Capítulo 07
O sol brilhava sobre a pele do príncipe. Ao sentir em si o calor do sol ele não se conteve em fechar os olhos e levantar o rosto para cima. Ni-ki estava absorvendo aquele calor como se fizesse muito tempo que não saía na luz do dia.
Na primeira vez que Amanda viu o príncipe do Reino Outonal ela sentiu um leve temor. Algo a fez ficar nervosa com a presença dele. Talvez pelo fato do príncipe ter um olhar afiado e ser o mais alto entre os outros - uma característica comum do povo do reino Outonal.
Mas após ver aquela cena o nervosismo sumiu. O rosto sempre tão sério ficou levemente corado, ficando mais jovial e até mesmo... fofo.
Amanda nunca imaginaria isso.
- Gosta do clima daqui? - Ela perguntou. Ni-ki abre os olhos e se vira para a princesa.
- É confortável.
- Como é o clima de seu reino?
- Dias amenos e noites frias, normalmente.
- Parece um pouco parecido com aqui.
- Nem tanto... - Aquela resposta deixou Amanda com uma pulga atrás da orelha. O sol não era exatamente forte naquela região, mas o príncipe Ni-ki agia como se... Não sentisse o calor com frequência.
Um sorriso pequeno surgiu de mansinho no rosto do rapaz.
- Sendo sincero princesa. - A voz levemente grave surgiu após um curto momento de silêncio. - Eu estava um pouco nervoso quando cheguei. Espero não ter assustado a senhorita.
- Me assustado? - Ela repete e ele volta a encará-la. De fato ele tinha feito isso, mas ele tinha noção? Como era possível?
- Seu nervosismo enquanto vínhamos cá pra fora... eu conseguia sentir ele.
- Eu... Peço desculpas. - Ela corou e sorriu meio sem graça.
- Fui o culpado por isso. As pessoas costumam se assustar comigo mesmo.
- Eu estava nervosa também, talvez seja por isso que pareci assustada. - Ela suspirou. - Acho que ficar amedrontada diante de propostas de casamento quando se tem apenas dezoito anos é inevitável. Isso faz sentido pra você?
- Com certeza. Eu sempre ouvi falar da senhorita, estava ansioso para conhecê-la, e quando fiquei sabendo que estava prestes a completar idade fiquei ainda mais animado para vê-la... - Ele sorriu de leve. - Eu entendo o nervosismo da chegada da vida adulta na verdade. Fiz dezenove anos a pouco tempo.
- É o mais jovem dentre os outros, acredito. - Ni-ki confirmou.
- Ainda assim tenho certeza que garantirei à senhorita bons momentos de diversão.
- Não tenho dúvida disto.
[...]
Talvez seja a semelhança entre culturas, ou talvez seja sobre terem quase a mesma idade. Sendo o que for, Amanda e Ni-ki se deram muito bem. Eles tinham começado com o pé esquerdo - mesmo sem saberem - mas agora todo aquele nervosismo que Amanda tinha sentido pelo príncipe do outono pareceu nunca ter existido.
As pessoas que viam aquela cena ficaram abismadas. Amanda simplesmente havia disparado a correr pela floresta juntamente de Ni-ki, e não é exagero quando digo isso. Depois de uma longa conversa sobre a vida do príncipe - visivelmente inquieto por ficar parado - Amanda pergunta se ele não gostaria de passear pelo reino com ela. E a caminhada evolui até chegar àquele ponto: onde os dois corriam pela estrada.
Amanda era como uma lebre: ágil e veloz. Boa em desviar de obstáculos sejam eles quais for. E Ni-ki...
De Amanda ainda era possível ver sua silhueta passando rapidamente pelo caminho. As plantas e árvores a reconheciam e se curvavam em sua direção, como uma forma de saudação.
Mas de Ni-ki a única coisa que os cidadãos do reino conseguiam ver era uma fumaça escura que lhes trazia calafrios.
Amanda desviava com facilidade do que estavam em sua frente, seguindo em solo firme. Ni-ki então salta, alçando os galhos grossos das árvores.
Amanda parou ao perceber o quão longe tinham ido e começa a rir, Ni-ki parou ao seu lado, também rindo.
- É uma ótima corredora princesa.
- Obrigada, sempre gostei de correr. Você também corre muito bem. Tem pés ágeis. Corre em florestas com frequência pelo visto.
- É maravilhoso fazer isto. - Responde.- Principalmente debaixo desse sol. - Ele completa baixinho com um olhar perdido em algum lugar entre a copa das árvores.
O príncipe era intrigante, e aquele fato não iria sair tão fácil da mente dela.
Ele se torna para ela, os cabelos pretos em mullet refletia a luz que recebia, alguns fios alaranjados brilharam intensamente. Eles pareciam tão macios...
- Gostou dos meus cabelos? - Um tom brincalhão da parte do príncipe.
- Eu... Não sabia que estava tão óbvio assim.
- Quer tocar neles?
- O quê?
Ni-ki aproximou seu corpo de Amanda, e quando estavam bem pertinhos ele se inclina para frente, de uma forma que ela ia conseguir alcançar sua cabeça.
- Eu posso mesmo?
Ele levantou os olhos, aquela proximidade fez a princesa perceber que Ni-ki tinha algumas sardas no rosto. As sobrancelhas grossas eram pretas, como a maior parte dos seus cabelos, mas os cílios de Ni-ki eram alaranjados, assim como seus olhos. Uma aparência um tanto... Animal.
Amanda ergue uma das mãos e devagarzinho ela a coloca sobre a cabeça do príncipe. Aqueles cabelos eram mais macios do que ela imaginava. Ela fez um carinho de leve ali e então algo estranho aconteceu. Os olhos do príncipe Ni-ki dilataram diante dela, ganhando um brilho diferente.
Parecia que Amanda estava brincando esse tempo todo com um algum tipo de lobo ou gato muito grande, mas inofensivo apesar de sua aparência. Um pequeno sorriso curioso cresceu no rosto da princesa.
Os labios de Ni-ki estavam entreabertos e sua respiração estava pesada. Ele então fecha os olhos. Seus ombros relaxaram e a cabeça dele tombou um pouquinho para o lado; a mão de Amanda alcançou aquela lateral de seu rosto.
As bochechas de Ni-ki estavam quentes, Amanda deslisou seus dedos naquela região e sentiu a textura de alguns arranhões que o príncipe tinha ali. Amanda nunca presenciou uma cena daquela, e nunca imaginou que iria vivenciar. Ni-ki parecia completamente inofensivo, de um jeito... nada humano.
Como se tivesse recebido algum alerta, Ni-ki abriu os olhos um pouco assustado, os olhos voltando ao normal aos poucos. E então se afasta da princesa e escondendo as mãos atrás do corpo.
Amanda se pega pensando se foi longe de mais ao tocar daquela forma no rosto do príncipe quando a voz dele a desperta.
- Esse corre corre me deixou faminto.
- Vamos fazer o caminho de volta e ir em algum lugar para comer.
[...]
- Você e o príncipe Sunoo são próximos?
Amanda perguntou quando eles chegaram aos portões do palácio. A noite já tinha caído e os dois haviam passado por alguns lugares, cumprimentando o povo e parando de vez em quando em tendas para comer algumas coisas, como duas crianças curiosas e esfomeadas.
- Somos melhores amigos desde pequenos.
- Isso explica muita coisa. - Amanda resmunga. - Mas... Ambos vieram para pedirem a minha mão em casamento... Como fica a relação de vocês quanto à isso?
- Seja qual for o resultado no final não vai fazer diferença. Nascemos e crescemos em reinos distintos, e apesar das diferenças físicas e culturais criamos um laço forte de amizade. Tivemos muitos motivos para nos separarmos antes e isso não aconteceu, não vai ser agora que isso irá acontecer.
- Fico feliz que vocês pensam assim.
- É como Sunoo me disse uma vez: A vida adulta é injusta, mas crescer é inevitável.
Amanda concordou após refletir sobre as palavras do príncipe de Escalvenor. Ela não imaginava que Sunoo fosse do tipo que conversava sobre assuntos tão profundos, mesmo entre amigos.
De qualquer forma, aquilo que ele disse fazia sentido.
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