Capítulo 7
Nunca pensei que minha vida se tornaria esse furacão que se tornou.
E nunca que eu poderia imaginar que o Gui já tivesse escrito algo tão bonito.
Eu estava tremendo e chorando. Eu nunca tinha visto esse texto e isso me deixou emocionada, porque ele escreveu no dia que começamos a namorar e isso só serviu para deixar tudo ainda mais especial e importante para mim.
-Meli?! - a Raquel me trouxe para a realidade.
-Oi?
-Está tudo bem? Você está tremendo e chorando.
A Raquel passou o braço dela em volta do meu ombro. Acabei encostando minha cabeça no ombro dela.
-Calma, ele vai ficar bem!
-E se ele não ficar?
Ultimamente eu estou com 0,0001% de esperanças do Gui sair daquela cama.
-Pensamento positivo!
-É difícil - eu disse desanimada.
-Mas temos que ter. Ou tentar pelo menos. Promete pra mim, ou pelo Gui que vai pelo menos tentar ter pensamento positivo?
-Tá. Posso tentar - dei um sorriso amarelo para a Raquel.
A Raquel me abraçou e a Clarisse chegou na sala.
-Você veio, querida! - a Clarisse disse ao me ver.
Me levantei rápido e tratei logo de limpar meus olhos vermelhos. Mas não adiantou. Logo que a Clarisse se separou do meu abraço, reparou em meus olhos.
-Estava chorando querida?
AI essa Clarisse, sempre preocupada. Como se fosse a minha mãe. Na verdade ela é como uma mãe pra mim.
-Um pouco - eu disse me sentando de novo no sofá.
A Clarisse se sentou do meu lado e antes que ela me perguntasse o porquê de eu estar chorando a Raquel já se adiantou e respondeu o que nem foi perguntado:
-Ela leu o texto, mãe - a Raquel disse.
Pelo jeito a Clarisse já sabia do texto. Sempre sou a última a saber.
-Ah. Lindas as palavras, né? - a Clarisse disse quase chorando.
-Muito!
Minha voz saiu embargada. Já estava quase estava chorando de novo.
-Será que já posso pegar a blusa do Gui? - perguntei.
Eu estava louca pra sentir o cheiro dele penetrando em meus pulmões.
-Claro. Pode ir!
Sorri e me levantei. A Raquel fez menção de ir comigo, mas percebi pelo canto do olho que a Clarisse segurou ela pelo braço, impedindo ela de ir comigo.
Fui até a porta do quarto do Gui. Precisei respirar fundo antes de conseguir abrir a porta.
Depois de ficar paralisada igual uma idiota na frente da porta do quarto por quase um minuto, consegui abrir. Olhei dentro: tudo igual.
A mesma cama, os mesmos móveis. Entrei no quarto e um arrepio percorreu minha pele e minha espinha.
Assim que entrei no quarto fechei a porta. Acho que eu merecia um tempo aqui sozinha nesse quarto.
Me aproximei da cama. A mesma cama que nos amamos pela primeira vez. Me permiti voltar no tempo e relembrar esse dia.
Eu estava sentada no sofá esperando o Gui me trazer um suco. Na casa dele sou tratada como uma dama. Não que eu já não seja!
-Aqui!
Olhei e o Gui estava com um copo de suco de laranja bem na minha frente. Peguei da mão dele e dei um grande gole.
-Aonde foram seus pais e a Raquel mesmo? - perguntei.
O Gui tinha me falado, mas já tinha esqueci. O memória boa!
-Acabei de te falar - Gui reclamou.
-Já esqueci! - expliquei.
-Foram pro sítio visitar meus tios.
-Ah. E por que não foi junto?
-Pra ficar com você!
-Sou importante, né?! - me gabei.
Tomei mais um gole do meu suco e o Gui também deu no dele. E veio pra cima de mim. Me beijou com vontade.
-Hum... Beijo com sabor de suco de laranja! - eu disse gargalhando.
-Maravilhoso esse gosto! - Gui retrucou.
O Gui me beijou de novo e com mais vontade ainda. Claro que eu sabia o porquê de ele ter me chamado pra cá sendo que não tem ninguém sem ser a gente aqui.
Mas eu não sei se eu estava pronta e eu sabia que o Gui estava com vontade.
Parei o beijo, já estava ficando quente demais.
-Que foi? - o Gui me perguntou quando me afastei.
Ai, que desculpa eu ia dar?!
-Nada é que... que...
-Não precisa gaguejar!
-Desculpa.
-Que foi? Acha que eu quero aquilo?
Ai , ele descobriu que eu acho que ele quer aquilo. Fiquei corada e ele percebeu.
-Amor, olha pra mim!
O Gui levantou meu rosto e fez eu olhar em seus olhos.
-Eu não vou fazer nada que você não quiser. Eu não posso negar que eu quero, mas se você não quer, se não está preparada, eu te respeito. Não vou forçar nada!
O Gui sabe como fazer eu chorar.
-Sério?
-Sério! Se não quiser tudo bem. Tudo tem seu tempo e eu vou respeitar o seu.
-Obrigada.
O Gui sorriu e eu não me segurei. Parti pro beijo. Deitamos no sofá e fomos se beijando e se beijando até que eu tentei tirar a camisa dele.
-Tem certeza? - ele me perguntou antes que fôssemos pra aquela parte.
-Tenho!
O Gui sorriu e me ajudou a tirar a camisa dele. Continuamos se beijando até que ele parou.
-Que foi? - perguntei.
-Aqui na sala não, né?!
Meu namorado saiu do sofá e me pegou no colo.
-Seu maluco. Eu sei andar, tá?
-Eu sei. Mas assim fica mais romântico e já treino pra quando a gente casar.
Eu não sou a menina mais romântica do mundo, mas eu fico toda arrepiada quando o Gui fala sobre casar comigo.
Saber que alguém quer realizar tantos planos com você, ah, não tem preço.
O Gui me levou pro quarto dele. Me deitou na cama e continuamos.
-Quer mesmo? - o Gui me perguntou de novo.
-Acho que você que não quer, está me perguntando mil vezes. Já cheguei até aqui, não vou e não quero parar!
O Gui ficou contente pois veio com tudo me beijar. Ele tirou minha blusa e uma por uma, cada peça de roupa ficou para um lado do quarto.
Usamos proteção, sim. Sorte que falei pro os meus pais que eu iria dormir na casa da Sabrina.
Eles nem iriam deixar eu vir aqui pro Gui sabendo que estaria só nós dois.
O Gui foi super cuidadoso e não podia ter sido melhor. No fim ele me abraçou e disse:
-Obrigado!
-Pelo quê?
Olhei pra ele com cara de confusa
-Por ter deixado eu ser o primeiro.
-Você é meu primeiro e único. Meu primeiro namorado, meu primeiro amor e será o primeiro e o último!
Os olhos do Gui se encheram de lágrimas. Eu fiquei sensível depois disso.
-Eu te amo, Lissa!
Ai, esse jeito que só o Gui me chama, eu amava.
-Eu que te amo, Gui - declarei.
-Tudo que é meu te ama.
-Desse jeito você vai fazer eu....
-Querer ficar comigo para sempre? - ele completou.
-É - concordei, mesmo não sendo o que eu queria dizer.
-É justamente a intenção - ele disse, me puxando pela cintura, me aproximando de seu corpo.
-E também vai fazer eu ter diabetes, com tanta doçura assim. Não estou acostumada - brinquei.
-Pois pode se acostumar, vou ser assim sempre - ele garantiu, me olhando no fundos dos meus olhos.
-Se eu ter diabetes, a culpa é sua - dei um tapa no seu peito.
Ele riu e me beijou com desejo.
Naquele dia, mais do que em qualquer outro, eu tive a oportunidade de perceber que o Gui era e acho, que sempre será o amor da minha vida
**
Me joguei na cama em que passamos várias coisas juntos. Se é que você me entende.
Deixei minhas lágrimas molharem o travesseiro que o Gui dormiu por tanto tempo.
Me levantei e abri o guarda - roupa. Aquele cheiro do Gui me invadiu.
Mas, quando eu fui tirar uma camisa dele do lugar, uma coisa caiu do meio das roupas dele.
Essa coisa saiu rolando das roupas dele e parou nos meus pés. Bem na minha frente.
Me abaixei para ver o que era aquilo. Peguei na mão e era um caderno. Um caderno vermelho e na capa estava em preto um G. Obviamente de Guilherme.
Hãn? Um caderno no meio das coisas do Gui?
Dei uma folhada nas páginas e estavam todas escritas. Parei em uma delas, uma que vez eu me arrepiar quando eu li.
Hoje o dia foi incrível. Aconteceu o que eu tanto queria com a Lissa. Óbvio que não quero ficar com ela só por causa disso. E sim porque hoje tive a certeza que ela é a mulher da minha vida e hoje também notei que ela teve essa certeza. Eu estou explodindo de felicidade! Se depender de mim, a Lissa não irá ficar sem ninguém. Pode o mundo virar as costas pra ela, mas eu não. Sabe por que? Porque a amo e sei que ela me ama, isso se confirmou hoje quando ela se entregou a mim!
Eu não acredito que parei em uma página que ele escreveu sobre a nossa primeira vez. Me arrepiei toda.
Naquele caderno só tinha textos do Gui. Textos em que ele falava os momentos especiais da vida dele e eu estou em um deles, na grande maioria.
Agora eu tenho que certeza que o Gui me ama, ou pelo menos me amou de verdade um dia.
Deixei o caderno do Gui sobre a cama e peguei uma blusa dele. Cherei. E tinha aquele cheiro único, só do Gui.
Para melhorar ainda mais o cheiro, borrifei um pouco do perfume que o Gui sempre usava.
Peguei a camisa do Gui e o caderno e sai do quarto. Antes de fechar a porta dei uma última olhada lá dentro. Bons momentos que passamos eu e o Gui naquele quarto.
Fechei a porta e fui para a sala, onde a Clarisse e a Raquel estavam conversando.
-Pegou a camisa dele, Meli? - a Clarisse perguntou quando viu que voltei.
-Sim. Está aqui - mostrei.
A Clarisse sorriu e sentei entre ela e a Raquel.
-Eu achei isso no meio das roupas do Gui - eu disse mostrando o caderno.
A Clarisse observou o objeto em minhas mãos e a Raquel também. Ambas curiosas para saber o que tinha ali dentro.
-Eu li uma parte - continuei - E são textos, pensamentos do Gui. Será que eu poderia ficar com ele? Quando eu me sentir só eu abro uma página e leio. Tenho certeza que irei ficar melhor.
-Como quiser, querida! - a Clarisse me respondeu.
Sorte que elas não quiseram ficar com o caderno. Mas pude perceber que a Raquel queria ler o que tinha naquele caderno. Mas aquilo que tinha ali dentro, tinha a ver comigo, coisas minhas e do Gui.
-Obrigado! - agradeci.
-Será que a gente pode ler alguma coisa? - a Raquel perguntou.
-Tem coisas bem íntimas aqui. Mas tem um pequeno texto sobre família.
Abri o caderno e folhei até achar o que eu procurava. Li em voz alta:
-Família: a família é bem mais que sua mãe, seu pai, seus irmãos, seus tios ou seus parentes. Família é alguém que te entende. Que independente da sua escolha, se for certa ou errada, ela, a sua familia estará com você. Família é bem mais que parente. Família é um presente que Deus nos deu. Para cuidarmos um dos outros e para que sejamos unidos. Família é isso. Companheirismo. Família é união, é uma bênção de Deus... Minha família amada, se um dia vocês lerem isso, saibam que amo vocês. Até você Raquel metida. Amo cada um de vocês e muito.
Terminei de ler com os olhos marejados, não só eu. A Raquel e a Clarisse também se emocionaram.
-A gente tinha um poeta em casa e não sabíamos! - Clarisse disse rindo.
-Nem eu sabia disso tudo - apontei pro caderno - Era tudo segredo.
Nem dá de acreditar que só encontremos esse caderno agora que o Gui está lá no hospital.
Acho que ele nunca iria mostrar, então foi bom eu ter achado.
-Meli, você poderia ir comigo em um lugar? Só nós duas - Clarisse me perguntou.
-Claro. Aonde?
-Surpresa!
-Tá bom então.
Se levantamos e já me despedi da Raquel:
-Tchau linda, se cuide! - eu disse abraçando ela.
-Você também, Meli.
Peguei a blusa do Gui e o caderno. A Clarisse pegou as chaves do carro.
Saímos e entremos no carro.
-Aonde iremos? - perguntei de novo.
-Já disse que é surpresa. Curiosa!
AI, eu sou bem curiosa mesmo. Ainda mais me escondendo coisas assim.
Quando a Clarisse entrou em uma certa rua percebi aonde ela pretendia me levar.
-A gente está indo para a igreja?
-Estragou a surpresa - ela respondeu fazendo carinha triste.
Pensei que aquele negócio de fazer eu acreditar em Deus fosse só mentira, mas não, ela me trouxe mesmo.
A Clarisse parou em frente à igreja.
Bom, já que estou aqui, não posso escapar.
Deixei as coisas no banco de trás e desci com a Clarisse.
Entremos na igreja e eu mal sabia fazer o sinal da cruz. A última vez que vim em uma igreja acho que foi na minha crisma. Que por sinal, fiz por livre e pura pressão.
Chegamos na igreja e fomos pro fundo dela. Lá tinha um padre careca e com cara de quem era gente boa.
-Vocês vieram! - o padre disse todo feliz.
-Sim. Eu disse que iria trazer essa menina pra cá - a Clarisse apontou para mim.
O padre me olhou e eu sorri.
-Ah, você é a Melissa então?! - o padre se dirigiu à mim
-Sim. Em carne, osso e um braço quebrado - fiz graça.
O padre e a Clarisse soltaram uma risadinha.
-Vejo que é bem engraçada. Será que podemos conversar a sós? - o padre me perguntou.
Já que eu estava aqui,não pude dizer um não, né?!
-Claro.
-Eu aguardo aqui - a Clarisse disse.
Assenti e segui o padre que foi até uma sala e abriu a porta para que eu entrasse.
Entrei e me sentei em uma das cadeiras ali, o padre sentou na minha frente.
-Bom, vamos ao ponto: você não acredita em Deus?
-Não.
-Por que?
-Não acredito no que não vejo.
-O vento você vê?
-Não.
-E como você sabe que ele existe?
-Porque eu sinto, sinto quando ele me toca...
-Deus é assim. Você sente Ele. Ele te toca de tal maneira que você acredita. Acreditar em algo que não se vê é ter fé.
-Até agora Deus não me tocou - resmunguei.
-Eu sei pelo que você está passando e compreendo que o pouco de sua fé foi por água abaixo depois do acidente. Mas Deus dá as melhores batalhas para os melhores soldados!
Bom, isso fazia sentido.
-Não cabe a mim fazer com que você acredite em Deus de uma hora pra outra. Cabe a Deus. Mas eu posso dar uma ajudinha - ele sorriu.
O padre começou a falar. Falou coisas muito bonitas por sinal. E acho que essa foi uma das poucas vezes que me falaram tão abertamente sobre Deus, sobre fé e pela primeira vez ouvi. Ouvi de verdade.
Prestei atenção e guardei para mim tudo o que o padre falava. No fim da nossa conversa o padre disse:
-Sei que você não vai sair daqui já acreditando em Deus e tendo muita fé. Isso depende do tempo e de Deus mostrar para você a importância Dele em sua vida.
-Sim - concordei.
-Peço agora que você feche os olhos.
Obedeci e fechei os olhos. O padre colocou sua mão em minha cabeça e disse:
-Deus. Abençoa a vida dessa sua filha. Faz ela acreditar em Tu. Minha parte já fiz, agora será o Senhor que fará o resto.
Ele disse mais umas coisas, mas não pude entender, pois ele disse muito baixo.
Depois disso abri os olhos e saímos da sala.
A Clarisse rezava em um banco perto de nós. Será que ela estava rezando desde a hora que entremos na sala?!
-Vai lá, experiente rezar. Irá te fazer bem! - o padre me assegurou.
-Eu já nem sei mais rezar.
-Não precisa saber rezar. É só agradecer e honrar Deus. E claro, conversar com Ele. Ele tudo pode e irá ouvir seus pedidos feitos do coração.
Resolvi ir. Fui no mesmo banco que a Clarisse estava. Mas quando cheguei, ela saiu.
E ao passar por mim, me deu um tapinha no ombro e foi falar com o padre.
Me ajoelhei, meio sem jeito. Tanto tempo que eu não fazia isso.
Rezei baixinho para não ouvirem.
-Deus, primeiro de tudo quero pedir perdão por estar tão afastada de Ti. Sei de sua importância em minha vida e compreendi o que o padre disse. Ele fez o que pode e agora é a sua fez de me mostrar que realmente existe. Quero agradecer também, tenho saúde, tenho uma casa, tenho uma ótima família e muitos bons amigos. Mas nem tudo está completo. Falta uma parte disso tudo. O Guilherme. Esse é o meu pedido: tira o Guilherme daquela cama. Faz ele ficar bem. O padre disse que nossas orações feitas de coração são ouvidas. E essa então será ouvida e espero que atendida.
Me lembrei de como é o O pai nosso e rezei baixinho. No fim terminei e fui aonde a Clarisse me esperava com o padre.
-Venha na missa - o padre me convidou.
-Virei.
-Vou indo na frente. Obrigada padre - agradeci.
-Que Deus te abençoe, minha filha.
-Amém.
Sai da igreja e assim que eu coloquei meu pé para fora senti uma coisa no peito. Não sei explicar. Uma sensação nova. Uma paz me evadiu, sei lá o que foi aquilo.
Na hora olhei para baixo e me deparei com um terço bem em minha frente.
Me abaixei e o peguei em minhas mãos. Me arrepiei quando o toquei.
Seria aquele o sinal que eu tanto precisava? Olhei pro céu e como se Deus estive respondendo a minha pergunta uma pomba branca passou devagar pela minha frente, posou no chão e andou em minha direção.
Já pensei que ela viria me picar.
Mas antes que ela chegasse até mim, ela me olhou e voou de novo. Observei, mas logo perdi de vista.
Olhei para o terço de novo em minhas mãos. Eu já tinha a resposta:
Sim, aquele era o sinal que eu tanto precisava!
***
E aí, o que a acharam da Meli recebendo esse sinal de Deus?
Espero que tenham gostado. Votem e comentem para eu saber o que estão achando sobre a história.
Beijos!
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