Quando eu era pequena, eu amava brincar na areia. Pedi para meu pai comprar areia e arrumar tudo numa caixa.

Eu passava o dia todo fazendo castelos, brincando com minhas bonecas fingindo que aquilo era a areia da praia. Eu odiava quando vinha o vento da janela e fazia desmoronar meu castelo ou fazia a areia de cima das minhas bonecas saírem, dava tanto trabalho por elas enterradas lá.

Minha mãe ainda fazia eu limpar toda a sujeira, mesmo a culpa nem sendo minha.

Eu também odiava quando vinha o Lucas com seus caminhões de brinquedo pegar a minha areia ou quando ele vinha e destruía meu castelo por puro prazer. Mas ainda assim, eu amava aquilo.

Amava ficar horas ali com minhas bonecas, amava ficar com as unhas sujas de ter brincado o dia todo e amava principalmente os meus castelos.

Ali no meu castelo não tinha princesa, nem príncipe. Era só um castelo, o meu castelo, onde ninguém mandava. Quando tinha muito vento ou o Lucas estava perto e eu sabia que ele iria querer destruir com a minha alegria, eu pedia pro meu castelo aguentar.

Eu sussurrava para ele ser forte por mim e não desmoronar com o vento ou com o pé do Lucas que viesse em sua direção.

Nunca pensei que depois de uns anos eu seria como um castelo de areia: eu teria que juntar todas as minhas forças para não desmoronar no primeiro sobro que me atingisse.