Capítulo 28
-Meli, eu preciso da sua ajuda - essa era a desperada da Flavia no telefone.
-O que foi? - perguntei já preocupada.
Eu estava no trabalho, não tinha muito o que ser feito naquele momento.
-Venha aqui para casa - ela pediu, com voz de choro.
Olhei para os lados, verificando se não tinha ninguém ouvindo a nossa conversa.
-Agora eu não posso, você consegue aguentar até o fim do meu expediente?
-A-acho que sim.
-Tá bom, logo que eu sair daqui vou aí, fica calma.
-T-tá bom.
Desliguei e foquei no meu trabalho.
Aquele despero todo, vindo da Flavia, não era algo muito normal. Eu fiquei muito preocupada, até porque eu nem sabia o motivo de tudo aquilo, o que só piorava tudo.
Os minutos pareciam demorar um século para passar, mas graças a Deus, o fim do meu expediente não demorou muito a chegar.
Assim que terminei tudo, sai praticamente correndo e fui direto para a casa da Flavia.
Cheguei lá em dez minutos e antes que eu pudesse bater na porta, a Flavia surgiu na porta e me puxou para dentro de sua casa.
-Não tem ninguém em casa? - perguntei.
-Não. Só nós duas - ela respondeu.
Fiz ela se sentar no sofá cinza da sala.
-Agora me conte, o que aconteceu?
Ela respirou fundo e engoliu um seco.
-Eu estou atrasada - contou.
Para quê? Devia ser algum trabalho da faculdade, a Flavia sempre exagerava nas coisas, e me deixava preocupada atoa.
-Isso não é novidade - brinquei.
A Flavia não sorriu, ao contrário, ela estava mais nervosa que antes.
-Melissa - ela chamou minha atenção.
Demorei um segundo para me ligar do que ela estava falando.
Meu Deus! Eu seria tia? O Lucas seria pai?
-Aí meu Deus! - me joguei no sofá ao seu lado.
Ela cobriu o rosto com as mãos, como se estivesse com vergonha do que tinha feito.
-Você está mesmo? - perguntei, ainda surpresa.
-Não tive coragem de fazer o exame ainda.
Fiz ela se levantar.
-Cadê o exame?
Ela foi até a mesinha de centro e voltou com três testes de gravidez na mão, cada um de uma marca diferente.
-Aqui - ela respondeu e percebi que ela tremia.
-Vai lá fazer - mandei.
-Eu estou com medo.
Com cuidado, fui a empurrando em direção ao banheiro.
-Prefere ficar na dúvida?
-Não, mas...
Abri a porta do banheiro e a empurrei para dentro.
-Te espero aqui - avisei.
Fechei a porta do banheiro e fiquei esperando no corredor.
Enquanto esperava, eu fiquei andando de um lado para o outro, roendo minhas unhas, foi aí que percebi que eu também estava nervosa.
O Lucas iria assumir, disso eu não tinha dúvidas, mas como os meus pais iriam reagir e os pais da Flávio eu não fazia ideia, e isso era o que me deixava nervosa.
O que eles faria? Iriam casar? Flavia e o Lucas seria bons pais? Isso me deixava nervosa, não ter certeza que aquela pequena criatura que poderia existir, seria recebida, me deixava aflita.
Mandei uma mensagem para o Lucas, pedindo para ele ir lá na Flavia, que ela estava com febre. Tive que mentir.
Os minutos passavam e fiquei com medo de à Flavia ter desmaiado lá dentro quando viu os exames indicando possitivo, mas essa idéia foi por água abaixo quando ouvi o choro abafado dela.
-Flavia, está tudo bem? - perguntei, com o rosto perto da porta.
Ela não respondeu e eu resolvi entrar no banheiro, que ainda bem, não estava trancado.
Abri a porta e vi a Flavia sentada sobre o vaso sanitário, com lágrimas correndo pelo seu rosto.
-Isso só pode estar errado - ela gritou, em meio aos soluços, apontando para a pia do banheiro.
Me aproximei da pia e me deparei com os três testes ali, todos com as duas barrinhas vermelhas. A Flavia estava mesmo grávida.
-Você está grávida - falei, ainda surpresa de mais.
-Os meus pais vão me matar - a Flavia disse, chorando.
Me aproximei dela e a abracei. Não tinha o que falar em uma hora daquelas, eu só consegui dar meu apoio.
A Flavia ficou chorando por uns dez minutos, fiz ela se acalmar e a arrumei sentada no sofá, enquanto eu fazia um chá para nós duas.
-Eu já chamei o Lucas, mas não contei nada - gritei da cozinha.
Peguei duas canecas e arrumei na mesa.
-Você não devia ter feito isso - ela disse, vindo da sala, abraçando a si mesma.
-Você não iria chamar ele, então chamei.
Ela se sentou em uma das cadeiras e eu sentei ao seu lado. Ela esticou sua mão até tocar na minha.
-Obrigada por estar ao meu lado nesse momento difícil - ela agradeceu, com os olhos marejados.
Antes que eu já chorasse, levantei e nos servi de chá. A Flavia mal bebeu, só conseguia olhar para a água na xícara, com uma insegurança que transparecia mesmo de longe.
Antes que eu pudesse dizer qualquer palavra que fosse, ouvimos uma batida na porta, devia ser o Lucas. Eu e a Flavia se entreolhemos e eu, sem dizer nada, me dirigi até a porta da frente.
Abri a porta e um Lucas desesperado entrou na casa da Flavia, quase me atropelando.
-Flavia - o Lucas chamou.
-Estou aqui na cozinha - a Flavia gritou da cozinha.
O Lucas saiu correndo em direção a cozinha, ignorando completamente a minha presença.
Por mais que fosse algo pessoal aquilo de contar sobre a gravidez, não aguentei e quando vi, eu já estava indo até a cozinha espionar tudo.
Quando cheguei na porta da cozinha, congelei ao ver aquela cena tão bonita.
O Lucas estava ajoelhado, ao lado da Flavia, que estava sentada na cadeira. Ele estava nitidamente preocupado, querendo a levar para o hospital imediatamente.
O Lucas não se importava com alguém daquele jeito desde que o nosso peixe morreu. Naquele tempo, ele queria fazer até levar o peixe, já morto, para o veterinário.
-Você está com febre, não está? Eu te levo no hospital - o Lucas disse.
Ele tentou levantar a Flavia, a puxando pela mão, mas ela puxou sua mão para perto do corpo.
-Eu não estou com febre - a Flavia contou.
-Mas a Meli me ligou...
-Ela mentiu - a Flavia me entregou.
O Lucas me olhou e eu não disse nenhuma palavra.
-Então, por que ela me ligou? O que aconteceu? - o Lucas perguntou, olhando para mim e para a Flavia.
A Flavia olhou para mim, perguntando se aquela era a hora certa para contar, fiz que sim com a cabeça.
Pensei em sair e deixar o casal a sós, mas desisti ao ver que a Flavia estava tremendo e me suplicava ajuda pelo olhar.
Me aproximei da Flavia.
-Lucas, a Flavia tem uma coisa para te contar, esperamos que você compreenda - falei.
A Flavia me lançou um olhar de gratidão, que retribui com um sorriso.
-O que é? - o Lucas perguntou, mais curioso do que preocupado.
A Flavia retirou os testes de gravidez do bolso do seu mole tom cinza com estampa da Minnie, eu nem sabia que ela tinha os pegado de cima da pia do banheiro.
Ela estendeu os testes para o Lucas, que hesitou um pouco, mas acabou os pegando.
-O que é isso? - ele perguntou, analisando aquilo em suas mãos.
A Flavia olhou para mim, com os olhos já marejados. Era a minha hora de intervir, de novo.
-Isso são testes de gravidez - expliquei.
O Lucas virou os exames umas cinco vezes, até ver que ali não tinha nome ou alguma palavra que indicasse quem tinha feito o teste.
-E o que são essas barrinhas vermelhas? - ele perguntou, olhando os exames de cabeça para baixo.
A Flavia soltou um riso e eu também não me contive, ao notar que nem distinguir um teste de gravidez, o Lucas sabia.
-Isso quer dizer que a pessoa que fez esses testes, será mãe - expliquei.
O Lucas olhou para mim e depois para a Flavia.
-Eu vou ser tio? - ele perguntou.
Bati a mão na minha testa.
-Pelo amor de Deus, Lucas - a Flavia riu.
-Acho que é só desistir - brinquei.
-É o jeito - a Flavia ria.
O Lucas se levantou e deixou os testes em cima da mesa.
-Parem de graça - ele mandou sério.
A Flavia me olhou e eu apertei o seu ombro.
-Você vai ser pai, Lucas - eu anunciei.
Acho que ele ainda não tinha entendido, pois sua expressão ainda era um ponto de interrogação.
-Eu estou grávida, amor - a Flavia disse, com a mão na barriga.
Eu acho que o Lucas tinha entrado em um transe quando eu falei que ele seria pai, mas ao ouvir a voz da Flavia contando, parece que ele voltou a si.
-E-eu v-vou s-ser p-pai? - ele gaguejava.
Segurei o riso que quis sair, mas a vontade de rir sumiu quando o Lucas se ajoelhou novamente.
-Vou - a Flavia confirmou.
O Lucas mal podia acreditar, e eu não sabia se ele estava feliz ou muito surpreso para poder dizer alguma coisa.
-O que a gente vai fazer agora? - a Flavia perguntou, chorando.
O Lucas engoliu um seco e pude perceber que ele estava quase chorando também.
-Vamos criar nosso filho com muito amor e carinho.
-E nossos pais? - a Flavia perguntou.
O Lucas pegou as mãos da Flavia e entrelaçou com as suas.
-Eles vão ter que entender que vamos casar.
Se nem eu acreditava no que tinha ouvido, imagino a Flavia.
Eu não imaginava que o Lucas iria deixar a Flavia assumir toda a responsabilidade sozinha, mas ele me surpreendeu ao praticamente, obrigar a Flavia a se casar com ele.
A Flavia mal conseguia falar em meio ao choro.
-A gente vai casar? - ela perguntou.
-Se você aceitar, sim. E aí? Você quer casar comigo, para assim podermos construir nossa família?
Acabei me metendo na declaração do meu irmão.
-Lucas, você sabe que não precisa casar para construir uma família, né? - provoquei.
O Lucas me lançou um olhar de raiva, por eu ter me metido e ter estragando a sua declaração.
-Melissa - ele chamou minha atenção.
-Desculpe, desculpe - falei, erguendo as mãos em forma de defesa.
O Lucas voltou ao olhar para a Flavia.
-Quer?
Ela ainda estava meio atordoada com tudo aquilo, mas ela conseguiu encontrar sua voz e responder:
-Óbvio que quero - ela quase gritou.
O Lucas levantou e a Flavia ae jogou em seus braços. Os dois começaram a chorar, com direito a soluços e juras de amor.
Uma lágrima brotou nos meus olhos , e segurei a vontade de chorar vendo aquela cena tão fofa.
-Acho que estou sobrando aqui. Depois me liga, Fla - avisei, me retirando.
Ela fez um sinal de positivo com a mão e eu sai, deixando o casal sozinhos.
Eu não sabia o que eles iriam fazer, como iriam contar aos pais e como iriam se sustentar, mas eu e principalmente eles, sabíamos, que se eles tivessem um ao outro, nada mais importava.
Sai dali e fui direto ao hospital, o Gui já estava fazendo a fisioterapia, eu queria acompanhar tudo.
Ao chegar lá no hospital, fui direto ao seu quarto.
-Oi - cumprimentei, ao entrar no quarto.
-Oi - ele respondeu meio sem animação.
Imaginei que tinha sido por causa da fisioterapia, que ele estava daquele jeito, então apenas sentei ao seu lado.
-Como está indo o tratamento? - perguntei.
Ele olhou para as paredes brancas do quarto.
-Comecei hoje, foi bem complicado, mas o fisioterapeuta disse que logo eu volto a andar, com muito esforço, é claro - mais uma vez o Gui disse sem animação nenhuma.
Alguma coisa estava errada no Gui, eu o conhecia o suficiente para saber que nem tudo estava bem.
-Que ótimo! - comemorei.
O Gui só soltou um sorriso amarelo.
-Tenho que te contar uma coisa - falei.
-Pode falar.
Ele se sentou melhor na cama e parece que ficou mais atento ao ouvir o que eu tinha a dizer. Com certeza ele esperava que eu contasse outra coisa e não que a Flavia está grávida.
Percebi que o Gui nem ouvia o que eu dizia, as palavras entravam em um ouvido e saiam pelo outro.
-Guilherme, você nem está prestando atenção no que falo - reclamei.
Ele piscou e voltou a sua atenção para mim.
-Desculpa, estou meio viajando - admitiu.
-Percebi. O aconteceu ?
Eu queria saber o que tanto atormentava o Gui.
-Tá bom, eu vou falar.
Ele se sentou melhor na cama e eu me ajeitei na cadeira.
-Sou toda ouvidos.
Ele respirou fundo, como se falasse o que ele queria, fizesse que uma agulha penetrasse em sua pele e o furasse por todo o seu corpo.
-Quando você iria me contar que você e o Henrique se beijaram ? - o Gui perguntou sério.
Senti meu rosto queimando. Como ele sabia daquilo? Eu não conseguia esconder minha expressão de medo e raiva.
Sai da cadeira e virei de costas para ele.
-Quê? Está maluco?
Eu sabia que devia dizer a verdade, mas eu estava com medo do que o Guilherme pudesse fazer.
-O Henrique veio até aqui ontem, ele me contou do beijo, contou que você não quis ficar com ele, por eu estar assim. E também contou que está apaixonado por mim.
-Isso não é verdade - menti.
-Seja mulher e admita - o Gui quase gritou.
Eu não suportava que alguém gritasse comigo. Me virei para o Guilherme.
-Sim, eu e o Henrique se beijamos, mas ele que veio para cima de mim, eu me afastei, porque sou comprometida e não queria beijá-lo - eu disse irritada.
O Gui sentiu alguma coisa dentro de si ao ouvir de mim aquelas palavras.
-É por que não me contou?
-Porque não tinha necessidade. Foi um erro, que peço mil desculpas. Eu não queria que isso tivesse acontecido, mas agora esquece isso - falei, me aproximando dele.
Quando minha mão estava quase alcançando a mão do Gui, ele a puxou para perto de si mesmo.
Aquilo foi como enfiar uma agulha no meu peito.
-Você tem noção do quanto foi ruim acordar de um coma, saber que o meu melhor amigo e minha namorada se beijaram? - ele disse, com os olhos marejados.
-Já pedi desculpas.
-Você sente algo pelo Henrique? - o Gui perguntou.
Como responder o que nem eu sabia? Aquela era uma pergunta que eu não estava preparada para responder, principalmente para o Gui.
-Não. Eu não sinto nada por ele, talvez me senti carente por você não estar aqui comigo, atração, sei lá. Só sei que eu amo você - eu disse com firmeza.
Aquelas palavras pareciam que não surgido feito nenhum efeito sobre o Gui.
-Sente tudo por mim, inclusive pena - o Gui murmurou.
-Pena? - repeti.
Eu não estava com ele por pena.
-O Henrique disse que você só não ficou com ele porque eu estou assim, ou seja, você está com pena de mim e por isso não fica com o Henrique.
Notei uma certa dor na voz do Gui conforme ele ia falando.
Eu não queria que aquilo tivesse se tornado aquela bola de neve gigante, que vinha em minha direção.
Eu não tinha feito nada que desse a entender que eu só estava com pena do Gui.
-Eu não estou com você por pena, eu te amo, Guilherme - gritei.
-Se me amasse mesmo, você não teria beijado o Henrique.
Que droga!
Parecia que todo o mundo queria jogar na minha cara, as burradas que eu tinha feito aqueles últimas semanas. Ouvir o Guilherme falando tudo aquilo com dor, me deixou mais mal ainda.
-Eu já disse que foi ele quem me beijou e eu reagi no impulso, me separei assim que vi que não tinha nada certo naquilo.
O Guilherme respirou fundo, não engolindo tudo o que eu dizia.
-Você me traiu quando eu mais precisei de você - ele disse, com os olhos marejados.
Me aproximei dele.
-Pelo amor de Deus, aquele beijo não significou nada pra mim. Eu vim aqui todos os dias te ver.
-Não adiantava vir me ver, se o pensamento estava em outra pessoa - ele resmungou.
O Gui não estava só com ciúmes, ele estava magoado por toda aquela situação e eu era a culpada de tudo.
-Eu só pensava em você, eu nunca dei esperanças pro Henrique, pois nunca quis ficar com alguém além de você. Desculpa, desculpa. Eu te amo, agora, por favor, vamos esquecer isso? - pedi.
Quando consegui pegar em sua mão, o Guilherme fez menção de tirá-la, mas eu a apertei mais ainda contra a minha.
-Não dá de esquecer, não foi fácil acordar de um coma, descobrir que está paraplégico e saber que sua namorada se sente atraída por outro homem - o Guilherme disse.
Eu quase chorei ao ouvir o Guilherme falando aquilo. Respirei fundo antes de responder:
-E você acha que foi fácil para mim passar por tudo sem você ? Pois não foi fácil te ver sem se mexer por quase oito meses, não ter você para me dar sua mão quando precisei de apoio, não foi fácil manter a esperança que você ficaria bem, sendo que todos falavam que você iria morrer, incluindo seu amigo. Não foi fácil não me entregar ao Henrique, não porque gosto dele, e sim porque eu estava carente e só queria alguém comigo, mas eu queria você. Eu me mantive forte todo esse tempo, por você - gritei, já chorando.
Me afastei do Guilherme, secando as lágrimas que rolavam pelo meu rosto. Aguentar tudo aquilo, não foi mesmo fácil.
O Guilherme secou uma lágrima que caiu de seus olhos.
-Eu sei que não foi fácil para você, eu me coloco no seu lugar e peço que se coloque no meu também - ele pediu, com a voz calma.
Me acalmei um pouco.
-Eu sei que isso tudo não está fácil para você, eu sei e estou ao seu lado.
-Não quero você ao meu lado por pena.
Bufei.
-Eu te amo, não é pena.
-Tá bom então - o Guilherme concordou, mesmo que no fundo, ele não tivesse acreditado.
Me aproximei novamente dele, me sentando na cadeira ao seu lado.
-Mas ainda sim, eu quero um tempo - ele disse.
Ouvir aquelas palavras sair da boca do Guilherme com tanta calma, me deixou pasma.
Ouvir aquilo me deu vontade de arrancar todos os meus cabelos, de sair correndo ou de me jogar pela janela, só pra ver se eu acordava daquele pesadelo.
Mas percebi que não era pesadelo, pois uma dor dentro do meu peito foi crescendo e de repente eu já lutava contra as lágrimas, para poder olhar para o rosto do Guilherme.
**
Capítulo triste, porém necessário. Votem e comentem. ❤
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