Cacau é moído antes de virar Chocolate
Jungwoo apertou nervosamente a mão de Karin. Fora um toque gentil, porém ela notou o medo querer tomar conta dele. Buscando acalmá-lo, a adolescente entrelaçou seus dedos nos dele mesmo que seu coração também estivesse agitado e confuso por estarem dentro do elevador daquela clínica. Nada disse, ela sabia que ele se encontrava bastante inseguro a respeito daquele assunto, deste modo preferiu não o pressionar com perguntas. Jungwoo prometeu a mostrar seus segredos, então Karin o deixou guiar tudo em seu próprio tempo.
Assim que saíram do elevador, se depararam com um garoto alto comprando uma garrafa de chá gelado em uma das máquinas ali ao lado. A tensão no corpo de Jungwoo se dissipou imediatamente e ele conseguiu sorrir.
— Ei, você veio hoje também...! — O universitário se dirigiu ao garoto até então desconhecido para Karin.
Assim que reconheceu a voz de Jungwoo, o outro se virou sorrindo assim que se viu frente a frente com eles. Era bastante alto, não havia outro pensamento na mente de Karin que não fosse assimilar aquele menino com um *Brownie e seu sorriso refrescante como sorvete. Ela acabou se embaraçando com a beleza dele, porém escondeu tal sentimento pelo receio de chatear Jungwoo caso ele notasse.
— É claro que sim. Da última vez você passou a noite aqui, queria ter certeza de que está descansando, você não para.
Jungwoo soltou a mão de Karin para cumprimentar seu amigo com um abraço frouxo em conjunto a um aperto de mãos.
— Karin, este é o Lucas — ele sorriu ao apontar com o polegar. —, meu melhor amigo.
No momento em que a troca de olhares fora feita, a adolescente sorriu se curvando em um cumprimento.
— Ah, não precisa dessas formalidades. — Lucas riu. — Então você que é a namorada do Jungwoo?
— O quê, eu sou? — Karin se atrapalhou rapidamente não sabendo o que responder.
— Não sei me digam vocês. — Mais uma vez rindo alegremente.
— Sim Lucas, é minha namorada, agora pare de ficar provocando. — Ainda sorridente, Jungwoo empurrou sutilmente o ombro do melhor amigo.
A confirmação. Karin sabia que algo além de amigos eles eram após o que aconteceu minutos atrás, porém ouvir as palavras saírem da boca do universitário a atingiram em cheio. Uma explosão tomou conta de seu peito como se as borboletas em seu estômago fossem fugir pela boca. Ela não poderia estar mais feliz.
— Nossa, então finalmente evoluíram e foram para essa etapa? Até que enfim.
— Como assim? — Karin acabou pensando alto. — Vocês conversavam sobre mim...?
Lucas apertou os olhos com um malicioso sorriso se expressando em sua face.
— Ah, mas com certeza, ele me contou tudo sobre você. — Lucas não pretendia parar ali. — Está caidinho fazem dias, mas ele é um medroso. Me diz aí, foi você que se declarou primeiro, não foi? Ele precisa desses empurrãozinhos.
Jungwoo rapidamente cobriu as orelhas de Karin por trás, o que dificultou na adolescente em testemunhar sua crise de vergonha. As bochechas rosadas coloriam o semblante engraçado que ele tinha aquele instante enquanto encarava Lucas num pedido desesperado para que ele parasse de falar. O mais alto ali conseguiu apenas continuar rindo, principalmente por ver o quanto aqueles dois estavam ruborizados.
— Okay, okay, vou parar. — Levantou as mãos em rendição. — Ah é, Jungwoo o médico queria conversar com você. Eu estava prestes a te ligar quando você chegou. Se bem que eu sabia que você viria pra cá de qualquer forma.
Jungwoo rapidamente teve uma drástica mudança em sua expressão. Sério e preocupado, Karin conseguiu distinguir bem.
— Está tudo bem? — Jungwoo questionou.
— Calma, sua mãe está bem. Mas ele não quis me dizer sobre o que se tratava. — Apontou rapidamente ao corredor. — Vamos ao balcão, a enfermeira pode encontrá-lo pra você.
Nem ao menos pensaram duas vezes para seguirem às enfermeiras na recepção. Jungwoo estava uma pilha de nervos e Karin simplesmente os acompanhou agora mais preocupada do que nunca. A mãe de Jungwoo estava hospitalizada naquela clínica? Tudo indicava que sim. Por sorte não tomou muito para que o médico viesse os encontrar.
— Precisamos conversar sobre a condição atual da senhora Kim. Tenho alguns exames para te mostrar e acredito que seja melhor que ouça isso sentado. — Yoontae, o médico, parecia apreensivo.
Jungwoo respirou fundo, suas mãos estavam tremendo, no entanto agarrou com força a alça de sua bolsa de couro e fitou o dois que se encontravam logo atrás.
— Por favor me esperem aqui. Vou voltar logo.
Lucas franziu o cenho assim que viu seu melhor amigo partiu com o doutor Yoontae. Ele se sentou tocando o braço de Karin para que ela se juntasse a ele. Ela não sabia o que fazer, principalmente por não ter ideia do que estava acontecendo ali.
— Jungwoo te contou? — pela falta de resposta, Lucas suspirou. — É claro, quem iria gostar de falar sobre isso?
— Eu sei que ele guarda muitos segredos, mas... Ele me trouxe aqui prometendo que me contaria tudo.
Lucas a encarou ainda incerto de dizer o que pretendia. Porém acreditou no olhar sincero de Karin, aquele que transbordava sua preocupação com o namorado.
— Jungwoo me contou sobre tudo. Sua relação com o acidente na família dele dez anos atrás.
Ela prendeu o ar.
— Perder alguém que amamos é muito doloroso. É como uma cicatriz que permanece profunda e dolorida em nossos corações. Mas para alguns a ferida não chega nem a cicatrizar. Eles não estavam conseguindo lidar muito bem com a perda. O pai dele tentou resolver como pôde. Gastou muito com tratamentos, ele queria tirar Jungwoo daquele choque. Ele não comia, bebia, dormia, nem ao menos falava. Isso se estendeu durante meses, até que o acompanhamento psicológico surtiu efeito e Jungwoo voltou ao normal... Se é que alguém voltaria mesmo ao normal depois daquilo. — Coçou a nuca. — Mas tudo isso não saiu barato... Eles quase perderam tudo, tiveram até de se mudar. Foi quando viramos vizinhos. Para pagar as dívidas o pai aceitou uma oferta de emprego e entrou num navio pesqueiro. Agora só o vemos uma vez por ano.
— Mas e a mãe dele...? Por que ela está aqui?
— Como eu disse, para alguns a ferida nem chega a cicatrizar. Ela não conseguia olhar para o Jungwoo sem se lembrar do filho que perdeu. Ela o maltratou por muito tempo sem que ninguém soubesse depois que o marido partiu naquele navio... Ela queria que a dor passasse e que o medo não a atormentasse mais. Mas para ela todos davam atenção somente ao filho que esteve em choque se culpando pela morte do irmão.
Karin sentiu as lágrimas quererem cobrir sua visão.
— Ela estava o matando aos poucos... Ele começou a adoecer com mais frequência e vivia em hospitais fazendo testes. Todos deram a atenção que ela queria. Sentiam pena da mãe que perdeu um filho e o outro estava a um passo de perder a vida. Ela quem fez tudo aquilo. Remédios, produtos de limpeza, veneno, ossos quebrados... — Lucas parou para tomar ar e segurou o choro. — Minha mãe notou algo estranho pela janela um dia, foi quando descobrimos o que ela fazia com ele. Ela fora enviada pra cá assim que diagnosticaram. *Síndrome de Munchausen por Procuração... Jungwoo nunca disse nada, nem mesmo ficou contra a mãe, tudo o que ele queria era que ela o perdoasse, que o amasse. Por Deus, ele era só uma criança... — Lucas não conteve as lágrimas, entretanto as secou rapidamente. — Ele ficou com a minha família até terminarmos o ensino médio, depois disso entramos em universidades diferentes e ele voltou a morar naquela casa, agora sozinho.
Toda aquela aflição e tristeza transbordava pelos olhos de Karin que mal fazia ideia do que acontecia na vida de Jungwoo até agora.
— Ele sabe o que a mãe fez, o que ela arriscou. Mas continuou a visitando e cuidou dela quando teve alta. Só que ela tende a ter recaídas e fica histérica. Tenta se machucar ou até mesmo machucar ele como antes. Eles não têm dinheiro o suficiente para mantê-la aqui pra sempre, por isso estão sempre indo e vindo. Sempre quando ela é internada, venho aqui checar como ele está... Mas nunca entro naquele quarto quando ela está acordada. Não consigo. Sei que Jungwoo não se sente bem, nem em paz quando vem aqui também. Ele não é bom com mentiras, nem em esconder o que sente. Também não gosta de dizer o que está pensando. Mas tenho certeza de que o motivo para ele vir aqui todos os dias... Não é amor.
Tudo aquilo fora demais. Karin sentia-se enjoada por algum motivo e aquele mal-estar misturado com amargura a fez cobrir a face com ambas as mãos na tentativa de se acalmar. Lucas afagou gentilmente as costas dela buscando despertar conforto ali. Ambos se viam presos em um clima pesado e lamentoso.
— Sinto muito, acabei falando mais do que devia. Eu não tinha esse direito, ele vai ficar chateado. — Lucas abriu seu chá gelado e estendeu à Karin. — Aqui, tente se acalmar, ele vai voltar daqui a pouco e não vai se sentir nada bem se nos vir assim depois do que te contei.
— Eu não fazia ideia... — alguns soluços vieram à tona. — Ele sempre pareceu melancólico, mas isso é demais!
Lucas concordou com a cabeça e insistiu para que ela tomasse o chá gelado. A enfermeira no balcão os entregou um pacote pequeno de lenços e em minutos os dois já estavam um pouco mais tranquilos.
Permaneceram assim até Jungwoo retornar. Porém mais apreensivo do que quando seguiu Yoontae.
Capítulo 24 ➜
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GLOSSÁRIO
• Brownie - sobremesa de chocolate que se pode considerar um 'bolo' partido em pequenos quadrados, algumas vezes servido com sorvete ou geleia de alperce, podendo também ter nozes em sua massa.
• Síndrome de Munchhausen por Procuração (SMPP) - trata-se de uma variação da Síndrome de Münchausen, transtorno em que um paciente simula sintomas de doença com o objetivo de obter compaixão e atenção médica. No caso da SMPP, a pessoa a cargo do paciente (pais ou cuidadores) fabrica esses sintomas ou provoca doenças, também na tentativa de chamar atenção para si.
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