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3 - Médico ou monstro?

#AlmaProtegida

11 de abril de 2017

A noite em claro deixou Jimin com fortes olheiras, mas isso era comum, já que era normal para ele nunca dormir bem. Mesmo tomando todos os tipos de remédios para o ajudar a dormir, ele sempre acordava ainda mais cansado do que quando se deitava.

Sempre se achou ainda mais anormal por isso. Entretanto, ao ser levado até a área para tomar seu café da manhã, percebeu que não era o único com olheira. Na verdade, tinha alguns pacientes tão cansados que mal conseguiam ficar em pé e eram carregados pelos enfermeiros. Jurava até que tinha visto um deles em algum lugar, mas como poderia? Nunca saía de seu quarto e chegou ali apenas há um dia. O único que conhecido foi Jungkook.

Pensar nele foi um gatilho para o pesadelo.

Será que ele estava bem?

De qualquer forma, não teve muito tempo para continuar pensando nisso, muito menos para averiguar a situação do moreno. Sequer havia terminado de tomar seu café da manhã quando Seokjin veio lhe buscar para a sua consulta.

— Vamos, Jimin?

O enfermeiro não gostava de levar os pacientes até o psiquiatra, também tinha medo dele. Porém, não tinha muita escolha.

E nem era porque se tratava de seu trabalho.

Quando chegaram na sala, Jin estava nervoso. No entanto, o magrelo estava ainda mais. Sentiu os pelos de sua nuca se arrepiarem, mas não sabia o que significava. Todo o seu corpo gritava por ajuda, dizia que estava em perigo.

— Enfermeiro Jin, não quero entrar nessa sala. — O mais velho soltou um grande suspiro antes de bater na porta.

— Doutor Kim, estou aqui com Park Jimin. Ele é um novo paciente.

— Pode entrar, Seokjin. — A voz grave e rouca fez Jimin estremecer. Estava com medo.

O enfermeiro abriu a porta e, com certa força, conduziu o loiro para dentro da sala.

— Olá, Park Jimin.

A voz familiar, novamente, se fez presente quando estavam dentro da sala. Dessa vez, pôde ver a fisionomia daquele que o dava medo sem ao menos conhecer, mas percebeu que sim, o conhecia.

— Você é o monstro do meu sonho — disse num sussurro.

Soou tão enfraquecido pelo pavor, que nem Seokjin que estava ao seu lado foi capaz de ouvir. Contudo, o homem em sua frente se virou para ele como se pudesse ouvir cada sussurro que emitisse em qualquer lugar daquele hospício.

— Pode ir, enfermeiro Kim. Quando terminarmos, eu mesmo o levarei de volta ao pátio.

— Claro, doutor.

A partir daquele momento, estavam apenas os dois, sem ninguém por perto caso precisasse gritar por ajuda. Aquilo o aterrorizava.

— Seu caso é muito interessante, Park. De acordo com a sua ficha, você é esquizofrênico, entretanto, nunca foi agressivo. Ainda assim, aqui está você.

— Você quer me machucar.

O homem sorriu.

— Por que acredita nisso?

— Eu te vi em meu sonho. Você correu atrás de mim, e eu fugi de você, porque havia acabado de machucar alguém. Eu estava com muito medo de você, e ainda estou.

— Foi só um sonho, Jimin.

— Nenhum ser humano é capaz de sonhar com alguém que não conhece, doutor. E eu nunca havia o visto antes — retrucou. — Então, como eu o vi claramente em meu sonho, sorrindo para mim como se quisesse me matar?

O psiquiatra soltou um suspiro e se inclinou até estar próximo de seu paciente.

— Não sei o que se passa pela sua cabeça, senhor Park, mas entendo que às vezes as coisas parecem confusas para você. Você já foi diagnosticado há anos, e sua ficha médica diz que um dos tratamentos que mais funcionavam com você era te colocar para pensar no que parece real ou não, o que faz mais sentido. Então me diz, o que faz mais sentido? Eu ter atacado você pelo seu sonho, porque sou mau e quero te matar, ou você ter me visto na capa de um jornal há alguns anos atrás quando assumi o hospital como CEO, e seu sonho apenas usou minha imagem para um pesadelo?

Jimin se concentrou em suas lembranças. Havia o visto no jornal? Costumava ler bastantes jornais, gostava de ler, mas não se lembrava de ter visto a figura à sua frente. Contudo, admitia que fazia sentido.

— Precisamos ver a pessoa apenas uma vez para que isso aconteça. O cérebro guarda a fisionomia, por mais que não nos lembremos.

O psiquiatra sorriu.

— Você é bom nisso, Jimin, apesar de sua condição. É um garoto inteligente.

— Não sou um garoto, sou um adulto.

— Oh, sim. Eu sei disso — sorriu para o loiro.

Jimin abaixou a cabeça, envergonhado por já chegar acusando uma pessoa que não conhecia e que estava ali para o ajudar.

— Qual o seu nome, doutor?

— Eu me chamo Kim Namjoon. Pode me chamar apenas de Namjoon, se quiser. Vamos nos ver por muito tempo aqui, então, pode me tratar como amigo, e não como seu médico.

Jimin sorriu, o que agradou o homem em sua frente.

— Você é realmente um caso muito interessante, Park Jimin. Quer me contar o que aconteceu naquele dia? Por que atacou aquela mulher?

Muitas perguntas seguiram após aquelas. O loiro, apesar de acostumado, não deixava de ficar incomodado. Não gostava de responder perguntas, pois não sabia se o que estava falando era de fato realidade.

Um tempo depois, Namjoon avisou que teriam terminado as perguntas por aquele dia. Assim como prometido, ele levou Jimin de volta ao pátio.

— Bom, Jimin, passarei quais medicamentos você deve tomar aos enfermeiros. Você começa ainda hoje. Também deve ir aos grupos de apoio com os psicólogos. Seu psicólogo responsável será o doutor Park Jinyoung. Nos encontramos novamente daqui um mês para eu avaliar sua evolução com os medicamentos.

O dia se passou rápido, havia tomado os medicamentos que Namjoon havia passado e se sentiu um pouco menos apático. Apesar de ter procurado, não achou Jungkook em lugar nenhum, e quando deu por si, já havia dado a hora do toque de recolher.

— Todos ao lado de um enfermeiro! Está na hora de irem para cama.

Jimin fez o que haviam pedido, parando ao lado de um enfermeiro qualquer. Logo estava em seu quarto recebendo o medicamento para dormir.

— Acho que minha dose deve ser aumentada, acordei no meio da noite ontem.

— Pois devia ter avisado ao doutor Kim. Só posso aumentar seu medicamento por ordens dele.

Jimin assentiu em compreensão e seguiu caminho para a sua cama.

Pouco depois conseguiu ouvir o som de sua porta se trancando. Novamente, essa foi a última coisa que ele ouviu antes de dormir sob o efeito do medicamento.

Quando abriu os olhos, estava novamente em pé, parado no meio do pátio. Mas diferente da última vez, já se deparou com Namjoon bem à sua frente. Recuou um passo automaticamente. A adrenalina começava a subir.

— Imaginei que apareceria aqui, pois te encontrei aqui pela primeira vez. Com certeza não ocorreu ontem, pois não fazia a mínima ideia de que precisava.

Recuou mais um passo.

— Estava disposto a te pegar assim que aparecesse, já que ontem você conseguiu escapar. Só que não tem graça assim. Não é divertido se não estiver fugindo.

E então, outro passo foi dado, e continuava completamente em silêncio. Sentia algumas lágrimas de medo se acumular em seus olhos.

— Corre, Jimin. Estou indo atrás de você.

Obedeceu sem pensar duas vezes.

Enquanto corria, pensava no que aconteceria se fosse pego.

Será que ele o mataria? Ou talvez fizesse algo pior. Não saberia dizer e não queria descobrir. Então apenas seguiu, correndo e correndo até não poder mais.

No entanto, uma lembrança lhe veio à cabeça.

"Não sei o que se passa pela sua cabeça, senhor Park, mas entendo que às vezes as coisas parecem confusas para você. Você já foi diagnosticado há anos, e sua ficha médica diz que um dos tratamentos que mais funcionavam com você era te colocar para pensar no que parece real ou não, o que faz mais sentido. Então me diz, o que faz mais sentido? Eu ter atacado você pelo seu sonho, porque sou mau e quero te matar, ou você ter me visto na capa de um jornal há alguns anos atrás quando assumi o hospital como CEO, e seu sonho apenas usou minha imagem para um pesadelo?"

Estava sonhando? Estava sonhando.

É apenas um sonho, ele dizia em sua cabeça.

E Jimin parou de correr.

— Não preciso correr de um pesadelo. Eu vou acordar dele em algum momento, então não preciso ter medo — falou em voz alta.

Sentia o outro se aproximando. Suor frio escorria pelo seu rosto, sua mão tremia e arrepios em sua nuca estavam presentes. Por mais que dissesse que não estava com medo, seu corpo demonstrava que sim, estava morrendo de medo.

— Achei você. — A voz sussurrou em seu ouvido, levemente rouca e grave, assim como se lembrava. O arrepio em sua nunca se tornou mais intenso. Todo seu corpo gritava que estava em perigo, mas ignorava todos os sinais.

— Por que não está correndo, pequeno? Não está com medo de mim?

— É só um sonho. Você mesmo me disse que é um pesadelo. E eu não preciso correr de um pesadelo.

O falso loiro não podia ver o rosto do homem que estava atrás de si, entretanto, podia sentir o sorriso malicioso que era exibido.

— Você é uma incógnita, Park Jimin. É a quarta vez que você me surpreende. Mas espere, porque eu ainda vou desvendá-lo. E quando isso acontecer, você já era.

Jimin viu Jungkook aparecendo no seu campo de visão de relance, pois seu corpo foi abruptamente virado para o homem alto e aparentemente forte atrás de si.

— Quando eu ver você amanhã, não terá tanta força assim para me surpreender.

A última coisa que ouviu foi a voz de Jungkook, gritando seu nome em desespero. E então acordou, ofegante, suando, e havia urina em suas vestes e em sua cama.

Odiava pesadelos, principalmente os vívidos como aquele, que parecem reais.

Não sabia o que era real quando estava acordado, e os sonhos só o faziam sentir mais dúvidas sobre tudo.

De qualquer forma, não podia ficar molhado daquela forma, então, como estava sozinho, não se importou em tirar todas as suas vestes e a roupa de cama, deixando-as em um canto qualquer do quarto escuro. Com dificuldade, virou o lado do colchão e voltou a se deitar. Todavia, não voltou a dormir.

Precisava urgentemente aumentar a dose do remédio para dormir.

Continua...

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