Pânico
Minatozaki Sana.
- Não, não, não. - Estendi a mão para pegar a faca e o papel, mas não cheguei a tocar.
ELA PERTENCE A MIM.
A tinta vermelha imitava cor de sangue fresco. Era sangue? O sangue de Kim? Não, não podia ser. Era muito puro e limpo, cada traço das letras preciso. Sangue mancharia, certo?
Oh Deus. Quem faria isso? Fomos para a cama bêbadas na noite passada eu lembrava. Mas não tanto.
Não estávamos tão bêbadas ao ponto de eu não perceber um sequestro, principalmente de uma mulher como Kim Dahyun, bem na cama enquanto dormia ao meu lado. Mas ela se foi.
Me arrastei para fora da cama, os pisos de carvalho de seiscentos anos eram frios sob meus pés descalços.
A cama de dossel era ainda mais antiga do que isso, Kim tinha me contado.
Este castelo era um dos dois que possuía na Itália. Este, na região da Pronfice, estava localizado entre uma antiga catedral e um extenso vinhedo.
Não havia muito terreno anexo a este castelo, apenas o suficiente para a casa e um pequeno quintal, mas era pitoresco, antigo e bonito. Pacífico.
Seu outro castelo era parte de uma vinícola na região de Alsácia-Lorena, e era para ser a nossa próxima parada. Talvez Kim estivesse na cozinha?
Talvez isso fosse algo novo. Algum jogo ridículo.
Corri pelas escadas até chegar a cozinha, que estava escura e silenciosa, três garrafas vazias de merlot agrupadas em cima do balcão, um saca-rolhas ao lado delas com uma rolha de cortiça ainda nele.
O gabinete estava vazio também, a lareira escura agora, exceto por algumas brasas laranja opacas. Um cobertor de cashmere laranja opacas. Um cobertor de cashmere estava jogado e amarrotado no chão em frente à lareira.
Me lembrei de estar deitada de costas ali na noite passada, o cobertor sobre os ombros de Kim, enquanto ela se movia em cima de mim, com os braços esticados ao lado do meu rosto, a luz do fogo refletindo na sua pele, brilhando em seus olhos castanho cativantes.
Ela tinha me deixando trêmula e sem fôlego com a força do meu orgasmo e então me levantou em seus braços, ainda tremendo para a nossa cama.
Kim se aconchegou atrás de mim, sua mão quente na minha barriga e sua reconfortante presença me envolvendo, seus lábios beijando meu ombro enquanto murmurava.
"Eu te amo, eu te amo, eu te amo." No meu ouvido. Adormeci assim, embalada, com seu calor e sua força me protegendo.
Estava preocupada e assustada, sufoquei um soluço e tentei a adega, fria e seca e com temperatura controlada para preservar as centenas de garrafas de vinho, cada um no valor de centenas de milhares de dólares.
Tudo inútil se Kim tivesse ido embora. Ela não estava lá. É claro que não estava. Eu sabia que não estaria, mas tinha que procurar de qualquer jeito.
Ainda nua, abri a porta da garagem e acendi a luz. O Range Rover, preto, brilhante e silencioso. O Aston Martin, vermelho e elegante, também vazio. As chaves de cada um em ganchos dentro da casa.
Tropecei de volta para o quarto, totalmente abalada, com as mãos tremendo, ofegante, em suma, hiper-ventilando.
O que eu faço? O que eu faço? A resposta veio imediatamente: Mina. Chame Myoui Mina.
Meu celular estava na mesinha de cabeceira, carregando. Havia apenas quatro contatos na agenda: Dahyun, Momo, Mina e Sullyoon. O telefone de Dahyun ainda estava em sua mesa de cabeceira, conectado ao carregador.
Suas roupas estavam no chão, onde tínhamos jogado na noite anterior, antes de tomar um banho. Nossa, o chuveiro. Era pequeno, um típico chuveiro europeu.
Mas de alguma forma Kim conseguiu me prender contra a parede e me fodeu até que eu não conseguisse respirar.
Onde quer que eu olhasse, havia memórias dela. A cama, o chuveiro, a cozinha, minha bunda em cima do balcão o armário nas minhas costas, Kim levantando na ponta dos pés para me penetrar. O gabinete, até mesmo na garagem.
Eu a chupei na garagem e ela retornou o favor, me devorando sobre o capô do Rover, executando a suas talentosas e pecaminosas lambidas, até me fazer implorar para parar de gozar.
Aonde quer que eu olhasse, lá estava ela. Dizendo que me amava. Kim Dahyun, linda, gostosa, talentosa, empresária milionária. Que me amava. E nunca se cansava de me dizer, mostrar, fazendo com que eu soubesse que pertencia a ela.
Tropecei e caí sobre a cama. Soluçando. E quando consegui abrir meus olhos, tudo o que conseguia ver era a faca, cabo preto, lâmina prata curvada, sinuosa e afiada, o mal. A nota, um pedaço rasgado de papel e a tinta vermelho-sangue.
Peguei meu celular, quase rompi o cabo do carregador quando o tirei dele e liguei. Bati na tela para desbloqueá-lo, em seguida, pressionei o nome de Mina nos contatos.
- Senhorita Sana. - Sua voz, fria e calma, estava lá antes que tocasse uma segunda vez. - Como posso ajudá-la, senhora?
- Ela se foi ... ela ... eles ... alguém a levou! Ela se foi, Mina. Me ajude. ME AJUDE! - Não estava fazendo sentido e sabia, mas eu não conseguia respirar, muito menos pensar.
- Sana. Sua voz cortou meu pânico. - Respire. Tome um momento e respire. - Dei três respirações profundas pela boca, soltando pelo nariz. Tentei novamente.
- Eu acordei agora. Talvez há dez minutos. Estamos naa-na Itália. Dahyun se foi, Mina.
- Para onde ela foi? Para as lojas? Saiu para tomar o café?
- NÃO MINA! VOCÊ NÃO ENTENDE! - Estava berrando. - Há uma nota, uma porra de nota com uma maldita faca!
- Estou tentando entender, senhorita Sana. Você está dizendo que alguém sequestrou a Senhorita Dahyun?
- SIM! - Gritei, tão alto e estridente que machucou a minha garganta. Tive que engolir, respirar e começar de novo. - A nota, alguém apunhalou uma grande faca com uma nota no travesseiro. É caligrafia de uma mulher. Diz: "ela pertence a mim".
- Isso é sério? Sério? Você não está brincando?
- EU SÔO COMO SE ESTIVESSE BRINCANDO, PORRA?
Caí em cima da cama com o celular pressionado ao meu ouvido, soluçando.
- Quem faria isso... quem? Por quê? O que eu faço, Mina?
- Há mais alguma coisa além da faca e da nota?
- Não.
- Apenas essas palavras? Não há exigências ou alguma coisa? - Neguei com a cabeça, mesmo sabendo, racionalmente, que Mina não podia me ver.
- Não. Só a nota, apenas essas palavras. O celular, os carros, as roupas ... tudo dela está aqui. Eu olhei em todos os lugares, mas não encontrei ninguém. Quem a levou, Mina?
- Eu tenho algumas ideias. Vai ficar tudo bem, Senhorita Sana. Nós vamos encontrá-la. Apenas fique aí e não toque em nada. Vista-se, mas não vá a nenhum lugar. Não chame ninguém. Ninguém, você me entende? Nem Momo, nem a polícia, ninguém.
- Está bem.
- Diga isso. Repita para mim.
- Eu não vou a lugar nenhum. Não vou chamar ninguém. Vou ficar aqui e esperar por você.
- Sim. Estou em Londres, então vou estar aí em questão de horas. - Sua voz era calma e serena, isso me tranquilizou de alguma forma.
- Tudo bem. - Engoli em seco e tentei parecer calma. - Quem poderia ter feito isso? Mina?
- Nós vamos conversar quando eu chegar, Senhorita Sana. Até então, tente manter a calma. Consiga algo para comer. Uma mala de roupas. Roupas leves, sapatos confortáveis. Itens pessoais necessários. Não toque em nada da Senhorita Kim, especialmente a nota ou a faca.
- Está bem. Eu entendo. - Minha voz soou baixa, quase inaudível.
- Nós vamos encontrá-la, Senhorita Sana. Eu prometo. Você tem a minha palavra. - Algo frio na voz de Mina me assustou. Mas isso era bom. Eu precisava da Mina guarda-costas assustadora agora, não a motorista educada e amiga.
Desliguei o celular, dessa vez peguei o carregador com cuidado e o envolvi em um pequeno embrulho, colocando-o na minha bolsa. Tomei banho rapidamente, suprimindo duramente as imagens da última vez que estive neste chuveiro.
Escovei meu cabelo, amarrei ainda molhado em um coque bagunçado. Jeans e uma camiseta, minhas botas de caminhada.
Kim tinha insistido em me comprar um monte de equipamento para o ar livre, antes de partirmos para nossa grande viagem.
Ela me comprou um conjunto de bagagem e praticamente um novo guarda-roupa. Jeans, camisetas, camisolas e casacos, shorts cáqui e tops, uma capa de chuva, botas caras de caminhada, chapéus, óculos de sol, todo o tipo de roupa para cada tipo de clima.
E de alguma forma conseguiu colocar tudo isso em duas grandes malas Louis Vuitton e uma mochila. Ela sempre arrumava nossas malas, dizendo que tinha um sistema infalível.
Então, agora eu tentava replicá-lo, enrolando as roupas em vez de dobrá-las, embalando-as bem no fundo da minha mochila.
Um par de calças jeans, camisas, meu casaco favorito, uns shorts, meias, calcinhas e um sutiã de reposição, produtos de higiene pessoal.
Coloquei minha bolsa dentro da mochila, amarrei minhas botas e um casaco ao redor da minha cintura. Por que eu estava fazendo as malas?
Segui as instruções de Mina, mas não entendi muito bem porque precisava estar pronta para sair dali a qualquer momento.
Fui para a cozinha e fiz o que pensava ser um "pequeno-almoço Italiano", uma baguette comprada na noite anterior, queijo, fatias de frutas frescas e uma xícara de café. Com Kim, tudo tinha um sabor melhor.
Um simples queijo tinha sabor de céu, o café era forte e rico e sempre perfeitamente dosado, o pão era crocante por fora e macio e quente no interior.
Mas agora, sozinha, tudo estava sem sabor, e eu não conseguia parar de pensar ou, de imaginar. Como? Quem? Por quê?
Se houvesse uma exigência ou algo assim, eu poderia entender um pouco. Um velho inimigo em busca de vingança, alguém com quem Kim tivesse assumido o comando ou, dividido.
Alguém simplesmente querendo um resgate. Mas a escrita feminina tinha me deixado perplexa. Uma mulher seria capaz de sequestrar a grande, pesada e poderosa Dahyun? Não fazia sentido. Não deveria ser possível.
Eu mexia. Andava. Refazia a mala. Olhei para a nota, tentando não hiper-ventilar. Depois de uma eternidade, verifiquei meu celular, apenas uma hora tinha passado.
Mesmo quebrando todos os limites de velocidade entre aqui e Londres, Mina não poderia estar aqui em nada menos do que quatro horas.
O que diabos eu deveria fazer até lá? Ficaria louca em quatro horas. Precisava sair do castelo. Eu tinha que sair.
Não conseguiria ficar aqui por mais um minuto, não com essa nota e a presença ameaçadora da faca. Mas Mina tinha especificamente me dito para não sair, por nada.
Tentei me distrair com a TV, mas a maior parte era em italiano, com alguns canais do Reino Unido com sinal péssimo. Acabei desligando.
A mulher que eu amava estava desaparecida e eu deveria me acalmar assistindo TV? Claro que não.
Então, andei mais, me recusando a verificar a hora. Me sentei, joelhos tremendo, mordendo as unhas, pensando que se Momo visse as minhas unhas todas mastigadas, ficaria furiosa.
Consegui passar por mais duas horas, esse é o mal de ter acordado cedo. Então ouvi pneus no cascalho o ruído baixo de motor, o som tranquilo da porta do carro fechando.
Saltei ficando de pé, fui para a janela e olhei para fora. Um Audi de duas portas, lustroso, preto, baixo, com janelas de vidros escuros, parado na entrada.
Um homem estava encostado com as costas contra o capô, segurando um telefone celular no ouvido. Alto e magro, cabelo castanho claro penteado para o lado, características brancas, barba feita e vestindo um terno preto delgado, com uma gravata preta estreita, camisa branca.
Ele balançava a cabeça de vez em quando, então teclou no celular para terminar a chamada e o enfiou no bolso.
Duas coisas me preocuparam: um não era Mina, e dois o homem segurava casualmente na mão direita um revólver. Enquanto eu observava, ele tirou o pente de balas da pistola, olhou bem e o substituiu no tambor, depois colocou o slide de volta.
O homem fez isso com uma facilidade prática que fez o meu intestino agitar. Isso não estava certo. De jeito nenhum.
Colocando minha mochila sobre os meus ombros, corri pela casa para a garagem. Tirei o chaveiro com a chave da Range Rover do gancho, o enfiei no bolso e fui apertar o botão que abria a porta da garagem.
Mas antes, parei e escutei. A porta da frente estava trancada, eu sabia disso. Me tranquei enquanto esperava por Mina. Silêncio, longo e pesado.
Então escutei o esmagamento de vidro. Imaginei a bala da pistola atravessando os pequenos quadrados pintados na porta da frente, uma mão deslizando para desbloquear e abri-la.
Esperei até que ouvi o rangido de abrir e fechar, antes de correr para o banco do motorista do Rover. Esperei mais alguns instantes, confiando que o homem, quem quer que fosse, verificaria os quartos no andar de cima primeiro.
Coloquei o pé no freio e toquei o botão de ignição, abrindo a garagem ao mesmo tempo. O motor ronronou à vida e a porta da garagem enrolou na trilha oleosa.
Graças a Deus Kim mantinha tudo o que possuía em bom estado. Assim que a porta abriu o suficiente, coloquei o carro em marcha ré e acelerei, contornando o Audi estacionado atrás de mim.
A camionete bateu arrancando um pedaço do gramado, e então eu estava no cascalho da estrada, engatando a marcha e pisando no acelerador. Terra e cascalho pulverizaram para fora e o Rover saltou para frente.
Crack. Crack. Crack crack.
Foram tiros?
Olhei no espelho retrovisor a tempo de ver a janela traseira lascar, ficando como uma teia de aranha quando uma bala a atingiu. E desabou completamente no momento em que uma segunda rodada atingiu o vidro.
Gritei enquanto mais tiros ricochetearam no espelho lateral, a poucos centímetros do meu rosto. Girei o volante, pisei no freio e depois acelerei guiando o Rover para fazer uma curva de noventa graus para o outro lado da estrada. Ouvi um ronco de motor e sabia que o Audi não estava longe de mim.
Não tive tempo nem para ter medo. O vento assobiando através da janela estilhaçada era evidência suficiente de que isso não era brincadeira e que cada escolha que eu fizesse a partir deste momento determinaria se eu viveria ou morreria.
Virei o volante fazendo uma curva à esquerda e depois à direita, dirigindo rápido demais para as ruas tranquilas da manhã de uma pequena aldeia francesa pacata.
Eu nem sabia o nome da cidade, só sabia que era algum lugar no extremo sul da Itália. Perto de Marselha, talvez? Meu conhecimento da geografia Itáliana era praticamente inexistente.
Estava acostumada a sentar no banco do passageiro, enquanto Kim dirigia, me deixando levar para onde ela queria ir.
Uma placa de rua à minha frente estalou para trás, o metal amassando com o impacto de uma bala. O que estava acontecendo? Quem estava atirando em mim e por quê? Onde estava Mina?
Puxei o SUV para outra curva à esquerda e depois à direita, já estava fora da aldeia em uma rodovia reta de duas faixas, que conduz para longe, vinhedos de ambos os lados.
Pisei fundo no pedal do acelerador, sentindo o motor potente do Range Rover disparar o veículo. O velocímetro rapidamente passou dos 60 para 80 quilômetros por hora.
Arrisquei um olhar pelo retrovisor e vi o Audi atrás de mim, cerca de quinhentos metros de distância e aproximando rápido.
Já assisti Kim dar alguns telefonemas neste carro, então sabia como fazer. Apertei o botão de comando e falei para o sistema chamar Mina. O som da chamada encheu o veículo, uma, duas vezes e então a sua voZ.
- Senhorita Sana. Está tudo bem?
- Não. Não está nada bem, Mina!! - Segurei o volante com as duas mãos, o pedal do acelerador afundado e o ponteiro do velocímetro passando cento e dez. - Um cara apareceu. Um Audi preto. Ele tinha uma arma. Não era você e não parecia certo, por isso, peguei o Rover e saí, mas agora ele está me perseguindo. Está atirando em mim. Estou com medo.
Tentei manter a calma, mas só consegui soar robótica.
- Merda.- Ouvi do outro lado da linha um barulho de motor e pneus cantando. - Você está ferida?
- Não. Mas ele atirou pela janela de trás e em um dos espelhos laterais. Está se aproximando de mim. Não sei o que fazer. Ele vai me matar se me pegar. Eu sei que vai.
- Dirija o mais rápido possível de forma segura e não pare por nada. Estou indo até você. Não estou muito longe.
- Eu não sei para onde estou indo, Mina! - O Rover estava fazendo mais de 160 agora e minha capacidade de controlar o veículo a esta velocidade na melhor das hipóteses, era instável.
- Há apenas uma rodovia onde está. Que é o caminho que você saiu da aldeia.
- Certo.
- Então você está vindo na minha direção. Está no Rover?
- Sim. - Uma pausa, pneus cantando novamente, uma buzina à distância. Sirenes.
- Bom. Apenas siga em frente. Abra caminho por tudo o que tentar impedi-la. Basta ir.
- Eu vou. - Naquele momento, o espelho do lado direito quebrou e gritei, minhas mãos puxaram a direção.
O Rover vacilou e me esforcei para corrigi-lo, pressionando o freio e lutando contra o volante para impedir o veículo de virar. Eu estava derrapando por toda a estrada, os pneus cantando.
Assim que senti o carro estabilizar, acelerei e fui empurrada de volta para o assento quando o motor rugiu. O Audi ainda estava na minha cola, ouvi a pistola emitindo um som agudo.
Havia um caminhão lento à minha frente, um semi lutando contra a subida. Deslizei para a outra pista, andando no tráfego em sentido contrário e passei por ele, tive que engolir um grito quando girei o volante para a direita, evitando por pouco um sedan bege de algum tipo.
O semi tocou a buzina e piscou suas luzes, assim como o sedan. Arrisquei outro olhar para trás e vi que o Audi tinha passado o semi também.
Outro tiro de pistola ecoou e pelo impacto a bala atingiu algum lugar na parte traseira, uma das luzes de freio, talvez, ou o porta-malas.
Eu não tinha desligado a chamada, e, aparentemente, Mina também não, porque o ouvi xingando.
- O que foi isso? Você está bem?
- Sim, sim. Ele ainda está atrás de mim e está atirando. - Chequei o espelho retrovisor.- Está se aproximando, Mina.
- Continue. Não deixe ele te pegar. Force-o para fora da estrada, se for preciso.
Eu tinha o pedal do acelerador afundado e estava a mais de cento e sessenta quilômetros por hora, o campo e o tráfego voando eram um borrão. Vários motoristas estavam buzinando e gesticulando para mim.
Me aproximei da traseira de outro carro, um pequeno Peugeot ou algo assim, andando sem nenhuma preocupação no mundo.
A rodovia começou a se curvar, a descida caindo para um lado, vinhedos arqueando-se na distância em filas intermináveis.
Abrandei a aceleração, o ponteiro voltou para baixo com o Peugeot ainda na minha frente, eu sabia que teria que passar por ele.
Esperei até o último segundo, tentando fazer a curva que não estava longe. Deslizei para a pista contrária e acelerei para passar o pequeno veículo.
Meu coração estava na garganta e meu estômago se revirando de terror quando eu vi uma fila de semis faltbeds pesadamente carregados se aproximando, luzes piscando, buzinando.
O condutor do Peugeot ficou bravo por estar arriscando ultrapassá-lo e acelerou para me bloquear.
- Me deixe passar, idiota! Gritei. - A voz de Mina encheu o carro. - Faça o que você tem que fazer, Sana. Não pense. Apenas faça.
Estava quase passando o Peugeot, o fim da traseira do meu Rover mal sobrepondo seu painel frontal. Engoli minhas emoções, agarrei o volante com as duas mãos trêmulas, torcendo o couro e respirando fundo.
Milissegundos passavam como horas. Os semis estavam a menos de quinhentos metros de distância e aproximando rapidamente. O Peugeot ainda estava tentando me superar.
Eu queria fechar meus olhos, mas não podia. Não tinha o luxo de outra respiração, ou de sequer pensar nisso. Não havia tempo para hesitação.
Puxei o volante para a direita e senti o barulho de metal contra metal. Ouvi o guincho de pneus e o barulho da buzina frenética.
Tiros ecoaram, três deles e o banco do passageiro do Rover explodiu em um estouro de pano e couro, o pára-brisa trincou perto do painel de instrumentos, e então outro guincho de pneus, olhei no meu espelho retrovisor à tempo de ver o Peugeot girando, derrapando, e seu pneu dianteiro direito soltando e voando, lançado em minha direção.
Os semis estavam ao meu lado agora, buzinas soando, como se buzinar fosse parar o horror que se desdobrava. O Peugeot deu uma cambalhota no ar e bateu em um semi que passava, houve um estrondo ensurdecedor e uma explosão de fogo.
- Oh merda, oh merda, oh merda - Estava ofegante e gritando.- Eu o matei, matei, eu o matei. Oh meu Deus o que foi que eu fiz?
- Basta! - A voz de Mina cortou, alta e forte, me silenciando. - Você vai ficar viva. Essa é a sua única preocupação. Continue dirigindo. Não pare.
- E-eu Mina, as pessoas es-estão mortas por minha causa!
- É melhor eles do que você. - Disse, com a voz fria e sem emoção. - Além disso, você ficaria surpresa com o que as pessoas podem sobreviver.
- Mas o Peugeot explodiu!
- O Audi ainda está atrás de você? - Olhei pelo espelho retrovisor, vendo apenas a fumaça negra ondulando e chamas amarelo-laranja.
- Eu não ... acho que não. Nunca cheguei a terminar. - Uma forma negra baixa emergiu da fumaça e dos destroços, deslizando pelo acostamento e de volta para a estrada principal acelerando o motor. - Merda! Ele ainda está lá.
Arrisquei outro olhar para trás, vi uma mão estender para fora da janela do lado do motorista, uma pistola prata agarrada ao seu punho.
Assisti a pistola dar um recuo, um breve lampejo de fogo, em seguida, ouviu o baque de uma bala acertando a lataria do Rover.
- Eu vejo a fumaça pela frente. Estou quase lá. - Ouvi Mina dizer. - Buzine e pisque os faróis.
Apertei a buzina e puxei a alavanca dos faróis, mantendo o pedal afundado, tentando ficar à frente do Audi.
A arma estalou novamente, e ouvi outro baque. Olhando para frente, vi uma BMW prata se aproximando, as luzes piscando.
- Sou eu. - Mina falou. - Beamer Prata. Agora, preste atenção no que vai acontecer. Quando eu contar até três, você vai acionar os freios. Desacelere. Mantenha o volante em linha reta. Quando eu disser 'três', você pisa no freio. Deixe-o atingir a sua traseira. Assim que acontecer, você acelera e decola. Entendeu?
- Entendi. - Era tudo que eu consegui dizer.
- Pronta?
- Não! - Eu desacelerei, trazendo a minha velocidade para menos de cento e dez ... noventa ... oitenta, o Audi estava bem na minha cola, grade preta e anéis prata crescendo no espelho retrovisor.
- Que pena. Um. Dois ... TRÊS! - Ela gritou a última palavra.
No 'TRÊS!' Coloquei os dois pés no freio e inclinei todo o meu peso sobre o pedal. O volante empurrou e estremeceu, os pneus traseiros derraparam e lutei para manter o Rover em linha reta.
Senti um aperto nauseante e meu carro foi jogado para frente pelo impacto. Olhei no espelho retrovisor e pude ver o motorista, o homem do castelo, nariz adunco, olhos profundos negros, lábios ondulando em um sorriso de escárnio, mostrando os dentes brancos.
Era uma imagem fracionada, vista em uma fração de segundo mas ficou marcada de forma permanente em meu cérebro.
E então eu ouvi um guincho secundário de pneus de algum lugar à frente e pela esquerda. Joguei meu peso sobre o pedal do acelerador e senti o Rover ir para frente, me jogando de volta no lugar.
Peguei um vislumbre de Mina pela janela da BMW na curva derrapando, quando pisou no freio e virou o volante.
Outro cenário momentâneo, outra Polaroid de pânico piscando no meu crânio: Mina, girando o volante, mão sobre mão, o rosto calmo e sem emoção. E então ... CRASH.
A BMW encontrou a lateral do Audi e o veículo preto foi rolando, teto- pneus-teto-pneus, metais amassando e estilhaços de vidro voando. O carro de Mina falhou e parou.
Eu também estava parada a quinze metros de distância e observei como a fumaça, grossa e preta, curvava e enrolava por cima do Audi capotado.
Mina saiu calmamente do lado do motorista da BMW, deixando a porta aberta. Eu assistia, com minha mão sobre a boca, quando ela enfiou a mão enluvada no casaco e retirou uma enorme pistola preta, depois se ajoelhou ao lado da janela quebrada aberta do Audi.
Balancei minha cabeça, seja em negação ou horror, não tinha certeza. Mina agachou, olhando para o passageiro da frente do Audi. Empurrou a pistola completamente para dentro.
Vi um flash, ouvi o estrondo e uma névoa vermelha respingar através da janela quebrada do motorista. Como se nada tivesse acontecido, Mina se levantou, recolocou a sua arma no coldre em seu ombro.
Enxugou o rosto com um lenço, limpou as luvas e colocou o pano no bolso de trás. Apontou para mim, levantou um dedo, que eu achei que significava espere.
Esperei, observando. Ela se inclinou para a porta aberta da BMW e apertou um botão, liberando o porta-malas. Deu a volta, pegou duas mochilas pretas.
Deixou o porta-malas e a porta abertos, e caminhou calmamente até onde eu esperava no Rover. Abriu a porta traseira do lado do passageiro e jogou as malas no banco de trás.
- Eu vou dirigir. - Falou e fechou a porta.
Agradecida, saí e dei a volta no capô. Do outro lado, os meus joelhos cederam, meu estômago agitou. Caí no asfalto, bile na minha língua. Senti Mina me colocando de pé.
- Não temos tempo para você quebrar nesse momento, Senhorita Sana. Onde há um desse tipo de homem, há mais. Precisamos nos mover.
Ela me ajudou a sentar no banco do passageiro destruído e colocou o meu cinto. Eu estava fora do ar, a adrenalina se afastando, me deixando abalada, tremendo, tonta e nauseada.
Pisquei e o Rover estava em movimento, o ar correndo pelo meu rosto da janela quebrada, então pisquei de novo, fomos costurando os destroços que tínhamos deixado para trás, semis torcidos e virados, um Peugeot amassado.
Uma vez que estávamos fora dos destroços, Mina acelerou, pisquei outra vez e já estávamos saltando sobre a estrada de terra aproximando do castelo.
Chegamos à garagem e Mina me ajudou, me colocando no banco do passageiro do Aston Martin e o meu cinto.
- Espere aqui. Me deixe ver a cena lá de cima.- Ela jogou as duas malas e minha mochila no porta-malas e desapareceu dentro da casa.
Eu me concentrei em inspirar, expirar. Tentei bloquear as imagens terríveis: o Peugeot torcido e capotado. O semi virado. O Audi rolando. O spray de sangue expelindo.
O que diabos estava acontecendo? Onde estava Kim? Por que as pessoas estavam atirando em mim e me perseguindo?
Mina deslizou para o banco do motorista, colocou o carro em marcha e saiu. Não disse nada, apenas levou o elegante carro esportivo vermelho para a estrada, apontando na direção oposta de onde tínhamos vindo. Sirenes soavam ao longe.
Quinze minutos se passaram, e nós estávamos passando entre as fileiras de videiras, o sol brilhando e a terra pacífica e silenciosa.
Como se nada tivesse acontecido. Como se nós fôssemos apenas duas amigas em uma viagem. Eu não aguentava mais.
- Mina? Que diabos está acontecendo? - Ela soltou um suspiro, e o único sinal de emoção era uma ligeira contração nos músculos do seu maxilar.
- É complicado.
- É da Kim que estamos falando. Tudo é complicado.
- Bem, obviamente ela foi sequestrada.
- Por quem? Como? Por quê? Quem poderia tirá-la da nossa cama no meio da noite sem me acordar?
- Você sabe muito sobre o mundo de onde Kim saiu?
- Um pouco. Ela era uma traficante de armas, não era?
- Correto. Mas esse não é um mundo que você simplesmente se afasta. - Mina fez uma pausa por um longo momento, considerando os fatos. - Eu acho que nós temos um caso de ciúme acontecendo.
- Ciúme?
- Senhorita Sana, você sabe como o Senhorita Kim é fechada. Eu estou um pouco presa e não tenho certeza do quanto estou autorizada a dizer. O que ela contou ou não, o que quer que você saiba.
- Mina. Isso é besteira. Eu acabei de quase morrer várias vezes agora. Atiraram em mim. Kim está desaparecida. Ela foi tirada da porra da nossa cama enquanto eu dormia! Acho que tenho o direito de saber o que está acontecendo, não é?
- Entendo isso. No entanto, o problema é que não sei muito. - Ela beliscou o lábio inferior entre o polegar e o indicador. - Aqui está o que sei. Kim negociava caixas de fuzis de assalto, lança-foguetes, granadas. Pequenas coisas como essa. Nada enorme. Nos círculos em que Kim operava, ela era peixe pequeno, mas importante, rodeada por alguns grandes tubarões comedores de homens. Naquela época, ela era uma jovem com grande atitude. Tomou algumas boas decisões, alguns bons investimentos no início, construiu uma boa base de clientes e um estoque razoável de capital.
Mina fez uma pausa para desacelerar o Aston Martin e fazer uma curva à direita para uma estrada mais larga e depois voltou a falar.
- Mas, então, ela se envolveu com uma garota. Son Chaeyoung. Kim a conheceu em uma discoteca em Atenas, não tinha ideia de quem ela era. Só pensava que era outra garota Asiática bonita com quem poderia ter um caso de uma noite e seguir em frente. Bem, acontece que Chaeyoung era a filha de um dos homens mais perigosos do mundo, Son SeungHyun, um traficante, contrabandista e importante negociador de armas. Quando Chaeyoung trouxe para casa seu novo brinquedo, Seunghyun reconheceu seu talento promissor. Aquele encontro? Foi a queda de Kim. Ela acabou trabalhando para ele, levando recados e fazendo o trabalho sujo. Isso nunca foi parte do seu plano, mas ela não tinha muita escolha. Você não pode dizer não a um homem como Son SeungHyun.
- E a filha dele?
- Ela é filha de seu pai em todos os sentidos, farinha do mesmo saco: astuta, violenta, perigosa, manipuladora. E manteve suas garras profundas em Kim. Ela queria sair, desde o início. Nunca quis se envolver nesse tipo de negócio e ser uma criminosa. Estava apenas tentando sobreviver. Pelo menos foi o que me explicou. Kim começou fazendo um favor para um amigo em troca de capital de investimento. Entregar algumas caixas, receber o pagamento e não fazer perguntas. E assim era. Então, mais ou menos por acaso, ela descobriu que estava passando caixas de armas de pequeno porte. Bem, nessa altura, o dinheiro que ela estava ganhando com aquilo, começou a eclipsar sua renda para o negócio legítimo. Para uma criança em seus primeiros vinte anos, fazer vinte ou trinta mil com o trabalho de uma única tarde? Escolha fácil. Mas então ela conheceu Chaeyoung e tudo saiu do controle.
- Parece que Kim encobriu alguns fatos quando me contou tudo.
- Uma coisa que aprendi trabalhando para Kim Dahyun: ela nunca vai te falar uma mentira deslavada. Muitas vezes vai deixar de fora os fatos, mas nunca esconder toda a verdade de você. Eu já vi isso em seus negócios inúmeras vezes. Faz parte do seu jeito. Ela considera que não é mentira, ou mesmo omissão. O fluxo de informações é vital para qualquer negócio. Kim aprendeu cedo na vida a nunca revelar muito, e agora é só ... como ela é. - Mina deu de ombros.
- Ainda não estou entendendo como saímos de toda aquela história sobre Seunghyun e Chaeyoung para pessoas atirando em mim.
- Este é o lugar onde meu conhecimento de eventos é um pouco escasso. Algo deu errado. Kim tentou sair, eu acho. Tentou legitimar. A família Son não ficou feliz com essa decisão. E agora, por alguma razão, eu acho que Chaeyoung está louca por vingança, para levá-la de volta, ou algo assim. Não sei o que ela quer. Honestamente nem tenho certeza de que fiz o palpite certo, mas é a única coisa que faz sentido para mim, com base no meu conhecimento limitado.
- Então, o que fazemos? Como é que vamos encontrá-la e levá-la de volta? - Mina não respondeu por tanto tempo, que eu não estava certa que ela tinha me ouvido.
- Eu não tenho certeza. Prioridade número um agora é levá-la para algum lugar seguro, enquanto faço um plano. O problema é que o castelo era para ser um local seguro. Ele foi comprado através de uma série ridiculamente complicada de frentes e empresas subsidiárias. Se Chaeyoung, ou o pai, ou quem quer que seja conseguiu encontrar vocês duas lá? Não estou convencida de que quaisquer de nossas propriedades preexistentes serão seguras. O alcance dos Son's é enorme. Aquele homem que acabei de descartar é apenas um de muitos. Provavelmente, o primeiro que foi enviado atrás de você. Haverá mais. Quando ele não reportar, mais virão. E em breve.
Deixei passar alguns minutos, observando a paisagem deslizar pela janela. Eventualmente, tive que perguntar.
- Então, para onde vamos agora?
- Marselha.
- E, em seguida?
- Em seguida, eu faço alguns telefonemas.
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