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Não lhe devo explicações

"Eu estava farta de me sentir impotente...
O sol das 13:00 era forte, e em mais um teste suicida, puxei devagar o colar de verbena do pescoço arriscando saber se era verdade o que estava escrito no livro, mas antes de afasta-lo totalmente de mim, senti meu corpo esquentar com a sensação de ardor. Dando um grito assustado, pus colar de volta rapidamente. Meus olhos estavam abertos em reflexo, temendo o fim da vida. É real. Encarando o objeto mortal refleti como era frágil perante algo tão simples. Indignada, o escondi novamente para dentro da blusa e fui procurar alimento no lugar.
(Bosques que gritam)".

Assim que Anahí se alimentou de um animal silvestre e fez o de sempre. Limpou-se no riacho e sentou a beirada dele para pensar um pouco mais nas suas fragilidades. As árvores que recobriam o lugar lhe proporcionaram uma sombra agradável, facilitando sua estadia ali. Ela olhava o imenso, os pássaros voando, se recordando que era um veneno para ela. Foi possível ver como sua tristeza surgiu sem explicação. De olhos fechados, a vampira sentiu a brisa invadir seu rosto, soprando serenamente.

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- Você gosta deste?

- Sim, eu adoro mamãe!

- Muito bem, Anahí. Tenho um segredo para te contar.

- Conta, conta!

- Quando a lua sair, você vai sentir sede e terá que beijar o pescoço desse coelhinho, Entendeu?

- E se ele chorar?

- Mas ele vai para o céu dos bichinhos, só falta você prepará-lo.

- Ah... tudo bem, eu vou beijar. Ai ele vai para o céu, certo?

- Isso, ele irá...

~~~~~~

A lembrança da mãe lhe ensinando a controlar a sede, aos quatro anos, lhe veio à mente. Era a partir dessa idade que Nora começou a ensinar a vampirinha a caçar.

Anahí estava longe demais para perceber a presença de qualquer coisa ao seu redor, tanta que ao se levantar seus dedos gelaram ainda mais com o susto de sentir as mãos de alguém tocando seu ombro com firmeza.

Alfonso: Calma! Sou eu! - justificou-se notando a reação defensiva dela.

Anahí: Era só o que me faltava - arfou revirando os olhos. Ela não podia ficar próxima demais, e ele ainda tinha o mesmo perfume natural e tentador que a tirava do sério - O que você faz aqui?

Alfonso: Decidi dar uma volta.

Anahí: Nos bosques que gritam ás 13:00 da tarde? - o interrogou ironicamente.

Alfonso: Qual o seu problema comigo?

Anahí: Problema? Hum, Na verdade eu tenho um, sim - ele a olhou indignado, porém ansioso - O fato de você me seguir me incomoda. Não tem nada melhor para fazer?

Alfonso: E quem disse que estou te seguindo?

Anahí: Eu digo. Na festa, na universidade e até aqui?! - continuou a falar andando de costas para ele, já ignorando sua presença. Alfonso mesmo assim decidiu acompanhá-la.

Pegando pelo seu braço, ele a fez parar os passos. E no movimento rápido seguinte arrastou a loira até a árvore lhe encurralando ali. Seus braços estavam apoiados na altura do nariz de Anahí, enquanto ela fixava seus olhos nele, abismada com a sua audácia e coragem.

Alfonso: E se eu admitir que esteja te seguindo?

Anahí: simples, vou confirmar que está maluco. Agora, me deixe sair...- ela se virou, mas ele continuou firme.

A vampira sabia que poderia sair se quisesse, mas levantaria muitas suspeitas.

Alfonso: Porque seus olhos estavam vermelhos naquela noite? - Anahí que tentava afastar os braços de Alfonso com "cuidado" parou no mesmo instante em que ouviu a pergunta.

Sem saber o que falar, engolindo em seco, ela permaneceu imparcial.

Anahí: Vermelhos? Só pode estar alucinando, garoto.

Alfonso: Sei bem o que vi.

Anahí: Você estava atordoado, com uma pancada na cabeça, deve ter se confundido - nervosa, sua voz já estava ofegante demais, quase que sem ar.

Seu estimativa já sabia muito bem o motivo. O sangue dele.

Anahí: Saia da minha frente.

Alfonso: Não antes de você me responder.

Anahí: Eu não tenho nada pra responder a você. Me solta! - ela segurou no braço de Alfonso e o arremessou no chão em segundos.
Sua tolerância parecia ter chegado ao fim.

Os olhos do homem se arregalaram ao vivenciar toda a cena. Ele a observava pasmo com aquela força sobrenatural. Incomum para uma mulher tão aparentemente delicada e esguia. Sem músculos ou o que quer que fosse capaz de justificar a sensação de ser jogado por um lutador profissional.

Anahí: Me desculpe... Eu não queria - ela pôs a mão sobre o rosto, envergonhada, até ele se levantar devagar sem tirar os olhos dela. Saindo do transe, a vampira correu para longe o deixando ali, sozinho, mas ele não estava convencido e decidi correr atrás.

A perseguição durou alguns minutos. Anahí não podia utilizar seus poderes sem que ele a visse. Naquele momento amaldiçoou ter saído de casa.
Derrotada, decidiu não escapar mais e dar fim ao jogo de gato e rato. Ela encerrou os passos, e em segundos Alfonso parou ao seu lado, com as mãos nos joelhos, respirando ofegante pela corrida, ao contrário dela que estava normal.

Anahí era uma vampira, e aquela "corridinha" não fazia diferença para ela.

Afonso: Você tem uma ótima preparação física.

Anahí: Você é tão desocupado assim? Por que não vai embora? O que tanto quer comigo? - a pergunta o fez retomar à postura voltando a olhar sério, seco rebatendo o olhar zangado  que recebia.

Aquela situação era desafiadora para ela. Estar à frente dele era um martírio. Seus olhos sempre percorriam em direção ao pescoço de Alfonso. Engolindo salivas e controlando a respiração a cada segundo seguinte para não fazer nada que se arrependesse depois.

Alfonso: E então, vai me dizer?

Anahí: Vou... - ele não imaginou aquilo, mas esperou atento para ouvi-la - Vou... deixar claro que não devo satisfação alguma da minha vida, e você, pense o que quiser!

A situação não podia continuar, era arriscada demais, e ele era apenas um desconhecido que assim como os outros não poderia saber quem ela era. Virando pela última vez, a vampira fechou os olhos e clamou em seus pensamentos para que ele não a seguisse mais, e como se fosse ouvida, aquilo realmente aconteceu.
Alfonso pertenceu onde estava, imóvel e desarmado, vendo ela se afastar até sumir no meio do calor e do caminho de pedras que levava a saída.
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