Tinha alguma coisa errada.

Definitivamente tinha algo errado.

Amanda observava com atenção o mapa do continente, o qual além de apontar os nomes dos reinos existentes, tinha uma rasa explicação sobre a vegetação nativa e clima. Aquele mapa foi criado há muitos séculos e ficava no escritório do rei.

Ela passa o dedo indicador pelos textos, lendo baixinho.

- Reino Outonal... Clima ameno com brisas geladas. Chuvas fracas ao anoitecer... Florestas densas com fácil proliferação de musgos. - Ela desce o dedo pelo mapa até chegar sobre o próprio reino. - Reino da Primavera... Clima morno, com variação entre dias ensolarados e chuvas fracas... - Ela cruza os braços pensativa. - Mas estava nublado... Como que o príncipe Ni-ki falava sobre o sol se mal tinha sol? - Ela olha novamente para o mapa.

Algo estava acontecendo com o Reino Outonal? Amanda precisava saber.

Ela sai do escritório do pai, era bem tarde da noite. Ao caminhar pelo palácio ela escuta duas vozes vindas da varanda. Ela se esconde e ao dar uma espiada vê Sunoo e Ni-ki conversando. Amanda não conseguia ouvir o que estavam dizendo mas com medo de ser pega espionando decide ir embora.

A conversa daqueles dois durou muito tempo.

[...]

Amanda se aproxima silenciosamente de Ni-ki, enquanto o jovem passeia pela Estufa Encantada. Os outros príncipes estavam se entretendo na sala de treinamento sendo observados por alguns anciões importantes, os quais era comum frequentar o Palácio. Eram seres tão antigos que eram considerados "sábios" por já terem visto de tudo, inclusive terem vivido na época da Grande Guerra.

Antes que Amanda desse o próximo passo ela vê as orelhas pontudas de Ni-ki se movimentarem, mas ele não se vira para trás.

- Vocês tem uma bela estufa, princesa.

- Como sabia que era eu? - Ele se vira.

- Tenho um olfato muito bom.

- Você reconhece as pessoas pelo cheiro? Que interessante. - Ni-ki sorriu.

Amanda tenta se aproximar dele, mas como se tivesse se recordado de algo, o sorriso de Ni-ki desmancha e ele dá alguns passos para longe dela, enquanto mudava de assunto.

Aquela era uma atitude suspeita, muito diferente de como ele estava na tarde anterior.

- Então, princesa... Tem alguma planta favorita?

Amanda observa seu comportamento desconfiada. Mas resolve se fazer de boba.

- Tenho uma. Gostaria de ver? - Se aproximou mais uma vez, cuidadosamente.

- Claro. Por favor. - Ele dá um sorriso nervoso dando outro passo para trás.

Aquele caminho feito de tijolos prateados no chão levava ao centro da estufa. Ali havia uma planta enorme, com cerca de dois metros de altura dentro de uma caixa de vidro. Suas raízes estavam firmadas no solo. Ni-ki fez uma careta.

- Essa é com certeza a flor mais rara de todas. Sabe o nome dela? Flor-Cadáver. - A princesa diz inocentemente, apesar de ter outras ideias em mente.

- Eu consigo perceber o motivo... - Ni-ki cobre o nariz.

- Oh! Desculpe, me esqueci que seu olfato é sensível... Sabe, príncipe Ni-ki, como controladora de tudo quando o assunto são flores e plantas eu posso fazer esse cheiro pesado desaparecer.

- Sério? Acho que para continuar por aqui vou precisar de sua ajuda então, princesa.

- Com um simples toque farei sua sensibilidade à Flor-cadáver desaparecer. - Ela andou na direção do príncipe. Ni-ki se perguntou se deveria sair dali ou aceitar a ajuda.

Mas quando ela o tocasse... Ele não sabia se teria controle.

Seus músculos enrijeceram e ele trava no lugar. Amanda estica sua mão e a põe na bochecha de Ni-ki, ela envia para o corpo do mais alto uma proteção para seu olfato por causa da planta - que tinha sido colocada em uma caixa de vidro justamente pelo seu cheiro.

Ni-ki fechou os olhos e mordiscou o lábio inferior com força. Os punhos atrás do corpo estavam cerrados.

Amanda da uma risadinha forçada.

- Agora você que tem medo de mim, príncipe?

- Eu não tenho medo de você. - Ele resmunga baixinho.

- Então por que está tão relutante? Não me diga... Não me diga que o príncipe Sunoo o pediu para não manter contato físico comigo.

Ni-ki abre os olhos.

- O Sunoo? Por quê ele teria alguma coisa a ver com meu cortejo à senhorita?

Ni-ki não podia nem suspeitar que Amanda estava os espiando na noite passada.

- Talvez pelo fato de você ter desistido de me cortejar. E como ele é seu melhor amigo...

- Eu não desisti. Eu só estou um pouco... apreensivo com algumas coisas...

Amanda tira sua mão quando a proteção é completa

- Apreesivo com o que?

Ela estava encantada com ele... mas Ni-ki era estranho.

Amanda ficou preocupada, imaginando que o que ele tinha era algo a ver com as "mudanças" que poderiam estar acontecendo em seu reino.

- O quê foi? - Ela segura em sua mão.

E em meio àquele toque Ni-ki sente o calor se ascender. Percorrendo seu braço e depois se espalhando em seu peito. Ele nem precisava ir para o lado de fora do palácio para poder sentir o calor do sol, Amanda já transmitia aquilo que ele necessitava apenas por tocá-lo.

- Ni-ki... Você quer me dizer alguma coisa?

As orelhas de Ni-ki se movimentaram mais uma vez.

Seus olhos ameaçaram mudar, mas ele se conteve. Ni-ki ainda conseguia se conter.

- Sabe que pode confiar em mim, não sabe?

- Eu sei. - Ele conseguiu dizer com o olhar ainda fixo na princesa. Amanda tinha medo de quebrar aquele contato visual e acabar perdendo alguma coisa importante que o príncipe não conseguia verbalizar.

- E então?

- Eu...

- Princesa Amanda! - A voz da criada particular da princesa assustou os dois jovens. Amanda tirou sua mão do príncipe depressa.

- Sim?

- Os reis a aguardam no salão do trono.

- Tudo bem, obrigada. - A criada saiu na frente. Amanda olha para trás e vê Ni-ki parado no mesmo lugar, encarando a mão que ela segurou por tanto tempo. Ela dá um suspiro antes de sair de perto dele.