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Tenho escrito sobre ti às vezes, com outros olhos, usando outros nomes, mas você sabe que eu sempre acabo falando de você. Estou aqui novamente, em uma tarde qualquer de um dia ensolarado que sussurra seu nome pelos quatro cantos dessas serras. O eco vai mais longe do que nós fomos, e isso é um pouco triste.
Tenho sonhado contigo e com uma lua cheia, isso tem me atormentando um pouco, mas eu já escrevi sobre isso. Seu cabelo serpenteia meu rosto em todas as noites que seu sorriso atormenta meus sonhos. As ondas do mar não são tão fortes e mortais quanto as que carrega na cabeça como se não fosse nada demais. As estrelas enfeitam o céu noturno, assim como as letras do seu nome penduram sobre os acordes daquela música.
Eu estou cansada de guardar todas essas cores e flores que tenho pintado para ti, por isso escrevo isso. Mas não envio diretamente porque não quero que fale monossílabas ou que diga que nada diz. Não quero plainar sob um clima estranho, por isso não sei bem o que farei com esses versos altamente melodramáticos. talvez eu apenas me finja de desentendida como tenho feito ultimamente, como nós temos feito.
Eu estou aqui na sua porta novamente, com essa minha cara lavada e um sorriso de quem sabe o que veio fazer. Estou um pouco envergonhada sobre isso, mas não me cobro tanto pois culpo a idade. Você sabe, amor, eu só tenho dezoito anos e não sei de muita coisa.
Mas eu sei que quero você.
Acreditaria se eu dissesse que aquela fruta que provei não tem o mesmo sabor ou mesmo aroma delicado dos morangos que colhia para mim? Eu sei que isso soa horrível, é culpa da idade. Mas era madura demais, seca demais, mole demais. Eu não gostei do gosto, odiei as sementes e cuspi o caroço. Não sei se compreende o que digo, provavelmente não. Me perdoe por isso.
Sambei em torno de uma infidelidade que na minha cabeça não foi nada demais, mas eu sei que quando eu saí batendo a porta, você chorou. Eu sei que sentiu a minha falta enquanto eu estava com ele, sei que desejou que eu voltasse mesmo que isso não fosse o mais saudável pra ti. Sei que quis me xingar quando disse aquelas coisas, mas tudo o que fez foi dizer que estava tudo bem. Eu sei, amor. Eu sei de tudo. Eu sei o quanto não mereço te ter.
Agora, me oferece um chá na sala que nós mobiliamos, senta-se na poltrona que eu comprei e fita os quadros na parede que eu pintei. Eu sorrio ao levar a xícara que sua mãe nos deu de presente nos lábios, sentindo o gosto amargo da bebida que talvez seja tóxica. Seu olhar é vago, seu sorriso é forçado, eu vou morrer. Há assuntos demais entre nós, mas nunca falando daquela época distópica que parece que aconteceu somente na minha cabeça. O coelho, o papagaio, a casa grande, eu me lembro de tudo.
Foi um sonho?
Agora estamos aqui novamente, foleando o nosso álbum de fotografias. Eu te chamo daquele apelido que usava naquela época e você cora. Não, não foi um sonho. A mala está na porta, mas eu ainda tenho receio de puxá-la para dentro. Por isso permaneço aqui, falando de todas as coisas que não fizemos, de tudo o que não fomos, e lembro do que eu farei. Você sorri o tempo todo, diz frases curtas e objetivas. Você continua igual, agora te pergunto: nós também?
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