perfeita estava diante dela, mas os olhos da outra Saya brilhavam com uma malícia que ela jamais associaria a si mesma.
- Então... é você quem eu sou? - disse a figura, com um tom gélido e um sorriso distorcido.
- O que... o que está acontecendo aqui? - balbuciou Saya, a voz vacilando.
A cópia gargalhou, uma risada descontrolada e sinistra.
- Você ainda não entendeu, querida? É a invasão! - proclamou ela, o tom oscilando entre o sarcasmo e o desprezo. - Viemos para fazê-los sentir dor, uma dor que jamais esquecerão!
A preocupação com Harry ainda dominava os pensamentos de Saya, mas era evidente que não poderia evitar o confronto. Quem quer que fosse essa cópia, ela estava ali para lutar.
Respirando fundo, Saya tentou se recompor, adotando uma postura defensiva. O ar ao seu redor parecia mais pesado, impregnado pela tensão crescente. Subitamente, a clone avançou. Seu movimento foi tão rápido que levantou uma nuvem de poeira ao seu redor.
Saya, alertada pelo som do deslocamento, conseguiu se esquivar no último momento, girando para o lado e acertando um soco poderoso no abdômen da adversária. O impacto ecoou pelo ar, lançando a clone vários metros para trás.
A cópia foi arremessada, mas aterrissou habilmente, deslizando pelo solo até parar, sem perder o equilíbrio. Ela inclinou a cabeça para o lado, exibindo um sorriso cruel. Com um gesto teatral, ergueu a mão, tocando a testa com dois dedos, enquanto os outros se mantinham relaxados.
- Interessante... Não esperava que você tivesse força. - Sua voz era um misto de excitação e escárnio. - Achei que fosse apenas uma garotinha fraca e indefesa. Mas, pelo visto... vai ser muito divertido te destruir. HAHAHAHA!
As palavras dela evocaram memórias indesejadas em Saya. Algo em sua postura e no tom de voz lembrava Rujan, o que fez uma onda de desconforto e raiva crescer dentro dela.
Desta vez, a clone atacou com uma velocidade ainda maior, obrigando Saya a reagir instantaneamente. A oponente acertou um chute direto no abdômen de Saya, que cambaleou para trás, cuspindo sangue. A dor era intensa, mas ela se forçou a recuperar o equilíbrio, segurando a barriga com uma mão enquanto observava cada movimento da adversária.
A clone não deu trégua. Girando rapidamente, desferiu um chute lateral que acertou o rosto de Saya, seguido de outro com o calcanhar. O impacto foi brutal, jogando Saya no chão.
De cima, a cópia observava-a com desprezo evidente, caminhando devagar em sua direção enquanto cantarolava uma melodia infantil. O som era desconcertante no meio daquele cenário caótico.
- Ouvi falar de uma garota que poderia fazer até as estrelas chorarem - zombou a clone, balançando as mãos de forma teatral. - Sabe, fiquei curiosa... Mas acho que você não passa de uma decepção.
Saya, ainda no chão, resmungou, interrompendo o monólogo:
- Dá pra parar de poluir o ambiente? Essa sua voz é um lixo... "vadia".
A clone parou, surpresa por um instante, antes de gargalhar.
- "Vadia"? Ah, querida, você se esqueceu de algo. Eu sou você. Então, tecnicamente...
- Cala a boca! - Saya levantou-se, ignorando a dor, pronta para continuar a luta.
A clone avançou novamente, mas agora Saya estava determinada a lutar de forma calculada. Ela fechou os olhos, bloqueando as distrações, tentando sentir cada detalhe ao seu redor: o som do vento, a vibração no chão, a energia da adversária. A apenas dois metros de distância, a clone ergueu o punho para atacá-la.
Para Saya, o tempo parecia desacelerar. Com precisão quase instintiva, ela desviou do golpe, bloqueando o braço da clone e aproveitando a abertura para desferir um golpe contra o antebraço da adversária, que gritou de dor.
A clone tentou retaliar, mas Saya interceptou seu punho, segurando-o firmemente. Olhando diretamente nos olhos dela, sua voz ecoou com firmeza:
- Você pode até ser uma cópia, mas nunca será perfeita. Não viveu o que eu vivi. Não sentiu o que eu senti. E nunca será melhor do que eu.
Com um movimento decisivo, Saya torceu o punho da clone até quebrá-lo. Os gritos da adversária reverberaram pela arena destruída. Ela caiu de joelhos, segurando o braço mutilado, enquanto lágrimas de raiva e dor escorriam pelo rosto.
Saya deu alguns passos para trás, observando a cena com frieza.
- Eu não gosto de matar. - Sua voz estava carregada de determinação. - Mas, se insistir, não vou hesitar.
A clone começou a rir, apesar da dor. Sua mão quebrada começou a se regenerar, os ossos e tecidos voltando ao lugar como se nada tivesse acontecido. Ela se levantou lentamente, com um sorriso maníaco.
- Você acha mesmo que pode me derrotar? Eu sou imortal, minha querida. Eu sou perfeita. Tudo que você faz, eu faço melhor. Não há falhas em mim!
Saya apertou o punho ao redor da katana em sua cintura, inclinando-se para frente, preparando-se para o golpe final.
- Perfeita ou não... todos têm um ponto fraco.
O céu estava pesado, cinzento, como se refletisse a devastação ao redor da academia. Cada ruína do que antes era um lugar de aprendizado parecia lamentar a batalha que se desenrolava. Fragmentos de pedra e destroços estavam espalhados pelo chão, e a poeira fina impregnava o ar, dificultando a respiração. A clone de Saya, com seus olhos flamejantes de energia negra, estava de pé, regenerada e transbordando poder.
- Vamos brincar... - disse a clone, sua voz ecoando pelo espaço desolado.
Ela começou a liberar sua energia espiritual, que vibrava no ar como uma corrente elétrica. As pedras próximas levitavam e tremiam antes de se despedaçarem. O chão rachava sob seus pés, e o espaço ao redor parecia ser consumido por uma pressão insuportável. Estralando os dedos das mãos e o pescoço, ela caminhava em direção a Saya, a confiança escorrendo de cada palavra.
- Vamos lá, querida. Não me faça esperar. Quero ver até onde você aguenta... Bonequinha.
Enquanto gargalhava, Saya permanecia imóvel, sua postura firme, sua katana parcialmente desembainhada. Com os olhos cerrados, ela sussurrava para si mesma:
- Terceira Postura, uma espada... Perfuração Final.
Antes que a clone pudesse reagir, Saya desapareceu de sua visão. O rastro de poeira levantado por sua velocidade era a única pista de sua movimentação. Em uma fração de segundo, Saya reapareceu à frente de sua oponente, a lâmina já perfurando seu coração.
- Pessoas como você não são verdadeiramente imortais. O coração é a chave. Sem ele, nem a escuridão te salva - declarou Saya, sua voz cortante e fria.
A clone arregalou os olhos, um misto de choque e dor transparecendo em sua expressão. Seus joelhos cederam, e ela caiu, tossindo sangue que escorria pelo canto da boca.
- Então você... realmente fez isso.
- Não me deixou escolha - respondeu Saya, desviando o olhar enquanto recuava.
Pegando sua katana, Saya a puxou com um movimento firme, provocando um grito agudo de dor. O sangue jorrava livremente, formando poças rubras nos sulcos do terreno destruído. A clone permaneceu caída, mas enquanto Saya se afastava, algo mudou.
Uma aura negra começou a emanar de seu corpo, e o coração que fora perfurado regenerou-se em segundos. Seus olhos, que antes tinham uma arrogância sutil, agora transbordavam ódio puro. O solo rachava sob seus pés, e cada passo que dava causava tremores.
- Você realmente achou que isso era suficiente? - gritou ela, antes de desaparecer numa explosão de velocidade.
Antes que Saya pudesse se virar completamente, foi atingida por um soco devastador no rosto, que a lançou contra o chão com força brutal. O impacto foi tão poderoso que ela quicou no solo, sendo arremessada várias vezes antes de finalmente parar.
- Acha que vai ser tão fácil assim, querida? Agora eu vou me divertir de verdade!
A clone não deu trégua. Em um salto, alcançou Saya e a segurou pelos cabelos. Com força descomunal, jogou-a para o alto, apenas para interceptá-la com um chute direto ao estômago. Saya foi lançada ao solo, afundando na terra como uma cratera viva.
Enquanto Saya tentava recuperar o fôlego, a clone pousou ao seu lado e começou a desferir socos incessantes. Cada golpe era carregado de raiva e prazer sádico. O sorriso em seu rosto era de pura loucura.
- Você não entende, Saya. Eu sou perfeita. Eu sou imortal. Você? Só uma fraqueza ambulante que logo será apagada!
O sangue escorria pelo rosto de Saya, misturando-se à poeira e ao suor. Sua mente vagava, quase sucumbindo ao desespero. As palavras da clone pareciam ecoar como verdades inevitáveis.
- Eu não posso vencê-la... - Pensava Saya, enquanto lágrimas silenciosas deslizavam por suas bochechas feridas.
No entanto, uma memória surgiu como uma luz em meio à escuridão.
"Nunca desista, Saya. Quando tudo parecer perdido, lembre-se de que você é mais forte do que qualquer obstáculo. Erga a cabeça. Lute até o fim."
As palavras de Edward ecoaram em sua mente, trazendo um sopro de força renovada. O sorriso malicioso da clone desapareceu ao perceber a mudança no olhar de Saya.
- Que foi? Já desistiu? Não sabia que você era masoquista!
Saya abriu os olhos, agora firmes e determinados. Antes que a clone pudesse reagir, Saya desferiu um soco direto em seu rosto, lançando-a para trás.
- Você não deveria ter me subestimado.
Em um movimento rápido, Saya desembainhou sua katana e começou a atacar com uma velocidade que a clone não conseguia acompanhar. Cada corte era preciso, abrindo ferimentos profundos em sua oponente.
- Seu erro foi me dizer como te derrotar. Você se acha perfeita, mas é sua arrogância que vai te destruir.
A clone tentou se regenerar, mas Saya já estava preparada. Mudando a posição da katana, ela a empunhou com a lâmina para trás, preparando um golpe final. Antes que pudesse avançar, uma explosão no céu chamou a atenção de ambas.
As nuvens se partiram, e uma ventania varreu o campo de batalha, trazendo um tremor que parecia anunciar algo ainda maior. Mesmo assim, Saya não desviou o foco.
- Você vai cair agora, seja qual for o preço.
Erguendo sua katana, Saya apontou diretamente para sua adversária, pronta para encerrar o confronto.
O ar ao redor de Saya estava pesado, carregado de energia espiritual que parecia vibrar em cada partícula. Sua respiração era ritmada, controlada, enquanto ela fixava os olhos na clone que, mesmo ferida, ainda exalava uma aura de perigo iminente. As mãos de Saya firmaram-se no cabo de sua katana, e sua voz ecoou pelo campo devastado:
- Sexta Postura, uma espada...
Ao liberar todo o ar contido em seus pulmões, Saya desapareceu.
Por dois segundos, o campo ficou em silêncio absoluto, como se até mesmo o tempo tivesse congelado. A clone arregalou os olhos, incapaz de rastrear qualquer movimento. Quando Saya reapareceu, estava a seis metros de distância, de costas para sua oponente, a lâmina da katana refletindo os últimos raios de luz de um sol encoberto por nuvens de poeira.
- O quê...? - murmurou a clone, confusa, antes que a dor a atingisse como uma onda incontrolável.
De repente, seu corpo começou a ser perfurado repetidamente. Cada golpe era invisível a olho nu, mas os resultados eram devastadores. Sessenta e oito cortes atravessaram sua carne, como se lâminas demoníacas a atacassem de todos os ângulos ao mesmo tempo. Cada perfuração era profunda o suficiente para rasgar músculos, ossos e órgãos. Fragmentos de carne e pedaços de tecido interno caíam ao chão, transformando o espaço ao redor em um mar de sangue.
A clone cambaleou, olhando incrédula para suas próprias mãos ensanguentadas, que tremiam como folhas ao vento. Gotas de sangue pingavam de seus dedos, enquanto um filete rubro escorria pelo canto de sua boca.
- C-como...? - balbuciou ela, engasgando-se, o som fraco e entrecortado pela dor.
Saya, com a katana já embainhada, virou-se lentamente, seus olhos agora frios e inexpressivos.
- Sessenta e oito lanças do Demônio Negro.
Sua voz era calma, mas carregada de uma força inabalável. A clone mal conseguia se manter em pé, o corpo dela tremendo enquanto olhava para Saya com desespero.
- Você foi perfurada sessenta e oito vezes - continuou Saya, aproximando-se um pouco. - Os cortes atravessaram todo o seu corpo, da cintura ao pescoço. Não restaram órgãos intactos. Seus três corações foram destruídos.
A clone, ainda incrédula, lutava para manter os olhos abertos. Seu rosto contorcido em uma mistura de dor e aceitação começou a mudar quando ouviu a próxima palavra de Saya.
- Utawa, Reru.
A menção desse nome fez a clone estremecer. Seus olhos arregalaram-se ainda mais, e uma sombra de reconhecimento atravessou sua expressão.
- Não... Não pode ser... - murmurou ela, engasgando-se enquanto o sangue se acumulava em sua garganta.
Saya permaneceu impassível, observando enquanto a clone, em seus últimos momentos, fazia um esforço final para falar.
- Acho que... isso é um adeus, Saya.
- Também acho, Saya 2.
Um leve sorriso surgiu nos lábios de Saya, a primeira expressão que demonstrava algum vestígio de emoção desde o início do combate. Ela se virou, caminhando lentamente na direção da sala de recuperação, a única estrutura ainda intacta após a destruição causada pela invasão.
A clone, com os joelhos cedendo, caiu de costas no chão, seus olhos voltados para o céu. As nuvens, que antes pareciam pesadas e ameaçadoras, começaram a se dissipar, revelando um brilho suave.
Com os últimos resquícios de vida, ela sorriu levemente.
- Me diverti bastante... Obrigada por essa experiência... Wally...
Sua voz foi desaparecendo junto com o brilho em seus olhos, até que o silêncio reinou. O corpo imóvel e ensanguentado da clone repousava no chão, marcando o fim de sua existência.
Saya parou por um momento ao ouvir o vento soprar ao seu redor, carregando consigo uma estranha sensação de conclusão. Sem olhar para trás, continuou em direção ao próximo destino.
A primeira batalha da invasão havia terminado.
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