Capítulo 04
A semana havia passado com uma lentidão tão absurda que Viollet não conseguia nem explicar. Sam realmente não estava brincando quando estipulou o castigo; ela não pôde sair para lugar algum. Foi de casa para o trabalho, do trabalho para casa, de casa para a faculdade e da faculdade para casa. A monotonia e a pressão das provas que se aproximavam estavam a deixando louca.
Viollet entrou no carro estacionado à sua frente e sentou-se no banco ao lado do motorista, deixando a mochila deslizar por seus ombros cansados. O dia no trabalho havia sido extremamente longo e cansativo, ela queria apenas ir para casa, tomar um banho e dormir juntinho de seu amado tetê. Mas, para sua infelicidade, hoje ainda era sexta-feira e ela precisava ir para faculdade.
- Está tudo bem, meu amor? - Sam quis saber, notando a menina um tanto abatida no acento a seu lado.
Viollet suspirou profundamente, tentando esconder o cansaço que era evidente em seu rosto.
- Só estou um pouco cansada, nada com que se preocupar. - Respondeu, esboçando um sorriso forçado.
Sam franziu o cenho para a atitude da menina, preocupada com a tensão visível nos ombros da mesma. A estrada parecia longa à sua frente, e o silêncio entre elas quase se tornou palpável.
- Você sabe que pode falar comigo sobre qualquer coisa, não sabe? - Disse Sam, quebrando o silêncio com uma voz suave e tranquilizadora, sem tirar os olhos da mesma, em busca de algum retorno.
- Eu sei, amor. - Respondeu Viollet em um suspiro, desviando o olhar para a janela, observando a cidade passar lentamente ao seu lado. - É só que... tudo está um pouco demais agora. O trabalho, a faculdade, esse castigo... Sinto como se não houvesse fim. - Ela foi sincera e Sam assentiu, compreendendo o lado de sua menina.
Ela colocou uma mão reconfortante sobre a de Viollet, apertando-a levemente antes de também começar.
- Sei que estou sendo dura com você, meu bem. - Adimitiu ao suspirar. - Mas me sinto responsável por você amor. Eu não quero que se sinta sufocada, da mesma forma que não quero que fique com pendências na faculdade. Se estou fazendo isso, é para o seu bem e somente para o seu bem. - Sam olhou para Viollet com seriedade, mas seus olhos ainda tinham um brilho de carinho e preocupação. - Eu entendo que é difícil, mas as regras existem por um motivo. Eu quero que você tenha sucesso, que cresça e se torne independente. Não é fácil, e sei que às vezes parece que sou rígida demais. – Ela fez uma pausa, observando a reação de Viollet, que suspirou novamente, sentindo o aperto gentil da mão de Sam. Ela sabia que a mulher séria a seu lado tinha razão, mas a pressão estava se tornando insuportável.
- Sam, eu entendo seu ponto. - Continuou, tentando encontrar as palavras certas. – Mas eu preciso de uma chance para provar que posso lidar com isso de outra forma. Talvez possamos encontrar um meio-termo? Algo que ainda mostre que estou aprendendo, mas sem me sentir tão sufocada. - Sam arqueou uma sobrancelha, considerando a proposta de Viollet.
Ela sabia que era importante ser firme, mas também compreendia a necessidade de ser flexivel.
- O que você sugere, garotinha? - Perguntou Sam, decidindo dar uma chance ao diálogo, vendo que sim, ela podia tentar afrouxar um pouco a corda.
Viollet mordeu o lábio, pensando por um momento.
- Que tal se, em vez de me impedir de sair ou reduzir meu tempo livre, eu me comprometer a um horário de estudos, onde minha atenção será toda para os livros. - Tentou expor o que pensava.
Sam ponderou a ideia por um momento, olhando fixamente nos olhos de Viollet.
- Não sei...
- Por favor Sam, juro que vou fazer tudo certo. - A menina fez olhos de cachorrinho abandonado, o ponto fraco de sua pareceira.
- Tudo bem, vamos tentar. - Finalmente, ela assentiu lentamente. - Mas saiba que vou cobrar resultados. Se você falhar em cumprir esse cronograma, voltaremos ao plano original. – Ela avisou, seu tom ainda firme, mas não tanto.
Viollet sorriu, aliviada por ter conseguido abrir um diálogo e encontrar um meio termo naquele castigo que estava se tornando insuportável. Ela amava o cuidado que a namorada tinha consigo, mas as vezes era difícil obedecer a tudo cegamente.
- Obrigada amor, você é a melhor namorada/mamãe do mundo! - A menina não se conteve e encheu Sam de beijos.
- Tá bom mocinha, tá bom. - Sam riu ao afastar a menina enquanto continuava a dirigir. - Agora sossega se não quiser causar um acidente, vamos, coloque o cinto, não quero que você se atrase para a faculdade. - Viollet riu, mas obedeceu e prendeu cinto de segurança.
Viollet chegou na faculdade um pouco depois de Sam deixá-la na porta, ainda sentindo a leveza de ter conseguido negociar um pouco mais de liberdade. Ela agradeceu silenciosamente a namorada e entrou no campus, observando as pessoas apressadas, todas tentando se preparar para o final de semestre. A pressão parecia estar em toda parte, mas havia algo diferente no ar naquela sexta-feira. Talvez fosse o fim das provas, ou o cansaço de semanas intermináveis de estudo, mas Viollet não conseguia evitar o desejo de fazer algo diferente. No corredor, encontrou Clara, sua amiga de longa data. Clara estava sempre com um sorriso largo e um espírito livre que, por mais que às vezes fosse irritante, também fazia Viollet se sentir um pouco mais leve.
- E aí, garota? Como você está? - Clara perguntou, empurrando suavemente Viollet para o lado e puxando-a para uma conversa rápida.
- Ah, você sabe, a mesma coisa de sempre... estressada com as provas, o trabalho, esse castigo... - Respondeu Viollet, não conseguindo esconder o cansaço da voz.
Clara, com seus olhos sempre brilhantes de entusiasmo, arqueou uma sobrancelha.
- Castigo? Sério? - Ela fez uma cara de desdém. - Não vai dizer que foi a tóxica da sua namorada? - Quis saber e viu Viollet lhe fuzilar com os olhos por falar dessa forma de Sam. - Ok, parei. - Ela riu, dando a entender que estava brincando. - Que tal dar uma pausa? O semestre está acabando, amiga. Vamos aproveitar! - Viollet olhou para ela, indecisa. A faculdade estava cheia de compromissos, mas a ideia de finalmente relaxar, nem que fosse por uma noite, parecia tentadora. Clara percebeu o conflito nos olhos de Viollet e fez um gesto exagerado de suplica. - Vamos! Você merece, de verdade! Não vai fazer diferença se você faltar uma aula, e eu te garanto que vai ser muito mais divertido do que essa faculdade agora. - Clara insistiu com aquele tom irresistível de quem já sabia a resposta.
- Tá bom! você vendeu. - Viollet cedeu. - Mas só porque você é uma péssima influência!
Clara sorriu amplamente, pegando Viollet pelo braço e arrastando-a para fora do campus. Elas correram até o carro de Clara e logo estavam a caminho de um barzinho descolado onde seus amigos estavam se reunindo para celebrar o fim do semestre. O bar estava animado, com risadas, músicas e aquele ambiente descontraído que parecia tão longe da realidade de Viollet naquele momento.
Quando chegaram, um dos amigos de Clara, Thiago, os cumprimentou e já foi logo oferecendo uma bebida.
- Aí está você! A mocinha que estava escondida na faculdade! - Disse ele com uma risada, entregando um copo de cerveja para Viollet.
Ela aceitou, um pouco hesitante no início, mas logo se viu envolvida no clima leve e divertido do lugar. As conversas fluíam sem esforço, e a pressão que estava a consumindo desapareceu aos poucos. Entre risadas e histórias de faculdade, Viollet sentiu seu estresse diminuir. Por alguns momentos, ela conseguiu esquecer de tudo: das provas, do castigo, da expectativa de Sam. Mas enquanto se divertia, uma vozinha na sua cabeça ainda a lembrava de que ela tinha compromissos, que talvez o que estava fazendo, era errado. Sam confiava nela. Ela sabia que, por mais que fosse difícil, manter o equilíbrio era importante. No entanto, naquele momento, era como se tudo fosse mais leve, como se a noite fosse a última chance de encontrar um pouco de liberdade antes da tempestade de responsabilidade.
Os amigos de Clara começaram a dançar, e Viollet não resistiu, se juntando a eles, deixando-se levar pela música e pelo momento. A pressão estava longe, e ela finalmente sentia que estava respirando de novo. Um copo levou a outro, e não demorou muito para alguém sugerir a ideia de algo mais forte. Três horas depois, todos da turminha de Clara estavam extremamente bêbados; inclusive Viollet.
A noite seguiu seu curso, e o barzinho estava cada vez mais cheio e animado. Viollet sentia uma leveza que não experimentava há dias, talvez até semanas. O álcool tinha seu efeito, tornando tudo mais divertido e descontraído. Risadas altas, danças desinibidas e conversas sem grandes preocupações faziam a pressão de sua vida parecer distante e irrelevante. Ela estava quase se esquecendo de tudo que a aguardava quando o sol nascesse.
Quando alguém sugeriu ir para um lugar mais animado ainda, um karaokê nas proximidades, Viollet não pensou duas vezes. Não queria parar de se divertir. Clara, Thiago e o resto do grupo também aceitaram a ideia sem hesitação. Eles saíram apressadamente para o estacionamento, rindo e empurrando uns aos outros, enquanto o carro de Clara partia em direção ao novo destino.
No karaokê, o clima estava ainda mais animado. A música era alta, as pessoas estavam animadas e as luzes piscavam ao ritmo das canções. Viollet subiu ao palco junto com seus amigos, aplaudida pelos outros frequentadores do local. Cantaram juntos, gargalharam, se perderam na diversão da noite. Era como se o mundo lá fora não existisse, como se as responsabilidades e as consequências simplesmente desaparecessem. Viollet nem percebeu o quanto o tempo havia voado, até que o telefone dela vibrou no bolso.
Ela olhou para a tela e viu o nome de Sam piscando. Uma sensação de culpa lhe invadiu o peito, mas ela a ignorou, pressionando o vermelho e colocando o celular de volta no bolso. O tempo passou e a noite finalmente chegou ao fim, dando início a uma bela manhã de sábado. Os amigos começaram a se despedir, ainda rindo e arrastando os pés pela rua. Clara, que também estava visivelmente bêbada, estava tentando manter todos juntos para pegar um táxi de volta. Viollet, estava sentada no mio fio, meio impossibilitada de permanecer de pé no momento.
Novamente, Viollet sentiu o celular vibrar em seu bolso e forçando os olhos para tentar verificar o aparelho, ela atendeu, sem se atentar ao nome na tela.
- Alô! - Atendeu com a voz animada, porém arrastada por culpa da bebida.
- Onde você está? - A voz do outro lado da linha a fez congelar. Era Sam, que pelo tom não estava para brincadeiras. Viollet sentiu seu coração bater mais rápido.
- Sam... - Ela começou, tentando se recompor, mas as palavras saíam confusas e lentas, misturadas com o efeito da bebida. - Eu não queria te preocupar...
- Imagina se quisesse. - A resposta de Sam veio de imediato, sem paciência. - Não estou apenas preocupada, Viollet. Eu estou irritada. - Viollet engoliu em seco, sentindo a cabeça doer levemente. - Onde você está? Vou buscar você.
Viollet tentou se levantar, mas o mundo parecia girar. Sua cabeça estava pesada e sua boca seca. Clara ainda estava distraída, rindo com os outros amigos, e ela não queria que ninguém soubesse a conversa que acabara de ter.
- Calma, Sam...
- Não ouse me pedir calma, Viollet! Onde você está? - Interrompeu em tom ríspido, fazendo a menina sentir seu estômago revirar.
- Estou no karaokê, na Brown. - Informou já sentindo todo seu interior fcar em alerta.
- Não saia dái, estou indo te buscar.
Sem dar chances para a mesma explicar ou simplesmente responder, Sam encerrou a ligação. Deixando Viollet completamente sem reação, sabendo exatamente o que lhe esperava em casa.
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