Capítulo 5
O tempo passou. O Gui ficava na mesma e eu aos poucos pude voltar a rotina.
Praticamente dois meses se passaram desde o acidente. Eu venho todo dia no hospital, hoje por exemplo, um domingo de sol, troquei meu sofá com minhas séries, para ficar aqui em uma cadeira de plástico do lado do Gui.
Só o amor tem essa força pra a gente fazer certas coisas. Eu estava observando o Gui, quando meu celular começou a tocar. Era a Sabrina.
-Oi!
-Oi Meli!
-Bem?
-Sim. Está aonde?
-Nesse exato momento em uma cadeira de plástico, observando o Gui.
-Não quer trocar essa cadeira, nesse hospital por ir na praia comigo? Não quero ir sozinha.
-Não, obrigada.
-Sua vida está resumida em uma só palavra: hospital. Só fica aí, você tem que se divertir.
-Meu namorado, que sofreu um acidente, está aqui. Não posso abandoná-lo assim.
-Você não vai abandonar ele, só vai curtir a vida.
-E você acha que eu conseguiria "curtir" a vida sabendo que o Gui está aqui mal? - eu estava começando a me irritar.
-Aí, se solta. Vai me deixar sozinha?
-Vou. Porque o Gui precisa muito mais de mim do que você precisa.
-Ele nem pode te ver ou falar com você.
-Não interessa, eu sei que eu estou do lado dele e isso que importa. E sei que ele faria o mesmo por mim.
-Vêm, Meli!
-Já falei Sabrina: não vou. Eu vou ficar aqui com o Guilherme! - gritei
Acabei chamando a atenção de uma enfermeira que passava.
-Então fique aí, perda de se divertir com sua amiga.
-Você não passa de uma egoísta!
-Eu egoísta? Quero te ver bem, não só ao nesse hospital. Você fala de mim, mas cadê a Flavia nessas horas? Com o seu irmão. Eu que sou a egoísta?
-Bem você. Porque eu sei que a Flavia me entende. Ela não tentaria me arrastar pra onde eu não quero ir.
-Não estou arrastando ninguém. Eu sempre te entendo, sempre estou do seu lado!
-Me entende? Está do meu lado? Isso que você está fazendo não é estar do meu lado e muito menos me entender. Você é uma egoísta, só pensa em você mesma, não se importa com as dores das outras pessoas.
-Aí Melissa. Quero o seu bem, não quero você aí enfiada nesse quarto.
-Pois eu quero ficar, com o meu namorado. Ele precisa de mim, não vou deixar ele pra ir na praia com você, me poupe.
-Depois eu que sou a egoísta. Você é uma mimada que quer tudo do seu jeito.
-Eu não sou mimada. Mas será que seria pedir muito pro Guilherme ficar bem? Acho que não.
-Na boa: não sei ainda como sou sua amiga.
-É simples Sabrina: não seja. Não preciso de pessoas egoístas ao meu lado.
Desliguei o celular. Acho que essa foi uma das piores brigas que tive com a Sabrina. Deixei as lágrimas correram pelo meu rosto.
A gente sempre foi muito próximas, verdadeiras irmãs e agora ela só pensa nela.
Como se tudo que estou passando não seja nem comparável a uma unha quebrada dela.
A Sabrina está naquelas fases de: sou mais eu, eu mais eu. Foda - se os outros.
Ela sempre me entende, ou entendia pelo menos. Eu não posso abandonar o Gui aqui só pra ir na praia com ela.
Eu mal consigo ler sem pensar nisso tudo, quem dirá me divertir na praia. Tudo está maluco de mais pra mim ter tempo de se divertir.
Me aproximei da cama do Gui e peguei em sua mão.
-Eu nunca vou te abandonar. Nosso amor não vai morrer. Eu prometo!
Essa promessa, mesmo o Gui não ouvindo eu fiz e faço questão de não quebrar.
Sei que em um momento desses, o Gui que estaria do meu lado. Sempre foi ele que esteve comigo. Nos bons e nos maus momentos.
Agora é minha vez de retribuir tudo o que ele já fez por mim.
Fiquei ali, de mãos dadas com o Gui. Até que liguei pro Lucas ir me buscar.
-Lucas?!
-Oi Meli.
-Está ocupado?
-Não só estou namorando no sofá.
Ah, esqueci de dizer: a Flavia e o Lucas estão namorando. E serio. Faz um mês já.
-Será que pode vir me buscar?
-Tá bom. Eu e a Fla já aparecemos ai.
-Okay. Tchau.
-Tchau!
Deitei minha cabeça na barriga do Gui. A face dele está igual.
O cabelo castanho, o rosto branco e redondo. Aí que saudade do sorriso dele!
Fechei os olhos e instantaneamente veio a imagem do Gui sorrindo. Que sorriso lindo!
Ai como eu queria ver um sorriso nesse rosto. É só o que eu quero!
Já comecei a chorar!
Eu não paro de fazer isso. Fiquei tão frágil depois do acidente que só choro ultimamente. Fiquei ali lembrando e chorando, apoiada na barriga do Gui.
A porta se abriu e a Fla e o Lucas surgiram.
-Oi.
Me virei e vi eles ali.
-Oi - respondi com a voz triste.
-Vamos?
-Vamos!
Me levantei e peguei minha bolsa. Dei uma última olhada no Gui. Apertei forte sua mão e outra lágrima desceu.
A Fla veio e me abraçou.
-Que foi?
Ela perguntou como se já não estivesse claro.
-É difícil ver quem a gente ama em uma situação dessas.
-Eu sei, eu entendo. Pelo menos tento.
-Diferente da Sabrina.
Me separei do abraço e fomos. Antes de sair pela porta, olhei pro Gui e fomos.
-Como assim a Sabrina não te entende Meli? - a Flavia me perguntou quando entramos no carro.
-Ela é uma egoísta. Queria que eu fosse na praia com ela, pra ela não ir sozinha.
-E ela sabia que você estava com o Gui ali no hospital?
-Sabia e ainda fez questão de jogar na minha cara que ele não pode me ouvir, que tenho que me divertir em vez de ficar lá.
-O que essa menina tem na cabeça? - o Lucas disse.
Até meu irmão se irritou.
-Minhocas?
-Só pode - a Flavia disse e riu.
-Ela não sabe o que é amor de verdade. Que tipo namorada eu seria se deixasse meu namorado que está em coma sozinho?
-O tipo Sabrina!
A Fla estava certa e ri.
-Pra a Sabrina é tudo diversão, não se importa com os problemas. Se der certo deu, se não deu azar.
-Por um lado ela está certa nesse jeito dela, mas pelo outro não.
-Deixe que a vida faz ela se importar com os outros, espere! - o Lucas disse.
É, o jeito é deixar o tempo fazer a Sabrina parar de ser egoísta.
Cheguemos em casa e eu só queria ir pro meu quarto. Odeio brigar com a Sabrina e sempre fico mal.
Cheguemos em casa e vi meus pais no sofá vendo um filme.
-Oi - eu disse sem ânimo.
-Oi - meus pais responderam juntos.
-Vamos comer uma pizza? - o Lucas sugeriu.
-Podem ir. Eu não estou no clima.
-Ah, vamos Meli - Fla insistiu.
-Não, obrigada. Lucas me leva em uns lugares amanhã?
-Claro.
-Obrigado.
Entrei no meu quarto. Meus pais devem ter estranhado meu comportamento, mas deixei com que meu irmão e minha cunhada dissesse.
Deitei na minha cama e fiquei olhando pro teto. Pensando em nada. Até que me lembrei de uma coisa.
Peguei meu celular e disquei o número.
-Oi?!
-Oi Raquel. Tudo bem?
-Oi cunhada. Tudo e você?
-Também.
-Que ótimo. O que está fazendo?
-Estou fazendo uma redação.
-Hum, sobre o que? Vai Que posso te ajudar.
-Sobre o amor.
-Que legal. Pra quando que é?
-Pra terça-feira.
-Será que posso te ajudar? Amo escrever, principalmente sobre o amor.
-Claro que sim, não está saindo nada mesmo da minha cachola.
-Amanhã eu passo aí e te entrego a minha parte. Você só terá que fazer umas adaptações.
-Tá bom.
-Sua mãe está por aí?
-Vou chama - la.
-Okay.
Esperei até a Clarisse pegar o telefone.
-Melissa, que bom que me ligou.
-Estava meio sumida!
-Pois é. Como vai?
-Levando e vocês por aí?
-Levando como pode.
-Bom, tenho um objetivo especial.
-E qual é? Imaginei,pra me ligar só uma coisa importante mesmo.
-Já vi de quem o Gui puxou a dom de fazer drama!
Acabamos rindo, eu sempre faço as pessoas riem. Tenho o dom!
-Só você mesmo. Mas qual seria esse objetivo?
-Será que a senhora...
-A senhora está no céu.
-Será que você - corrigi - Teria alguma blusa do Gui aí? Quero uma blusa dele, pra sentir aquele cheirinho bom!
Veio o silêncio. Até pensei que tinha caído a ligação, mas não. O celular ainda estava ligado.
-Clarisse?
-Ah, desculpa. É que me emocionei com esse pedido. Até chorei.
-É, eu também!
Pois era verdade. Quando percebi as lágrimas já estavam descendo pelo meu rosto e borrando meu rimel.
-Posso passar amanhã aí?
-Claro. Passe aqui, estarei te esperando com um cafezinho.
-Tá bom. Tchau, Clarisse. Beijo pra todos aí.
-Tchau. Você também manda um beijo pra todos daí.
Desliguei o celular.
Eu precisava de uma coisa do Gui comigo. O cheirinho dele é único e eu preciso disso.
Limpei minhas lágrimas. E resolvi escrever sobre o que a Raquel me disse. Sobre o amor.
Peguei papel, um lápis e me sentei na minha escrivaninha. Ainda bem que não é o braço que eu escrevo que eu quebrei.
As palavras vieram tão rápido como uma folha cai de uma árvore.
Ando muito poética ultimamente.
O amor é uma palavra pequena, mas de grande significado. Sei que isso é cliché, mas é a verdade!
Muitas pessoas acham que o amor acontece quando querem. Que você vai acordar e pensar "Hoje eu vou encontrar o amor da minha vida" só uma coisa: o grande amor da sua vida não aparece quando você quer e sim quando você está preparada para encarar essa jornada que se chama amor. O amor é uma das tantas estradas da vida, uma estrada que devemos caminhar de mãos dadas com alguém. Alguém que te de força, que não te deixe cair na primeira tropeçada, Alguém que não te deixe cair ou se você cair ela te levantar, alguém que te entenda, alguém que faça você enxergar cor onde você só vê preto e branco. Mas principalmente, escolha pra caminhar com você nessa estrada da vida alguém que te faça bem e te faça feliz . Isso é o que importa: uma pessoa que você ama, que te ame de volta e que te faça bem!
Deixei o papel de lado antes que minhas lágrimas molhasem o papel e não desse de não entender mais nada.
Deitei na cama e no mesmo segundo a minha mãe entrou no meu quarto.
-Filha?
-Que?
Me virei e dei de cara com minha mãe toda arrumada.
-Vamos ir na pizzaria. Quer ir?
-Não.
-Certeza?
-Certeza.
-Tá bom. Se cuida, te trago um pedaço de pizza.
-Tá bom. Divirta-se!
Minha mãe sorriu e fechou a porta. Em poucos segundos a falaria que estava na sala se foi e deu lugar ao silêncio.
Fiquei sozinha. Eu e a solidão.
Okay, sem drama!
E tão pouco tempo tanta coisa mudou. Mas dizem que tudo acontecem por um motivo, mas sinceramente não vejo motivo pra estar acontecendo o que está acontecendo.
Me virei na cama e peguei em cima do criado- mudo uma foto. Minha e do Gui.
Em uma formatura de uma prima dele. O Gui estava tão lindo se terno e eu tive que ir de vestido, mas até que gostei do resultado é muitos me elogiaram, pois é raro eu usar vestido.
Aquele dia foi tão especial. Tão incrível. Abracei a moldura.
-Aí Gui, fica bem logo!
Olhei pra foto, mas minhas lágrimas me impediram de conseguir ver a foto.
Levantei e tomei um copo d'água. Precisava me acalmar, o que eu mais faço é chorar, chorar e chorar.
Não sou mais forte como eu era. Não sou mais corajosa como eu era.
Só de imaginar que o Gui poderia não sobreviver eu fico mal, começo a chorar, a tremer, o medo toma conta de mim.
Eu não sou mais a mesma. Com esses pensamentos adormeci,abraçada a foto daquele dia incrível que passei ao lado do Gui.
***
Resolvi antecipar esse capítulo. E aí o que estão achando? Votem, isso me ajuda muito e comentem para eu saber o que estão achando da história.
Um ótimo natal a todos! Beijos!
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