Capítulo 04 - O primeiro deslize
NOTAS DO AUTOR:
Opa, eae, tudo bom? Bem, venho pedir para que ajude minha obra, comentando e curtindo os capítulos, não seja um leitor fantasma, comente sobre o que achou do capítulo, o que pode mudar, o que pode acontecer, crie teorias... Interaja comigo. Isso ajuda demais mesmo, então ajude essa obra apenas comentando e curtindo ela, e compartilhe se for possível, um beijo a todos, e bom capítulo.😁
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— E é dessa forma que usuários de manipulação conseguem tornar-se intangíveis aos ataques de pessoas normais, ou melhor, dos não manipuladores — explicou a professora, sua voz calma e firme ecoando pela sala de aula, enquanto os alunos escutavam atentos.
— Então, se os manipuladores ficam intangíveis quando atingem um certo nível de poder, como é que pessoas sem manipulação podem lutar contra eles? — perguntou um dos alunos, erguendo a mão com curiosidade.
A professora fez uma pausa, ajustando seus óculos e observando a sala.
— Bem, isso é simples na teoria, mas exige um esforço tremendo. Tudo começa com...
Antes que pudesse continuar, o som estridente do sinal ecoou pelo prédio, indicando o término da aula. Murmúrios e movimentação tomaram conta do ambiente. Os alunos começaram a recolher seus materiais, levantando-se das cadeiras e caminhando em direção à saída.
— Bem, continuaremos esse assunto em outra ocasião — disse a professora, com um sorriso tranquilo, enquanto arrumava suas anotações.
Harry e Saya juntaram suas coisas sem pressa. Ele, sempre distraído, ajustava a alça de sua mochila enquanto Saya lançava um olhar impaciente. Saíram juntos para aproveitar os dez minutos de intervalo antes da próxima aula. O campo da academia estava movimentado, com estudantes espalhados por toda parte. Alguns conversavam animadamente em pequenos grupos, enquanto outros preferiam a solidão debaixo das árvores.
— Parece que alguém está causando alvoroço — comentou Harry, parando para observar um grande círculo de alunos formado próximo a um dos dormitórios. A roda era tão chamativa que era impossível ignorá-la. Braços erguidos no ar, gritos e murmúrios ecoavam, gerando curiosidade.
— Quer ir ver o que estão fazendo? — perguntou ele, virando-se para Saya com um sorriso de canto.
— Não temos nada melhor para fazer, então tanto faz — respondeu ela, com um tom entediado.
Enquanto caminhavam até o aglomerado de estudantes, as vozes se tornavam mais claras. Eram gritos e exclamações vindos de um garoto no centro do círculo, e de outro caído ao chão. Harry se aproximou, apertando-se entre os alunos para conseguir enxergar o que estava acontecendo. Saya, atrás dele, o seguia com uma expressão neutra, mas seus olhos brilhavam com desconfiança.
No centro da roda, um garoto alto e de cabelos escuros, Mitsu, estava parado com um olhar arrogante. Ele chutava outro rapaz que parecia indefeso, caído no chão e se protegendo com os braços.
— Viu? É isso que você ganha por pensar que pode falar com minha irmã! — exclamou Mitsu, com um sorriso cruel no rosto, antes de acertar mais um chute.
— Mitsu, para! — gritou uma garota caída a poucos metros dele. Ela estava visivelmente abalada, tentando se levantar com dificuldade. — Nós estávamos apenas discutindo um trabalho, seu idiota!
Mitsu virou-se para ela, sua expressão endurecendo. Ele caminhou em sua direção com passos firmes, enquanto a menina recuava instintivamente. Seu corpo tremia, e seu rosto estava pálido. Apesar do laço familiar, a presença de Mitsu parecia sufocante.
— Não me venha com essa! — ele vociferou, agarrando o rosto da garota com força e erguendo-a no ar. Seus dedos pressionavam a pele dela de forma cruel, arrancando lágrimas de seus olhos. — Você acha que eu sou burro? Gente como ele só quer se aproveitar de meninas ricas como você!
A garota tentou protestar, mas a pressão no rosto dificultava até mesmo sua respiração. Suas mãos agarraram o braço de Mitsu, tentando desesperadamente se libertar, mas era inútil. Ela olhou ao redor, buscando ajuda entre os alunos que assistiam em silêncio, mas ninguém se atrevia a intervir.
— Por favor, Mitsu... está machucando... — murmurou ela, com a voz embargada e lágrimas escorrendo.
Mitsu apertava ainda mais, ignorando os murmúrios de reprovação ao seu redor. Para os outros estudantes, o medo de enfrentar alguém tão poderoso e influente era maior do que qualquer coragem que pudessem reunir. Ele era um dos melhores da academia, um dos top rankings, e também vinha de uma família rica e influente.
Foi então que Harry entrou na roda. Ele se aproximou calmamente, colocando a mão no ombro de Mitsu.
— Tá bom, né? Acho que você já passou do limite — disse ele, com um tom casual, sem sequer olhar para Mitsu.
O garoto virou-se lentamente, seus olhos queimando de irritação.
— Quem diabos você pensa que é para tocar em mim? — rosnou Mitsu, tentando intimidá-lo.
— Só vou tirar minha mão quando você soltá-la — respondeu Harry, apontando com o queixo para a garota ainda presa em suas mãos.
Mitsu riu, mas o riso logo deu lugar à raiva. Ele soltou a irmã com força, jogando-a no chão, e virou-se para Harry, preparando um soco rápido. Mas Harry foi mais ágil. Ele deu um passo para o lado, desviando, e Mitsu perdeu o equilíbrio, caindo desajeitado no chão.
— Pega seu amigo e saiam daqui — disse Harry à garota, estendendo a mão para ajudá-la a se levantar.
Sem hesitar, ela correu até o amigo caído, apoiando-o em seus ombros. Juntos, eles saíram da roda, deixando Mitsu atordoado no chão.
— Você... vai pagar por isso! — gritou Mitsu, levantando-se furioso.
Harry apenas deu um sorriso irônico.
— Eu e você ainda não terminamos — disse ele, agarrando o braço de Mitsu e o puxando de volta.
Antes que Mitsu pudesse reagir, Harry esquivou-se de mais um ataque e, com um golpe rápido, atingiu o abdômen do rival com tanta força que o chão ao redor deles rachou. Mitsu caiu, segurando o estômago, incapaz de se mover.
— Falar de mim é uma coisa... mas mexer com a Saya? Isso, eu não perdoo — disse Harry, com os olhos brilhando de determinação.
Ele estendeu a mão para Saya e a puxou para fora da multidão. O silêncio era absoluto, enquanto os alunos abriam espaço para os dois passarem. Alguns olhares agora carregavam respeito — e medo.
— Obrigada... idiota — murmurou Saya, desviando o olhar.
— Vou aceitar isso como um "sim, você foi incrível" — respondeu Harry, rindo.
Eles seguiram para a próxima aula, ignorando os olhares que os seguiam. Agora, todos sabiam que Harry não era alguém que deveriam subestimar.
A sala estava cheia de murmúrios quando o professor entrou, um homem de meia-idade com cabelos grisalhos alinhados, olhos penetrantes e uma postura rígida. Ele colocou seus materiais sobre a mesa e aguardou que os alunos se acomodassem. Assim que o silêncio tomou conta da sala, ele começou.
— Bem-vindos à nossa aula sobre energia espiritual e camadas. Hoje, vamos nos aprofundar em algo que frequentemente usamos para medir nossa força: as camadas. Alguém pode me explicar o que seriam essas camadas? — perguntou ele, com a voz firme, enquanto seus olhos percorriam a sala.
Um aluno se levantou lentamente. Ele era alto, de ombros largos, com cabelos negros bem alinhados e olhos verdes tão profundos que pareciam esconder segredos.
— As camadas definem o nível de força de uma pessoa. Isso nos permite avaliar se um oponente é mais forte ou mais fraco que nós — disse o rapaz, com um tom de voz controlado e seguro.
— Muito bem colocado — respondeu o professor com um aceno de aprovação. — E seu nome é?
— Heyzel. Heyzel Scar, senhor.
O professor assentiu antes de voltar sua atenção para o quadro negro atrás dele. Com movimentos rápidos e precisos, começou a desenhar figuras esquemáticas para ilustrar sua explicação.
— Como Heyzel mencionou, as camadas servem como uma régua para medir nossa força. Mas como podemos medir a força de alguém ou mesmo saber onde estamos nesse sistema? — Ele fez uma pausa para observar os alunos, esperando por reações antes de continuar. — Cada um de nós nasce com o que chamamos de "energia espiritual", ou Henshi. Pense nisso como uma esfera dentro de nós. Essa esfera não apenas armazena nossa energia, mas também a projeta. As camadas são determinadas pelo tamanho, intensidade e cor dessa esfera.
O professor pegou um giz colorido e começou a desenhar uma esfera no quadro. Ele adicionou detalhes que variavam entre tons brilhantes e apagados, representando diferentes camadas.
— Por exemplo, se sua esfera é branca e brilhante a ponto de ofuscar os olhos, você está na camada "Kami", também conhecida como o nível divino. É o ápice de poder espiritual, reservado para aqueles comparáveis a deuses. Cada camada tem sua energia, assim, quanto maior a camada, mais energia espiritual você possui.
Os alunos cochichavam entre si, alguns trocando dúvidas em voz baixa. Harry, sentado ao lado de Saya, parecia mais atento que o normal. Ele finalmente levantou a mão.
— Quantas camadas existem? — perguntou, com um brilho curioso nos olhos.
O professor sorriu, satisfeito com a participação.
— Existem quatro camadas: Vasto Escuro, Vasto Claro, Lorde e Kami. A camada Lorde é onde a maioria das pessoas estaciona por toda a vida. Pouquíssimos conseguem ascender para a camada Kami. Por isso, existem tão poucos deuses em cada universo.
Harry processava a informação, mas não deixou de lado outra dúvida que o atormentava.
— E o que acontece se nossa energia espiritual acabar? — perguntou, seu tom sério.
O professor fez uma pausa, encarando Harry diretamente.
— Se sua energia espiritual acabar, você morre. Ela é o que mantém seu corpo funcionando. É como a energia vital. Por isso, é crucial nunca ultrapassar seus limites. Se estiver no limite, pare e descanse.
O professor continuou a aula, detalhando as peculiaridades de cada camada e respondendo às dúvidas que surgiam. Harry, no entanto, parecia distante. Sua mente o levou de volta ao dia em que seu pai foi assassinado. Edward, seu pai, possuía uma força lendária, provavelmente na camada Lorde, ou talvez até na Kami. Mas então, como Wally foi capaz de derrotá-lo? A pergunta martelava sua mente, enquanto o professor encerrava a aula.
— Muito bem, pessoal. Nossa aula termina por aqui. Podem ir. Amanhã retomaremos o tema.
Assim que o sinal tocou, os alunos começaram a sair, mas o professor chamou por Harry.
— Harry, o professor Kazuki pediu para que você o encontre na sala de treinos. Ele quer falar com você.
Harry assentiu, mas antes que pudesse sair, o professor o chamou novamente.
— E tome cuidado, Harry. Muita gente está de olho em você.
Harry não respondeu. Apenas saiu, encontrando Saya do lado de fora. Ele a chamou para acompanhá-lo até a sala de treinos. Os corredores da academia estavam cheios, mas o movimento cessava sempre que Harry e Saya passavam. Olhares seguiam os dois, alguns cheios de medo, outros de inveja ou raiva.
— Você notou como as pessoas nos olham? — perguntou Saya, quebrando o silêncio.
— É difícil não notar. Mas, sinceramente, não ligo — respondeu Harry, com um sorriso despreocupado.
Os rumores sobre o confronto de Harry com Mitsu haviam se espalhado rapidamente. Histórias exageradas e até mentirosas circulavam pelos corredores, criando uma aura de mistério e perigo em torno dele e Saya.
Enquanto caminhavam, Harry pensava no que poderia esperar dele na sala de treinos. O pedido do professor Kazuki parecia incomum, mas ele estava determinado a descobrir. Afinal, havia muito mais em jogo do que simples boatos.
O corredor da academia estava silencioso, exceto pelo som das botas de Harry e Saya tocando o chão de mármore polido. A iluminação artificial lançava sombras suaves nas paredes, criando um ambiente que parecia sereno, mas também carregado de uma tensão invisível. Quando estavam a poucos passos da porta da sala de treinamento, Harry parou abruptamente, seus olhos fixos à frente. Sua respiração tornou-se pesada, e ele sentiu o coração acelerar.
Uma presença sinistra emanava de dentro da sala. Era uma energia densa, familiar e ao mesmo tempo assustadora, que o fazia sentir como se o ar ao redor tivesse ficado mais pesado. Ele tentou dar mais um passo, mas suas pernas pareciam congeladas. Antes que pudesse reagir, a porta da sala se abriu lentamente, emitindo um rangido que ecoou pelo corredor.
De dentro da sala saiu uma figura envolta em um sobretudo preto, suas bordas inferiores rasgadas como se tivessem sido corroídas por batalhas intensas. O capuz cobria quase todo o rosto do garoto, revelando apenas parte de seus cabelos brancos. Sua postura era calma, mas carregava um ar de ameaça que parecia preencher o espaço ao redor.
O garoto fechou a porta atrás de si com um movimento tranquilo e começou a caminhar para a direita. Seus passos ecoavam no corredor vazio, cada um calculado, quase como se estivesse deliberadamente ignorando Harry e Saya. Após cerca de vinte passos, ele parou e inclinou ligeiramente a cabeça, como se tivesse sentido algo. Virou o rosto parcialmente na direção deles, e um sorriso quase imperceptível surgiu no canto de seus lábios antes de desaparecer rapidamente, deixando apenas o eco de sua presença no ar.
— Harry? O que aconteceu? — perguntou Saya, quebrando o silêncio com uma voz preocupada.
Harry não respondeu de imediato. Seus olhos estavam arregalados, fixos no local onde o garoto desaparecera. Sua respiração estava ofegante, e seu corpo não obedecia seus comandos.
— Você... não sentiu a energia ameaçadora que ele tinha? — murmurou, a voz carregada de incredulidade.
Saya olhou para ele e percebeu o estado em que ele estava. As mãos de Harry tremiam, seus lábios estavam pálidos, e parecia que ele havia visto algo além de sua compreensão. Ela se aproximou, segurando a mão dele com firmeza, e inclinou seu rosto para que ele olhasse em seus olhos. Seus olhos castanhos brilhavam com determinação enquanto ela falava.
— Ei, olha para mim. Você não está sozinho. Eu estou aqui com você, e juntos podemos superar qualquer coisa. Não importa o que seja, vamos enfrentar isso.
As palavras de Saya, firmes mas gentis, foram como um bálsamo para a mente atormentada de Harry. Lentamente, sua respiração começou a se estabilizar. Ele assentiu, deixando escapar um suspiro pesado, como se tivesse acabado de se livrar de um peso enorme.
Depois de alguns instantes, ambos seguiram até a porta da sala de treinamento. Harry colocou a mão na maçaneta e entrou com Saya logo atrás. A sala era ampla, com paredes reforçadas por um material que parecia absorver impacto. No centro, o professor Kazuki os aguardava, de braços cruzados.
— Vocês demoraram — disse ele, sem rodeios, enquanto dava alguns passos para o centro da sala.
Kazuki era um homem alto, com cabelos grisalhos presos em um coque baixo e olhos afiados que pareciam sempre analisar tudo ao seu redor. Seu olhar pousou em Harry, avaliando-o.
— Você deve estar se perguntando por que o chamei aqui — continuou ele, com a voz firme. — Quero ajudá-lo a desbloquear seu verdadeiro potencial. Você tem uma habilidade especial, Harry. Algo que precisa aprender a controlar: a manipulação.
Harry franziu o cenho, confuso.
— Minha manipulação? — perguntou, hesitante.
— Sim. Você tem a capacidade de manipular eletricidade. Só precisa aprender a acessá-la conscientemente. — A expressão de Kazuki tornou-se levemente impaciente quando viu a dúvida nos olhos de Harry. — Não percebeu ainda? Durante seu teste, você usou essa habilidade. Talvez tenha sido instintivo, mas está lá, latente.
— Mas como você sabe disso? Eu nem sabia! — protestou Harry.
Kazuki suspirou, levando uma mão ao rosto, claramente frustrado.
— Alguns de vocês realmente têm muito a aprender. — Ele apontou para Harry, como se para enfatizar. — Durante situações de risco extremo, sua energia espiritual se manifestou de forma específica. Foi assim que percebi. Agora, vamos trabalhar nisso. Concentre-se na sua energia espiritual e procure pela sua manipulação.
— Espera aí... Energia de manipulação? — perguntou Harry, ainda mais confuso.
Kazuki fechou os olhos, inspirou profundamente e exalou lentamente, como se precisasse reunir paciência.
— Apenas observe — disse ele.
Com um movimento fluido, Kazuki começou a canalizar sua própria energia espiritual. O ar na sala mudou imediatamente. Uma ventania começou a surgir, crescendo rapidamente em força. Harry e Saya tiveram que cobrir os rostos com os braços para evitar que a poeira atingisse seus olhos. Kazuki, agora levitando cerca de dez metros acima do chão, estava envolto por pequenos tornados que giravam sob seus pés. Ele parecia dominar o vento com facilidade, como se fosse uma extensão de sua própria vontade.
— Essa é minha manipulação. Eu controlo o ar e o vento. Uma das manipulações mais rápidas e versáteis. Agora você sabe o que estou pedindo para fazer. Concentre-se e encontre a sua energia de manipulação.
Harry fechou os olhos, tentando ignorar as dúvidas que o assombravam. Respirou fundo, focando-se em sua energia interior. Aos poucos, sua mente o levou para um espaço vazio, completamente iluminado, como se estivesse dentro de sua própria consciência. No centro daquele vazio, uma esfera brilhava intensamente, com tons de azul e amarelo pulsando como se tivessem vida própria. Pequenos raios dançavam ao redor dela.
— Acho que é você quem eu procuro — murmurou Harry.
Ele estendeu a mão, tocando a esfera. No mesmo instante, uma escuridão avassaladora começou a engolir o espaço, apagando toda a luz. Ele sentiu um calafrio percorrer sua espinha quando percebeu uma presença atrás de si. Virou-se lentamente e viu dois olhos negros, com rachaduras profundas na íris, observando-o. Uma mão gigante emergiu das sombras, estendendo-se na direção dele.
O coração de Harry disparou, e sua mente foi tomada por um único pensamento: ele precisava reagir.
Harry sentia seu corpo enrijecer à medida que os olhos negros continuavam a encará-lo. O silêncio era absoluto, quebrado apenas pelo som de sua própria respiração pesada. A figura na escuridão parecia crescer, tomando proporções gigantescas, enquanto a mão estendia-se cada vez mais próxima, como se quisesse agarrá-lo. Ele sentia medo, mas, ao mesmo tempo, algo dentro dele pulsava com intensidade. A esfera que antes estava em sua mão tremulava, como se estivesse conectada àquela presença assustadora.
— Quem... é você? — perguntou Harry, sua voz trêmula, mas com uma ponta de determinação.
A figura riu baixinho, um som que parecia reverberar por todo o ambiente sombrio. Lentamente, ela começou a se manifestar de forma mais nítida, saindo das sombras. Era uma versão distorcida de Harry. A mesma altura, o mesmo rosto, mas os olhos continuavam negros com rachaduras, a pele pálida como a morte, e um sorriso cruel que parecia carregar todo o ódio e a raiva que Harry nunca ousou expressar.
— Quem eu sou? — respondeu a figura com voz grave, mas inconfundivelmente semelhante à dele. — Eu sou você, Harry. Ou, pelo menos, uma parte de você. A parte que você reprime, esconde, finge que não existe. A sua raiva. O seu medo. O seu desejo de destruir tudo o que o machuca. Eu sou a sombra que você insiste em ignorar.
Harry deu um passo para trás, apertando a esfera em sua mão. Sentia-se sufocado pela presença daquela figura. Parecia que todo o ar ao redor havia desaparecido.
— Isso não é verdade — respondeu Harry, tentando manter sua voz firme. — Eu não sou como você. Eu não quero destruir nada.
— Não minta para si mesmo — retrucou a sombra, rindo novamente. — Você acha que pode continuar sendo tão fraco? Tão insignificante? Você viu o que aquele garoto com o capuz fez. Você sentiu o poder dele. Você sabe que, do jeito que está agora, não tem chance nenhuma contra ele... ou contra qualquer outro que tentar esmagá-lo. Mas eu posso ajudar.
Harry permaneceu em silêncio, o que parecia encorajar ainda mais a figura corrompida.
— Me liberte — continuou a sombra, aproximando-se lentamente. — Me deixe assumir o controle. Deixe-me mostrar a verdadeira força que você tem dentro de si. Eu posso destruir todos os seus inimigos. Posso garantir que ninguém mais machuque você... ou aqueles que você ama. Não precisa mais lutar sozinho. Basta me deixar sair.
A esfera que Harry segurava começou a pulsar com mais intensidade, como se estivesse respondendo à presença da sombra. Pequenos raios de eletricidade começaram a escapar de sua superfície, iluminando momentaneamente o ambiente escuro. A tentação era real. Ele podia sentir o poder que aquela parte corrompida oferecia. A promessa de força, de nunca mais ser ferido ou ver aqueles que ama sofrerem, era sedutora. Mas algo dentro dele resistia.
— Não... — murmurou Harry, apertando ainda mais a esfera em sua mão.
A sombra parou, inclinando a cabeça como se estivesse intrigada.
— Não? — perguntou com um tom zombeteiro. — Você realmente acredita que pode enfrentar tudo isso sozinho? Que sua "força de vontade" será suficiente? Não seja tolo, Harry. Sem mim, você não passa de um garoto frágil, perdido em um mundo cheio de monstros.
Harry levantou os olhos, encarando a sombra diretamente. Apesar do medo e da dúvida, algo dentro dele começou a brilhar. Ele se lembrou das palavras de Saya, da confiança que ela tinha nele. Lembrou-se do sacrifício de seu pai, da promessa que havia feito a si mesmo de proteger aqueles que amava. Ele não podia simplesmente ceder. Não podia se tornar aquilo que mais temia.
— Talvez eu seja frágil... talvez eu seja apenas um garoto... — começou Harry, sua voz crescendo em força a cada palavra. — Mas isso não significa que vou desistir de quem eu sou. Você é parte de mim, sim, mas você não me define. Eu não preciso destruir tudo para ser forte. Minha força vem daquilo que eu protejo, não do que destruo.
A sombra estreitou os olhos, agora com uma expressão de frustração. A escuridão ao redor começou a ondular, como se estivesse reagindo à recusa de Harry.
— Você está cometendo um erro — rosnou a figura. — Você vai se arrepender de me rejeitar. Quando estiver no chão, sem energia, implorando por ajuda, eu estarei lá... esperando.
Harry fechou os olhos, concentrando-se na esfera. Sentiu sua energia pulsar, conectando-se a ele de forma mais clara do que nunca. Então, com toda a força de vontade que possuía, agarrou a esfera com firmeza e declarou:
— Você é apenas uma parte de mim. E eu decido o que fazer com você. Não vou me deixar consumir pelo medo ou pela raiva. Eu escolho lutar com quem eu sou... e do meu jeito.
A luz da esfera começou a crescer, engolindo toda a escuridão ao redor. A figura corrompida gritou, tentando resistir, mas foi sendo consumida pela luz, até desaparecer completamente. Aos poucos, o ambiente ao redor voltou a ser iluminado, e Harry abriu os olhos no mundo real.
Ele estava de volta à sala de treinamento. Sua respiração estava pesada, e gotas de suor escorriam por sua testa. Kazuki e Saya o observavam com expressões preocupadas.
— Você está bem? — perguntou Saya, correndo para perto dele.
Harry respirou fundo, sentindo o alívio de estar de volta. Ele olhou para ela, depois para Kazuki, e assentiu com determinação.
— Estou bem... e estou pronto para aprender a controlar isso.
Kazuki sorriu, cruzando os braços.
— Finalmente, parece que você entendeu o que significa verdadeira força. Vamos começar.
Harry sentiu que aquele era apenas o começo. O caminho seria difícil, mas ele estava decidido. Não importa quantas sombras surgissem, ele as enfrentaria, sem jamais perder quem realmente era.
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