Capítulo 29
Engoli o choro que queria sair de mim, eu não queria que o Guilherme me visse chorando.
Nunca tão poucas palavras, fizeram tanto estrago como aquelas que o Guilherme tinha acabado de falar.
-Como assim um tempo? - perguntei.
Eu estava atordoada, nervosa, estava sentindo todos os sentimentos me invadirem ao mesmo tempo.
O Guilherme respirou fundo, e eu percebi que também não estava sendo fácil para ele.
-Um tempo até tudo se ajeitar, até eu me recuperar, até você saber se gosta de mim ou do Henrique - ele explicou.
Era tudo culpa do Henrique, meu plano estava dando certo, eu ficaria ao lado do Guilherme e depois, se eu não esquecesse o Henrique, eu dava um jeito. Tudo estava dando certo, mas o Henrique tinha que se meter e estragar tudo.
-N-não, eu gosto de você - afirmei.
-Não minta para você mesma, Lissa - o Guilherme disse com calma.
Me levantei e arrumei a mão na cabeça, com vontade de arrancar todos os meus fios, deu vontade de sair correndo e ir procurar o Henrique, para saber porque diabos ele abriu a boca.
-Eu não estou mentindo. Não faz isso, Guilherme - pedi.
Eu não queria chorar, não ali, mas meu coração começou a se apertar e quando vi, o choro que estava dentro de mim, já estava saindo.
-Não posso ficar com alguém que eu amo, mas não me ama. Eu estarei te esperando quando você decidir e entenderei a sua vontade.
Mesmo o Guilherme querendo ser um babaca, ele ainda era um homem romântico.
-Você vai mesmo jogar esses três anos de relacionamento pela janela? - perguntei.
Ao lágrimas me atrapalhavam um pouco, mas eu conseguia falar e ver que o Guilherme já estava prestes a chorar também. Ele não aguenta ver ninguém chorando.
-Não vou fazer isso, vamos só dar um tempo e ver o que realmente queremos.
Pelo jeito, nem o Guilherme sabia o que queria.
-Então, você também não sabe o que quer? - pressionei.
-Claro que sei, quero ficar com você para sempre.
Me aproximei um pouco dele.
-E a gente pode ficar - falei.
-Só você provar que me ama - ele disse simplesmente.
Como ele queria que eu provasse ? Fazendo uma serenata de amor na janela do hospital? O presenteando com um chocolates e flores? Fosse o que fosse, eu até poderia fazer, porque eu amava o Guilherme e se ele queria uma prova, eu provava.
-O você quer que eu faça para provar? - perguntei.
-Escolha ficar comigo.
Eu não estava entendo mais nada daquilo.
-Eu já escolhi, eu até dei um fora no Henrique para ficar contigo.
Não era bem o que eu queria naquele momento, mas eu vi sim, que era aquilo o que eu queria. Eu queria ficar com o Guilherme, se eu não sentisse nada por ele, eu não estaria desesperada por ele querer terminar comigo.
-Você tem que pensar, depois você vê. Tira umas férias, vai pra longe, arruma a cabeça no lugar.
Ele não me queria ali, era isso.
-Você me quer bem longe de você, já entedi - eu disse, me afastando.
-Não, me expressei errado. Eu só sugeri, não quero que você se afaste ou coisa do tipo, só quero que você se decida, isso também está te matando.
Aquilo era verdade. Tudo aquilo estava me remoendo por dentro e uma hora ou outra, eu acho que tomaria a mesma decisão que o Guilherme tomou.
-Beleza, então vamos dar um tempo, mas eu não vou desistir de nós - prometi.
As lágrimas tinham dado uma trégua e já estava mais fácil de falar.
-Eu também não.
-Eu vou lutar pela gente, não vou deixar tudo morrer - prometi.
Pegando minha bolsa, mesmo ainda atordoada, me inclinei na direção do Guilherme, para lhe dar um beijo no topo da cabeça, só para deixar claro que eu respeitaria a vontade dele.
Mas ele ergueu a cabeça e nossos lábios se tocaram. Senti que aquele beijo era meio que um beijo de despedida, então aproveitei até o último segundo.
Me separei dele e ele soltou a minha cintura, que segurava com as duas mãos.
Andei em direção a porta e assim que toquei na maçaneta, o Guilherme me chamou de volta.
Me virei e reparei como seus olhos estavam vermelhos, tanto quanto os meus.
-Quê? - perguntei ao me virar.
-Não esquece que seja lá o tempo que você demore para decidir o que quer, eu vou estar aqui. Eu te amo - ele disse e uma lágrima caiu de seu olho.
Uma lágrima teimosa também caiu do meu. Meu coração se apertou mais ainda ao se dar conta que o Guilherme também estava sofrendo.
-Eu sei o que quero, o tempo só vai me dar mais certeza disso, eu vou te provar, de um jeito ou de outro.
-Assim espero - ele murmurou mais para ele próprio do que para mim.
-E eu também te amo, vê se não esquece disso - eu disse e mais uma lágrima caiu.
Sai do quarto sem esperar uma resposta do Guilherme. Fechei a porta e me encostei na parede, deixando umas lágrimas caírem.
Era Muita coisa para um dia só. As lágrimas caim tão rápido que nem me dei o trabalho de impedir de correr pelo meu rosto.
Nunca pensei que eu e Gui chegaríamos ao ponto de ter que dar um tempo, tudo depois daquele acidente. Por que? Por que tudo acontece comigo?
Eu sabia bem o que queria, mas pelo jeito dei algum jeito de mostrar que não sei.
Mas eu sei que eu amo e quem eu quero. O Henrique só fez eu ter raiva dele ao estragar tudo, eu iria focar no Guilherme e que se explodisse o Henrique.
Aquela discussão ficou na minha cabeça, mal eu sabia que aquela briga seria apenas uma das primeiras de tantas outras que viriam.
Eu estava tão nervosa, com raiva, com tristeza, que nem reparei que logo na entrada do hospital, tinha um homem de costas, que parecia segurar um pequeno buquê nas mãos.
Eu não tinha visto esse homem, até eu esbarrar nele e fazer ele se virar, para ver quem tinha sido a desastrada que tinha batido nele.
-Desculpa - falei.
A culpa era mais minha do que dele, ele só estava ali parado e eu sai toda nervosa.
O homem se virou para mim e vi que era o Henrique.
O que eu fiz para merecer isso? Socorro,falei comigo mesma.
-Eu estava te esperando, Meli - o Henrique contou, animado.
-Eu tenho mais coisas à fazer - eu disse, passando por ele.
Desci a escadaria do hospital rápido, mas o Henrique, como sempre fez, veio atrás de mim.
-Melissa, espera - ele gritou.
Continuei andando, mas o Henrique acelerou o passo e me puxou pelo braço, me obrigando a parar de correr dele.
-O que você quer? - perguntei.
Seus olhos se fixaram nos meus e ele percebeu que eu estava chorando.
-O que aconteceu? Você estava chorando?
-Não te interessa - falei. - Na verdade, interessa sim, até porque a culpa de tudo isso é sua.
O Henrique deu um passo para trás, tentando se lembrar do que pudesse ter feito para me fazer chorar.
-O que eu fiz? - ele perguntou.
Eu não sabia se ele estava se fazendo de desentendido ou se realmente não lembrava.
-Vou refrescar a sua memória: você contou pro Guilherme do beijo, contou que está apaixonado por mim e o Guilherme terminou comigo - gritei.
Estávamos ali, no meio da rua, brigando, igual aqueles casais malucos que resolvem seus problemas na rua e não em casa, parecia a gente, só que nós não era um casal.
-Então, agora você fica comigo, você não tem mais a obrigação de ficar com ele - o Henrique disse, sorrindo.
Me deu vontade de pegar um tijolo e jogar na cara dele. O Henrique não passava de um metido e um egoísta de mão cheia.
-Você não entendeu, eu amo o Guilherme, não vou ficar com você.
Me virei para sair e continuar meu trajeto, mas ele me segurou pelo braço de novo, com uma força que até estranhei.
-Você está confusa - ele afirmou.
Me soltei da mão dele que segurava meu braço.
-Estou, mas sei que amo o Guilherme.
O Henrique engoliu um seco. Ele podia chorar, gritar, espernear igual criança mimada faz, mas eu não iria mudar de ideia.
-Isso é para você - ele disse, me estendo o buquê.
Ele devia ter roubando essas flores que tem nos cantos da estradas e só deixou tudo junto, sendo unidas por uma fitinha rosa.
Eu odiava rosa.
Peguei o buquê e joguei no chão.
-Melissa - ele disse, com voz de choro.
Eu estava com muita raiva para ficar com pena dele.
-Eu não quero nada que venha de você - gritei.
-Nem meu amor?
-Principalmente esse seu amor fingido.
O Henrique pegou o buquê do chão.
-Eu te amo, de verdade - ele declarou.
-Vai dar esse amor para alguém que goste de você, foi mal, mas agora eu tenho que provar ao Guilherme que amo ele, porque eu amo ele. Você estragou tudo, e se nem fosse assim eu ficaria com você.
Ele engoliu um seco, ele não sabia se deixava eu falar tudo ou se defendia.
-Eu vou te esperar - ele prometeu.
Seja lá o que era o que sentia por ele, tinha sumido e só tinha dado espaço para a raiva.
-Você é um egoísta e metido, pode esperar sentado, pois eu vou ficar com o Guilherme.
Não esperei sua resposta, virei de costas para ele e sai andando, bufando de raiva.
-Melissa - ele chamou.
Não me virei. Ouvi passos rápidos vindo em minha direção, mas não parei.
Só parei quando o Henrique se meteu na minha frente.
-Não vou deixar você dirigir nesse estado - ele disse.
Depois de fazer besteira, ele queria concertar alguma coisa.
-Eu vou dirigir, você já fez estrago de mais por hoje.
Ele ficou calado com a minha resposta, passei por ele e fui em direção ao meu carro.
Ele ficou lá parado, o que me fez sair pelo outro lado do estacionamento.
Dirigi com cuidado até chegar em casa e puder descontar minha raiva em qualquer coisa que fosse. Eu estava com muita raiva do Henrique para poder chorar ali.
Ele não tinha aquele direito de ter contado para o Guilherme do beijo e de tudo. Ele estragou tudo e a única chance que ele poderia ter, ele mesmo jogou fora.
Eu só queria sumir, queria pegar minhas coisas e ficar em um lugar, quieta, sem companhia. Só eu, minha raiva e minha tristeza.
Fui na minha faculdade e a tranquei. Eu odiei ter que adiar meu sonho, mas eu não iria conseguir produzir coisas boas com a cabeça a mil.
Fui até o jornal e pedi férias, meu estágio estava quase no fim, não tinha muito o que ser feito.
Liguei para uma tia minha que morava um pouco longe e decidi que iria para lá. Ficar pelo menos uma dois meses, só descansando o corpo, a alma e a mente.
Uma parte já estava concluída.
Cheguei em casa, ignorando a presença de todos na sala. Fechei a porta do meu quarto com tudo e vi a minha foto com o Guilherme sobre o criado-mudo.
O peguei na mão, e por pouco que não o joguei contra a parede e fiz ele se quebrar em pedacinhos.
Deixei a foto de novo no seu devido lugar, quando percebi que aquela foto linda não devia sofrer as consequências da minha raiva.
Peguei um vaso que estava ao lado da minha cama também. Aquilo não tinha importância nenhuma. Com raiva, o peguei nas mãos e o lancei contra a parede, com toda a força e com o maior grito que consegui soltar.
O vaso se despedaçou em vários pedacinhos quando se chocou contra a parede.
A porta do meu quarto se abriu, justo na hora que soltei um grito de raiva. Eu não sabia segurar minha raiva, eu sempre tinha que descarregar em algo ou alguém. Sempre era assim.
-Meli, o que aconteceu? Por que você está assim? - o Lucas perguntou, fechando a porta atrás de si.
Me virei para ele.
-Eu tive que trancar a faculdade, eu tive que pedir férias, só porque eu não consigo mais pensar direito - gritei.
O Lucas me abraçou e ali mesmo, eu comecei a chorar. Chorei igual uma criança, eu que nem era de chorar, chorei até não poder mais.
Ninguém ousou entrar no meu quarto naquele momento. O Lucas me deu todo o apoio que eu precisava, e me arrumou sentada na cama.
-O Guilherme terminou comigo, porque o melhor amigo dele gosta de mim - expliquei, mesmo o Lucas nem perguntando nada.
O Lucas fez umas perguntas e eu respondi, ainda com raiva de tudo o que estava acontecendo. Por causa do Henrique, o Guilherme tinha pedido um tempo, eu tive que trancar a faculdade, pedir férias e me afastar de tudo por um tempo. Tudo culpa do Henrique.
Depois de me acalmar eu dormi, já me preparando para ir para minha tia logo cedo.
Liguei para o Guilherme no dia seguinte.
-Guilherme, sou eu, só estou te ligando para dizer que estou indo viajar e volto daqui uns dois meses - falei curta e grossa.
-Tudo bem, você precisa disso.
-Se cuide e vá me informando sobre o seu tratamento - pedi.
-Pode deixar. Beijo.
E ele desligou.
Me joguei na cama, desejando que ele me tratasse da mesma forma que antes, desejando que tudo voltasse a ser como antes.
Parei de me lamentar e peguei minhas malas, me preparando para sair. Me despedi dos meus pais e o Lucas me ajudou a levar tudo para o carro.
-Se cuide - o Lucas disse, fechando o porta-malas.
Me encostei no carro.
-Você também, cuide da Flavia e vá me informando sobre o que acontece na vida de todos - mandei.
-Tá bom - ele concordou.
-E ordeno que vocês não se casem antes de eu voltar.
-Pode deixar.
O Lucas dizia tudo com a cabeça baixa, quase sem me olhar nos olhos.
-Lucas - chamei.
Ele me olhou e vi que ele estava quase chorando.
Me joguei no seus braços, antes que eu já chorasse também.
-Não chora, eu volto. É só dois meses - o consolei.
-Eu não queria que você fosse, não queria que você sofresse - o Lucas respondeu com a voz embargada.
O apertei mais ainda em meus braços.
-Faz parte da vida - me separei dele e o fiz me encarar nos olhos. - Fique bem.
O Lucas me abraçou de novo, a paternidade deve ter mexido com os sentimentos dele.
-Eu te amo - ele declarou.
-Eu também te amo - sussurrei.
Antes que eu começasse a chorar, entrei no meu carro e fui em direção ao meu destino.
Talvez eu precisava mesmo de um tempo longe de tudo e de todos, talvez era o que precisava, para poder arrumar tudo em ordem. Talvez era o que estava escrito para acontecer.
***
Deu até uma pena da nossa Meli, vou adintar esses dois meses que ela ficar fora, para não ficar muito chato de acompanhar.
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