Jimin

Eu não imaginei que apenas caminhar na rua daria tanto trabalho. Eu estava distraído, como normalmente fico, e não percebi quando Elkie e suas amigas se aproximaram de mim, e quando vi, elas já estavam perto o suficiente para que eu não pudesse continuar meu caminho, fingindo que não as tinha visto.

É claro que, mais uma vez, tudo o que elas queriam era me atazanar. Elas sabem meus pontos fracos, mas também continuam insistindo em algo que não me atinge: a falta de um alfa.

Confesso que, quando sugeriram que eu fosse um beta, eu realmente pensei na possibilidade, já que as características em relação aos ômegas tinham menos intensidade em mim.

Eu pensei que seria como das outras vezes, que elas viriam, falariam um monte, e depois iriam embora, deixando apenas um sentimento de insuficiência em mim.

No entanto, eu nunca imaginei que alguém chegaria para tentar me ajudar, ou sei lá para que mais.

Ele era desconhecido, com exceção do cheiro que senti assim que o vento passou por nós, quando notei sua presença. Era o cheiro do meu sonho, esse que antes eu não sabia reconhecer, mas que agora conseguia sentir tão claramente: Laranja, com terra molhada e mirtilo. Esse é o cheiro que eu senti, o cheiro de um Alfa Lúpus Supremo. E, inesperadamente, o outro aroma incomum que senti, agora, reconheço bem como sendo o de alcaçuz, é o meu próprio cheiro, que agora, está muito mais forte que o normal.

O que eu sentia naquele momento era forte e intenso. Se alastrava rapidamente, percorrendo todo meu corpo. Era como se alguém tivesse colocado gasolina e ateado fogo. Eu sentia a presença de meu lobo, muitas vezes mais forte que o normal, e não aguentei senti-lo com toda a intensidade, e quando percebi, já não estava mais consciente.

É como se eu estivesse em outro sonho.

São os mesmos lobos do último sonho que tive, mas dessa vez, não estão correndo. Eles estão parados, um olhando para o outro, e sinto como se já se conhecessem a muito tempo.

Depois do que pareceram horas, eles finalmente se movimentam, encostando os focinhos e fechando os olhos. Estavam bem, e pareciam felizes juntos.

Eu acordei em um lugar totalmente desconhecido por mim (soube disso pelo cheiro do ambiente), sentindo um pano úmido em minha testa. Ainda sem abrir os olhos, eu sentia o cheiro de chocolate, misturado ao de laranja, terra molhada e mirtilo. Eu sabia quem era uma das pessoas que estavam ali, mas não sabia da outra.

Ao abrir os olhos, eu tentei procurar as pessoas que estavam ali, vi um garoto conversando com o alfa que vi na praça, e que, claramente, teve algum efeito em mim.

Eu sabia o que tinha acontecido lá, e sabia quem ele era, mas ainda tinha uma mínima esperança de que não fosse exatamente isso.

— O que aconteceu? — eu perguntei, chamando a atenção dos dois presentes ali.

— Você desmaiou — o alfa disse de forma óbvia, mas não posso reclamar, já que perguntei o óbvio também.

— Onde eu estou?

— Em minha casa. Mas fique tranquilo, está tudo bem.

Ele é um lúpus, e aparentemente, ainda não se tornou um supremo. Mas isso vai acontecer, é claro que vai.

Eu me sentei sobre a cama onde estava deitado, me encolhendo minimamente. Eu realmente tinha um pouco de medo dos Supremos, e ele percebeu isso, tendo em conta que franziu o cenho com o que eu fiz.

— Como você está? Eu me chamo Taehyung, e posso te ajudar no que precisar — o ômega disse, e pude sentir toda a sua simpatia.

— Eu estou bem... Mas eu tive um sonho estranho — eu resolvi contar, despertando totalmente a atenção do alfa.

— Como era esse sonho? — ele perguntou, parecendo desconfiado de alguma coisa.

— Eram dois lobos, eles estavam se olhando, e depois do que pareceram horas...

— Eles encostaram os focinhos e fecharam os olhos, parecendo felizes juntos — ele completou, olhando no fundo de meus olhos. Eu fiquei um tanto espantado com isso, e ele percebeu. — Eu também vi isso, a diferença é que eu estava acordado.

— Foi por causa da ligação que vocês tiveram. Os lobos do sonho são os lobos de vocês — uma pessoa disse, entrando no quarto, e pelo cheiro de limão rosa, suponho ser um beta. Percebi que ele olhou para Taehyung enquanto entrava totalmente no quarto, tendo seu olhar correspondido. Pelo que eu percebi estando de fora, o olhar havia sido deveras intenso.

— N-nós tivemos uma ligação? — eu perguntei, um tanto assustado, recebendo uma resposta positiva do alfa. — E você é um lúpus? — mais uma resposta positiva. — E vai ser o Supremo Alfa de Moon? — dessa vez, minha voz saiu mais fraca, falhando. Mais uma resposta positiva. — Deus...

— Por que essa reação? — ele perguntou, e parecia verdadeiramente curioso. — E você também é um lúpus, descobrimos isso no mesmo instante em que tivemos a ligação.

— Eu senti... — essa hipótese parecia impossível para mim, antes de acontecer.

Eu nunca pensei que teria uma ligação de almas com um Supremo, e muito menos, que eu seria um ômega lúpus. Eu não queria nada disso, e ter uma ligação com ele não é uma coisa agradável ao meu ver, parecia mais como uma maldição.

Às vezes acontecem coisas em que percebemos que estamos em um mundo nada perfeito, onde tudo de imperfeito acontece. Realmente, nada é perfeito. E ter uma ligação direta com o Supremo Alfa nem de longe era algo perfeito, ou ao menos bom.

— Espera, você disse que os lobos do sonho são nossos lobos? — eu perguntei, me atentando a essa parte, a princípio.

— Sim, por quê?

— Eu já tinha sonhado com eles antes. Da primeira vez eu tinha apenas fechado os olhos, não tinha dormido, e eles apareceram. Depois, naquela mesma noite, eu sonhei — eu disse, e dessa vez, o alfa também estranhou. Suponho que eles vão querer saber, já que o lúpus também estava envolvido. — Eu estava correndo em uma floresta, preocupado com alguma coisa, ou alguém. Era como se eu precisasse chegar a algum lugar o mais rápido possível. No começo era eu, mas depois eram eles que estavam correndo, e depois de muito tempo, eles pararam e se encontraram, mas não chegaram a se encostar. Eu senti o cheiro dos dois, e senti parcialmente o sentimento que vinha de ambos.

— Foi como se você tivesse previsto que me encontraria, ou algo assim — o alfa disse, ainda estranhando, e parecendo surpreso.

— Algo assim? É exatamente isso. Você viu mais alguma coisa? — o beta quis saber, se interessando pelo assunto.

— Eu acho que não. Mas antes do sonho meu lobo me disse que ele estava vindo, mas eu pensei que ele estava me avisando apenas pelo fato de que a aldeia fosse ter um supremo.

— Você lembra o que seu lobo disse?

— Só disse que o Supremo estava vindo...

— Ele te avisou que o Supremo estava vindo, mas te mostrou que se encontrariam como algo a mais que apenas "o supremo da aldeia", só foi difícil de interpretar — o lúpus e eu ficamos em silêncio por um tempo, a presença do ômega era quase imperceptível, comparado com toda a tensão que se podia sentir no quarto.

— Não imaginei que meu cheiro aumentaria tanto — foi o que eu disse, tentando desviar minha atenção daquela situação.

— Ele ainda é mais forte que isso. A presença do seu lobo não está totalmente aí, você ainda tem alguma coisa que o impede — eu percebi que, mesmo que tenhamos tido a ligação, o alfa tentava manter uma certa distância de mim.

— Como você sabe disso? — eu perguntei, estranhando esse fato.

— Seu lobo e o meu tem uma ligação agora, eu consigo sentir que acontece alguma coisa com ele.

Até esse momento, então, eu não havia percebido que, involuntariamente, eu sentia coisas que não vinham de mim, e pensando mais a fundo, eu percebi sentir o que ele está sentindo. Então, ele não percebeu meu medo, assim como não percebeu meu espanto com o que descobri, ele sentiu tudo isso, e isso não seria uma coisa boa para mim.

— Ele te desestabiliza ao nível de você não querer chegar perto, Jungkook? — o beta perguntou, olhando para mim.

— O quê? — o tal Jungkook perguntou, meio confuso com a fala do outro.

— Eu percebo a sua reação. É notável o medo que ele tem de algo, e talvez você não queira que ele se assuste ainda mais. Mas eu também estou sentindo o cheiro dele, Jungoo, e eu sei que isso pode ter um efeito enorme em você. Então me diz, é pelo medo dele? Ou é pelo seu medo de não conseguir ficar longe se ficar muito perto? — ele parece alguém muito observador, assim como alguém esperto e meio ácido.

Eles estavam olhando um para o outro, de forma profunda. Eu não sabia o que queria ouvir, mas sabia o que meu lobo queria, e consigo sentir ele ansioso pela resposta que Jungkook dará. Os dois permaneceram daquele jeito por mais um tempo, antes que a resposta fosse dada audivelmente.

— Segunda opção — ele enfim disse, o que fez com que eu ficasse sem reação de início.

Até o momento, eu estava tão preocupado em me manter longe dele pelo meu medo, que não dei devida atenção para seu cheiro, que tomava conta de todo o quarto.

Se eu não tivesse receio em chegar perto dele, eu obviamente já estaria grudado nele, apenas para poder sentir o cheiro que é tão bom para mim.

— Eu quero ir para casa — eu disse, realmente querendo sair dali.

— Nós temos que conversar em relação à ligação. Você parece não querer que isso tivesse acontecido.

— E não queria — eu fui sincero, em um tom de voz que não demonstrasse tanta agressividade, pela delicadeza disso. Senti um sentimento ruim ao que terminei de dizer, e não veio de mim.

— Não queria? — o beta perguntou, talvez tendo estranhado isso. O quarto permaneceu em silêncio por um tempo.

Talvez não conseguindo mais ficar parado, Jungkook começou a andar de um lado para o outro, com a respiração ofegante.

Ele parou por um instante, olhando para o outro rapaz, era como se estivesse desesperado, suplicante e com medo. Não sei o que se passa na cabeça dele, e também não consigo ter certeza do sentimento dele. Eu sei que consigo sentir o que ele sente, mas sem a marca, não consigo ter a certeza, seus sentimentos estão confusos e embaralhados.

Eu consegui notar a pequena marca de um lobo em seu pescoço, algo que é totalmente novo para mim, eu nunca havia visto algo assim.

— Eu... — ele começou dizendo, se virando para mim, intercalando o olhar entre mim e o que parece ser seu amigo. — Preciso sair daqui — ele disse, antes de sair do quarto, com uma mão na barriga.

— Deve ser alguma coisa com o lobo dele, você acabou de rejeitá-lo, e falta pouco menos de um mês para ele atingir a maioridade — eu apenas o olhei, sem saber o que dizer. — Não se preocupe, se você realmente não quiser nada, ele vai embora antes que se transforme. A propósito, me chamo Min Yoongi.

— Park Jimin — respondi, olhando tanto para ele quanto para Taehyung, que ainda estava ali. Eu o vi sorrir minimamente, o que fez com que eu retribuísse.

— Certo, vou te acompanhar até em casa, posso? — Yoongi perguntou, se aproximando minimamente. Apenas assenti.

Ele então me levou de carro, e ao invés de ir diretamente para casa, eu pedi para que ele me deixasse na casa de Hoseok, já que ainda estava de dia e ele me disse não ter passado tanto tempo desse que desmaiei.

Quando chegamos, ele me acompanhou até a porta, e não sei se essa segurança toda é por mim mesmo ou porque, de alguma forma, Jungkook pediu, ou pediria.

Eu mal precisei bater na porta para ser atendido. Quase no mesmo instante em que parei de frente para a porta, Hoseok a abriu, parecendo não notar a presença de Yoongi.

— Jimin, o que aconteceu com seu cheiro? Eu consegui sentir do meu quarto — ele continua olhando para mim, parecendo preocupado. — É seu cio? Se for, por que veio até aqui? Você sempre tenta se manter o mais longe possível de todo alfa — ele falava tudo de uma vez, quase me deixando tonto, tentando absorver cada palavra de uma vez.

— Hoseok, calma. Não tem nada a ver com o meu cio, e eu vou te contar tudo — eu disse, parando ele.

Antes de continuar falando, ele notou Yoongi ali. Quando se olharam, parecia que algo fazia com que não desgrudassem o olhar, estavam praticamente hipnotizados. Yoongi continuou com sua expressão séria, e Hoseok não estava muito diferente.

— Hum, quem é ele? — Hobi me perguntou, e antes que eu possa responder, ele me disparou outra pergunta. — Ou melhor, que marca é essa no seu pescoço? — dessa vez, ele chegou mais perto, tocando meu pescoço, seu cheiro de café me invadindo, como se estivesse mais forte que o normal. Mas eu sei que isso não tem a ver com o cio dele, então é provável que meu olfato tenha melhorado.

— Que marca? — eu me assustei ao que ele disse, e fui o primeiro a entrar na casa, procurando um espelho, esse que encontrei em um móvel na sala.

Era uma marca em formato de lobo, pequena, a mesma marca que eu havia visto no pescoço de Jungkook. Como isso pode ser possível? O que isso significa? Eu não consigo fazer ideia de nada.

— É a mesma marca do Jungkook — eu disse baixo, mais para mim que para os outros dois presentes na sala.

— Quem é Jungkook? — agora, Hoseok estava extremamente confuso. — O que está acontecendo?

— Certo, resumindo tudo. Eu estava andando na rua, Elkie e suas amigas vieram me atazanar de novo. Esse tal de Jungkook chegou e, por incrível que pareça, o cabelo dele também é de duas cores, acredita? — eu desviei um pouco do meu rumo, lembrando de quando o vi.

— Mesmo? — eu assenti. — Incrível. Mas continua — ele disse, sentando no sofá e pedindo para que Yoongi também sentasse.

— Aí vem a parte bombástica. Ele é o Supremo que ia se mudar para cá — eu disse, vendo Hobi arregalar os olhos, ao mesmo tempo em que eu senti um leve arrepio. — E eu tive um imprinting com ele.

— O quê?! — ele estava estatístico, com a boca aberta e os olhos arregalados. — Meu Deus, eita. Que dó dele — ele disse, parecendo realmente sentir dó dele, enquanto se recostava no sofá.

— Eu quero ver se você vai ter dó quando ele se transformar no meio da aldeia.

— Ele não vai se transformar se você aceitar ser o ômega dele — Yoongi enfim se pronunciou. — E mesmo que não for, ele não vai deixar o lobo dele tomar conta de si aqui dentro.

— Continua, Jimin — Hoseok pediu, porque sabia que tinha mais coisas que isso.

— Certo. Com tudo isso, eu descobri que sou um ômega lúpus.

— Ômega Lúpus? — eu assenti. — Mas... Eles...

— Exatamente, tinham sumido, e eu também achei estranho — parei um pouco para respirar. — Aí eu desmaiei, porque sentir toda a presença do meu lobo foi uma sobrecarga enorme. Acordei na casa do Jungkook — e momentaneamente, esqueci completamente da presença de Yoongi. Eu estava tão agitado, que mal consegui me sentar. — E ele tem um cheiro tão... Bom, Sabe?

— Do que é o cheiro dele?

— Laranja, terra molhada, e eu acho que o outro é mirtilo.

— Você nem gosta de mirtilo, Jimin.

— Jungkook também não gostava de alcaçuz, e gostou assim que sentiu o seu cheiro — Yoongi se pronunciou mais uma vez. — E a marca, ele também não tinha antes.

— Eu sei quem pode nos ajudar nessa questão — Hoseok disse, meio misterioso. — O Jin.

— O Jin? — sinceramente, eu não me lembrava quem era.

— O Jin.

— Meu Deus, o Jin! — eu acabei lembrando. Não me julgo por não ter lembrado antes, até porque não devo ter falado com ele mais que duas vezes.

Seokjin é um beta que mora um tanto afastado da aldeia, gosta de morar mais à beira da floresta. Ele mora sozinho, tendo em vista que já é maior de idade, mas sempre visita seus pais aqui na cidade. Ele, normalmente, sabe das coisas, então talvez saiba sobre a marca.

— Mas nós vamos precisar levar o Jungkook junto — Hoseok disse.

— Vocês parecem dois ômegas fofocando — ouvimos a voz de Yoongi novamente, e pude sentir o tédio que ele parecia estar sentindo.

— Bom, eu sou um ômega — eu disse, com obviedade.

— E eu sou o melhor amigo de um ômega e moro com um, então eu tenho meus direitos de ser fofoqueiro — Hoseok disse, se defendendo, enquanto dava de ombros.

— Mora com um? — o beta perguntou, parecendo meio decepcionado, mas não era evidente, então talvez fosse apenas coisa da minha cabeça.

— Aham, a minha mãe, e acredite, ela é mais fofoqueira que nós dois juntos — meu melhor amigo respondeu, apontando de mim para ele.

— E se te ouvir falando assim você estará encrencado — eu disse, sabendo que é verdade. O vi levantar as mãos em sinal de rendimento. — Precisamos mesmo levar ele? — eu perguntei, e eles sabiam de quem se tratava.

— Você sabe que sim, Ji — Hoseok respondeu, sabendo de todo meu receio e o entendendo.

E no final da conversa, nós decidimos que realmente iríamos até Jin, depois de passarmos em minha casa para avisar que eu estou bem e que provavelmente vou demorar um pouco para voltar para casa, e meu pai só ficou tranquilo quando Hoseok prometeu que cuidaria muito bem de mim. Em seguida, nós fomos em direção à casa na qual eu havia saído a pouco tempo. Confesso, estou com um pouco de medo do que Jin nos dirá, e tenho medo que não exista uma forma de nos separar, porque no momento, o que eu menos quero é ter que ficar preso a Jungkook para o resto da vida.