Capítulo 26
Sabe quando acontece algo muito, muito bom em sua vida, que você chega a se perguntar o porquê de tanta coisa boa, chega a querer se beliscar para ver se tudo não é um sonho? Era exatamente o que eu sentia quando vi o Guilherme acordado.
Fiquei esperando minha mãe, o Lucas ou eu mesma me acordar por contra própria, mas, felizmente, isso não aconteceu. Tudo estava acontecendo mesmo.
Agora eu sei o porquê daquele negócio de luz no fim do túnel, querer dizer que mesmo quando a gente acha que tudo está perdido, que não tem solução nenhuma, o mundo gira e de repente, tudo da certo.
Até parece brincadeira, mágica ou qualquer outra coisa, mas uma hora ou outra, por mais que pareça tudo impossível, tudo dá certo. Cliché tudo isso, eu sei, mas quando a gente está feliz, é meio difícil não pensar em coisas óbvias.
A mão do Guilherme apertava fortemente a minha, enquanto eu ainda estava me acostumando com a idéia que, finalmente, tudo estava bem, como eu sempre quis.
-Henrique, chame um médico - pedi, sem parar de olhar para o Guilherme.
Senti o Henrique se afastando, assim que ouvi a porta se fechando, suspirei e soltei a mão do Gui.
-Meu Deus, não pode ser verdade - falei, analisando seu rosto com as mãos.
-Que eu estou vivo? Pois é, eu estou - o Gui disse, com a voz fraca.
Ele sorriu. Naquele momento, que vi aquele sorriso, mesmo em meio a fraqueza, tinha surgido, não me segurei e me joguei em seus braços.
-Eu senti tanto a sua falta, meu amor - sussurrei em seu ouvido.
Senti seus braços passando em volta da minha cintura. Ele me apertou contra seu corpo, até que eu me separei e o beijei com toda a saudade que tinha dentro de mim.
O beijo do Gui permanecia igual. Senti aqueles lábios nos meus, e nunca, em toda minha vida, eu fiquei tão feliz de poder ter beijado o Guilherme.
Me separei dele e me sentei na cadeira, segurando sua mão.
-Agora me conte o que aconteceu? - o Gui perguntou.
-Você não lembra?
Será que a batida tinha afetado alguma parte de seu cérebro e ele não lembrava se nada? Bom, pelo menos de mim ele lembrava, me chamou até se Lissa.
-A gente sofreu um acidente... - ele lembrou.
-E o que mais? - pressionei.
Ele franziu a testa, como se estivesse procurando inutilmente uma meia no meio da bagunça que era seu guarda-roupa.
Ele soltou o ar.
-Mais nada. Lembro de tudo, mas a partir do acidente, não lembro de mais nada.
Apertei mais forte a sua mão.
-Você está em coma desde o acidente - contei.
A expressão dele mudou, ele não esperava aquilo.
-Quanto tempo eu fiquei em coma? - perguntou ele.
-Sete meses, quase oito - contei.
Sua boca se abriu e ele quase chorou.
-Eu praticamente, nasci de novo - ele murmurou.
-Foi um milagre - concordei.
-E então, o que você tem para lê contar?
Me ajeitei na cadeira, me preparando para contar tudo o que tinha acontecido desde o dia daquele do acidente, mas não pude nem falar a primeira palavra que planejei, pois porta se abriu e o médico entrou.
-Meu Deus, é um milagre - ele disse, com as mãos no rosto.
Ele se aproximou do Gui, ainda não acreditando no que via. Eu há estava chorando, o Gui sorria para o médico e o Henrique estava perto da porta.
-Preciso avisar a sua mãe - lembrei ao Gui.
-Eu já liguei. Ela já está vindo - o Henrique respondeu.
Não olhei para seu rosto. Eu não tinha vontade, condições ou qualquer outra coisa que fosse necessária para olhar para a cara dele.
O médico fez umas perguntas para o Gui, como se ele se lembrava de tudo o que tinha acontecido até o dia do acidente, se ele sentia dor, essas coisas.
O Gui disse que apenas estava fraco, mas não pode dizer mais do que isso, pois alguém enfurecido entrou quarto a dentro.
-Guilherme - alguém já chamava lá de fora do quarto.
Indentifiquei a voz antes que a dona dela chegasse até o quarto.
A Clarisse parou na porta, tomando ar, assim como todos, ela nem acreditou quando viu o Guilherme sentado sobre a cama e com os olhos bem abertos.
-Aí meu Deus - ela suspirou.
Pensei que a Clarisse fosse desmaiar, mas ela correu até o Guilherme e se jogou em cima dele, ele reclamou com a batida doa corpos, mas logo já estava abraçando a Clarisse, que chorava sem parar.
-Eu sabia que você ficaria bem, eu sabia - ela sussurrou, pegando o rosto do Gui entre as mãos e o enchendo de beijos.
Ela o abraçou novamente.
-Precisamos fazer alguns exames - o médico anunciou.
-Claro, claro. Estaremos aqui quando você voltar, filho.
O Gui sorriu e pouco depois foi levado para longe de nós.
-Nem dá de acreditar nisso - a Clarissa suspirou.
-Pois é, mas graças a Deus, deu tudo certo - respondi.
A Clarisse carrega um sorriso no rosto tão cheio de paz. Era até bonito de ver.
-Eu preciso avisar a Raquel - a Clarisse lembrou.
-Vai lá, eu fico aqui esperando o Gui.
-Tá bom. Já volto, querida.
Ela saiu rápido e tombou com o Henrique, que entrava no quarto. Ela riu e saiu correndo, pelo jeito queria ir rápido para voltar rápido.
O Henrique se aproximou de mim, assim que a porta do quarto foi fechada. Eu não queria conversar com ele, eu sabia o que ele queria.
-Agora que o Guilherme acordou, muita coisa muda - ele começou.
Permaneci no meu lugar, sem dar um passo.
-Não muito - discordei.
-Agora que ele acordou, você fica comigo - ele disse, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
Eu não queria iludir ninguém, muito menos magoar, mas eu precisava ser bem clara com o Henrique.
-Que? Eu nenhum momento eu disse que ficaria contigo caso o Guilherme acordasse - disse eu, me movimentando pelo quarto.
-Tudo muda agora. Ele acordou, você não tem mais a obrigação de ficar com ele.
-Ele acabou de sair de uma coma. Não posso dar as costas para ele assim. Ele ainda precisa de mim - expliquei.
O Henrique passou as mãos no rosto, como se estivesse se segurando para não explodir.
-Não precisa, você não precisa mais ficar com ele. Só se você quiser.
-Eu devo e eu vou ficar com o Guilherme, porque eu devo, porque ele precisa de mim e porque eu quero. Entenda - Gritei.
Na medida que eu ia falando, que o Henrique ia absorvendo as minhas palavras, os olhos dele foram ficando marejados.
-Então, você escolhe ele? - ele perguntou com a voz trêmula.
Não tinha como escolher. Sempre tinha sido o Guilherme. Até imaginei que o Henrique estava certo, que ele só tinha vindo para bagunçar minha vida, mas não. Uma pessoa não entra na sua vida em vão, sempre vem com um propósito. Eu só não conseguia achar o motivo de o Henrique ter surgido na minha vida.
-Não tem como escolher um de vocês dois, o Guilherme é meu namorado - eu disse, com a voz um pouco mais calma.
Eu estava meio afastada do Henrique, mas podia jurar que vi uma lágrima rolar pelo seu rosto. Ele era muito emotivo ou eu era, definitivamente, muito importante para ele. Não é muito normal os homens chorar, ainda mais por causa de mulheres. É sempre nós mulheres que se debruçam em lágrimas por qualquer motivo besta.
-Tudo bem - ele resmungou, com a voz ainda mais trêmula.
-Henrique, eu não posso deixar o Guilherme - expliquei.
Ele limpou a garganta.
-Você não pode ou não quer?
-Eu não quero.
-Tudo bem, entendo. Só posso te fazer uma pergunta?
-Faça - conceti.
-Você sente alguma coisa por mim? - ele perguntou, se aproximando.
Senti o ar sumir. Respirei fundo, antes que eu passasse mal.
-Não sei. Acho que sim, mas... - travei.
Eu não sabia o que sentia pelo Henrique. Atração? Paixão? Amor? Eu simplesmente não sabia achar uma resposta para aquela pergunta que martelava na minha cabeça.
-Mas não é tão forte o suficiente para você me escolher? - o Henrique completou.
-É - ele tinha entendido.
Só faltava eu entender.
-Melissa...
Virei de costas para ele e me apoie nas grades da cama que o Guilherme ficou sem se mexer durante quase oito meses.
-Melhor você ir embora. Me esquece e a gente vive a nossa vida como se nada tivesse acontecido - sugeri.
Eu não queria aquilo. Eu ainda queria ver os olhos do Henrique me olhando, queria sentir o perfume dele mesmo ele a metros longe de mim, queria conversar com ele, até brigar. Eu só queria a companhia dele. E o motivo de eu querer, eu não sabia dizer qual era.
-É isso mesmo que você quer? - ele perguntou.
Quis olhar eles nos olhos e gritar que não, mas o certo era eu ficar com o Guilherme, dando apoio e seja lá o que fosse o que eu sentia pelo Henrique, eu tinha que matar dentro de mim, como se nada tivesse brotado ali. Era o certo a ser feito.
Senti meus olhos começarem a marejar.
-É o melhor a ser feito - respondi.
O Henrique se aproximou e de repente, ele me puxou pelo braço, fazendo com que nossos rostos ficassem super perto e deixando nossos corpos colados um ao outro. Mal consegui respirar.
-É isso o que você quer ? - ele repetiu a pergunta.
Ele sabia que não. Ele estava me pressionando até eu dizer que não, que eu não queria me afastar dele.
Com um pouco de esforço, consegui me livrar das mãos dele que seguravam meu braço. Me afastei dele.
-Eu não sei, tá? - gritei, com o choro pedindo para sair.
Me virei novamente.
-Vou te dar um tempo - ele disse.
Quase virei para vê-lo, mas não virei. Eu não queria mudar de ideia. Me afastar era a melhor solução. O Guilherme precisava de mim.
-Tempo? - perguntei.
-Isso. Espere o Gui melhorar, veja o que você realmente quer. Não tome decisões precipitadas. Eu te espero. Só não mate o que você sente por mim.
Senti meu coração se apertando dentro do meu peito.
-Tá - murmurei, incapaz de falar mais do que aquilo.
-Eu vou te esperar. Se mudar de idéia, me ligue.
Obriguei a minha boca a falar.
-Eu não vou mudar de idéia - me vi falando.
Eu só estava piorando as coisas.
-Tudo pode acontecer. Se não der certo com o Gui, vou estar aqui - ele disse.
Senti uma lágrima pender no canto do meu olho. Respirei fundo, com a intenção de não deixá-la cair.
-Você aceitaria ser segunda opção? - perguntei, olhando um pouco por cima do meu ombro.
O Henrique suspirou, como se eu já estivesse cansada de saber daquilo.
-Até décima primeira opção. Se você perceber que gosta de mim, se não der certo com o Gui, me procura. Ele precisa de você agora, eu estava sendo egoísta. Um tempo ja resolve tudo, não é?
-É o que dizem - concordei.
Senti o Henrique se aproximando de mim, sem graça e em passos curtos.
-Te esperarei - ele prometeu.
Aquilo era cliché, aquilo era cafona, era romântico. Tudo aquilo, a minha história toda era. Mas eu tinha aprendido a gostar do que é cliché, do que é cafona e principalmente, aprendi a gostar do que é romântico. Aliás, toda história tem um pouco disso.
Senti sua mão se aproximar e querer pegar a minha, por mais que eu quisesse sentir o seu toque, puxei a minha mão antes que ele pudesse a tocar.
Ele suspirou.
-Tudo bem. Eu vou te respeitar.
Pelo menos isso.
-É melhor você ir embora - sugeri, mesmo não querendo que ele fosse.
-É melhor mesmo. Não esqueça de tudo o que falei.
Fiz que sim com a cabeça.
Senti ele se afastando, pegando alguma coisa e me olhando, antes de sair e fechar a porta com cuidado.
Assim que ouvi a porta se fechando, deixei toda as lágrimas saírem. Me apoiei na grade da cama.
Eu precisava de alguém ali comigo, era tanta coisa. Eu jurava que o Gui não sairia dessa e ele saiu, mas é o que o Henrique disse: agora muita coisa muda.
Eu não sabia o que faria, o que diria, quando visse o Gui na minha frente. Eu sentia que o tinha traído, por ter deixado um sentimento, que eu nem sabia o que era, crescer dentro de mim e não era para ele. Eu me sentia suja.
Alguém precisava me dizer que sim, tudo ia ficar bem, dizer que eu conseguiria não gostar do Henrique e focar no Gui, mas não tinha ninguém ali comigo. Eu estava sozinha. Eu precisava de um colo, de um abraço, de alguém. O Gui já não servia, pois ele também estava precisando de ajuda. Ele precisava de alguém, assim como eu.
Eu tinha feito a coisa certa, tinha escolhido ficar com o Gui, que precisava de mim, do que ficar com alguém que eu nem sabia direito o que eu sentia, mas por que eu me sentia que tinha feito a coisa errada? Eu fiz o Henrique chorar, aquilo não era a coisa certa, era?
Não dava mais aquilo. Me sentei na cadeira de plástico e ali, chorei tudo o que eu precisava, não que chorar ajudasse, mas já aliviava.
Eu precisava de alguém, o Guilherme precisava de alguém. Ali, na hora do choro, decidi que eu me apoiaria no Gui e eu seria o apoio dele. Sempre tinha sido daquele jeito, e daquele jeito sempre seria.
O que eu sentia pelo Henrique, naquele momento não importava. A pessoa que eu amava e que me amava, estava precisando de mim, estava passando por um momento difícil. Resolvi esquecer tudo, pelo menos por um tempo, e focar no Guilherme, na recuperação dele, apenas dele. Ele precisava de alguém do seu lado e essa pessoa seria eu.
Depois eu ele ficasse recuperado, se o que sentisse pelo Henrique não tivesse desaparecido, eu tomaria uma atitude. Arrumaria tudo em pratos limpos. Só questão de tempo. Aquele era o plano.
Eu odiava fazer planos, nunca dava certo. Tudo saia de um jeito que a gente não prévia. Tudo tomava outro rumo e nada do plano, tinha resolvido, de fato, alguma coisa.
Eu estava tão cansada, fazia tempo que eu não dormia bem, chorei tanto, pensei tanto, que acabei pegando no sono ali mesmo.
Acordei com uma mão no me ombro, me chacoalhando e chamando meu nome. Acordei de um salto.
-Desculpa te acordar - a Clarisse se desculpou.
A Raquel estava com ela.
Sentei direito na cadeira e percebi que o céu estava escuro, cheio de pontinhos brancos.
-Eu só estava cochilando. Nossa, já é noite
-É noite, sim. É melhor você ir para casa descansar - ela sugeriu.
Eu não podia deixar o Gui. Eu tinha que ver que ele voltaria bem para o quarto.
-Não, eu preciso ver o Gui. Eu vou esperá-lo aqui.
-Deram medicamentos para ele dormir, devido aos exames. Ele vai voltar para cá e você nem vai poder falar com ele. Vá para casa.
Pensei por um momento.
-Tá bom, eu vou. Quando ele acordar me ligue.
A Clarisse assentiu, se despedimos ali e eu, naquelas condições precárias, fui para casa.
Assim que arrumei os pés no meu prédio, mandei uma mensagem para a Bina pedindo para ela ir lá para casa.
Respirei fundo e limpei o rosto, antes de abrir a porta de casa e entrar.
Fechei a porta e quando me virei, estavam todos na mesa, minha mãe estava arrumando um prato de marcarrão na mesa, ela foi a primeira a dizer:
-Onde você estava até essa hora? - ela perguntou.
Me aproximei, já quase chorando, por finalmente poder dizer que o Guilherme estava bem.
-Aconteceu umas coisas.
-Que coisas? - meu pai perguntou.
O Lucas olhou bem para minha cara e viu que eu tinha passado a tarde toda chorando. Ele sempre sabia de tudo.
-O que aconteceu, Melissa? Você estava chorando - ele disse.
Os olhos do meu pai e da minha mãe caíram sobre mim, bem a tempo de uma lágrima que não deu de segurar, rolar pelo meu rosto.
-O que aconteceu, Melissa? - minha mãe repetiu a pergunta.
O Maurício, como sempre faz, se meteu na nossa conversa.
-O namorado vegetal não acordou ainda? Desligaram os aparelhos dele? - ele perguntou, sorrindo.
A minha vontade foi de dar um tapa naquele rosto cínico e tirar aquele sorriso irônico dps lábios dele, mas mesmo toda aquela confusão de sentimentos dentro de mim, eu estava feliz. O Gui estava bem, eu não podia estar triste já que tudo o que mais pedi, tinha finalmente, acontecido.
-Não foi isso, Maurício - respondi e o sorriso dele foi sumindo aos poucos.
Minha mãe arrumou o macarrão na mesa, e focou em mim, com os braços na cintura. Ela queria uma resposta.
-Melissa,o que houve? Por que você está chorando? - ela começou.
Deixei um soluço escapar.
Já sabendo que eu iria levar uma bronca por não dizer o que era o motivo das minhas lágrimas, me adiantei logo em dizer.
-O Gui, mãe. O Guilherme acordou - contei, sorrindo e chorando.
Pelo canto do olho, vi o copo que o Maurício segurava ser derrubado, e ser quebrado em vários pedacinhos quando se chocou contra o chão.
-Maurício - meu pai chamou a atenção dele.
-Você está brincando, né? - o Lucas perguntou.
-Não. O Guilherme acordou.
Minha mãe veio em minha direção e me abraçou forte.
-Graças a Deus - ela sussurrou no meu ouvido.
-Os médicos disseram que foi um milagre.
Minha mãe concordou com a cabeça. Ela me largou e foi pegar a vassoura na cozinha, para limpar a bagunça que o Maurício tinha feito.
-Sente, Melissa, você está pálida, coma alguma coisa - meu pai mandou.
-Estou sem fome, vou para meu quarto.
Antes que eles me obrigassem a sentar e me empurrarassem comida goela abaixo, fui para o meu quarto.
Peguei a foto minha e do Gui no criado-mudo. Apertei ela contra o peito.
-Eu não vou te abandonar. Eu não posso, não devo e não vou - sussurrei.
Arrumei a foto de volta no lugar e me joguei na minha cama, esperando a Bina chegar.
Acabei cochilando um pouco, só despertei quando ouvi a voz da Bina na sala.
Logo vi a porta do quarto se abrindo e a Bina entrando com uma caixa de pizza na mão.
Me levantei, tirei a caixa das mãos dela e a abracei forte.
-Tudo isso é saudade? - ela perguntou rindo.
Ela me abraçou forte de volta.
-O que aconteceu? - ela foi logo perguntando, nos separando.
-O Guilherme acordou - contei, sorrindo.
Ela arregalou os olhos.
-Não brinca - ela disse.
-Não estou brincando.
-Aí meu Deus - ela quase gritou.
Ela me tomou em seus braços e me abraçou forte. Ficamos ali, abraçadas, rindo e chorando por uns bons quatro minutos.
-Espera aí, agora muita coisa muda - ela disse, se separando de mim e sentando na cama.
-O Henrique disse a mesma coisa - contei, me sentando do seu lado.
-Conta tudo - A bina pediu, abrindo a caixa de pizza e pegando um pedaço.
Peguei um pedaço da pizza de calabresa e então contei. Eu contei desde do beijo,desde a nossa última conversa, contei como estava me sentindo confusa, suja e uma péssima namorada.
-Você acha que o que sente pelo Henrique é amor? - ela perguntou quando terminei de contar tudo.
Me ajeitei na cama. Estávamos sentanda uma ao lado da outra, a caixa de pizza quase vazia, no meio de nós.
Olhei para a parede a nossa frente.
-Acho que não. Quando é amor da certo, não dói. O que sinto pelo Henrique dói, pois eu sei que não podia sentir nada por ele.
-Mas isso não é culpa sua, o Henrique não está te machucando, é a situação.
Peguei mais um pedaço de pizza.
-Eu sei, mas o que eu sinto pelo Guilherme, que eu sei que é amor, é bom de sentir. Eu fico sorrindo a toa quando lembro dele, quando lembro que eu o amo - expliquei.
-Então, você ama o Gui e sente alguma coisa pelo Henrique? - a Bina perguntou, tentando entender.
-Isso. Mas como eu vou ficar com o Gui, sendo que eu sinto alguma coisa por outra pessoa?
Uma batida na porta do quarto, interrompeu a nossa conversa.
-Entra - mandei.
A porta foi aberta e minha mãe arrumou a cabeça na fresta da porta.
-Está tudo bem aqui? - ela perguntou.
-Está - respondi.
-Estamos indo dormir. Vai dormir aqui, Bina?
Respondi por ela.
-Ela vai.
-Tudo bem, não vão dormir tarde. Boa noite.
-Boa noite - eu e a Bina respondemos juntas.
Minha mãe fechou a porta do quarto e se afastou.
-Não é melhor você dar um tempo com o Gui então? Pelo menos até você ajeitar tudo e ver de quem você realmente gosta - a Bina sugeriu.
Me levantei da cama e fui até o meu guarda-roupa.
-Ele precisa de mim, Bina. Não posso deixá-lo num momento desses - respondi, procurando um pijama naquela bagunça que era meu guarda-roupa.
-E se ele quiser der um tempo?
-Por que ele faria isso? - achei o pijama que a Bina sempre usava quando dormia ali em casa, peguei e joguei para ela.
-Sei lá. Por estar confuso, por ter acabado de acordar de um coma. É complicado para ele também - ela explicou, tirando sua calça jeans.
-Ele só vai fazer isso se tiver um bom motivo - falei, procurando o meu pijama.
-Tipo descobrir de você e do Henrique? - a Bina disse, tirando a sua camiseta.
-Você diz como se eu e o Henrique tivéssemos um caso. Ele não vai descobrir, até porque não tem o que descobrir.
Achei meu pijama, tirei a minha calça jeans, enquanto a Bina vestia o seu pijama.
-Tudo pode acontecer - a Bina lembrou.
-Não isso - discordei, tirando a minha camisa.
-Você sabe que não pode controlar uma coisa dessas.
A Bina dobrou sua roupa e a colocou em cima do criado-mudo. Terminei de me vestir e deitei ao seu lado na cama de casal.
-Eu sei, Bina.
-E o que você vai fazer? Vai ficar com o Gui até ele se recuperar, depois se ainda sentir alguma coisa pelo Henrique, vai dar um tempo com o Gui e arumar tudo em ordem?
-É esse o plano - admiti.
A Bina riu.
-Você devia arrumar tudo em ordem agora, para não te dar dor de cabeça lá na frente.
Eu sabia daquilo, mas o que eu iria fazer? O Guilherme precisava de mim.
-O que você sugere? - perguntei, pegando o penúltimo pedaço de pizza.
-Que você dê um tempo no teu relacionamento com o Guilherme, pense, veja o que sente por cada um dos elementos envolvidos e decida com quem vai ficar.
Como se fosse a coisa mais simples do mundo.
-O Guilherme acabou de sair de um coma, eu tenho coração. Eu não vou fazer isso, não agora.
-Fazer isso depois será pior - a Bina deu de ombros, pegando o último pedaço de pizza.
Peguei a caixa vazia da pizza e a coloquei no chão.
-Talvez eu nem tenha que fazer isso. Só eu me acostumar com o Gui bem de novo, que esqueço o que sinto pelo Henrique. Ninguém vai sofrer desse jeito.
-O Henrique vai, pois ele está te esperando.
Eu não queria fazer ninguém sofrer, mas pelo jeito, a mais que iria sofrer seria eu.
-Eu já disse para ele que não vou ficar com ele, não com o Gui ainda assim.
-Você sabe que pode ficar do lado do Guilherme, mesmo vocês com um tempo, não sabe?
-Eu sei, mas ficaria estranho - admiti.
A Bina terminou seu último pedaço de pizza, assim como eu. Se levantamos e fomos escovar os dentes.
-Eu já sei porque você não quer deixar o Gui - a Bina disse.
Peguei a pasta de dente e arrumei na minha escova.
-Porque eu amo ele e porque ele precisa de mim - respondi, ante de colocar a escova com o creme dental na minha boca.
-Porque você quer mentir para mim, para o Henrique, para você mesma, que você sente sim, alguma coisa pelo Henrique - a Bina disse, pegando a sua escova de dentes, que ficava ali em casa.
Terminei de escovar os meus dentes e enxaguei a minha boca.
-Eu já admiti, para você, para Henrique, para mim mesma que sinto algo por ele. Só que eu não quero sentir nada por ele, pois sei que é errado. Por isso vou ficar com o Gui e tentar esquecer o Henrique, se não der certo, eu vejo o que eu faço.
A Bina terminou de escovar os dentes e secou seu rosto. Voltemos pro meu quarto.
-Isso não vai dar certo. Alguém vai sair muito machucado nessa história.
-Se tudo der certo, como eu estou pensando e se você não jogar praga, ninguém vai sair machucado - falei, deitando na minha cama.
-Não estou jogando praga. Você e eu, sabemos que não vai dar certo isso de usar um para esquecer o outro.
A Bina deitou do meu lado.
-Não vou usar ninguém. Isso tem que funcionar, eu vou esquecer o Henrique na marra. O Guilherme precisa de mim.
Antes que a Bina respondesse alguma coisa, eu já estava me entregando ao sono.
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