O Jantar
Depois de algumas reuniões e análise de etapas para a próxima semana, já na hora do almoço, vou com alguns colegas de trabalho ao restaurante de sempre. Enquanto ataco meu prato, afinal já são quase duas da tarde e estou morta de fome, Gláucia comenta:
— Hoje conversei com a Nádia para saber como estão as coisas em Pontal do Arco e pelo jeito, teremos certo stress.
Glaucia é minha assistente e amiga, faz parte da equipe que irá viajar comigo no final de semana. Nádia é arquiteta, integra a primeira leva de funcionários da construtora que está em Pontal para o início dos trabalhos, já que ficou responsável pela apresentação do projeto final para a associação de moradores.
— Que tipo de stress? – pergunto, franzindo a testa, sem parar de mastigar, pois não é todo dia que me dou ao luxo de comer lasanha, mas a ansiedade com a mudança é mais forte.
— Parece que alguns ambientalistas locais estão fazendo protestos, ela nem conseguiu terminar a apresentação na reunião com eles - Glaucia responde.
Antônio, um colega, também engenheiro, faz um gesto de desdém, dizendo:
— Isso é de praxe, mas quando começar a entrar dinheiro do turismo, logo esses caiçaras ficam quietinhos.
Confesso que fico um tanto ansiosa com isso, nunca participei de um projeto de construção desse porte, com tantos impactos a serem considerados e como estava em posição de destaque, tinha que mostrar serviço e não deixar nenhum tipo de problema atrapalhar o sucesso da empreitada.
Queria, a todo custo, fazer jus ao voto de confiança que me foi dado por Afrânio, meu chefe. Desde a época da faculdade, como meu professor, sempre o admirei e nem acreditei quando me convidou para estagiar na construtora em que era sócio e me efetivou como funcionária, depois da minha formatura. Nunca o desapontei em trabalhos anteriores, portanto, investiu para que eu ficasse à frente desse grande projeto de construção do resort.
"Confio no seu talento e capacidade, Marina. Tenho certeza que será mais um desafio a ser vencido na sua carreira", disse. Como pensar em outra possibilidade a não ser o completo sucesso do projeto? Ninguém iria ficar no meu caminho!
O resto da semana foi passando em ritmo frenético, muito trabalho e preparativos para a mudança, mal tive tempo para minha família, então, minha mãe me intimou para um almoço de despedida, na sexta-feira. Trabalhei apenas meio expediente, nesse dia, já que minha viagem seria já no sábado e ainda teria que organizar alguns pertences finais nas bagagens, dar uma geral no carro, essas coisas.
Minha mãe preparou um fricassé de frango que eu adoro e enquanto estávamos à mesa, ela comentou:
— Coitado do Paulo, minha filha, está de fazer pena! Liguei para perguntar se ele não poderia vir ao almoço de hoje e achei a voz dele tão triste! Deve estar arrasado com a sua partida.
"Pronto, começou", pensei. Letícia olhou para mim e deu uma risadinha discreta, continuando a comer.
— Não precisa de tanto drama, mãe. Vou estar apenas a algumas centenas de quilômetros de distância. Nada que precise pegar um avião pra ir me ver. E eu já disse que vou dar um jeito de vir, de tempos em tempos.
— Mas não é a mesma coisa! O rapaz já praticamente casado com você... – ela continuou lamentando.
— Poxa mãe, da pra ficar feliz por eu estar dando um grande passo na minha carreira em vez de ficar só chorando pitangas pelo Paulo? Já me resolvi com ele, estamos bem, ok? – rebati, meio impaciente. Jurei para mim mesma que não discutiria com ela hoje, mas está difícil. Ansiedade a mil, realmente não preciso de amolação.
Meu pai, apaziguador, finalmente parou de comer e disse:
— Lúcia, deixa a menina! Ela quase não aparece, já viaja amanhã, não vamos perder tempo aborrecendo a Marina.
A resposta da minha mãe foi fazer um muxoxo de reprovação e voltar a comer. Eu ficava chateada com o comportamento dela, mas entendia que ela só queria o meu bem e na mentalidade dela, minha felicidade seria estar finalmente casada, principalmente com um ótimo partido como Paulo.
Felizmente, o restante do almoço correu sem mais embates e nos despedimos, mais tarde, com muitos beijos, abraços e promessas de ligações ou ao menos mensagens diárias.
Passei o resto do dia resolvendo as últimas pendências e à noite, Paulo me levou para jantar fora. Confesso que estava morta de cansada, tudo o que eu queria era um banho de banheira, uma massagem e ficar na cama até a hora da viagem, mas fiquei sem coragem de negar.
Ele certamente quis fazer uma "despedida" em grande estilo. Restaurante romântico, não largou minha mão praticamente a noite toda, olhava-me nos olhos só desviando para comer.
Em certo momento, ele pareceu meio nervoso e eu o olhei com uma expressão curiosa.
— Tudo bem, Paulo? – perguntei, cautelosa.
Ele, então, estendeu uma caixinha de veludo em cima da mesa, perto da minha mão livre.
"NÃO", pensei. " Não faz isso, por favor!". Dei um sorriso nervoso, perguntando:
— O que é isso?
— Acho que você vai ter que olhar pra descobrir – disse, com a voz suave, olhando intensamente para mim.
Pensei em inventar uma dor de barriga repentina (apesar de não precisar inventar, estava realmente começando a me dar dor de barriga!) e fugir para o banheiro, mas era melhor enfrentar logo de uma vez. Peguei a caixinha, abri e sem surpresa, vi que havia uma aliança dentro. Não consegui desviar os olhos da aliança e ouvi sua voz:
— Eu já pensava em pedir você em casamento faz tempo, Marina. Já que vai precisar ficar um ano longe de mim, será que poderia ao menos ser como minha noiva? – seu olhar esperançoso me quebrou.
— Nossa, Paulo, eu não esperava por isso, que surpresa! – foi o que consegui falar. Deu para perceber que não era a resposta que ele aguardava, ficou meio tenso.
— Surpresa boa? – sorriu, sem graça, com um carinho nervoso na minha mão. Consegui sentir a pele dele fria.
— Surpresa surpreendente! – brinquei, mas ele não sustentou mais o sorriso. Soltou minha mão devagar e olhou para o prato.
— Desculpa, Paulo, eu... - falei, depois de um tempo.
— Não, Marina, tudo bem. - ele me interrompeu - Acho que talvez não tenha sido o momento ideal. Você está ansiosa com sua viagem de amanhã, vai participar de um grande projeto, deve estar com a cabeça cheia. A gente conversa sobre isso em outra oportunidade.
Fomos finalmente para casa, depois da sobremesa e tivemos nossa última noite de amor, antes da viagem. Acho que nunca demos nenhuma rapidinha, nenhum sexo mais intenso. Como eu disse, era sempre tudo morno.
🏝🏝🏝🏝🏝
Só para esclarecer, Pontal do Arco é uma cidade fictícia de algum lugar do Sudeste brasileiro, ok? Espero que estejam gostando, votem e comentem, se puderem ❤️❤️❤️❤️
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro