ⵌ🧸▬▬𝗢𝗡𝗘 𝗦𝗛𝗢𝗧
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𝘌́ 𝘤𝘰𝘮𝘰 𝘴𝘦 𝘢𝘴 𝘱𝘦𝘴𝘴𝘰𝘢𝘴 𝘷𝘪𝘷𝘦𝘴𝘴𝘦𝘮 𝘦𝘮 𝘶𝘮 𝘮𝘶𝘯𝘥𝘰 𝘧𝘦𝘪𝘵𝘰 𝘱𝘢𝘳𝘢 𝘦𝘭𝘢𝘴 𝘦 𝘰𝘴 𝘰𝘶𝘵𝘳𝘰𝘴, 𝘮𝘢𝘴 𝘱𝘦𝘴𝘴𝘰𝘢𝘴 𝘤𝘰𝘮 𝘢𝘶𝘵𝘪𝘴𝘮𝘰 𝘦𝘴𝘵𝘢̃𝘰 𝘢𝘤𝘰𝘴𝘵𝘶𝘮𝘢𝘥𝘢𝘴 𝘢 𝘷𝘪𝘷𝘦𝘳 𝘦𝘮 𝘶𝘮 𝘮𝘶𝘯𝘥𝘰 𝘱𝘳𝘰́𝘱𝘳𝘪𝘰. [...] 𝘚𝘦 𝘷𝘰𝘤𝘦̂ 𝘥𝘪𝘻 𝘲𝘶𝘦 𝘦́ 𝘢𝘮𝘰𝘳, 𝘦𝘯𝘵𝘢̃𝘰 𝘦́ 𝘢𝘮𝘰𝘳. 𝘔𝘦 𝘢𝘮𝘢𝘳 𝘦́ 𝘥𝘪𝘧𝘪́𝘤𝘪𝘭
Woo Young-Woo
(Uma advogada Extraordinária, Netflix)
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2522 PALAVRAS
Eu não havia acordado a muito tempo, o barulho estrondoso da porta batendo por conta do vento me deixou assustada. Estou sentada na cama enquanto abraço Sawako, minha pelúcia de Urso-Pardo que ganhei de mamãe quando ainda estávamos no Japão. "Sawako" carrega o significado de "calma", Sana disse que quando eu estiver nervosa, a pelúcia me acalmaria por conta de seu nome, e mesmo sabendo que ela estava falando bobagens e coisas infundadas, resolvi me manter em silêncio.
Eu me chamo Hirai Momo, significa "pêssego" em japonês, não gosto do significado, já falei a mamãe sobre isso. Completei 17 anos ontem, porém por conta da minha deficiência intelectual, geralmente pensam que sou mais nova. Morava em Kyoto, no Japão, junto com Mamãe, Papai e Sana, minha irmã gêmea, porém me mudei para Seul, na Coreia, a cerca de 6 anos, após meus pais descobrirem que aqui o tratamento que eu receberia seria mais avançado e eficiente. Diferente de mim, minha irmã não tem autismo, e as vezes me sinto deixada de lado por causa disso.
Muitos autistas têm interesses intensos e altamente focados, geralmente desde uma idade bastante jovem. Isso se chama hiperfoco. Isso pode mudar com o tempo ou durar a vida toda. Pode ser arte, música, jardinagem, animais, códigos postais ou números. Para muitas crianças mais novas pode ser dinossauros ou personagens de desenhos animados específicos também. Uma vez, Mamãe me levou a um encontro de crianças com deficiências intelectuais, e descobri que o hiperfoco de uma de garotas era a personagem do desenho coreano "Pucca". Infelizmente, para muitos pais e professores entender o hiperfoco ainda é algo complicado. No meu caso, meu hiperfoco são ursos.
Conheço toda espécie de urso, mas a minha preferida é o Urso-Polar, ou melhor, Ursus maritimus! Seu pelo, translúcido por ser oco, é cheio de ar, funcionando como um excelente isolante térmico. Além disso, cria um efeito visual branco, perfeito para se camuflar e confundir suas presas. Sua pele é preta, uma característica importante, pois essa cor facilita a absorção de calor. Os ursos polares são os animais que menos se reproduzem. Eles têm seus primeiros filhotes com uma idade entre 5 e 8 anos. Geralmente, dão à luz dois filhotes que passarão com a mãe cerca de dois anos. Tenho pena dos filhotinhos, não sei se gostaria de ficar sozinha no mundo tão jovem, e como sou autista, não sei se conseguiria me virar sozinha tão fácil como os ursos polares.
Acho que, como autista, sempre vou ter mais dificuldade quando se trata de socializar. Na escola, não sou bem vista pelos meus colegas. A maioria deles me trata como um bebezinho, e acham que eu não sou inteligente o bastante para saber quando eles querem se aproveitar de mim. Sou uma pessoa normal, porém vivo em meu mundo particular, longe de todos, e as vezes pode parecer que sou arrogante por não conseguir sair dele.
Ainda falando sobre minha vida escolar, uma garota de minha sala não me deixa muito bem. Costumo a ficar nervosa perto dela, pois ela costuma a me empurrar sem uma razão aparente e a falar em um tom de voz alto, isso me assusta. Ela se chama JiHui, ela é bem bonita.
Acho que, tirando eu mesma, só existe apenas uma pessoa realmente calada em nossa sala de aula, e essa pessoa é Yoo Jeongyeon... Gosto desse nome, mas quando ainda estava aprendendo a pronunciar as palavras em coreano, era muito difícil de falar. Ela tem cabelos pretos curtos na altura dos ombros. Sua feição e corpo são igualmente apreciáveis.
Por algum motivo, que nem eu mesma sei, me sinto bem com Jeongyeon, não acho que ela vai fazer algo de ruim comigo como JiHui...Me sinto segura quando me sento ao lado dela em uma aula, quando formamos dupla em um trabalho ou jogo na educação física e o jeito que ela sorri para mim me deixa com algo estranho, diferente, as vezes arrepiada. Ela parece ser uma pessoa boa, por mais que tenha cara de assustadora as vezes, quando está séria. Jeongyeon até mesmo gosta de ouvir eu falar sobre o desenolvimento e ciclo de vida do Urso-Panda! Isso me deixa feliz.
Como é Quinta-Feira, terei que ir a escola. Me levantei em um pequeno pulo e coloquei Sawako na cama, ajeitadinha. Antes de ir ao banheiro, dei uma olhada em minha tabela de expressões faciais e humores do ser humano. Ela me ajudava a entender o sentimento dos outros, enquanto eu ainda tento me descifrar.
Tomei um banho e coloquei meu uniforme escolar. Usei uma tiara branca no cabelo porque Mamãe disse que ficaria mais bonita, mas esse tipo de objeto me incomoda bastante. Fiquei na sala esperando Sana terminar de se maquiar, quando ela finalizou, nós duas fomos para a escola.
—Hoje Jihui finalmente me deixou ir a uma festa com ela, então, por favor, tente não estragar tudo ou falar alguma besteira que comprometa minha relação amigável com ela, Momo.—Sana costuma a ser bem direta e clara quando fala comigo, mas hoje, ela pareceu mais estressada que o normal. Exitei em continuar caminhando ao lado dela, mas minha irmã não pareceu ter se importado com aquilo.
—A festa que você supostamente vai com Jihui será semelhante a que Mamãe brigou com você por conta do vídeo que postaram de você na internet?—Falei enquanto meu olhar não focava em um local específico.
—Anda logo, garota!—Sana depositou um tapa não tão forte no meu braço e me puxou para seu lado.
—Desculpe, Sana. Vou andar mais rapidamente para não te estressar novamente.
—Ótimo...—A voz de Sana começou a falhar assim que viu Jihyo na frente da escola, com seus uniforme escolar. De acordo com minha irmã, ela era sexy vestindo qualquer coisa e fazendo qualquer coisa.
—Tenho que ir, tchau Momo.—Se despediu e correu até Jihyo, cumprimentando ela com um selar de lábios.
Estava sentada em minha carteira, Jeongyeon estava em minha esquerda. Senti ela olhar para minha descretamente algumas vezes, mas tentei ignorar. Organizei meus materiais encima da mesinha pela quinta vez antes de começar a aula, não consigo viver em um ambiente desordenado.
Antes da aula começar, Jihui entrou no local rapidamente, o que não era algo fácil para mim, a sensação de ir para outro ambiente é diferente para um autista, é como se fosse um choque.
—Pelo jeito a demente chegou.—Ela veio até mim com um sorriso sinistro. Jihui me lembra as bruxas malvadas dos desenhos animados, mas se eu falar isso, provavelmente ela vai ficar brava comigo.— O que está fazendo? Arrumando sua mesa pela décima vez?
—Na verdade, é a quinta vez. Arrumar dez vezes seria algo que não seria necessário pois...
—Cale a boca!—Gritou, batendo um de seus punhos na mesa de madeira, assustando Jeongyeon, que estava concentrada em seus fones de ouvido que logo foram retirados para entender a situação. No momento, como estou nervosa, não pude distinguir o que sua expressão facial transmitia.—Você é tão irritante, aish!
Jihui pegou meus materias já organizados encima da mesa e os bagunçou, jogando até alguns dos meus apontadores preferidos no chão, era rosa com bolinhas brancas, como o vestido da Minnie Mouse. Levei minhas mão molhadas por conta do hidratante que uso até meus ouvidos sensíveis por conta do barulho dos objetos entrando em contato com o chão. Ela olhou para o estrago que fez e segurou meu rosto, fazendo com que eu a encarasse.
Eu realmente gostaria de não ter esquecido Sawako em casa naquele dia, estava com vontade de a apertar bem forte e manter a calma.
—Da próxima vez, tente não me irritar, loira.
—Na realidade, não sou loira, meus fios são pretos como seus olhos, mas Sana disse que eu deveria pintar da tonalidade loira como ela porque como somos gêmeas devemos sempre estar iguais...
—Eu já falei para parar de me enfrentar desse jeito!
Jihui levantou o braço, como se estivesse prestes a me bater. Por instinto, cobri meu rosto com meus braços trêmulos. Já estava preparada para ser espancada em um, dois...Por que ela ainda não me bateu?
Abri uma pequena brecha entre o dedo indicador e o anelar para que eu pudesse enchergar o que estava acontecendo. Jeongyeon segurava o braço de Jihui com firmeza, e seu olhar transmitia irritação. Odeio quando as pessoas ficam irritadas na minha frente, isso deixa meu coração acelerado e não sei o que fazer para ajudar os outros nessas situações, apenas sei como me ajudar. O que devo fazer? Jeongyeon me acharia egoísta por não agradecer, como todos?
—Não encoste um dedo nela, sua vadia.—Jeongyeon encarava Jihui, que aparentava estar um pouco assustada, mas mateve a pose de valentona.
—Vadia?! Olha como você me chama! Você não é ninguém para falar assim comigo, não passa de mais uma depressiva isolada do mundo.
—Se refira a mim como quiser—Ela apertou ainda mais o braço de Jihui—Mas não repita o que fez com Momo, entendeu?
—Nossa, que bonitinho!—Jihui ironizou—Vai trabalhar em uma ONG para ajudar os dementes, Yoo?
—Não é preciso trabalhar em uma ONG especializade em deficientes intelectuais para saber que o que faz com ela é errado. Momo nunca fez nada contra você, ela não debate com você porque está te enfrentando! Ela só...Momo só está sendo quem ela é! Ela não escolheu ser assim. Ela é como nos! Momo é uma garota doce, porém autista. O que tem de errado nisso? Já se imaginou no lugar dela, hum? Viver apenas em um mundinho solitário sem conhecer o mundo das outras pessoas? Nós temos mais é que ajudá-la do que ficar a chamando de demente! A única demente aqui é você, Jihui.
—Hum..."A-a demente é você", "m-mundinho solitário"...—Minha voz chorosa repetia as palavras de Jeongyeon de forma ivoluntária.
Todos os olhares estavam voltados para mim, Jeongyeon e Jihui. Isso me deixava ainda mais ansiosa. Odeio ser o centro das atenções.
Comecei a beter em minha própria cabeça enquanto chorava de nervosísmo. Assim que percebeu, Jeongyeon soltou Jihui com agressividade e me acolheu em um abraço. Ela sussurava em meu ouvido coisas como "Ei, está tudo bem", e isso fazia meu coração desacelerar. Olhei para ela com os olhinhos inchados, e ela se levantou e me levou até o lado de fora da sala.
—Está mais calma?—Concordei balançando a cabeça rapidamente enquanto bebia a água que ela havia me oferecido.—Não deixe que Jihui faça isso novamente...Não é correto.
—Eu não sei como impedir...—Disse sem fazer contato visual com a mais velha.
—Irei te ajudar com isso...Mas...Agora, eu gostaria de saber uma coisa.
—...O que?—Exitei em responder.
—Momo, você gosta de mim?
Minhas bochechas rosaram e meu coração ficou acelerado. Não soube o que responder.
—D-Defina "gostar".
Ela sorriu.
—Gostar de alguém é quando...Você se sente bem ao lado dessa pessoa, seu coração fica quentinho quando esta perto dela e você fica com uma sensação de estar voando nas nuvens...É como se você tivesse achado a pessoa que você quer ficar ao lado pro resto da vida, na felicidade e na tristeza...Agora que defini a palavra, sinto que gosto ainda mais de você.
—...Agora que definiu, acho que também gosto de você.—Sorri sem graça enquanto mexia meus pés para frente e para trás, como um balanço.—Como descobriu que eu gosto de você?—Perguntei abraçando a garrafa de água.
—Acho que, de certo modo, conseguiamos sentir os sentimentos uma da outra porém não sabiamos como falar.
—Jeongyeon.—Pensei um pouco sobre o que ela disse e perguntei.
—Hum.—Ela me olhou.
—E agora?
—E agora o que?—Jeongyeon riu.
—O que vem depois do "Gosto de você"?
Ela pensou um pouco, logo voltou a me olhar.
—Acho que, agora, nós damos as mãos.—Ela se levantou e estendeu a mão para mim, mas ignorei e neguei com a cabeça.
—Não consigo dar as mãos, isso é algo difícil para pessoas com minha deficiência.
—Ah, sim...Então, podemos nos beijar?
Corei, e Jeongyeon quando percebeu riu de mim.
—Nossa, você parece um pêssego corada! Agora você será o meu pêssego.
Agora, eu tenho um motivo para sair do meu próprio mundo, tenho sentimentos que não são meus os quais eu me preocupo, e até achei uma razão para gostar do significado do meu nome. Jeongyeon me faz feliz, ela me vê como a garota que ela se apaixonou, não como a "autista da turma". Ela é especial, muito especial.
Nós autistas também amamos e queremos ser amados. Nós sentimos felicidade, tristeza, medo, nojo, raiva e aflição, assim como as pessoas que nasceram sem uma deficiência. Porque ser autista é um problema tão grande?
Na época da Segunda Guerra Mundial, além dos judeus, homossexuais e deficientes também eram aprisionados nos campos de concentração. Todos dizem que o que aconteceu foi um grande absurdo e injustiça com as vítimas, e realmente foi. Mas, por que hoje em dia as pessoas desprezam os autistas? Por que continuam achando que não servimos para nada, assim como achavam naquela época? Hoje em dia, um pessoa "normal" merecia viver, e uma pessoa com deficiência intelectual não?
Hoje em dia, sou casada com Jeongyeon. Como em todas as tentativas de fazer sexo, acabei não conseguindo me acostumar com a tensão, resolvemos adotar uma garotinha chamada Gyuri. Nós conseguimos ser uma família feliz, mesmo comigo.
Os autistas também tem o direito de viverem suas vidas como qualquer outra pessoa que viver, e nada vai me impedir de fazer isso.
FIM<3
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