Capítulo 20 - Me supere
A manhã emergia lenta e serena sobre a academia, tingindo os céus com tons rosados e dourados. O ar fresco trazia um leve aroma de grama molhada, enquanto as primeiras luzes do sol atravessavam as janelas da sala de tratamento, onde Heyzel se encontrava. Ele permanecia de pé ao lado da porta, encarando o exterior pela pequena janela de vidro. Seus braços estavam cruzados, e o olhar distante revelava pensamentos inquietantes que lhe pesavam a mente.
Na sala, o silêncio era quebrado apenas pela respiração suave dos outros. Saya foi a primeira a despertar, os cabelos desalinhados emoldurando seu rosto ainda sonolento. Com movimentos lentos, ela se levantou e se dirigiu ao banheiro, aparentemente sem notar os demais.
Heyzel, aproveitando o momento, caminhou até a cama de Rengner. Ele observou atentamente o amigo, examinando os sinais de melhora. Havia algo reconfortante em ver os movimentos sutis de sua respiração. Apesar de tudo, Rengner parecia estar se recuperando, embora lentamente.
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Sete dias antes
A sala de tratamento estava envolta em escuridão total naquela noite. A única fonte de luz era uma vela, cuja chama vermelha dançava de forma hipnótica, lançando sombras móveis nas paredes. Heyzel entrou cautelosamente, fechando a porta atrás de si com um clique suave.
— Feyrit? — chamou em um tom baixo, quase sussurrado.
Uma silhueta emergiu do canto, a luz da vela revelando o rosto de Feyrit. Seus olhos brilharam como rubis sob o reflexo da chama.
— Ninguém viu você vindo? — perguntou ela, a voz carregada de seriedade.
— Não — garantiu Heyzel, balançando a cabeça.
Feyrit fez um sinal afirmativo com a cabeça e avançou na direção de Rengner, que permanecia imóvel na cama. Antes de começar, ela bloqueou a janela da porta com um pano escuro e trancou a sala, deixando apenas a luz da vela para iluminar o espaço.
— Você está pronto para isso de novo? — perguntou ela, com um misto de hesitação e firmeza.
— Vamos logo, Feyrit. Não temos tempo a perder! — respondeu Heyzel, a voz carregada de autoridade, embora seus olhos revelassem apreensão.
Ela instruiu Heyzel a posicionar as mãos sobre o abdômen de Rengner, enquanto iniciava um ritual complexo. Feyrit fechou os olhos e começou a murmurar palavras antigas, quase como um cântico sagrado:
— Oh Deuses da Cura, oh Imperador Eternus, concedam-me a bênção de realizar tamanha tarefa de cura... Transformem dor em alívio, feridas em regeneração, desespero em paz!
Um círculo mágico dourado começou a se formar no chão ao redor deles, suas bordas brilhando intensamente. Feyrit posicionou as mãos nas costas de Heyzel, transferindo sua energia para ele. Em questão de segundos, a dor e o sofrimento que antes habitavam Rengner passaram para Heyzel.
Ele grunhiu de dor, cerrando os dentes enquanto tentava conter o que parecia ser uma explosão interna. Suas mãos tremiam, mas ele não cedeu, suportando o tratamento até que finalmente o círculo brilhou uma última vez e desapareceu.
Heyzel cambaleou. Seus braços pendendo como se estivessem sem força. Feyrit o segurou e o guiou até uma poltrona próxima.
— Você está bem? — perguntou, preocupada, enquanto se ajoelhava ao lado dele.
— Estou... mais ou menos — respondeu ele, com um sorriso fraco, tentando mascarar a dor evidente.
Feyrit, no entanto, conhecia a verdade. Sabia que o peso do ritual ainda estaria com ele por dias, mas decidiu permanecer ao seu lado pelo resto da noite, pronta para ajudá-lo caso precisasse.
∆
Quando Saya saiu do banheiro, finalmente notou os demais na sala. Seus olhos se fixaram em Len e Igros, que dormiam abraçados no sofá. Ela deixou escapar uma risada baixa.
— Eles parecem um casal. — murmurou, balançando a cabeça.
Heyzel, no entanto, permaneceu imóvel ao lado de Rengner, seus olhos fixos no amigo. Saya se aproximou sorrateira, tentando pegá-lo de surpresa.
— Buh! — exclamou, tentando assustá-lo.
Heyzel virou-se lentamente, encarando-a com uma expressão inabalável.
— Você realmente precisa se esforçar mais, Saya — disse ele, seco.
— Nossa, você é um saco, sabia? — rebateu ela, cruzando os braços.
— Não é culpa minha se sua cara não é feia o suficiente.
— Ah, entendi. Então é porque eu sou linda e gostosa, né? — provocou ela, com um sorriso malicioso.
— Eu não disse isso, mas se você quer achar isso, quem sou eu para discordar? — retrucou Heyzel, com um tom impassível.
Saya bufou, mas acabou rindo.
Após acordarem Len e Igros, todos deixaram a sala, com exceção de Heyzel, que voltou para pegar algo que havia esquecido. Ele lançou um último olhar a Rengner e Harry, permitindo-se um pequeno sorriso antes de se juntar ao grupo.
Enquanto isso, na sala de tratamento, Feyrit observava Rengner atentamente. Ele parecia estar se recuperando a um ritmo surpreendente, o que a deixou satisfeita. Contudo, do outro lado da sala, um detalhe passou despercebido por ela: os dedos de Harry se mexiam, ainda que de forma imperceptível.
Dentro da mente de Harry...
Harry estava de joelhos, o peito arfando enquanto encarava Shinzō. O ambiente ao seu redor era hostil, como se o próprio ar conspirasse contra ele.
— Você realmente acha que pode me vencer? — zombou Shinzō, com um sorriso arrogante. — Estou no mínimo dez vezes mais forte, garoto.
Harry respirou fundo, seu corpo dolorido se recusando a desistir.
— Esse corpo é meu! — gritou ele, a aura elétrica ao seu redor se intensificando. — E eu vou me levantar, não importa quantas vezes você me derrube!
A eletricidade explodiu em todas as direções, rachando o chão e iluminando o ambiente como um trovão incessante. Seus olhos agora brilhavam como relâmpagos, enquanto raios percorriam seus braços e ombros.
— Impressionante... — admitiu Shinzō, ajustando sua postura. — Mas ainda não é o suficiente.
Harry avançou como um raio, seu punho carregado de energia mirando o rosto de Shinzō. Contudo, o inimigo desviou com facilidade, agarrando Harry pelo pescoço e o lançando contra o chão com força brutal.
— Você tem potencial, garoto, mas ainda é insignificante.
Mesmo caído, Harry não desistiu. Ele gritou, liberando mais energia, e avançou novamente. A luta continuou, incessante, em uma batalha que parecia durar uma eternidade. Cada derrota apenas alimentava sua determinação, enquanto ele lutava não apenas contra Shinzō, mas contra o próprio desespero.
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