O Encontro
Finalmente, a segunda-feira chega e eu acordo muito animada para seguir ao imenso canteiro de obras que seria o futuro resort "Arco do Paraíso". Um empreendimento maravilhoso, que teria 57 mil metros quadrados e contaria com 20 bangalôs, 4 quadras, sendo uma de areia, um grande parque aquático, 3 restaurantes, 3 bares com espaço lounge, além de academia, salão de beleza e espaço zen para massagens relaxantes, entre demais tratamentos estéticos.
Cada equipe de engenheiros era responsável pela construção de áreas específicas e eu iria coordená-las, uma grande responsabilidade. Eu tinha que estar por dentro dos detalhes de cada parte do projeto e vinha trabalhando nisso havia muitos meses. Estou bem animada para ver tudo saindo do papel!
Coloco uma calça jeans skinny azul, uma camisa social vermelha de bolinhas brancas com as mangas dobradas até os cotovelos, pois estava calor e iria ficar um bom tempo ao ar livre. Faço um rabo de cavalo e para dar um charme local, uso uns brincos de pedrinhas vermelhas que comprei ontem, numa das lojinhas do centro. Para completar o look, tênis vermelho, não tem como usar salto para trabalho em campo.
Como não gosto de ficar com a cara totalmente limpa, passo um lápis marrom nos olhos, máscara de cílios e um lip tint nos lábios, depois de passar bastante protetor solar. Um perfuminho floral bem suave, mas com boa fixação, pois não sou obrigada a ficar suando sem exalar um cheirinho bom.
O salão de café da manhã já tem boa parte das mesas ocupadas, como eu tenho que chegar mais cedo, como rapidamente algumas frutas, torradas, ovos e logo depois me dirijo ao carro, com Glaucia, Rodrigo e mais dois engenheiros que fazem parte da minha equipe, todos vão de carona comigo. Logo que entro no carro, meu celular recebe uma mensagem e vejo que é de Paulo.
"Bom dia, amor! Já saiu? Bom trabalho hoje, que tudo inicie bem".
Como quero sair logo e o carro está cheio, acabo deixando para responder depois. Vamos todos conversando durante o trajeto até a área de construção, as ruas com pouco movimento, pois ainda é bem cedo e por ser segunda-feira, não há muitos turistas.
Ao chegarmos nas proximidades do nosso stand de obras, vemos uma certa aglomeração de pessoas que parecem estar segurando alguns cartazes. Chegando mais perto, percebemos que os cartazes diziam:
"FORA, CONSTRUTORA MACK!"
"PONTAL DO ARCO NÃO PRECISA DE RESORT!"
e coisas do gênero.
— O que é isso, meu Deus? Mas que saco! – exclamo, aborrecida – Era só o que faltava, isso agora! Por que esse povo não se conforma com o resort e ponto final?
Apesar do tom nada amistoso dos cartazes, a manifestação é pacífica, pudemos passar tranquilamente com o carro para o estacionamento interno. Inicialmente, fizemos uma reunião geral para orientações, definição de tarefas e metas para o dia. Depois, fiquei certo tempo no campo de obras, verificando alguns detalhes e conversando com alguns profissionais de diversas áreas que lá estavam começando os trabalhos. Em certo momento, um funcionário aparece e dirige-se a mim:
— Dona Marina, tem um homem lá dentro querendo falar com a senhora – diz, com um gesto em direção aos escritórios do nosso grande stand.
Estou aguardando um amigo do Afrânio, dono de um resort em outra cidade, que tinha ficado de vir a Pontal para trocar algumas ideias com a equipe.
— Obrigada, estou mesmo aguardando alguém – digo caminhando em direção ao stand.
Chegando à recepção, dou de cara com um homem muito alto de uns trinta e poucos anos com uma expressão carrancuda que me da um rápido olhar de cima a baixo quando me vê.
Ele tem o cabelo suficientemente comprido para estar preso num rabo de cavalo meio desarrumado e uma barba curta. Usa uma camisa branca, com uma gola em V grande, mostrando parte do seu peito bronzeado. Está com uma calça folgada de malha leve, marrom. Logo de cara, sinto algo estranho, sei que não se trata do tal amigo do Afrânio, que nem do nome eu recordo.
— Bom dia, posso ajudar em alguma coisa? – pergunto, cautelosa.
Não se dando ao trabalho de responder ao meu cumprimento, o homem diz, numa voz grossa e com um tom antipático:
— Como eu disse para o rapaz que me recebeu, eu quero falar com o engenheiro responsável pela construção – seu olhar cravado no meu.
— EU sou a engenheira responsável, Marina Melo. E o senhor, quem é? – resolvo adotar um tom à altura do senhor antipático e vejo, com prazer, sua expressão de leve surpresa com a informação que dei, ele deixa cair um pouco o queixo, mas dura apenas um segundo, logo recobra a expressão fechada.
"Não esperava uma mulher engenheira, não é, babaca ?" Penso, divertida.
— Meu nome é Marcus Soares, vim entregar a cópia de um abaixo assinado de integrantes da comunidade contra o absurdo dessa obra que querem fazer na cidade. O original vamos entregar na Câmara Municipal e Assembléia Legislativa, o que for preciso para que não destruam nossa reserva natural – conclui, entregando-me os papéis que segurava, os quais recebo, mas não olho.
Continuo fitando seus olhos e digo:
— Senhor Marcus, não sei se está ciente, mas a construção não conta com qualquer irregularidade. Foram seguidas todas as etapas necessárias, como audiência pública na comunidade, com a devida apresentação do relatório do estudo de impacto ambiental, as respectivas licenças ambientais e medidas compensatórias cabíveis.
— Estou sim ciente de que os lucros com esse resort enchem os olhos dos políticos e empresários, mas tais medidas compensatórias são uma piada, já que a degradação ao meio ambiente será irremediável! – praticamente cospe as palavras, com uma raiva crescente, mas seu tom de voz é controlado.
Eu realmente estou cheia de trabalho a fazer e não quero mais perder tempo com essa pessoa desagradável. Faço um gesto, levantando um pouco os papéis que ele havia me entregado, dizendo:
— Muito bem, está entregue, então. Posso ajudar em algo mais? – pergunto levantando um pouco as sobrancelhas, querendo dispensar logo o grandalhão.
Ele me fita por alguns segundos e noto que está mais próximo do que eu havia percebido, a distância de uns dois passos. Vejo que os olhos dele são parecidos com os meus, esverdeados. Ele continua calado, encarando-me e não sei o motivo, mas não consigo desviar daqueles olhos, nem falar nada, é como se tivesse sido dominada por uma paralisia momentânea. Ele, finalmente, quebra aquele torpor e com uma voz baixa e rouca diz:
— Por enquanto é só, dona Marina.
Continuo parada olhando na direção onde ele havia saído, quando uma voz conhecida atrás de mim quebra o silêncio e solto o fôlego que nem sabia que estava prendendo.
— Nossa, quem era aquele deus grego? – Glaucia pergunta, em tom de confidência.
Nem percebi que ela havia entrado na recepção. Olho para os papéis na minha mão pela primeira vez e digo, ignorando o gracejo da minha amiga:
— Um tal de Marcus Soares, veio me entregar um abaixo assinado com aquela ladainha contra o resort, não tenho tempo pra isso! – respondo, indo para o escritório. Deixo os malditos papéis em cima de uma mesa e volto para o campo de obras.
As horas seguintes passaram sem demais contratempos. Continuamos trabalhando, até que por volta de duas da tarde, saí para almoçar com alguns colegas. Conversamos sobre o resort, amenidades em geral e o clima estava tranquilo e descontraído, mas a conversa com o tal Marcus não me saía da cabeça. Eu estava totalmente segura com o futuro da construção, sabia que nada iria atrapalhar, então por que eu havia ficado tão inquieta? Eu devia estar mesmo deixando transparecer, pois Glaucia perguntou:
— Tudo bem, Marina? Está calada...
— Sim, claro. Tava pensando no resort – disse, voltando a comer. Acreditando ou não na minha explicação, ela não comentou nada, só me deu mais uma olhada e voltou a comer também.
Retornamos ao local de trabalho e felizmente, não tive mais tempo de pensar sobre o ocorrido, com tantos afazeres. Somente quando o sol já havia se posto, deixamos a área de construção e voltamos para a pousada, estava totalmente esgotada. Tomei um banho, fiz um sanduíche, um copo de leite e jantei no quarto mesmo, não estava disposta a comer no restaurante da pousada, só queria ficar deitada até o dia seguinte.
Depois de comer, pego meu celular e lembro que ainda não tinha respondido a mensagem que Paulo havia me enviado de manhã. Vejo que ele me enviou apenas mais uma, por volta de 4 da tarde:
"Tudo bem?"
Praguejo, recriminando-me e começo a digitar. Sei que depois do sumiço deveria ligar, mas estou tão cansada que não quero mais conversar, só dormir.
"Mil desculpas! Hoje o dia foi frenético, praticamente só parei agora e estou fechando os olhos de sono. Nos falamos amanhã, ok? Bjs 😘"
A resposta é quase imediata:
"Imagino... claro, sem problemas. Beijos e até amanhã. Saudades..."
Respondo mais algumas mensagens da minha mãe e de Letícia, as de trabalho resolvo ignorar até amanhã, chega por hoje. Pego meu fone de ouvido, ligo o aplicativo de música e durmo embalada por "Fading to the Grey" de Billy Lockett.
🏝🏝🏝🏝🏝
O que acharam do primeiro encontro de Marina e Marcus? Deus me livre, mas quem me dera 😅
Votem e comentem, se puderem
AMORES, ESSA FOI A DEGUSTAÇÃO DE SURPRESAS NO PARAÍSO. A VERSÃO COMPLETA ESTÁ NA AMAZON.
❤️❤️❤️❤️
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