Foi como mousse de Abacaxi
Qualquer um do grupo diria que aquele jantar não fora nada agradável, no entanto calhou que a noite se finalizou melhor para uns do que para outros. Minji vestia um dos pijamas que Karin havia a emprestado enquanto a outra penteava os cabelos silenciosamente fitando as expressões da amiga. Queria ser direta e perguntar, no entanto as feições dela demonstravam o quão magoada aparentava estar e isso deixava Karin ainda mais preocupada.
— Yuna estava certa — por fim Minji confessou. — Eu sou uma pessoa horrível.
Karin franziu o cenho e deixou a escova em cima da escrivaninha.
— Não, você não é uma pessoa horrível...
Se aproximou de Minji sentada em um colchão ao lado de sua cama.
— Eu sou sim, não pensei em ninguém além da minha própria frustração... Eu só, só me sentia irritada o tempo todo e descontava em vocês sem pensar nas consequências.
— Começou a se sentir assim por Jeno e Hyesoo estarem juntos?
Minji quis voltar a chorar, no entanto não queria que as lágrimas caíssem.
— Não era justo... Eu sempre vi como as meninas corriam atrás dele, de como davam atenção pra ele e se humilhavam para no fim ele rejeitá-las quando deixavam suas verdadeiras intenções claras. Ele sempre foi um ótimo aluno, bom nos esportes, com um sorriso bonito e gentil... Mas por quê? Por que ele só enxergou a Hyesoo...?!
— Minji... — Karin se sentou ao lado da amiga e lhe tocou o ombro.
— Eu estava lá primeiro...! Eu vi todos os bons e maus momentos...! Por que ele tinha que escolher justo ela...?!
— Você gosta do Jeno...?
Pareceu um pouco incerta de perguntar, porém precisava tirar a prova.
Minji soprou um riso baixo e entristecido.
— Era como devia ser?
Karin a encarou confusa.
— Seria mais fácil se fosse assim? — baixou a cabeça. — A menina gostar do menino, o menino gostar da menina?
Agora era Karin quem queria chorar. Rapidamente ela abraçou Minji a amparando em seus braços.
— Sinto muito, eu não sabia... Eu não sabia...
E ambas caíram em lágrimas enquanto que envoltas uma na outra. Karin sentiu seu coração se partir enquanto Minji soluçava em seu ombro tentando extravasar toda aquela dor em seu peito.
— Mesmo sabendo que nunca teria chance alguma com ela, no fundo acreditei que se a amasse mais do que qualquer um, ela escolheria ficar comigo.
Karin se sentia impotente, não tinha experiência em dar conselhos, Yuna sempre cuidava dessa parte. Não sabia quais palavras usar para apartar a dor que a amiga estava sentindo agora.
— Não se prenda a um amor que não é recíproco. Deixe ir. Se um dia voltar, é seu. Mas não se apegue a suposição. Não fique esperando quem já seguiu em frente.
Implorava para aquelas frases que deixou escapar de sua mente serem, mesmo que um pouco, reconfortantes para Minji e que seu abraço sincero fizesse aquilo passar. Que ficasse tudo bem.
E assim permaneceram até Minji ceder ao sono e Karin decidir voltar para sua cama dando espaço para a outra se esticar como bem entendesse.
A manhã já se estendia do lado de fora da janela do quarto, contudo seu sono pesado pelas horas da madrugada em que ficou acordada com Minji impediam Karin de despertar. Fora com um leve empurrar de ombros que ela abriu os olhos lentamente para se deparar com a amiga já vestida com suas próprias roupas.
— Minji... — Karin se sentou na cama bocejando. — Por que levantou tão cedo?
— Minha mãe me ligou, preciso ir agora.
Os olhos ainda se viam um tanto inchados.
— Oh... — Karin se levantou indo ao banheiro — Mas não vai comer nada?
—Me deparei com seus pais na cozinha quando fui buscar um copo d'água. Eles me chamaram para tomar café com eles já que você não costuma acordar tão cedo aos domingos.
Após dar descarga e lavar as mãos, assim como seu rosto, Karin voltou ao quarto.
— Então vou te acompanhar até a porta.
— Ok.
Karin pouco se importou em como seus cabelos deveriam estar despenteados, e guiou a amiga.
— Obrigada por ontem... E sinto muito também. — Minji parecia envergonhada. — Fui má e mesmo assim você foi gentil comigo.
Karin sorriu.
— Deixa isso pra lá.
— Depois de tudo aquilo, provavelmente nenhum deles vão querer olhar na minha cara outra vez. — Minji riu, porém parecia triste.
— Claro que vão. Toda história tem dois lados. Tenho certeza de que vão entender, você foi sincera comigo e eu entendi. Vai ficar tudo bem.
Se abraçaram mais uma vez, logo, com acenos e sorrisos, as duas se despediram. Mesmo ainda estando de coração partido e sentindo o gosto amargo da rejeição, Minji sentiu um enorme peso sair de cima de seus ombros por contar a verdade para Karin. Ela conseguiu sorrir após tantos dias se lamentando por não ter sido sincera com seus sentimentos desde o início. Estufou o peito, ergueu a cabeça e caminho com confiança para o ponto de ônibus.
Após um banho, e prender os cabelos em um rabo de cavalo, que pela pressa acabou torto e frouxo, Karin decidiu ir para a cozinha ter uma conversa com os *waffles congelados que sabia estarem no freezer. Antes de qualquer coisa, a filha mais nova dos Min notou a porta do quarto de Taeil aberta e seu quarto exatamente como estava noite passada.
— Mãe! — ela gritou do corredor. — O oppa voltou pra casa ontem à noite?
— Não — a mulher respondeu sem força na voz. — Ele nos disse que sairia e voltaria mais tarde...
— Mas isso foi ontem. — Karin puxou seu celular do bolso de seu short.
— Ele não atende às ligações — o pai suspirou lendo o jornal. — Tentei assim que acordei e notei sua ausência.
Karin mordeu o lábio tendo um mal pressentimento a respeito daquilo. Os pais também aparentavam um tanto tensos, porém aconselharam que ela aguardasse, Taeil era responsável o suficiente para saber o que fazia de sua vida. Isso era o que eles queriam acreditar.
Os waffles não estavam doces como Karin desejou que estivessem assim que os aqueceu no forno, e culpa para tudo aquilo era a de seu irmão mais velho desaparecer daquela forma. A cada garfada era um suspiro liberado. Nem mesmo o*Yakult, seu favorito, a estava agradando naquele momento. Até que uma ligação repentina a fez arregalar os olhos.
— J-jungwoo...?! — ela se engasgou brevemente.
Após recobrar sua postura, ela atendeu com certa timidez.
— Jungwoo, b-bom dia!
— Bom dia...! Sinto muito ligar tão cedo...
Karin acabou sorrindo ao ouvir aquela voz doce.
— Tudo bem. Mas aconteceu alguma coisa?
— Na verdade sim...
Agora ela realmente se encontrou tensa.
— Eu acabei de encontrar o seu irmão desmaiado em um beco...
— O quê?!
— Mas não se preocupe, ele está bem, não está machucado, só parece... Bêbado. Estamos em um táxi agora, estou o levando de volta.
— Meu Deus...
— Desculpe te assustar, eu achei melhor avisar antes de aparecer sem dizer nada.
— Não...! Quer dizer, sim! Obrigada por avisar...! — Karin suspirou.
— Já estamos chegando, vou desligar agora.
— Tudo bem...
Com uma careta explicitamente irritadiça, Karin explicou a situação para os pais e em menos de cinco minutos o motor de um carro se fez audível em frente a doceria dos Min.
Karin desceu para auxiliar Jungwoo a levar o irmão, ainda desmaiado pelo álcool, para o quarto. Ele não aparentava ser tão pesado para o universitário, no entanto a adolescente não notou que isto se dava ao fato de que ela também estava apoiando o braço esquerdo de Taeil em seus ombros. Com um lamento baixo e um tanto rouco, ambos derrubaram o mais velho em cima da cama. Jungwoo levou as mãos a cintura e respirou fundo.
— É, isso foi um pouco difícil. — Encarou Karin com um leve sorriso.
— Um pouco? Por um minuto me esqueci de que ele era magro...!
Acabaram rindo e deixaram o cômodo com um Taeil bêbado e profundamente adormecido lá dentro.
— Aigoo, meu filho causando problemas... — senhora Min suspirou e fitou Jungwoo. — Eu sinto muito.
— Logo o mais velho fazer uma coisa tão irresponsável, o que fiz de errado meu Deus? — senhor Min negava com a cabeça desacreditado.
Por incrível que pareça, o casal Min aparentava não se abalar por ter Jungwoo em sua residência, mesmo com o passado que suas famílias tiveram.
— Não se preocupem com isso, não foi um incômodo, por favor não se preocupem.
— Foi muita sorte você encontrá-lo. Senão ele ia acabar ficando horas lá até a polícia encontra-lo — Karin comentou.
Jungwoo sorria tão gentilmente que fez todos naquela sala se acalmarem.
— Teremos uma boa conversa quando ele acordar, pode ter certeza disso — o homem murmurou ranzinza.
— Mas então... Karin nos disse que são amigos. — Senhora Min sorriu parecendo querer perguntar algo.
O universitário encarou a adolescente que no momento queria se esconder por tê-lo a fitando daquela forma tão atenciosa. Com um assentir de cabeça por parte do jovem, senhora Min prosseguiu:
— Pretende fazer alguma coisa hoje?
— Mãe! — Karin protestou.
— O quê...?! — a mulher a encarou com uma careta.
Jungwoo riu embaraçado.
— Na verdade não.
— Então almoce conosco.
Fora neste exato momento que Karin quis se enfiar em um buraco e sumir. Estava envergonhada ao mesmo tempo que tentada a pedir para que ele realmente passasse a tarde com ela.
— Mãe são oito horas da manhã...!
— Ele poderia ficar até o almoço. Karin, querida, não dificulte as coisas.
— Não sei se devo, não quero abusar...
Senhor Min nada disse, apenas arqueou a sobrancelha direita encarando as expressões desesperadas da filha.
— Eu insisto. Seria falta de educação se recusasse agora.
— Oh... — Jungwoo sorriu desistente e se curvou brevemente à mulher. — Então, muito obrigado pelo convite. Sinto muito pela intromissão...
— Será um prazer, será um prazer...! — a mulher abanava sua destra em frente a sua face.
Agora não teria mais volta, Karin estava presa a Jungwoo até o almoço, nada mudaria a mente de sua mãe. Com uma olhadela a adolescente fitou o pai que a encarava desde então com um semblante desconfiado.
— V-vamos caminhar um pouco...! Voltaremos quinze minutos antes do almoço. — Ela alcançou seu celular sobre a mesa de jantar e o colocou no bolso de seu short. — Vamos Jungwoo...?
Sem saber ao certo o que fazer, o universitário se curvou mais uma vez em uma despedida educada.
— Até breve... — ele sorriu ao partir.
O coração acelerado era o que mais incomodava Karin enquanto o sol iluminava suas bochechas um tanto coradas por estar a sós com Jungwoo. Já haviam feito isso algumas vezes, outro motivo para ficar irritada em estar com vergonha agora. A culpa disso tudo era o fato de ter deixado claro seus sentimentos da última vez em que se encontraram pessoalmente.
Ele sabia como ela se sentia. Mas e quanto a ele? O que seu coração lhe dizia quando estava com Karin?
Capítulo 19 ➜
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GLOSSÁRIO
• Waffles - é um tipo de massa doce de origem belga cozido num molde onde é prensado em um ferro que imprime texturas quadriculares sobre a massa.
• Yakult - de origem japonesa, yakult é feito de leite fermentado.
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