Capítulo 13- Ameaças e tiros
"Essa é a questão... A performance não é o suficiente. Se não há sinceridade ou se buscamos á Deus com uma ideia errada de quem Ele é, estaremos apenas ficando cansados."
***
-Eu não sei por que você não consegue me entender. Você não me ama?- Sara diz, chorando em alta voz.
Se não fosse a música de Ravi e a ajuda do Espírito Santo, Ohana jamais teria conseguido dormir e teria ouvido toda a discussão.
-É claro que eu te amo, Sara- Evan respondia, tentando acalmá-la- Por favor, vamos falar mais baixo. Não quero que a Ohana escute essa briga, logo no aniversário dela.
-Tá vendo?- ela diz- Você só se importa com o que ela quer, com o que a Ohana vai sentir... Você não teve consideração comigo desde o início!
Evan estava triste por Sara. Ele via que seu choro e sua tristeza eram sentimentos sinceros, não era penas implicância.
-É claro que tenho consideração com você, querida... – Ele diz, tentando abraçá-la.
Sara afasta seus braços, com rispidez.
-Sara...- Ele diz- Por que você não tenta conhecê-la? A Ohana é uma menina ótima...
-Talvez ela seja- Sara responde- Mas você não entende? Passou por cima da minha decisão, trouxe uma menina de 16 anos para cá, sua paciente! Você disse que foi Deus... Eu sei que eu não posso te dar filhos, mas sua vida estava tão infeliz assim para apelar ao desespero?
-Você acha que foi fácil para mim?- Agora Evan é quem fica sério- Eu tentei lutar contra a ideia, não queria chatear você. Achei que seria estranho ser pai de uma menina dessa idade, mas agora eu percebo o quanto eu queria...
-Quem você prefere, Evan?- Sara diz, mostrando dor em seus olhos- Eu, ou a Ohana?
Por que as pessoas sempre fazem essa pergunta? Por querem sempre colocar os outros contra a parede?
Evan pensou a mesma coisa, e achou aquela pergunta absurda.
-Eu quero ser o pai dela e também quero ser o seu marido. Jamais poderei escolher uma de vocês- ele diz- Você sabe o quanto eu te amo... Quantas vezes eu já tomei decisões impulsivas, sem ter certeza de que era o certo? Quantas vezes já menti, dizendo que algo era da vontade de Deus e não era?
-Mas... – Ela diz chorando, mas ele continua calmamente.
-Você precisa ver as coisas pelos olhos de Deus, eu também preciso. Talvez Ele esteja tratando feridas que antes não víamos. É assim que Ele faz, Ele continua nos restaurando, dia após dia, mesmo quando não pedimos isso... –Evan diz.
-Mas por que?- Ela chora- Por que mexer nisso?
-Porque Ele nos ama... Existe amor mais verdadeiro que este? Que limpa as feridas que tentamos esconder?
Sara não sabia o que dizer, mas as lágrimas caíam sem cessar. Ela se recusava ser consolada por Evan.
-Talvez se você tentar... Se tentar conhecê-la...
-Não- Sara responde- Eu não quero. Não é o seu discurso motivacional que vai me fazer mudar de ideia.
-Eu sei disso- Ele responde, pronto para sair dali- Ainda bem que existe Alguém que te ama muito mais do que eu, e vai fazer isso acontecer...
Ele saiu, deixando-a sozinha com seus próprios pensamentos. Ele sabia que dormiria na sala, então por que adiar?
Sara sentou-se no chão, engolindo todas as palavras que ouviu. Será que ela não era tão cristã quanto pensava? Deus se importava mais com os sentimentos de Evan do que com os dela?
Ela ia á igreja, orava e lia a bíblia com seu marido toda noite. Por que, de repente, nada disso valia de nada?
Essa é a questão... A performance não é o suficiente. Se não há sinceridade ou se buscamos á Deus com uma ideia errada de quem Ele é, estaremos apenas ficando cansados.
É como saber que precisa construir uma casa para uma pessoa importante. Você sabe que precisa construir paredes, tetos, portas e quem sabe um jardim... Você começa, correndo com todas as suas forças, tentando provar para si mesmo que consegue fazer aquilo.
A maneira que você enxerga a pessoa para quem deve construir a casa vai definir suas atitudes e todas as suas intenções. Se você o vê como um chefe rico, trabalhará dia e noite, pensando nas recompensas que pode receber se fizer um bom trabalho. Se você o vê como alguém perigoso, que pode fazer mal á você se falhar, fará de tudo para não errar... Mas se a casa é para o seu pai, que o ama, você irá fazer o melhor, mas não terá medo de falhar. Pois você será sempre filho, independente do que aconteça.
Você pode ter a planta da casa em suas mãos, ler ela constantemente, para decorar todos os detalhes. Pode falar com o dono e tentar entender o que Ele quer... Mas se sua visão não for verdadeira, todo o seu esforço será vão e doloroso.
[...]
Quando Ohana acordou, sentiu-se leve e bem, pela primeira vez em dias. Mal acordou e já se lembrou do violino branco.
Se arrumou rapidamente e sentou-se na cama. Ohana fez questão de ver se não havia ninguém por perto, nunca tocara para outras pessoas além de Flora e Adhara. Ravi não estava no quarto dele e Evan não parecia estar no andar de cima.
Como não tinha aula, por ser sábado, ele não iria acordá-la.
Ela fechou a porta, afinou o instrumento, ajeitou a crina do arco e suspirou...
Aquela era uma sensação maravilhosa, segurar um violino de novo fazia seu coração bater forte, cheio de expectativa...
Foi então que começou a tocar. Em homenagem á sua professora, tocou uma das músicas favoritas dela: How he loves- Jesus Culture.
Aquele som percorreu todas as partes de seu quarto e era como se todas as coisas fossem se encaixando no seu devido lugar enquanto ela tocava. Infelizmente, o som era mais alto do que Ohana havia percebido.
Sara já havia saído para trabalhar, mas Evan estava preparando o café. Violet tinha passado lá para conversar sobre outros assistentes sociais que seriam enviados pelo orfanato, para ver se Ohana estava bem em sua nova casa.
Os dois ouviram um som vindo do andar de cima e foram seguir. Quando chegaram no corredor, de mansinho, não disseram nada. Tinham medo de faz algo e acabar perdendo cinco segundos daquela melodia.
Ele se sentaram no chão, escorados na porta do quarto de Ohana e não deram um pio.
Violet não parava de sorrir, pensando em Deus e em Seu amor. Evan não parava de chorar, pensando o mesmo.
Quando a música parou, foi como se arrancassem um pedaço de seus corações.
-Se eu tivesse isso em casa, nunca mais ligaria a televisão- Violet cochichou rindo, o que foi uma má ideia, pois Ohana percebeu a presença deles.
Ela abriu a porta, fazendo os dois caírem aos pés da menina. Como disfarçar em uma situação dessas?
-Oi... – os dois disseram ao mesmo tempo, com sorrisos envergonhados.
Ohana arqueou uma das sobrancelhas e encarou-os.
-Desculpa bisbilhotar, mas é que... UALL¹- Violet disse- Ohana, você é incrível!
-Incrível é pouco!- Evan diz, com os olhos ainda vermelhos- Se eu soubesse, já teria comprado um violino no dia em que você chegou.
Ohana estava mais vermelha que os olhos de Evan, devido á vergonha.
-É um dom!- Violet diz.
-É como se eu te ouvisse falar comigo, pela primeira vez... – Evan disse, com os olhos enchendo-se de lágrimas novamente.
Aquilo comoveu Ohana e a fez sorrir.
Os três foram interrompidos pela Adhara correndo até eles.
-Eu ouvi você tocando da minha casa, que saudade!- Ela disse abraçando a sua amiga. Todos ficaram imaginando como ela teria entrado.
-Acho que não fechei a porta direito- Evan ri.
-É verdade, eu entrei hoje de manhã e não estava fechada direito.- Violet diz- A tranca deve estar com defeito. É melhor você mandar arrumar depois, pode ser perigoso.
Pelo visto, o som foi mais longe do que Ohana esperava, mas ficou feliz de tocar para a sua amiga de novo.
-O que está esperando, toca outra?- Evan disse, parecendo criança.
[...]
Ohana ficou horas tocando para eles, até perderam a noção do tempo. Ela ficou sem repertório, á ponto do Evan pedir para tocar a música tema do Super Mario.
-Essa não...- Evan disse aflito, colocando a mão na testa. Haviam ligado para ele, avisando de uma emergência com um de seus pacientes.
Eles desceram para comer, enquanto ele corria para sair á tempo.
Quando ele tentou ligar o carro, não funcionou. Quando tentou de novo, absolutamente nada aconteceu.
-Ora essa, está tudo dando defeito hoje?- Ele perguntou.
Violet ofereceu uma carona e disse que era melhor Ohana ir também, para não ficar sozinha. Adhara voltou para casa e os três foram de carro para o hospital.
Decidiram acompanhar Evan até a ala dele, ajudando-o a carregar suas coisas.
Evan estava preocupado, pois era desse paciente que ele tinha conversado com Ohana. O paciente acabou falecendo naquela manhã. Todos estavam cuidando muito bem dele, pois era uma criança muito assustada. Não havia como impedir aquilo, infelizmente, mesmo que Evan estivesse naquele plantão, não poderia ter feito nada melhor.
O pai do garoto estava transtornado.
Violet e Ohana acabaram ouvindo a discussão entre os dois:
-Você era o médico dele! DEVIA ESTAR AQUI!- Ele gritava furioso, em prantos.
-Eu sinto muito, Peter - Evan diz, claramente abalado- Não era o meu plantão e infelizmente, mesmo que fosse, não havia o que fazer para impedir que isso acontecesse... Eu sinto...
Ele foi interrompido pelo pai do garoto, que gritava e começava a se exaltar. Violet chamou os seguranças, para evitar algo pior, mas antes que eles chegassem, Peter sacou uma arma, dizendo:
-Ele era tudo que eu tinha- Diz chorando e tremendo- É tudo culpa sua, você não salvou o meu filho...
Quando apontou a arma para Evan, o silêncio se instaurou pelo lugar.
Ninguém sabia se ouviriam um tiro e nem iriam querer isso, afinal, o som de uma bala sendo lançada pelo ar não é nada melódico se comparado á um lindo som em um violino tocado pela manhã.
UALL¹- Digo isso ao meu amigo Alled, cujo apelido é All, quando ele fala sobre algo muito incrível.
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