Raspadinha de Framboesa
O jantar se estendeu de forma silenciosa e de clima pesado para a família Min. A culpa disso caía sobre os ombros dos dois filhos do casal. Taeil ainda era importunado pelas dores de cabeça da ressaca que, agora, se viam menos agudas de quando acordou às três da tarde, enquanto Karin se encontrava distante, perdida em questões sobre o motivo para Jungwoo tê-la beijado e a rejeitado logo em seguida. Pouco notaram a mãe recolhendo os pratos e talheres e o pai repousando o bolo bem decorado em cima da mesa. Assim que o doce aroma de baunilha e morangos atingiu o olfato de Taeil, o filho mais velho ergueu seu olhar, antes fixo no celular sobre seu colo.
— Ei... As tradições não mudam, hein? — um sorriso tímido, porém contente, se fez na face dele.
Karin acordou de seu transe ao ouvir a voz do irmão. Pegou-se envergonhada por ter brevemente se esquecido do aniversário de Taeil após o acontecido algumas horas atrás. Forçou um sorriso em seu rosto escondendo a angústia que a dúvida lhe causava e parabenizou o irmão genuinamente. Mesmo aflitos por seus assuntos pessoais, Taeil e Karin aceitaram deixar suas problemáticas de lado para celebrarem aquele momento em família. E mesmo que um pouco difícil, fora reconfortante e divertido.
— Estavam tão quietos e distantes que preferimos não falar nada — logo a mãe admitiu. — Mas já estava ficando preocupada.
— O quê? — Karin acabou distraidamente questionando de boca cheia.
— Não queremos forçá-los a nos contar seus segredos, só queremos que saibam que estamos aqui. Se precisarem conversar, se fizeram alguma coisa, precisarem de ajuda. Não vamos julgá-los nem os criticar. São nossos filhos. Saibam que amamos vocês, não só pelas qualidades como também pelas falhas.
Taeil e Karin liberaram um riso baixo bastante embaraçado.
— Obrigado pelo bolo e por se lembrarem do meu aniversário. — Taeil estava sorrindo. — E também... Sinto muito por ter gritado com vocês, me senti pressionado, sinto muito.
— É, por que disse que estava com medo? — Karin pareceu incerta de perguntar, entretanto deixou a curiosidade falar mais alto.
Taeil percorreu seus olhos pela face de cada um que o fitava ali. Não queria revelar, no entanto que mal lhe causaria? Respirou fundo e num suspiro liberou o ar de seus pulmões.
— Não contei para vocês, mas no meio desse ano comecei a namorar. Eu queria apresentá-la a vocês no Natal. Mas algo aconteceu... Ela me disse que estava grávida.
Os três, que ouviam atentamente, prenderam o ar e o casal Min arregalou os olhos, estavam prontos para responder quando Taeil prosseguiu:
— Eu decidi que seria melhor trancar a faculdade e até prometi que me casaria com ela para tomar a responsabilidade por tudo.
Os pais queriam loucamente revelarem seus pensamentos e exporem suas opiniões, contudo Taeil começou a rir, e como ele parecia triste.
— Eu quase desisti da minha vida inteira por uma mentira.
Mais uma vez todos se silenciaram deixando a inquietude paralisada.
— Ela continuaria mentindo se não fosse por uma fofoca nos corredores. Uma estudante de enfermagem estar grávida e decidir junto do verdadeiro pai esconder a verdade do namorado. Uma coincidência grande demais, não acham? Não precisei confrontá-la, bastou eu trazer o assunto à tona para que ela se sentisse culpada. — Ele levou uma boa garfada de bolo aos lábios os sujando de chantilly. — Não queria mais vê-la e não aguentava mais ouvir as pessoas nos corredores falando sobre isso. Era como se estivessem falando de mim, o que é cômico já que ninguém havia citado nomes... Então fugi, fugi como um covarde para a casa dos meus pais. Patético. Por isso sinto muito ter gritado quando me mandaram voltar, eu só não consigo ficar mais naquele lugar, por favor não me forcem.
— Então fique aqui — o pai concluiu.
— O quê? — Taeil se apoiou na mesa se inclinando levemente para a frente como se não tivesse escutado bem.
— Transfira sua bolsa pra cá. Você tem ótimas notas. Peça uma recomendação da faculdade e volte para casa.
— Está... Está falando sério...?
Taeil fitou a mãe que nada disse, apenas continuou degustando sua fatia de bolo.
— Por que está tão surpreso? — Karin sorriu empurrando o ombro do irmão.
Finalmente o clima daquele jantar se coloriu completamente e todos se sentiram como uma família novamente. Taeil não conseguiu agradecer mais os pais por serem tão compreensivos quanto àquela situação. Se viu preocupado em ser obrigado a retornar e finalizar o que havia começado, no entanto foi recebido de braços abertos com uma solução compreensível e acolhedora. Karin também se aliviou agora que o assunto estaria se resolvendo, apesar de se ver extremamente irritada por terem magoado seu irmão mais velho.
A partir de agora tudo poderia melhorar para a família Min. Poderia, contudo Karin se pegou na ideia de que ainda estava presa a má sorte.
Jungwoo
> Não quero encher sua mente agora, iria somente te atrapalhar
> Vamos conversar depois das suas provas
Era inevitável, ele passou a ignorar todas as outras mensagens de Karin após lhe enviar aquelas pequenas frases, que mesmo pelo tamanho foram estrondosas para a adolescente. Ele não sentia o mesmo por ela? Então por que a beijou? Por que se afastou? Ela queria chorar, entretanto preferiu guardar sua frustração. Mesmo que ela estivesse claramente apaixonada por Jungwoo, ela percebeu que não o conhecia. Existiam tantas coisas de que ela não sabia, ele escondia tanto que Karin chegou a se preocupar. Pelo o que ele estava passando para reagir de tal forma?
O sol nasceu, os pássaros cantavam e Karin já se encontrava de pé. Dormiu somente quatro horas após tanto ponderar durante a madrugada. Todavia não se viu indisposta, e sim sem nenhum pingo de ânimo. Vestiu seu uniforme contra a vontade e mais uma vez checou seu celular acreditando que poderia se deparar com alguma notícia de Jungwoo, qualquer coisa. Porém nada.
Não bastasse isso, as amigas não trocavam palavras na sala de aula. Cada uma se encontrava em um canto da sala enquanto Minji se posicionava quieta em seu assento mexendo no celular. Karin se aproximou após cumprimentar todos e tocou o ombro de Minji, que se sentava a sua frente.
— Não conversaram ainda?
— Achei melhor conversarmos no intervalo, cheguei quase agora também, a aula já está pra começar.
— Hm... — Karin assentiu encarando as outras meninas.
E a manhã seguiu desta forma extremamente desconfortável, mesmo que nenhuma dirigisse a palavra à outra, Hyesoo parecia mais feliz que o normal checando suas mensagens no celular enquanto Yuna sorria sozinha presa em pensamentos, sejam lá quais eram.
Karin apenas suspirava fazendo suas anotações e realmente estudando nos horários de estudo livre até ver Minji, Hyesoo e Yuna saírem juntas minutos antes do intervalo de fato se iniciar.
— Finalmente... — Karin murmurou.
Alguns longos minutos foram necessários para o assunto ser finalizado, disso Karin teve certeza após descer para comprar uma caixinha de suco de morango na máquina. Conseguiu ouvir, sem intenção, diga-se de passagem, as meninas porem fim a discussão.
— Por isso, sinto muito... Me senti deixada de lado e pouco importante, sinto muito ter dito aquelas coisas horríveis, nenhuma delas era verdade... — Minji parecia mais confiante do que antes. — Me perdoem. — Se curvou respeitosamente.
Um breve sorriso se fez nos lábios de Hyesoo que cutucou Yuna que ainda se manteve com um bico nos lábios. Em pouco as meninas estavam rindo e abraçando Minji. Um enorme peso saiu dos ombros de Karin e seu dia se alegrou um pouco.
As pazes foram feitas. No entanto, Karin abordou Minji antes de partirem aquela tarde.
— Posso te perguntar uma coisa?
— Hm?
Karin a puxou para detrás do muro do colégio fugindo do olhar dos outros estudantes, visto que Hyesoo e Yuna partiram primeiro com Jeno e Jaemin.
— O que foi? — Minji riu. — Isso é por causa da forma como a Yuna e o Jaemin estão agindo de repente? Pensei que tivesse se apaixonado pelo Jungwoo... Ainda gosta do Jaemin?
— Não é isso, vamos ignorar o fato de que Yuna e Jaemin estão estranhamente próximos agora, ok?
— Ok... — Minji a encarou confusa.
— Me diga, por que não se declarou para a Hyesoo?
— Tipo... Hoje mais cedo? — o silêncio fora o suficiente para ela saber a resposta. — Bom, só complicaria tudo. Eu já sei que ela gosta do Jeno, pra que fazê-la se sentir desconfortável?
— Acho que fiz essa coisa estúpida.
— Que coisa estúpida?
— Me declarei na hora errada...
— Você se declarou?!
— Shhh! — levou o indicador aos lábios e encarou os lados. — Eu disse o que eu sentia para o Jungwoo, mas acho que compliquei tudo.
— Por quê?
— É como você disse, o momento para dizer só complicaria tudo, mas mesmo assim eu fui lá e falei pra ele. Acho que o deixei desconfortável, ele parecia muito preocupado com alguma coisa e eu o enchi com baboseiras sobre como me sinto...! Eu sou uma idiota, não é?
— Ei, espera... Eu disse que não me declarei por saber que ela está apaixonada pelo Jeno. Se não fosse por isso eu teria dito.
Karin a encarou em silêncio.
— Karin você não é idiota por ter se declarado. Se eu tivesse feito isso antes, talvez não estaria de coração partido agora. Eu perdi a minha chance por demorar demais. Você não fez nada de errado por dizer o que sente. Ele te rejeitou?
— Não exatamente... Não sei.
— O que ele disse?
— Ele... — Karin corou rapidamente assim que se lembrou e acabou mordendo o lábio inferior.
— O quê? Espera... Não me diz que... Ele te beijou?!
— Não fique gritando essas coisas! — Karin balançou suas mãos em frente a amiga.
— Tá, ele te beijou e mesmo assim você pensa que fez a coisa errada? Karin está na cara de que ele também gosta de você.
— Mas depois ele disse que não podia fazer isso...
— Ele disse o porquê?
Karin negou com a cabeça.
— Pediu para termos essa conversa quando as provas acabarem. Não quer me atrapalhar agora.
— Karin. — Minji tocou os ombros da outra. — Ele está agoniado com algo, isso é óbvio, mas ele também está preocupado com você. Tente dar um pouco de espaço pra ele agora. Você mesma disse que algo havia acontecido quando se declarou não foi? Ele pode estar com a cabeça cheia e não quer te dar uma resposta de momento.
— Acha mesmo...?
— Claro, ele te beijou não foi? E mais uma coisa... Pode não ser o que quer ouvir, mas, ele está certo. Se foque no vestibular por agora, senão vai se arrepender depois.
Karin não queria ceder àquilo, entretanto era a única escolha que tinha. Para isso estudou com todo o vigor que possuía para gastar e jurou abordar Jungwoo assim que saísse vitoriosa daquela sala após o último dia de provas do vestibular. E assim o fez, porém não saiu tão confiante quanto acreditou que iria.
Mesmo assim, estaria ele disposto a conversar agora?
Capítulo 21 ➜
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