Capítulo 3
Quando acordei eu estava na cama, de novo. Olhei pela janela e pelo jeito, já era noite. Minha mãe estava dormindo, em uma poltrona do lado da minha cama.
Tentei assimilar tudo o que tinha acontecido em 24 horas. Me lembrei do que o médico me contou sobre o estado do Guilherme. O meu Guilherme estava em coma. É mesmo, quem está em uma situação dessas quase não sai.
Como eu ficaria sem ele? Quem me apoiaria? Quem ia me socorrer nos momentos de aflição? Quem iria me abraçar? Quem falaria que tudo daria certo quando tudo estivesse um caos?
Minhas perguntas não tiveram respostas, mas meu coração apertou só de pensar, que pode não ser o Guilherme a fazer tudo isso. Eu chorei, quieta pra não acordar minha mãe.
Minha mãe acordou com um pequeno soluço que soltei.
-Melissa - ela chamou
-Quê?
-Não chora, filha. Vai dar tudo certo, o Guilherme é forte, ele vai sair dessa - ela prometeu.
Minha mãe sabia que não podia prometer o que não dependia dela,mas mesmo assim ela prometeu.
Minha mãe se aproximou e me abraçou. Ela acariciou meus cabelos, enquanto eu me perdia em meio às minhas lágrimas.
Enquanto eu chorava uma enfermeira chegou pra trocar o soro.
-Está melhor? - ela me perguntou.
-Não - respondi
-Sente dor?
-Só no coração - suspirei.
A enfermeira olhou pra minha mãe, que me deu um beijo na testa e se afastou. Quando a enfermeira ia saindo um homem de farda entrou. Pensei que nem iriam investigar, isso no Brasil não é muito normal.
-Será que posso falar com a senhorita Melissa? - o homem perguntou pra a enfermeira.
-Ela não está em um bom estado - a enfermeira respondeu.
-Mas eu preciso falar com ela.
-O senhor é autoridade, como quiser.
Acho que ela ficou com medo.
-Licença.
O homem entrou e a enfermeira saiu.
-Desculpe perturbar, mas é necessário. Sou o delegado Daniel Alves, e preciso que a senhorita me responda umas perguntas.
Engoli um seco e olhei pra minha mãe, que se aproximou e ficou perto de mim.
-Tudo bem. - eu disse.
-Okay.
O Daniel tirou do bolso uma caderneta e uma caneta.
-Pode me dizer o que se lembra do acidente? Desculpe, sei que é difícil, mas é necessário.
Engoli um seco. Por mais que doesse, eu tinha que falar.
-Eu não lembro de muita coisa - admiti.
-Pode dizer só o que lembra.
-A gente estava indo pra Itajai comecei. - Em uns parentes do Guilherme. Ai, em uma curva um carro invadiu nossa pista. Dava de ver que o motorista não ia desviar, e nem dava. Na outra pista vinha vindo uma carreta. Não tinha como desviar, de nenhum dos dois. A única solução foi sair da estrada, ai acho que ele foi muito rápido, e o carro capotou.
Meus olhos encheram de lágrimas e minha mãe segurou minha mão.
-Isso é tudo que lembro, seu delegado - eu disse por fim.
-Fizemos uma pequena investigação, vimos que o motorista do outro carro estava dormindo no volante e por isso não desviou.
-Nossa. Ele se machucou? - perguntei
Ele bateu em um poste, mas não teve ferimentos graves.
-Ah, menos mal.
-Isso é tudo. No fim, a família do Guilherme não quis abrir um processo, ou algo do tipo. Te desejo melhoras.
-Obrigada.
O delegado saiu e minha mãe sentou na poltrona de novo. Liguei uma TV que tinha no quarto e a enfermeira me trouxe uma sopa.
Enquanto eu comia a sopa um celular começou a tocar, era o meu. Como ele não quebrou com a batida? Celular forte. Ele estava do meu lado, então o peguei.
Era um número desconhecido, mas atendi.
-Pois não? - eu disse ao atender.
-Melissa Soares? - outra pessoa disse.
-É ela. Quem fala?
-A secretária da rádio de Balneário. Como você está?
-Levando.
-Hum, assim que ficar melhor gostaríamos de ter uma entrevista com você. Nos dá essa honra?
-Entrevista comigo? - repeti a pergunta pra minha mãe ouvir.
-Isso.
-Eu vou pensar - prometi.
-Tudo bem, quando tiver uma resposta nos retorne.
-Pode deixar.
-Até breve, Melissa.
-Até - me despedi.
Desliguei o celular e voltei pra minha mãe.
-A rádio que uma entrevista comigo - eu disse pra minha mãe
-A rádio? Nossa! - ela perguntou assustada
-Pois é. Maluco isso.
-Acho bom você não ir - minha mãe aconselhou.
-Também acho, mas falta de educação recusar.
-Falta de educação é eles nem esperarem você melhorar e já querer falar sobre uma coisa que te fez mal.
Depois dessa voltei a comer a sopa. No fundo minha mãe estava certa. Terminei aquela sopa horrível, deixei em cima do criado-mudo e me deitei melhor. O sono não demorou a vir.
Sonhei com uma coisa estranha. Não foi bem sonho, foi mais uma lembrança pois eu tinha vivido aquilo.
Eu estava em um campo, todo florido. Esperando alguém. Quando alguém chegou por trás de mim e me abraçou, me virei e dei de cara com o Gui. Antes que ele pudesse me beijar, fugi correndo e rindo, igual uma criança. E ele veio atrás. Ficamos correndo até que ele me abraçou pela cintura e me jogou na grama, onde me beijou e disse que nada iria nos separar.
Isso aconteceu mesmo, mas o que aconteceu a seguir não tinha acontecido, na verdade, de um jeito sim. De repente, enquanto ele me abraçava, tudo ao nosso redor foi sumindo.
Tudo ficou escuro, eu fiquei sozinha. Comecei a gritar pelo Gui, mas ele não aparecia. Até que alguém me tocou e eu acordei.
-Aí que susto, mãe - eu disse com a mão no peito.
-Você estava se batendo, estava tendo um pesadelo? - ela perguntou preocupada.
-Estava - contei.
-Imaginei, mas já passou. Pode dormir em paz.
Assenti e minha mãe foi dormir. Eu demorei mais um pouco pra conseguir dormir, mas acabei adormecendo.
Na manhã seguinte a minha mãe teve que ir pegar umas coisas em casa e eu fiquei sozinha. Eu precisava fazer uma coisa, era agora ou nunca.
Sai da cama, tirei tudo aqueles fios e aparelhos que estavam ligados à mim, vesti uma roupa que minha mãe me trouxe e sai do quarto. Fui até a recepção.
-Com licença - eu disse a mulher que estava na recepção.
-Pois não?
-Em que quarto o paciente Guilherme Freitas está? - perguntei.
-Você é parente dele?
-Prima - menti. - Fiquei sabendo do acidente dele.
-Hum, mas infelizmente você não pode entrar. Só pai, irmão que pode.
-Ah, moça - suspirei. - Por favor, eu vim de tão longe, só para ver meu primo. Deixa vai? - supliquei.
-Olha, tem uma enfermeira lá, ela com certeza me entregaria, mas logo ela vem - a moça disse, com um sorriso no rosto. - Você pode entrar lá, mas tem que ser rápida.
-Claro, muito obrigado - agradeci segurando as mãos da mulher.
Não deu nem dez segundos, e uma enfermeira passou por nós.
-Boa tarde - ela nos cumprimentou.
-Boa tarde - eu e a recepcionista dissemos juntas.
-Como vai o paciente? - a moça do meu lado perguntou.
-Na mesma, igual um vegetal - a enfermeira respondeu com um suspiro.
A enfermeira entrou em uma sala e se sumiu. A moça da recepção se voltou para mim:
-É ela, pode ir. Vai rápido, antes que ela volte - ela me preveniu.
-Obrigada.
-Quarto 358.
Sorri e sai correndo em direção ao quarto do Gui.
Entrei, fechei a porta atrás de mim e vi o Gui, naquela cama, cheio de aparelhos ao seu corpo que apitavam.
Um arrepio percorreu minha pele, e meu coração se apertou ao ver o Gui naquele estado.
Peguei uma cadeira e me sentei perto dele, já estava ficando cansada. Peguei na mão do Gui e falei como se ele pudesse me ouvir:
-Aí Gui, está tão difícil ver você assim, tão frágil, mas temos que acreditar que você vai sair dessa.
Meu coração apertou e não consegui segurar as lágrimas. Chorei, chorei de soluçar, segurando a mão do Gui.
-Quando você sair dessa eu estarei te esperando, nunca irei te abandonar. Te amo, Gui!
Meu plano era ficar ali apenas uns minutos e voltar logo pro quarto antes que alguém percebesse, mas não deu certo.
A porta se abriu,me virei e a mesma enfermeira que passou pela recepção à poucos minutos, entrou porta adentro, ao me ver ali levou um susto.
-O quê você faz aqui? Não é hora de visita - ela me disse, ela parecia brava.
Fiquei encarando a enfermeira um bom tempo, até que atrás dela, surgiu minha mãe e a enfermeira que ia me dar remédio.
Droga, não deu certo.
-Sabia que você estaria aí - disse minha mãe.
Olhei pra ela e voltei a olhar pro Gui, o rosto todo inchado e roxo. Lágrimas escorriam pelo meu rosto e eu estava fraca.
O Gui vai sair dessa? Essa pergunta não tem resposta, isso é o que mais me deixa preocupada.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro