CAPÍTULO 1
Desde pequena, eu sempre soube que teria que lutar para chegar ao estrelato.
A vida de nenhum artista é fácil, e posso alegar isso com propriedade por ter passado toda a minha infância ao lado do meu irmão e de seus amigos músicos, assistindo de perto todas as vezes em que tiveram que ensaiar os arranjos de suas músicas, atravessar noites em claro compondo e manterem a cabeça erguida diante de todas as pessoas que duvidaram que o sonho deles poderia se tornar realidade. Fora eles, ainda há a minha melhor amiga, Amélia, que é uma escritora simplesmente fantástica.
Todos eles são grandes inspirações para mim, porque: 1) eles nunca desistiram de correr atrás do que queriam, e 2) conquistaram o reconhecimento que mereciam por seu trabalho, – minha amiga tinha ganhado uma bolsa em uma das melhores universidades do mundo e a banda do meu irmão era quase uma One Direction do rock, pelo amor de Deus!
Mas fugindo completamente do cenário musical e literário, sempre tive a dança como meio preferido de expressão (minha mãe sempre fala que eu dançava antes mesmo de dar o primeiro passo!) e isso ficou ainda mais intrínseco dentro de mim quando assisti o clipe "Single Ladies", de Sua Majestade Beyoncé, pela primeira vez.
A fascinação foi instantânea: a maneira com a qual ela movia quadril, braços e pernas em sincronismo e total harmonia com seu corpo inteiro fez com que eu a admirasse ao primeiro vislumbre. Beyoncé era segura, confiante e poderosa e cada passo daquela coreografia mostrava isso. E, assim como ela, eu queria ser alguém que não só se sentia assim consigo mesma, mas que também inspirava outras pessoas a buscarem aquele mesmo sentimento através da dança.
Foi assim que, aos seis anos de idade, entrei para o balé.
Passei anos lá; vivendo entre barras, espelhos, tules e sapatilhas (as quais eu inclusive sou obcecada em colecionar, mantendo todos os pares de todas as apresentações que já fiz em caixas personalizadas na prateleira superior do meu closet). No entanto, após oito anos no balé, decidi expandir meu estilo de dança para algo que fosse além da técnica clássica.
Essa decisão acabou coincidindo, felizmente, com o ano em que entrei como bolsista para o Instituto St. Davencrown, o melhor colégio particular de Davens County, a cidade onde morávamos. Meus pais, que são empreendedores na área da moda, estavam com algumas dificuldades financeiras na época por terem investido em abrir a primeira loja de roupas da Walters Grife, mas queriam muito que eu estudasse lá. Charles, meu irmão, havia conseguido entrar para o corpo estudantil durante uma seleção que houvera alguns anos antes – a lista de espera do Instituto era gigantesca, – e ele era um aluno tão bem visto pelo Conselho do colégio e com um histórico escolar tão imaculado que acabei ganhando a chance de fazer uma entrevista com a Diretora Rostchild (outra mulher cujo trabalho eu admirava muito) para que meu perfil pudesse ser analisado e considerado pelos demais responsáveis pela minha admissão.
Mesmo possuindo um boletim bastante respeitável, estava óbvio que as minhas notas em matemática eram muito superiores às das outras matérias, o que por um lado era bom, mas por outro, nem tanto: o Instituto não se impressionava com jovens que eram bons somente em um aspecto acadêmico – a mediocridade era para outras escolas. A St. Davencrown era uma instituição que aceitava apenas aqueles que se mostravam espetaculares (ou aqueles que eram tão asquerosamente ricos que podiam compensar falta de talento pagando as mensalidades exorbitantes do colégio).
O fato foi que, assim que a Diretora Rostchild se deparou com a minha ficha enorme de apresentações de balé – nas quais, em sua maioria, eu era protagonista, – ela ficou tão animada que eu saí de lá praticamente com a certeza de que estava dentro.
E estava mesmo.
— Bom dia, Alison! — Hayley, uma garota do clube de debate, me cumprimentou, assim que me viu subir as escadas de mármore da entrada principal do Instituto.
— Bom dia! — acenei, com um sorriso.
— Bem vinda de volta, Alison — disse César, um garoto bonitinho do segundo ano que insistia em viver atrás de mim, mesmo recebendo uma negativa atrás da outra. — Último ano, hein? Quando é que a gente vai sair?
— Nunca, eu espero — respondi, atravessando as portas duplas que davam para o colossal pátio principal da escola, que se assemelhava quase a um salão de baile de um castelo com suas enormes colunas de pedra em estilo grego e piso perolado. Uma ampla escadaria se abria no centro do cômodo, se dividindo em duas e seguindo em espirais até o primeiro, segundo e terceiro andar. O lugar era tão grande que estava mais para um labirinto luxuoso do que para um colégio. (Mesmo que para um de classe alta).
— Alison, finalmente!
Me viro na direção da garota de óculos e cabelos ruivos que vem andando até mim com seu costumeiro tablet e caneta de anotações em mãos. Kimmie O'Donnell, senhoras e senhores, a redatora-chefe do Davencrown's Journal, também conhecido como nosso nada humilde jornal da escola.
— E aí, Kimmie? — sorri para ela, lhe dando um aceno de cabeça. — Já ligada no modo "fofocas do primeiro dia?"
Ela revirou os olhos levemente, ajeitando os grossos óculos de grau em seu nariz.
— Sua espertinha. Corrigindo: não faço fofocas, apenas trago informações — disse, apontando sua caneta metálica para mim de forma bastante professoral. — Sou uma garota que leva o trabalho muito a sério. Apenas isso.
Eu ri, cruzando os braços.
— Todo mundo sabe que você é a maior fofoqueira, Kim. Além do mais, se veio correndo me encontrar, é porque tem alguma coisa para me dizer. Vamos, spill the tea — falei, fazendo um gesto para ela desembuchar de uma vez.
Se dando por vencida, – como sempre fazia após alguns poucos minutos de suspense, – a ruiva pigarreou:
— Tem um calouro que está te procurando pelos corredores. Está perguntando sobre você pra todo mundo, como uma ovelhinha perdida do rebanho — ela disse, parecendo se divertir muito ao fazer aquela comparação.
Ergui uma sobrancelha.
— Um calouro do nosso bloco, você quer dizer? Primeiro ano do ensino médio?
— Precisamente — ela assentiu, antes de começar a caracterizá-lo: — Magro, 1.70 de altura, cabelo escuro cacheado. Até que é bem bonito. Se fosse mais alto, seria muito parecido com o Loren...
Tenho um estalo de memória.
— Ah, meu Deus! O Loren! — exclamei, fazendo uma careta. — Ele tinha me pedido para ajudar o primo dele a se situar no nosso bloco durante a primeira semana de aula e eu esqueci completamente.
— Bem, pelo menos já sabemos a quem não devemos chamar para ficar de babá — ela comentou, riscando alguma coisa em seu tablet. — Falar nisso, como está sendo pra você sem Charles e os outros?
Uma onda de melancolia me atinge.
Desde que pus meus pés nesse colégio, sempre estive com meu irmão e os amigos dele e, apesar de eles serem obviamente um quarteto e formarem uma banda entre si, nunca me senti deixada de lado. Éramos nós cinco para tudo, mesmo que eu fosse a mais nova e a única garota do grupo. Verdade seja dita, éramos tão unidos que acho que Alison and The Noisy seria um nome muito melhor para a banda (mesmo que fosse puramente simbólico, já que eu não tocava e nem cantava absolutamente nada).
Graças a eles, nunca precisei passar pela fase "garota nova" – o que havia sido um alívio, ainda mais num lugar como a St. Davencrown, onde as pessoas costumavam se separar em grupinhos muito fechados e raramente cediam espaço para que os novatos pudessem entrar e se sentir acolhidos, – e fui tão bem recebida quanto uma veterana que retornava à escola após alguns anos afastada. Nunca em mil anos achei que seria assim, tão fácil de me sentir inclusa, principalmente pelo fato de Charles sempre ter sido alguém muito quieto e tímido – pensei até que teria que fazer amigos por nós dois e defendê-lo de quem se atrevesse a perturbá-lo.
Qual a minha surpresa e orgulho ao perceber que meu irmão, antes de uma personalidade tão introspectiva, havia se encontrado e florescido naquele lugar: Charles tinha se arriscado a entrar para o clube de debate como um membro ativo e aprendido a expor suas opiniões sem se importar com o que os outros fossem pensar dele; havia desafiado seus medos e superado sua timidez, como um verdadeiro herói, – e ainda se tornara um dos garotos mais populares da escola no processo. Tudo isso sem diminuir um grão da sua humildade e natureza gentil. Sempre lhe disse que queria ser como ele quando crescesse, e continuava firme em meu propósito.
Quanto aos amigos do meu irmão... bem, eles eram rapazes com características muito particulares: Sebastian era quase fragmentado – ele conseguia ser o rei da escola, gênio da música, matemático fervoroso e romântico incurável (insira aqui o fato de que passou quase dez anos tentando chegar na namorada), todos eles em um só. Lorenzo era um verdadeiro nariz empinado, com sua síndrome de artista incompreendido e fachada de gótico das sombras que não convencia a ninguém, – todo mundo que o conhecia sabia que ele era do tipo super sensível. Mas nenhum grupo está completo sem um narcisista metido a gostosão, está? Na minha opinião, sim, mas para o meu azar, essa vaga no meu círculo de amizades está ocupada por Zaden Philip Cafajeste Le Blanc.
Como explicar Zaden? Eu poderia simplesmente dizer que ele é loiro, rico, tem olhos azuis, mais de 1.80 de altura e toca guitarra e qualquer um já saberia de que tipo de cara eu estou falando: autoestima lá em cima, ego inflado, morador de uma realidade na qual todos são apaixonados por ele... etc, etc. Convivi com Zaden por cinco longos anos que pareceram ser vinte e sinceramente? Estar livre da presença dele era fenomenal. Sensacional mesmo. Como sorvete num calor de quarenta graus. Como encontrar dinheiro onde você nem sabia que tinha. Como ganhar um par de sapatos novos todos os dias. Como...
— Amiga, tudo bem se não estiver sendo fácil. Você não precisa se esforçar tanto para fazer parecer que está tudo às mil maravilhas — Kimmie cortou meus pensamentos, tocando meu ombro com uma expressão compreensiva.
— O quê?! Ficou louca, Kim? Eu não preciso me esforçar para...
— Alison, ele é seu irmão.
Fico estática por alguns segundos, até que me lembro que a pergunta que ela fez foi sobre Charles.
— Sim, é óbvio — falei, sacudindo a cabeça. — Você tem razão. Sinto falta de Charles e dos meninos e sinto falta de Amélia, mas não há nada que eu possa fazer além de sentir saudade e falar com eles por telefone quando dá — eu disse, odiando a resignação em minha própria voz. — Sabe, é por isso que odeio o tempo. Ele passa, as pessoas vão embora, as coisas mudam e nada mais fica como costumava ser. E o pior de tudo é que eu não posso fazer nada para impedir.
— Eu te entendo, mas tenta olhar pelo lado bom: é o nosso último ano. Em breve seremos nós a ir embora, lembra? Sem tempo para ficar deprimida — ela falou, tentando soar motivadora. — Tenho que ir agora. E, caso você queira prestar alguma solidariedade ao coitado do primo do Loren, saiba que a última vez que o vi foi perto do rinque de patinação.
— Vou ter que andar isso tudo? — Lamentei, já me arrependendo de ter concordado em ser a guia do Lorenzo 2.0. — Espero que esse menino valha a pena e seja pelo menos simpático. De preferência, bem mais do que o primo dele.
Kimmie deu uma risadinha.
— Rezarei por você.
— Obrigada. Cada prece é valiosa — agradeci solenemente, antes de seguir o meu tortuoso percurso até o rinque de patinação do Instituto.
🎸
Felizmente para mim, o primo de Loren era tão parecido com ele que, assim que passei os olhos pelas arquibancadas ao redor do rinque, tive um vislumbre dele lá embaixo, gritando alguma coisa para uma das pessoas que estava patinando na brilhante pista de gelo do colégio – que como uma boa instituição de elite, apoiava todos os esportes e jovens atletas possíveis.
— Ei, você aí — chamei sua atenção, enquanto descia cuidadosamente as escadas entre as arquibancadas, tentando não arranhar minhas botas novas nos degraus. — Gianluca, não é? Desculpe o atraso, eu esqueci que tinha que me encontrar com você.
O menino balançou a cabeça em confirmação, olhando para mim como se tivesse encontrado sua salvação. Analisei sua aparência rapidamente: apesar de ele se assemelhar ao Loren de perfil, o rosto deles não tinha muita coisa a ver. E o cabelo dele mal era cacheado. Parece que Kimmie está precisando de um óculos novo, coitadinha.
— Você é Alison Walters? — ele indagou, parecendo um tanto embasbacado. — Você é linda.
Ah, jura? Que fofo.
— Obrigada, eu sei disso — sorri, indicando a pista de patinação com o queixo. — Você patina?
— Ahn... na verdade, não. Estou aqui porque meus dois melhores amigos são patinadores. Em dupla, sabe? — ele apontou para um casal deslizando em conjunto pelo gelo, fazendo um sinal para que eles se aproximassem. — São aqueles ali. Eu vou te apresentar.
Quis dizer para ele que não era necessário e que eu não queria atrapalhar o treino de seus amigos (só quem tinha que treinar para fazer alguma coisa sabia o quão ruim era ser interrompido), mas eu mal abri a boca e eles já estavam a meio metro de distância de onde estávamos, diminuindo gradualmente a velocidade em seus patins conforme se aproximavam da barra de proteção.
— Pessoal, essa é Alison Walters, a amiga do meu primo — Gianluca sorriu, claramente orgulhoso de dizer que alguém próximo a ele tinha uma ligação comigo. Balancei a cabeça, segurando o riso por dentro. Garotos. — Alison, estes são Harvey D'Auvergne e Genevieve Hawthorn-Duncan, meus melhores amigos.
— É um prazer conhecê-la — disse a menina, sorrindo ansiosamente. Genevieve ainda possuía o tipo de rosto arredondado característico da infância, mesmo que não devesse ter menos de quinze anos. Estava usando um penteado muito meigo, no qual uma parte do seu cabelo ficava preso em uma trança que circundava seu couro cabeludo como uma tiara, enquanto alguns cachinhos soltos desciam em cascatas pelas costas de seu collant. Ela tinha olhos castanhos, sorriso angelical e pele marrom um tom mais escuro que o cacau.
— Legal conhecer você — o garoto ao lado dela falou, me cumprimentando com um aceno de cabeça educado. Harvey era o mais alto dos três e parecia também ser o mais reservado. Tinha um cabelo preto que chegava até a ser azulado de tão brilhante, o que combinava bastante com o tom azul acinzentado dos olhos dele. E, como alguém que passou mais de cinco anos no balé, eu tinha que dizer: a postura dele era invejável. — Luca quase chorou por não ter conseguido te encontrar.
— Ei! Eu não chorei — Gianluca se apressou em dizer, com o rosto vermelho de vergonha.
— Eu disse quase — Harvey repetiu, o que fez com que tanto eu quanto Genevieve déssemos um sorriso divertido em sua direção.
— Harv, podemos repetir alguns sit-spins antes de irmos? Fui lenta demais na nossa última série.
— Gen, você foi perfeita.
— É evidente que não. Me atrasei duas vezes nos giros. Tenho certeza de que é por causa dos quilos a mais que ganhei — ela murmurou, seu semblante perdendo o brilho de repente. — Tenho que começar a perder peso logo, antes que a treinadora comece a pegar no meu pé por causa disso. Acho que vou tentar outra dieta.
Franzi a testa. Genevieve podia não ter o corpo super magro de uma das bailarinas com quem eu costumava fazer balé, mas não precisava emagrecer. Ela tinha coxas grossas e um rosto gordinho, mas essas eram apenas características do seu biotipo, não algo que precisasse ser mudado.
— Ela não vai pegar no seu pé porque você não está atrasando nos spins e não precisa começar uma nova dieta — Harvey disse, estendendo a mão na direção dela. — No entanto, se você quer tanto assim repetir as séries, então vamos nessa, meu anjo.
Aceitando a mão do amigo com um sorriso grato, ela nos deu um aceno de despedida antes de se afastar ao lado dele, os dois patinando com a sincronia e alinhamento que somente parceiros que estavam juntos há muito tempo (ou que haviam se harmonizado um com outro extremamente rápido) possuíam.
Me virei para Gianluca.
— Há quanto tempo os seus amigos estão na patinação?
— Nossa, há séculos. Harv e Gen se conhecem praticamente desde o berço. As mães deles são melhores amigas e patinadoras bem famosas, então eles treinam juntos desde os quatro anos. Sempre antecipam os movimentos um do outro, como se estivessem ligados por um fio. Quer dizer, olha só aquilo — ele apontou para Genevive, que mal havia terminado de fazer uma pirueta e já saltava na direção de Harvey, que a pegou no ato. O casal ganhou cada vez mais velocidade no gelo, antes de tomarem alguns metros de distância um do outro e se agacharem sobre um joelho, rodopiando com uma perna esticada à frente de seus corpos. Eles eram muito bons, pensei, admirada. — Não é incrível como eles conseguem girar tão rápido e por tanto tempo sem saírem tropeçando que nem baratas tontas?
Eu ri.
— É assim no balé também: manter o ritmo das piruetas é difícil e você sempre acaba perdendo o equilíbrio nas primeiras tentativas, mas pega o jeito depois de um tempinho. E você mesmo disse que eles têm anos de prática — lhe dei alguns tapinhas no ombro, fazendo com que olhasse para mim. — Quer que eu te mostre parte do colégio enquanto seus amigos treinam? Tenho somente alguns minutos antes do primeiro tempo, então não vai ser muita coisa, mas o bastante para que você possa pelo menos se situar. E vocês três podem sentar comigo na hora do almoço.
—Sério? Obrigada, Alison. Bem que o meu primo disse que você era legal — ele sorriu, e eu notei o pequeno espaço que havia entre seus dentes da frente. Sorri de volta, fazendo um gesto para que ele me seguisse. Tenho que lembrar de perguntar ao Loren porque ele parece com um vampiro emo enquanto Gianluca parece ter saído diretamente da terra das crianças fofas.
— Pode me dizer quais são as suas primeiras aulas? Daí eu já posso te indicar o caminho. Tem alguns professores que são bem carrascos com aqueles que se atrasam logo no primeiro dia e se eu fosse você eu não gostaria de... — sinto meu celular vibrar no bolso lateral do meu blazer. — Só um momentinho.
— Tudo bem, sem pressa.
É uma mensagem de Amélia, que diz:
Ali, você já ficou sabendo do Zaden?
Franzo a testa, sem fazer a menor ideia do que ela está falando.
Como assim, se eu já fiquei sabendo do Zaden? O que aconteceu?
A próxima mensagem é um arquivo de vídeo. Sinto meu estômago gelar por um segundo, mas me lembro de que é do Zaden que estamos falando. Provavelmente vai ser só um vídeo dele fazendo alguma coisa estúpida, como virar uma garrafa inteira de vodca e sair falando um monte de besteiras depois. Clico em abrir a mídia e fico um pouco surpresa quando percebo que se trata de uma gravação do show que Charles disse que eles fariam para abrir um evento de moda na noite passada, – o qual eu inclusive havia ficado muito triste por não poder comparecer. Maldita volta às aulas.
De volta ao vídeo, Zaden aparece na tela performando o seu aclamado solo de guitarra na música No matter how I try, I can't get you off my mind, o single do álbum da banda. E, por mais que me doa, tenho que dar o braço a torcer e admitir que ele está ótimo. A fama lhe caiu como uma luva: guitarra na mão, mechas de cabelo loiro sobre os olhos e a expressão compenetrada de um rockstar, – ele nem sequer precisava se esforçar. A qualidade da imagem do vídeo é excelente, mas mal posso ouvir a música por causa dos gritos da plateia enlouquecida.
— Ele deve estar se achando muito — murmuro, e é aí que, como se para confirmar o que eu dissera, Zaden sobe em cima de uma enorme caixa de som. Ele toca os últimos acordes de seu solo, seu corpo se inclinando para trás como se afetado pela intensidade da canção. E então, para marcar seu grand finale, ele salta.
E cai. Ele despenca para fora do palco de verdade.
A queda de Zaden é tão feia, mas tão feia que todos os outros – meu irmão, Sebastian, Loren, – todos eles param de tocar imediatamente e correm até onde ele está, no chão. A câmera do vídeo começa a tremer e a única coisa que consigo ver antes que ele acabe é que a guitarra de Zaden (uma toda em acrílico que ele havia comprado poucos meses atrás em Manhattan) se partiu bem ao meio no impacto.
— Accidenti! — Gianluca exclama, atrás de mim, provavelmente tendo acabado de ver a mesma queda catastrófica que eu. — Será que ele sobreviveu para contar história?
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