Capítulo 5
Peter ficou surpreso por um instante e no segundo pareceu se atrapalhar com as palavras como acontecia sempre que começavam a conversar.
-Oi, oi, nossa você por aqui.... Meu Deus, que coincidência, que coisa louca. Oi, garoto. Tudo bem?–Ele disse no mesmo segundo sem respirar.
Mike olhou para Peter:
-Sua boca está suja.
May sorriu para o menino dizendo:
-Oi, que olhos lindos! Qual o seu nome?
-Minha irmã me proibiu de falar com estranhos. -Michael virou a cabeça para Cassie como se esperasse que ela confirmasse aquilo. Ela percebeu que os dois estavam se espremendo na fresta aberta e ela finalmente cedeu e abriu a porta por completo.
May riu do que Mike havia dito e se virou para Peter.
-Você a conhece?
Peter balançou a cabeça mais vezes do que o necessário:
-Sim, estudamos juntos! Ela foi transferida no início das aulas. -Ele disse olhando para os olhos de Cassie.
-Bem, então você já conhece o Peter. Eu sou a May, tia dele. -E estendeu a mão para Cassie.
Finalmente a menina conseguiu se recuperar para falar.
-Eu sou a Cassie Johnson e esse é o meu irmão Michael. -Ela apertou a mão de May.
-Michael Johnson e não Jackson. -Frisou Mike. -As pessoas geralmente confundem.
-E aí, Michael. Prazer em te conhecer. -Peter estendeu a mão. Mike deu uma rápida olhada para Cassie, ela acenou levemente com a cabeça e o menino apertou a mão de Peter.
-Seus pais estão em casa, Cassie? -May perguntou ainda toda sorrisos. -Trouxemos brownies para vocês!
Peter olhou para May esperando que ela não enchesse a menina de perguntas. Ele sabia que Cassie nunca falava sobre a família.
Mike ficou tenso e encostou as costas na irmã buscando apoio, ela o envolveu com o braço direito de forma protetora quase inconscientemente.
Cassie tinha a mentira pronta em sua cabeça.
-Nossa madrasta está trabalhando. Às vezes ela fica com o turno da noite. -Ela disse sorrindo. -Os brownies parecem deliciosos, não precisava se dar o trabalho.
-Ah, tão gentil de sua parte. Mas não foi trabalho algum.
Claro, você os comprou prontos, Peter pensou lançando um sorriso secreto à May.
-Nós não queremos atrapalhar vocês, só viemos nos apresentar e dizer que se precisarem de qualquer coisa é só chamar. Estamos aqui na frente de vocês. -May disse entregando a vasilha de brownies à Cassie e a puxou para um abraço tão carinhoso e surpresa que a menina ficou sem ar.
Depois May abraçou Mike que sorriu todo bobo por ter ganhado sua sobremesa favorita.
-Muito obrigada, Senhora....
-Ah, não, não. Me chame de May. -Ela interrompeu Cassie com um sorriso doce.
Os irmãos Johnson evitavam os vizinhos para não levantar suspeitas de sua situação, mas logo era possível perceber que seria difícil não querer May por perto. E ainda tinha Peter.
Cassie o olhou e os olhos dele sorriam.
-Agora vai ser fácil pra gente se encontrar e fazer aquele trabalho de literatura. -Ele lembrou enquanto May se virava para voltar para o apartamento deles.
-Sim, e agora não vamos conversar só na hora do lanche. -Ela disse.
Os dois se olharam por um longo segundo.
Mike olhou de um para outro já impaciente.
-Eu quero saber quando vamos comer esses brownies. -Ele disse tentando tirar a vasilha de Cassie.
-Só depois do jantar, Michael Johnson! -A irmã respondeu o puxando para dentro do apartamento. -Boa noite, Peter. Te vejo na aula.
Ela fechou a porta e Peter se virou para o corredor caminhando até sua porta onde May estava parada o esperando.
-Que sorrisinho é esse, Peter? -Ela perguntou com um olhar brincalhão enquanto eles entravam.
Ele nem havia percebido que estava sorrindo abertamente.
-Nada. Nossa, que fome, vamos comer! -Ele acrescentou rapidamente seguindo em direção a cozinha.
☄
Depois do jantar, Mike pediu à irmã que assistissem algo na televisão. Eles se sentaram no velho sofá, Michael esticou todo o corpo e deitou a cabeça no colo de Cassie. Em menos de meia hora ele já havia pegado no sono.
Ela passava os dedos pelas trancinhas dele e reparava no quanto ele estava crescendo. Logo ela teria que o carregar para o quarto, mas antes queria dar uma olhada no noticiário. Ela pegou o controle da televisão e procurou pelo canal de reportagens.
Como de costume havia várias imagens do Homem-Aranha e dos seus feitos do dia. Cassie suspirou frustrada, não sentia muito afinidade por ele. Ver a imagem dele sendo aclamado incomodava ela profundamente, ele era o salvador do bairro, mas seu pai não podia dizer o mesmo. Ela sentiu as lágrimas começando a queimar em seus olhos, até que a reportagem mudou.
Uma mulher de aparência jovem e quase vintage apareceu na tela, ela falava ao microfone frente à uma reunião de um Congresso de Defesa Civil. Cassie a reconheceu imediatamente. O cabelo cor de chocolate em ondas, o batom vermelho, a postura de alguém que viveu em outra década e mais ainda a força feminina de cada palavra.
Cassie se inclinou na direção da televisão ansiosa para ouvir as palavras da Lady de Aço, sua heroína favorita.
“Não podemos nos calar diante das inúmeras provas e casos encontrados. Precisamos dar continuidade às investigações para acabar com os vestígios das Grandes Guerras, acabar com os estudos e experimentos para transformar humanos em armas assassinas.”
Ela dizia com uma força inspiradora. Afinal, ela era a mulher que sobreviveu a um programa de tortura e controle mental, a Miss Stark era uma lenda viva.
“Nós vamos continuar lutando e desmascarando toda corporação, grupo, entidade e laboratório que colabora com esta prática. Acabar e cortar não só os tentáculos da Hydra, mas também toda essa herança de procedimentos cruéis que matam nossa humanidade.” -Violet ergueu o rosto na imagem, seus olhos encararam a câmera. –“ A justiça prevalecerá. Os culpados devem pagar.”
O cômite presente se levantou para aplaudir. Cassie sentiu o peito se inundar com a força que precisava há semanas, o primeiro vestígio da esperança que sentia desde o acidente no laboratório da Oscorp.
A justiça prevalecerá. Os culpados devem pagar.
Cassie os faria pagar.
Ela precisou chamar Michael para ele ir para o quarto. Ela o ajudou a se arrastar na cama, o cobriu e beijou a sua testa desejando boa noite. Depois voltou para o próprio quarto e abriu o guarda-roupa, retirou todas as reportagens que havia salvado da explosão no laboratório. As organizou, cortou as partes mais importantes e começou a colar uma por uma na parte interior da porta do guarda-roupa.
Havia uma reportagem em particular que ela olhou na dúvida, não sabia se a aguardava ou jogava fora.
“Homem Aranha salva jovem da explosão no Laboratório da Oscorp. A identidade da garota não foi revelada, a Oscorp solicitou que os dados fossem preservados para "segurança da vítima”.
E a imagem da matéria era uma gloriosa foto do Homem-Aranha. Que não tinha salvado Cassie, mas sim a feito continuar a vida sem o pai. Se Charles fosse salvo ele poderia estar cuidando de Michael agora. Cassie não só não podia cuidar do irmão, como vivia com medo de que os separassem.
Ela colocou a imagem do Homem-Aranha junto com as outras matérias para a lembrar de que ninguém poderia salvá-la além dela mesma.
Então ela descobriria o que havia acontecido e descobriria do que era capaz. Era hora de entender o que aquelas substâncias haviam causado nela. Era hora de mostrar ao mundo que havia algo de errado na Oscorp. Era hora de vingar Charles Johnson.
☄
Peter acordou um pouco adiantado, se arrumou e tomou o café correndo. Não havia nenhuma ocorrência da polícia ou da emergência pela manhã, então seu plano poderia dar certo.
-Por quê está com pressa? Acordou mais cedo que o normal hoje! -May observou enquanto Peter mastigava seu omelete como um doido e ela calmamente bebia sua xícara de chá de limão.
-Quero chegar mais cedo. -Ele disse simplesmente. Se levantou pegando a bolsa, deu a volta na mesa e beijou a testa da tia. No segundo seguinte ele saiu pela porta. May se perguntava se ele achava mesmo que ela não tinha percebido. Bem, talvez Peter começasse descobrindo só agora que estava agindo diferente.
Toda a energia e entusiasmo que o fez levantar da cama se tornaram receio e ansiedade. Ele parou em frente à porta de Cassie e não sabia se batia. Não sabia nem mesmo se ela saía naquele horário, mas deduziu que ela deveria sair mais cedo para esperar o ônibus levar Michael e depois ir para Midtown, o que explicava porque eles nunca se encontravam de manhã.
Isso e o fato de que Peter saía e entrava pela janela do quarto ao invés usar a porta de frente.
Enquanto ele tentava se decidir se batia ou não, a porta do apartamento se abriu e Michael saiu para o corredor. Ele usava um boné sobre as tranças, carregava a mochila em um ombro deixando a outra alça solta.
Ele tinha só dez anos e já era mais legal do que Peter jamais seria na escola.
-Oi, Peter Parker. -Ele disse e abriu um sorriso, aqueles que crianças dão quando querem alguma coisa dos adultos. -Trouxe mais brownies?
-Desculpa, eles acabaram. -Peter deu de ombros olhando para o sorriso divertido de Mike. Ele tinha os mesmo olhos castanhos que Cassie. E ela apareceu saindo do apartamento, olhou para Peter no corredor enquanto trancava a porta.
-Oi, Peter. Está indo agora também? -Ela perguntou enquanto eles seguiam Mike em direção às escadas.
-Sim, resolvi ir mais cedo hoje. -Ele tentou dizer em um tom descontraído como se não tivesse se programado para encontrá-la naquele horário. -Você vai de bicicleta, não é?
-Antes sim. -Ela disse enquanto eles desciam o último lance de escada e saíam pela porta do prédio. -Mas a minha quebrou na semana passada, então eu vou caminhando. Você vai de bicicleta hoje?
Peter geralmente ia saltando de prédio em prédio jogando teias.
-Às vezes vou de bicicleta. Mas hoje resolvi ir caminhando também. -Ele respondeu.
O dia estava com a temperatura agradável, o sol já iluminava boa parte da rua. O ônibus amarelo parou na calçada e Michael se virou para Cassie dando um abraço na irmã e ela o beijou no rosto desejando boa aula.
Michael segurou a mochila e acenou para Peter enquanto corria em direção ao ônibus:
-Tchau, Peter Parker!
-Tchau, MJ. -Ele acenou para o menino.
Michael entrou no ônibus, escolheu um lugar perto da janela e acenou para Cassie até o ônibus se afastar e eles o perder de vista.
Peter sentiu um carinho tão intenso pelos Johnson naquele momento e desejou que Charles estivesse orgulhoso dos filhos aonde quer que estivesse.
Ele e Cassie começaram a caminhar pela calçada enquanto o sol ia ganhando mais força no céu. A luz dele ficava mais intensa e os atingia nos olhos com uma luminosidade morna.
-Então você acordou mais cedo hoje? -Ela perguntou segurando as alças das mochilas sobre os ombros.
-Ah sim, queria aproveitar pra ver se a gente podia escolher um conto para o trabalho de literatura. -Ele pensou na primeira desculpa que veio à sua mente. Ela o olhou um pouco descrente.
-A gente podia marcar de procurar algo na biblioteca e analisar o texto depois do jantar. -Ela parecia pensativa e Peter se perguntou se ela estava refletindo se era uma coisa boa deixar alguém se aproximar assim. Eventualmente Cassie poderia falar do que aconteceu com o pai.
Peter queria que ela soubesse que ele estava lá naquela noite, mas não podia fazer isso.
-Sim, eu não queria ter que esperar até a hora do almoço para falar com você. -Ele disse e logo percebeu que tinha deixado escapar o pensamento em voz alta.
Cassie parou de andar e o olhou avaliando sua expressão.
-É que o trabalho de literatura é importante. -Ele acrescentou.
Ela riu e voltou a caminha com ele até o prédio da escola, sem questionar.
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