Se encontravam sentados no sofá reunidos como uma família outra vez na sala de estar. Os pais perplexos pelo filho aparecer daquela forma incomum de volta na Coréia. O pai estreitava os olhos analisando a face de Taeil que se encontrava de joelhos ao chão com as mãos sobre o colo, no entanto com um sorriso fino bem expresso.

ㅡ Vou perguntar outra vez, o que está fazendo aqui? ㅡ senhor Min apertava seus joelhos sem muita força nas mãos.

ㅡ Já disse, precisava de um tempo pra relaxar. Sabe como é, precisamos aproveitar a vida também. ㅡ alargou brevemente o sorriso.

ㅡ Aish, pare de brincadeiras e volte pra Tailândia agora! ㅡ a mãe franziu o cenho.

ㅡ Estava pensando em ficar aqui por umas semanas. Não vai fazer mal algum... ㅡ parou um minuto para pensar ㅡ Eu deveria ficar por um mês?

Com agilidade, Taeil se desviou do chinelo que o pai jogara em sua direção. Apertando a nuca, o mais velho da família se levantou com um semblante exagerado de dor.

ㅡ Volte e vá estudar menino, crescer para ser alguém na vida... Vá logo pelo amor de Deus! ㅡ ameaçou o lançar um chute ㅡ Ai essas crianças teimosas de hoje em dia, não acredito que cresceu tão irresponsável... Não, não, me recuso. ㅡ se dirigiu ao corredor em busca de seu quarto ㅡ É melhor que isso não tenha passado de um sonho quando eu acordar amanhã!

A mãe também parece irritada, porém mais frustrada. Fitou o filho com muitas coisas para dizer, contudo decidiu apenas se levantar entre suspiros e seguir o marido.

ㅡ Conseguiu ser pior do que eu... ㅡ Karin mediu o irmão negando com a cabeça.

ㅡ Faça o que eu digo, não faça o que eu faço. ㅡ Taeil encheu os pulmões de ar revigorado ㅡ Ah, é bom estar em casa...!

ㅡ Doido varrido... Agora a verdade, o que está fazendo aqui?

Taeil se levantou e alcançou as malas ao lado pronto para ir para seu quarto.

ㅡ O problema sou eu. Não se preocupe, vou resolver isso, só preciso de alguns dias. ㅡ virou-se para a irmã ㅡ Agora vá dormir Karin, você tem mania de enrolar demais na cama, vai se atrasar pra escola amanhã.

Após quase três anos apenas vendo o irmão em feriados comemorativos, chamadas de vídeo e escutando sua voz em telefonemas, como os de aniversário por exemplo, Karin sentiu-se verdadeiramente feliz por se encontrar com Taeil. Por mais que ele sempre insistisse para que ela não seguisse seu exemplo, ela o admirava muito por ter sempre a mimado, mesmo com as briguinhas, e a apoiado em tudo que ela precisasse.

Com isso os irmãos Min se separaram, cada um para seu respectivo quarto. Karin deveria seguir o conselho do irmão, e acredite, ela queria estava cansada, entretanto precisava estudar para as provas que começariam na sexta-feira. Logo a noite se preencheu com a garota atolada em livros, cadernos, canetas, marca-textos e lapiseiras. Por sorte o grupo de estudos no *KakaoTalk antes preenchido apenas por Yuna, Minji, Hyesoo e Karin, agora possuía dois novos membros, Jeno e Jaemin e todos se ajudavam tirando dúvidas ou compartilhando possíveis questões que cairiam nas provas.

Os dias se estenderam tranquilamente para a filha mais nova da família Min e seus amigos. Se encontravam após as aulas na biblioteca do colégio e estudavam até o horário de Karin ir trabalhar se aproximar. Era de bastante ajuda para todos aquele grupo de estudos e além disso, Jaemin também passava mais tempo com Karin a levando para casa com a desculpa de pegarem o mesmo ônibus. A presença do adolescente ainda despertava cócegas no estômago dela, porém era muito mais agradável do que antes, já estavam bastante confortáveis na presença um do outro, tanto que Jaemin por vezes alcançava sua mão no trajeto para doceria.

ㅡ O que está fazendo...? ㅡ ela comentou soprando um riso baixo.

ㅡ Amigos não podem mais andar de mãos dadas agora? ㅡ mostrou a língua.

Durante seus horários de trabalho, após se despedir de Jinri e Jinah ou quando se encontrava sozinha sem nenhum cliente para atender, Karin gastava seu tempo enviando mensagens de texto para Jungwoo com enormes sorrisos e suspiros baixos. Seu relacionamento com o universitário havia melhorado também, ele já não era mais tão formal e até mesmo enviava figurinhas, o que para Karin era considerado um enorme avanço. Todavia as palavras de Yuna ainda incomodavam o coração da menina.

Aquele fim de tarde, Taeil fechou a loja com Karin. O irmão mais velho resolveu tomar os turnos dos pais na doceria numa forma de fazer com que eles voltassem a falar com ele como costumeiramente.

O jantar passou quase em silêncio, com os pais fazendo birra ignorando o filho mais velho e ele agindo como se nada estivesse acontecendo.

ㅡ Meu Deus, ele já disse que vai voltar em alguns dias! ㅡ Karin repousou seu *hashi na mesa encarando os pais perplexa.

ㅡ Ai que susto, pra que gritar?! ㅡ a mãe ergueu a cabeça rapidamente para encarar a filha.

ㅡ Pelo menos olhem pra ele, por Deus...! ㅡ suspirou estalando a língua no céu da boca levemente ㅡ Aish, façam as pazes logo!

Taeil levou um pedaço de carne de porco a boca dramaticamente parecendo deprimido. Ele podia estar exagerando suas expressões faciais no momento, contudo realmente se sentia magoado pela forma como o estavam tratando.

ㅡ O que deu em você? ㅡ o pai também fitava a filha ㅡ Está gritando com a gente? E a educação que eu te dei?

ㅡ Aish... ㅡ Karin voltou a comer.

ㅡ "Aish"? ㅡ o pai arregalou os olhos ㅡ Um desperdiçando o próprio futuro e a outra se rebelando contra os pais... Oh, oh, mãe dos meus filhos acho que estamos pagando por nossos pecados de outra vida. ㅡ ele apertou a nuca outra vez com suspiros de dor.

ㅡ O erro é nosso por deixarmos eles alimentarem tanta teimosia... Aigoo, querido vai ficar tudo bem. ㅡ a mulher passou a massagear os ombros do marido.

ㅡ Ah... ㅡ suspirou ㅡ Lar doce lar. ㅡ Taeil estava com um enorme sorriso ㅡ Vocês não mudaram nada, né? ㅡ colocou um pedaço de *kimchi sobre o arroz tanto de sua mãe quanto de seu pai ㅡ Comam bastante e continuem saudáveis, ok? ㅡ para Karin ele deu um pedaço de carne ㅡ Obrigado pela comida. ㅡ recolheu seus pratos e talheres e se ausentou para a cozinha.

ㅡ *Oppa, espera aí, preciso de você!

Enquanto Karin comia o mais rápido que podia para acompanhar o irmão que terminava de lavar sua louça, os pais analisaram os dois filhos.

ㅡ Você é inteligente, né? Me ajuda com umas questões de física...! ㅡ laçou o braço do irmão e o arrastou consigo pela sala.

ㅡ Eu venho pra cá por estar cansado de estudar e você me pede pra estudar com você? ㅡ estava cheio de caretas ㅡ Ah, não Karin.

Logo os dois haviam desaparecido pelo corredor e agora marido e mulher se encontravam sozinhos à mesa.

ㅡ Acho que os criamos bem, querida. ㅡ o homem voltou a jantar.

ㅡ Eles cresceram tão rápido que acabei me esquecendo de como eram antes. Mas algumas coisas nunca mudam.

Entre sorrisos e risos o casal terminou sua refeição tranquilamente.

Taeil já não aguentava mais explicar a mesma questão para Karin outra vez. Foram quatro formas diferentes de se resolver a mesma equação e a adolescente ainda não entendia de onde vinham aqueles números. Com um enorme suspiro, o irmão espalmou levemente suas mãos contra a escrivaninha da irmã.

ㅡ Assim não vai dar, preciso estimular seu cérebro... ㅡ se levantou ㅡ Espere aqui.

Ele sabia bem o que poderia ajudar agora, por isso acertou em cheio em fazer aquela pausa de vinte minutos para um lanche de meia noite. Os dois bebiam uma xícara de *Maesilcha bem quente enquanto mordiscavam biscoitos e pequenos sanduíches de patê de frango e alface. Karin abusou daquele momento para contar sobre seus dias e perguntar sobre os do irmão enquanto ele estava na Tailândia.

ㅡ Oppa, tem algo me incomodando.

ㅡ Hm... ㅡ ele finalizou seu chá.

ㅡ Sobre o que aconteceu dez anos atrás...

ㅡ O que tem isso? ㅡ alcançou o último sanduíche que restava no prato.

ㅡ Vocês insistem que foi a água que me trouxe de volta para a margem... Mas, eu tive o sonho outra vez alguns dias atrás, eu senti... Não. Eu vi, tinha um menino lá.

Taeil encarou a irmã e antes de comentar, preferiu terminar de mastigar e engolir.

ㅡ Karin, isso aconteceu a muito tempo. Você era muito nova e nos deu um baita susto...

ㅡ O garoto. Ele estava lá...? Por favor, apenas me diga.

O irmão mais velho respirou fundo e desviou seu olhar.

ㅡ Por que mentiram todo esse tempo...?

ㅡ Eu não sei porque eles escolheram assim, mas nossos pais têm noção do que fazem. O importante é que você está bem.

ㅡ Mas...!

ㅡ Karin ㅡ ele juntou as xícaras e pratos —, o que foi feito não pode ser desfeito. Deixe o passado para trás, por favor, para o seu próprio bem.

Seguindo os números, os dois gastaram a noite estudando até adormecerem sobre a mesa. Taeil fora quem acordou primeiro com dores no pescoço.

ㅡ Karin, acorda... Vai pra cama... ㅡ bocejou se levantando ㅡ Karin... Está me ouvindo?

ㅡ Hm...

Por não receber reação alguma, Taeil desistiu. Ajeitou a cama e pegando a irmã no colo, o que fora um pouco difícil já que ela não era mais a menininha que ele costumava tomar conta quando adolescente, ele a deitou e cobriu com carinho. Após ajeitar tudo, ele se ergueu.

ㅡ Vai ficar tudo bem irmãzinha. ㅡ ele riu da própria palavra que usou ㅡ Tenho certeza de que ele não se arrepende de ter te salvado. Nós somos muito gratos a ele também. Mas você precisa esquecê-lo...

Karin caminhava de cabeça baixa sentindo-se mais curiosa e aflita com toda a história do seu passado após o comentário do irmão antes que ela adormecesse em cima de seus cadernos. Batendo os pés por pura birra, ela escutou um chamado familiar antes que atravessasse a rua.

ㅡ Karin...! ㅡ Jungwoo acenou assim que seus olhares se cruzaram.

Com um sorriso repleto de sinceridade, a menina o cumprimentou, porém sentiu um forte aperto ao ver Yerim logo ao lado acompanhando o universitário.

ㅡ Indo pra casa? ㅡ ele questionou.

ㅡ Sim, saí mais tarde hoje, estava estudando na biblioteca do colégio com o pessoal.

ㅡ Estão todos bem?

ㅡ Sim, sim. Eles pediram para eu te convidar quando marcássemos de sair todos juntos outra vez.

ㅡ Sério? ㅡ ele riu concordando com a cabeça ㅡ Vou adorar.

Entre sorrisos, Karin fitou Yerim tentando ao máximo não deixar claro sua imensa alegria de estar ao lado de Jungwoo.

ㅡ Olá, Yerim-ssi*.

ㅡ Olá. ㅡ ela sorriu e a cumprimentou ㅡ Sinto que preciso me desculpar pela última vez.

ㅡ Que isso, não, tudo bem...! ㅡ negou com a cabeça rapidamente ficando embaraçada ㅡ Eu estava agindo estranho mesmo...!

ㅡ Não, eu fui rude. Sinto muito. ㅡ se curvou brevemente, porém educadamente.

ㅡ Tudo bem... Obrigada. ㅡ Karin sorriu se curvando também por impulso.

Agora os três caminhavam juntos ao ponto de ônibus.

ㅡ A propósito, esses dias te vi caminhando por aqui. ㅡ Yerim comentou ㅡ Você estava com outro menino, um colega de classe.

ㅡ Oh... ㅡ se impressionou, por isso acabou sorrindo nervosamente ㅡ Como sabe?

ㅡ O uniforme era o mesmo, calma. ㅡ Yerim estava rindo.

ㅡ Era o Jaemin?

Jungwoo observou brevemente a estrada e os ônibus que vinham esperando o seu.

ㅡ Sim, pegamos o mesmo ônibus quando ele não tem treino e voltamos juntos. Moramos perto um do outro.

ㅡ Hm... ㅡ Yerim encarou hora Karin, hora Jungwoo ㅡ Bom, essa é a minha deixa. Vou me encontrar com uma amiga.

ㅡ Ah, é mesmo, certo. ㅡ Jungwoo sorriu ㅡ Nos vemos amanhã.

ㅡ Sim. ㅡ ela sorriu para o amigo e logo se voltou a Karin se despedindo também ㅡ Tomem cuidado no caminho para casa.

ㅡ Você também. ㅡ Karin acenou.

À medida em que ia se afastando, mais e mais Yerim sentia algo incomodando seu coração. Por pura curiosidade e para tirar a prova do que estava suspeitando, a garota deixou seus belos fios loiros dançarem ao vento quando se virou para fitar os dois mais atrás. Assim que o fez sentiu tremenda irritação. Jungwoo sorria como nunca antes enquanto a garota claramente corava sempre que seus olhos se cruzavam com o mais alto ao seu lado. Frisando os lábios, Yerim seguiu seu caminho. Ela precisava fazer alguma coisa.

Capítulo 11 ➜

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GLOSSÁRIO

• KakaoTalk - é um aplicativo de mensagens gratuito para smartphones com recursos de texto livre e chamadas gratuitas, operado pela Kakao Corporation.

• Hashi - pauzinhos ou palitinhos que são utilizados como talheres em parte dos países do Extremo Oriente.

• Kimchi - é uma conserva tradicional que normalmente é feita de acelga.

• Oppa - significa irmão mais velho, amigo muito próximo que é mais velho, interesse romântico, namorado ou às vezes até marido, se forem mais velhos.

• Maesilcha - chá de ameixa japonesa, pode ser servido tanto quente quanto frio.

• [Nome]-ssi - é um honorífico usado depois do nome de alguém com quem você não é pessoalmente próximo.