O Início de Tudo
— A construção tem o prazo total de 18 meses para ser concluída. É fundamental o acompanhando pessoal de todo o processo, portanto, é necessário que você resida na localidade boa parte desse período, ok, Marina?
Foi com essa orientação do meu chefe Afrânio que meu futuro estava selado pelo próximo ano, pelo menos. Por conta do projeto de construção do resort, na cidade paradisíaca de Pontal do Arco, eu deveria, juntamente com uma equipe, mudar temporariamente para o litoral, como uma das engenheiras responsáveis. Era um projeto milionário, uma importante conquista da construtora.
A mudança não seria de todo ruim, além de ser uma grande oportunidade profissional, nunca havia participado de uma empreitada tão grandiosa, eu realmente estava precisando de um tempo, pois minha vida pessoal está um tanto desconfortável. Não me entenda mal...a minha situação até que é boa. Eu tenho um bom emprego, bons amigos e um namorado perfeito. Pelo menos é o que me dizem.
Paulo é promotor de justiça, bonito e parece realmente apaixonado por mim. Há alguns meses, ele me convidou para morar com ele, em sua cobertura. Maravilhoso, não? Eu não deveria me sentir a mulher mais privilegiada do mundo? Talvez, mas digamos que eu não esteja assim TÃO entusiasmada, ao contrário da minha mãe, que conta os dias para meu casamento acontecer.
— Marina, o que você acha daquela igreja que sua prima Carla casou? É melhor reservar logo, ouvi dizer que a fila de espera é de mais de 6 meses! – afirmava animada.
— Mãe, o Paulo não me pediu em casamento! Estamos morando juntos, só isso! – respondia, resignada.
— Ah minha filha, você não consegue enxergar que esse homem é completamente louco por você? Isso é só uma questão de tempo! Dê graças à Deus por isso, pois você com esse seu jeito toda independente e autossuficiente, sempre assustou os homens!
Sim, minha mãe tem esse tipo de pensamento (supostamente) ultrapassado e eu nem discuto mais, melhor gastar energia com outras coisas.
Paulo é sim um homem incrível, só sinto como se meu futuro já estivesse determinado e é um futuro morno. Nos conhecemos há dois anos, no aniversário de um amigo em comum e ele acabou me conquistando pela sua educação e por ser tão atencioso. Tudo bem que ser charmoso ajudou. Moreno, olhos escuros, sobrancelhas grossas que davam um ar mais másculo ao seu rosto, sorriso bonito, cheiroso, estatura mediana, por que não? Saímos algumas vezes e logo começamos a namorar. Mas confesso que paixão mesmo nunca senti, é só...agradável estar com ele. Isso não basta? Não sou mais uma adolescente, já passou o tempo de paixões arrebatadoras.
A única pessoa nesse mundo que não faz parte da torcida por Paulo é minha irmã mais nova, Letícia. Não que ela tenha algo contra ele, mas como uma boa romântica incurável, sempre me diz que eu deveria encontrar alguém que realmente fizesse meu coração bater mais forte.
— Tem certeza de que é isso mesmo que você quer, Marina? - questionou, quando comuniquei que iria morar com Paulo.
— Ah, Letícia, eu já passava os finais de semana no apartamento dele, acho que é mais cômodo que eu fique por lá de vez. Sem contar que é mais perto do meu trabalho – respondi.
— Cômodo, nossa! Esse é o motivo pra você dar esse grande passo de ir morar com seu namorado? Que romântico! - ironizou.
Minha resposta foi apenas um suspiro e um revirar de olhos, não vou dar corda para as ilusões românticas dela. Letícia tem 22 anos e vive sonhando em encontrar seu príncipe encantado, já passei dessa fase.
Essa mudança para Pontal do Arco surgiu como um refresco de novos ares para eu dar uma respirada, confesso que estava sentindo falta de estar sozinha, só não sabia como fazer isso sem transformar tudo num grande drama.
Uma mudança temporária por conta de trabalho não teria um contra argumento razoável por parte de Paulo, tudo que restaria a ele seria concordar.
Ele sabia como meu trabalho era importante para mim, que eu sonhava com um grande projeto e como ele também não poderia se afastar de seu próprio trabalho, ficaríamos longe um do outro por um tempo. Por que a sensação de alívio vinha acompanhada de uma certa culpa? Nem eu me entendo!
*🏝*
—... então é isso, a construção será iniciada semana que vem e devo ir no final dessa semana para Pontal do Arco – falo, antes da última garfada do jantar com Paulo, nessa noite.
Ele para o que seria a última garfada no ar, a caminho da boca e me olha, um tanto assustado.
— Já? Achei que você só iria mês que vem. Mas que bom, está ansiosa? – sorri, meio sem graça.
— Estou sim! Trabalhei muito pra fazer parte desse projeto, espero que saia tudo perfeito. Parte da equipe já está lá, só faltam mais algumas pessoas – tomo um gole do meu vinho branco e Paulo aproveita para me servir mais.
— E como vai funcionar? Vocês irão fazer um revezamento? Uma semana parte da equipe fica em Pontal enquanto a outra aqui e depois o inverso? – pergunta, olhando-me com certa ansiedade.
— Na verdade, eu terei que ficar na cidade durante todo o tempo de construção. O Afrânio me nomeou a responsável pela equipe de engenheiros – digo, com uma tossida, tentando imprimir ao máximo minha empolgação, em contraste com o crescente desânimo de Paulo.
— Ah...nossa, então você vai ficar por lá durante quanto tempo mesmo? 1 ano? – olha para mim com total perplexidade.
Não dava mais para fingir casualidade. Meu sorriso esmorece e dou mais um gole do vinho.
— Bem...é, no mínimo isso. Na realidade, o projeto tem a duração de 18 meses. Mas não significa que não possa estar aqui um final de semana ou outro – digo, olhando para meu prato vazio.
Paulo fica calado por um momento, pensativo. Da um sorriso fraco e levanta-se, dizendo:
— Vou buscar a sobremesa.
Volta, logo depois, com meu sorvete preferido: doce de leite da Haagen Dazs. Abro um sorriso genuíno e digo, segurando a colher que ele me oferece:
— Você é o melhor!
Durante um tempo, ficamos em silêncio, tomando o sorvete. Paulo tem a decência de não me fazer mais cobranças, pois sabe o quanto esse trabalho é importante para mim, já que eu falava sobre o assunto havia meses, mas está visivelmente abalado com esse distanciamento ao qual teríamos que nos submeter.
Damos uma rápida arrumada na sala de jantar, lavamos a louça e vamos deitar. Paulo da um beijo na minha testa e fica fazendo carinho no meu cabelo, ainda calado. Depois de alguns minutos, o carinho cessa e percebo, pela sua respiração, que ele havia dormido. Livro-me delicadamente do seu abraço e viro para o outro lado, suspirando. É, não foi tão ruim assim...ou foi?
No outro dia, ele levantou cedo, pois tinha uma audiência importante e quando acordei, já havia saído. Ainda na cama, pego meu celular e vi que tinha uma mensagem dele:
"Gosto tanto de ver você dormindo que não tive coragem de acordar você. Ainda mais sabendo que é uma visão que não terei mais em breve".
Suspiro, fechando os olhos. Realmente fico chateada em deixá-lo triste, mas é inevitável. Finalmente levanto, como alguma coisa, tomo um banho e me arrumo para o trabalho. Essa semana será toda de preparativos para a mudança e planejamento do início das atividades em Pontal do Arco.
Vestindo uma calça preta justa, uma camisa social branca com estampa floral delicada, um scapin preto e uma maquiagem discreta, saio cheia de energia para iniciar minha movimentada semana.
🏝 🏝 🏝 🏝
E então, gostaram do primeiro capítulo? O que será que vai acontecer na vida da Marina, hein? Espero que continuem acompanhando! Votem e comentem, se puderem ❤️❤️❤️❤️
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro