Surpresa de Aniversário
Surpresa de Aniversário
Eu estava me esforçando, de verdade. Eu queria que todos viessem à minha festa de aniversário. Seria a primeira confraternização real que eu iria depois dessa pandemia, e agora com ela um pouco mais relaxada, eu saí por aí (virtualmente) entregando vários convites.
Comprei refrigerantes, pizzas, salgados e tudo que há de bom. Tinha até bebida alcóolica, o que estressou um pouco meus pais. Mas tudo bem, tudo sairia perfeito. Convidaria minha namorada, meus melhores amigos virtuais (os que moram perto), amigos do fundamental, ensino médio e da faculdade. Todos eles mereciam vir.
Quando fui dormir na véspera, estava explodindo de alegria, já pensando em como eu iria organizar tudo amanhã. E quando o amanhã veio, acordei cedo e já comecei a arrumação.
Convidados começaram a chegar ao final da tarde, e saudavam meus pais e me davam presentes. Vi minha namorada junto a amigos, e vi amigos que não via há um bom tempo— Pelo menos uns dois anos inteiros— chegarem e me darem um belo abraço.
E então, vi ela. Minha melhor amiga de longuíssima data. Vestida com roupas que eu havia me acostumado a ver em nossa época de ensino médio... mas... por algum motivo, eu não a via há muito tempo, muito mais tempo do que qualquer um ali.
— O que houve contigo, Sin? — perguntei a ela — Acho que eu não tenho notícias suas há um bom tempo, como cê tá? Alguém te trouxe junto pra cá?
— Uhum. — ela respondeu, breve.
Para ser sincero, eu não a vi chegar com ninguém, será que ela está sozinha? Essa trouxa, mentindo pra mim.
Comecei a apresentar ela para as pessoas, mas ninguém ali a reconheceu. Até pessoas que eu tinha certeza que já me viram com ela, ou que conviveram brevemente com ela.
— Nossa, tu mudou mesmo — eu disse, rindo.
Ela me perguntou sobre a vida, a vida na pandemia, sobre minha faculdade e sobre tudo mais. Eu até mostrei minha namorada pra ela, e ela reagiu como uma mãezona que acabou de conhecer o melhor amigo do filho. Esse era o jeito dela...
— Ei, você quase não falou nada de você — eu a olhei, em um momento em que estávamos só nós dois, um ao lado do outro sentados em cadeiras e olhando para a bagunça de amigos que nos rodeavam — Na verdade, você não falou nada de você mesmo.
— Desculpa, Lu, não tenho muito o que dizer... Não posso dizer nada — eu a olhei de novo, mas dessa vez, a ficha começou a cair — Você sabe, eu me esforcei bastante pra poder vir aqui.
— Eu sei — meus olhos começaram a lacrimejar.
— Eu não acredito que essa pandemia ainda não acabou — ela comentou, suspirando — Você tem se cuidado? — eu apenas acenei que sim com a cabeça — E, sua namorada parece incrível, cuida dela que nem você cuidou de mim, ouviu?
— Mas, Sin... — eu segurei a mão dela — Já tem que ir embora? Fica mais um pouco, por favor... — as lágrimas começaram a cair, e o meu peito começou a apertar muito.
— Eu não posso Lu, de verdade.
Ouvir isso foi como uma bomba, eu sabia agora o porquê que ela tinha que ir embora, mas eu não queria aceitar, não queria aceitar que...
— Isso é só um sonho, né?
— Uhum — ela acenou que sim.
Minha amiga de tantos, tantos anos, que havia morrido há quase um ano, veio à minha festa de aniversário mais querida. Ela marcou presença, indiretamente.
— Obrigado por ter vindo... — eu a abracei forte, mas ela se afastou logo. Ela não era de abraços, mesmo — De verdade, obrigado por ter vindo.
— Deixa de ser bobo. — ela sorriu, e depois, pude ver seus olhos se fechando lentamente — Tenho que ir agora, se cuida.
— Sim...
Meu peito estava doendo, de felicidade, tristeza, alegria e angústia, enquanto ela apenas saia pela porta.
Essa com certeza foi a melhor surpresa de aniversário que eu já tive.
Me encolhi, com a mão no peito. E então, acordei.
*****
Este foi um sonho que tive hoje mesmo. E não consegui processar o que aconteceu nele até que eu escrevesse tudo o que eu lembrava.
Não sei se acreditam, eu também não acreditaria. Mas senti ela, senti o quanto ela havia se esforçado para chegar ali, e o quanto eu estava feliz, mas triste, de vê-la ali.
E agora são 13h25, tenho que tomar café da manhã.
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