Capítulo 26
– Sim, Marília, expedições. – ele confirmou, me olhando meio sério.
Eu não fazia ideia do que se passava dentro da cabeça dele. Mas na minha se passava muita coisa.
Ele tinha arriscado a sua vida, considerando o modo como o meu irmão mais velho morreu, por minha causa. Ele tinha deixado tanto de lado por mim. E aquilo era emocionante. Ele tinha se esforçado. Provavelmente mais do que o príncipe do bolo da Branca de Neve teria que se esforçar para escalar os dois andares e chegar até ela. Então... o Logan merecia a princesa dele. Que no caso era eu.
É, princesa. Eu ainda tinha que assimilar essa ideia também, mas era um pouco legal. Não era?
– Expedições...? – E quando eu repeti a palavra eu estava bastante emocionada – Foi arriscado?
Ele não disse nada, apenas assentiu com a cabeça. Ele continuava sério, e eu ainda não conseguia imaginar o rumo de seus pensamentos.
– E... – eu voltei a dizer – precisou de muitas expedições?
– Sim. Na verdade, foram quatro.
– Quatro? – eu repeti com assombro. – E achou o que estava procurando?
– Um pouco. Como eu disse, é um minério raro. Mas foi o suficiente para chegar até aqui.
– Mas talvez não seja o suficiente para voltar – eu concluí.
– É.
Nossa, ele tinha deixado tudo para trás por mim! Então... eu só conseguia pensar em uma coisa única agora, algo que eu precisava dizer a ele:
– Eu amo você, Logan.
E assim que ele ouviu as minhas palavras foi quando deixou de ficar sério. Ele sorriu e acabou me dizendo:
– Eu também amo você, Marília. – e levou a mão até a minha, e a gente ficou de mãos dadas.
O que foi o suficiente para eletrizar todo o meu corpo. É sério! Eu senti vontade de me jogar sobre ele, e de voltar ao que a gente fazia antes.
Eu estava só de sutiã, o que tornava mais fácil o ato de continuar. Ainda mais do jeito como ele baixou os olhos para os meus seios... Do jeito como ele me olhou, o mesmo pensamento passava pela cabeça dele.
Só que eu tinha treinado durante um ano e aprendido a me controlar, então eu conseguia continuar fazendo isso agora. Por mais que eu estivesse mais do que disposta a roçar a minha pele sem blusa na pele sem blusa dele. É, acho que eu esqueci de dizer que ele tinha tirado a camisa dele também. E a pele dele exposta era muito difícil de ser ignorada. Eu queria tocar nela e lambê-la também. Maldito instinto felino!
Só que com ele eu sabia que podia fazer isso, o que não tinha feito com os outros. Porque o Logan não ia achar estranho ser lambido, e acho que ele iria até gostar, como eu gostaria se fosse o contrário.
Eu ignorei a visão que a falta da camiseta dele, jogada no chão aos nossos pés junto com a minha, oferecia. E ignorei também o rumo dos meus pensamentos.
Porque antes eu precisava deixar algumas coisas bem claras. E precisava de todo o meu controle agora para não me jogar em cima dele. Já que ele também parecia bastante disposto a isso.
– Você quer mesmo saber com quem? – eu perguntei. Não queria mais que a falta de diálogos, ou que mentiras, nos atrapalhassem.
Achei que ele pudesse se afastar de novo como antes, mas o Logan não fez isso. Porque a mão dele continuou unida a minha e ele continuou perto, tão perto que eu podia sentir bem o seu cheiro. Não que eu não pudesse senti-lo antes, eu podia sentir desde que ele chegou. Só que assim, tão perto, era tão difícil de ignorar o cheiro quando a sua falta de roupa da cintura para cima.
– Porque se vamos ter essa conversa – eu continuei a falar – vamos ter agora. Porque eu não quero mais falar sobre isso, Logan. Nunca mais. E eu, sinceramente, não quero saber com quem você andou ou deixou de andar antes de mim. Porque não importa.
Ele estava me olhando, e dessa vez sua resposta foi rápida.
– Não. Eu não quero saber. Eu tenho quase certeza de que foi com aquele teu amigo, mas não quero ter certeza. E de certa forma acho até bom que você não tenha ficado sozinha. Ele cuidou de você, não foi?
Eu podia ter contado tudo para ele, se ele quisesse. Porque não me arrependia de nada. O Logan não estava aqui, tinha sumido da face da Terra (literalmente!) e eu não devia fidelidade a ele. Não fiz nada além de tentar seguir com a minha vida e almejar alguns momentos de felicidade. E tentar ser feliz não é nenhum crime, desde que eu não passe por cima de ninguém. E eu sei que não fiz isso.
Sim, o meu primeiro foi o Daniel, naquele mesmo dia em que a gente se beijou. Ele foi atencioso e carinhoso, tudo o que eu podia desejar para uma primeira vez. E foi normal, sem instinto, tudo calmo e suave. Só que ele não foi o único.
Porque depois de duas semanas eu e o Dani percebemos que funcionávamos melhor como amigos. Ele não me dava a felicidade que eu esperava, mesmo que fosse agradável. Mas acho que o sexo deve ser mais do que isso, não é? Mais do que agradável e suave. E o Dani também percebeu que estava confundindo as coisas. Ele queria aquela Lila sexy que o atacou em sua transformação. Mas aquela Lila não existia mais. Pelo menos não para ele.
Depois disso acabamos voltando a ser amigos, mesmo que nos víssemos quase todos os dias. Afinal, das pessoas que me restaram ele era a minha preferida, apesar de eu estar conhecendo outras pessoas. E ao mesmo tempo em que eu precisava do Daniel, ele queria estar presente também.
Acabei saindo com o Dani e outros amigos várias vezes, como na noite da boate quando conheci o Maurício, porque tentava me divertir. Eu me esforçava para não me sentir triste o tempo todo e para seguir com a minha vida. E foi numa dessas saídas que eu reencontrei o Maurício. Alguns encontros depois, ele acabou sendo o meu segundo. E foi tudo tão calmo como foi com o Dani. Só que com bem menos intimidade.
É, nenhum deles me deu aquilo que eu procurava e que preencheria o meu vazio. Mas, mesmo assim, eles me deram pequenos instantes de diversão e de felicidade. Por isso, eu não me arrependia. Eu simplesmente não iria ficar parada, choramingado por um amor perdido, que eu nem sabia se iria ou não voltar.
– Sim. – eu acabei dizendo. – O Dani e os pais deles cuidaram de mim. Eles não me deixaram ficar sozinha.
E era verdade. Houve mais pessoas também, como a sócia da minha mãe na confeitaria e alguns funcionários de lá que me apoiaram, mas o Dani e sua família foram o meu maior amparo. Até o cachorro Bob deles aceitou o meu cachorro nos dias em que eu o levava comigo. O que parecia impossível no início considerando o usual modo ranzinza do Bob.
– Eu fico feliz por isso. Não importa o que você fez, eu... – ele começou a dizer, mas eu o interrompi para acrescentar:
– Nem o que você fez. – eu disse com uma careta – Porque não fui eu quem saiu pegando todas em um ano, Logan. – e eu não pude evitar que o meu ciúmes transparecesse. Porque era irritante mesmo.
E isso que fez o Logan rir.
– Não importa. – ele acabou concordando, ainda dando risada – Nada mais importa, o importante é que estamos juntos agora.
– É... – eu disse mordiscando os meus lábios. Porque eu sabia o que estava prestes a acontecer. E eu sabia que não seria calmo e nem apenas agradável. Seria muito mais do que isso. O que me deixava nervosa. – Hum, Logan? – eu perguntei, quando ele estava chegando bem perto de mim.
Tão perto que eu sabia que em breve estaríamos nos beijando. E nos agarrando. Que o beijo que começaria suave, pelo jeito como ele estava me olhando como se tivesse todo o tempo do mundo (e talvez tivéssemos, pelo menos até o meio-dia), logo se tornaria muito mais do que isso. Se tornaria intenso e sexy, caso a gente se soltasse um para o outro. E já estava mais do que na hora da gente parar de se segurar, e deixar se levar.
– O que? – a voz dele, agora com a boca bem perto da minha orelha, saiu baixa e altamente sexy. Sabia que ele não queria mais conversar. E eu também não queria mais, talvez só um pouquinho agora.
– Eu não preciso mais me controlar, não é? – foi o que eu perguntei. Porque era mais uma coisa que eu precisava saber.
Afinal de contas, ele sempre disse que só ficaria comigo quando eu aprendesse a me controlar. E eu tinha aprendido. Só que agora eu queria aprender a me deixar levar também.
Ele então sorriu. Eu senti a sua risada, um som que eu adorava, junto da minha orelha. O que me levou a rir com ele.
Mas a risada durou breves segundos. Porque ele tinha outros interesses agora, assim como eu. Então ele logo respondeu:
– Não, Marília, não precisa.
Ok. Eu respondi, mas só em pensamento. Porque logo a minha boca ficou ocupada com a boca dele. E se o beijo era um indício do resto, ele foi de tirar o fôlego. Não agradável, mas muito mais do que isso... tipo explosivo. E foi o que eu senti também quando ele tirou o meu sutiã.
Ele tinha razão. Podia ter soado vulgar antes, mas agora... ele realmente caiu de boca e eu gostei. Na verdade, foi muito mais do que um gostei. Porque só era assim com ele. E eu sabia que ele também gostava das coisas que eu fazia com ele.
E quando o resto do meu corpo finalmente teve toque de mãos e de boca dele, foi muito mais do que agradável. Eu fiz com ele o que eu sempre sonhei, e o que eu nunca pensei. E quando o corpo dele finalmente se uniu ao meu foi sexy, foi intenso. Foi explosivo.
Foi... uau! Acho que ele tinha razão, eu era inexperiente mesmo. Porque nada tinha sido parecido com o que ele me fez sentir. Ele podia me irritar às vezes, e provavelmente teríamos muitas brigas. Mas agora eu sabia um modo bem eficaz de fazer as pazes. E a nossa química, e o amor que eu sentia por ele, faria tudo valer a pena.
Eu sabia que seria difícil. Deixar essa vida para trás e seguir rumo ao desconhecido. Só que eu não estaria sozinha. Ele estaria comigo e eu reencontraria a minha família. E eu tinha um irmão que se casaria. Será que em breve eu seria tia? Eu não tinha jeito com crianças, mas podia aprender se convivesse com uma talvez.
Várias coisas passavam pela minha cabeça nesse meu momento de total relaxamento. Quando eu estava deitada na cama com o Logan lindo e nu ao meu lado. Eu branca e ele da cor café com leite dava um belo contraste. Ele estava mais bronzeado agora, provavelmente devido às tais expedições.
Só que quando ele me olhou e abriu um enorme sorriso, um sorriso lindo, eu parei de pensar. Uma parte de mim se sentia feliz, já a outra parte se sentia nervosa. Não pela presença dele, mas não saber o que esperar do meu futuro me deixava nervosa. Eu tinha mania de querer controlar as coisas. Só que as vezes não dava.
– E agora? – eu acabei perguntando.
– Agora acho que é uma boa ideia eu fazer a minha mala e a gente ir para a tua casa. Esperar o portal reabrir amanhã. Tem várias coisas que eu deixei para trás e que eu gostaria de levar. Talvez a gente nunca mais volte, Marília.
– Nunca mais? – aquilo fez com que o frio da minha barriga aumentasse.
– Provavelmente não.
– E o meu cachorro? Vou poder levá-lo?
– Não. No momento, animais de estimação não são permitidos. Porque devido às condições climáticas muitas plantações foram perdidas. Há pouca comida, tudo bem racionalizado. Mas estamos bolando novas estratégias de irrigação e desvio das águas, acho que em breve as coisas voltarão a se normalizar.
– Mas... eu não posso deixar meu cachorro para trás.
– Não teria alguém para ficar com ele?
– Teria. Aliás, eu não posso ir embora sem me despedir de algumas pessoas.
– Eu sei.
– E eu preciso fazer isso sozinha.
– Tudo bem. Se der tempo, quero ir até a casa dos meus pais. Eles me deram uma lista de coisas para buscar, se fosse possível. Mas acho que é longe demais e arriscado. Tenho medo de não voltar a tempo.
E isso me deixou nervosa.
– O que acontece se o portal reabrir e você não estiver aqui?
– Você teria que ir sem mim.
– Nunca, Logan. Eu não poderia fazer isso. – eu disse. Então ele me olhou e assentiu com a cabeça.
– Eu sei. Por isso, acho que eu não vou. Não vale o risco. Já é tarde.
– Porque você perdeu muito tempo me explicando... – eu disse me sentindo triste. Podia ter dado tempo dele ir se não fosse por minha causa.
Ele me deu aquele sorriso debochado do qual eu sentia falta. E arqueou as sobrancelhas grossas numa expressão divertida quando afirmou:
– Eu não chamaria nada do que aconteceu aqui de perda de tempo. Aliás, acho que podemos perder mais um pouco de tempo agora, não podemos? – e essa expressão era novidade. Era um misto de alegria com safadeza. E eu gostei dela. Gostei demais, aliás.
Por isso, eu não resisti e a gente começou a se beijar de novo. O que logo levou a outras coisas. Depois, fomos tomar banho junto. Ainda bem que eu tinha pagado as contas de água e de luz, porque o chuveiro era elétrico e mesmo com o Logan me esquentando bastante eu ainda era meio friorenta.
Depois do banho, namoramos um pouco mais. Eu nem sabia que algo assim era possível, ter fôlego para tanto. Mas a gente teve. Daí caímos na cama exaustos e com fome, só que não tinha quase nada para comer no apartamento dele. Pelo menos nada dentro da data de validade, exceto por um pacote de macarrão e um pouco sal. Que foi o que a gente decidiu comer às três da manhã. Depois finalmente dormimos.
Quando acordamos, já era tarde. E eu mal tive tempo de fazer a minha mala em casa, porque o tal de portal reabria ao meio-dia. Queria ter me despedido das pessoas, do Dani pelo menos. Só que... o Logan era tão bonito ao acordar que eu tive que agarrá-lo mais uma vez. Não deu para resistir. Então acabei perdendo a hora. E eu não podia culpar ninguém por isso. Só a mim mesma e talvez ao Logan por ser tão gostoso.
Liguei para o celular do Dani um pouco antes da hora do almoço, mas ele não atendeu. Então deixei uma mensagem para ele vir até a minha casa dizendo que era urgente. Já que não pude me despedir pessoalmente, deixei uma carta para ele, e um cachorro. Pelo menos, era uma carta grande para compensar.
Muitas das coisas escritas eram devido a minha preocupação com o cachorro. Outras agradeciam pelos anos de amizade. Partia muito o meu coração deixar os meus amigos, principalmente o peludo que eu sabia que teria mais dificuldade de se virar sem mim, para trás.
– Se for possível, quero voltar para buscá-lo. – eu estava abraçada nos pelos brancos caninos quando o portal abriu.
O portal era como um espelho retangular que apareceu no meio da minha sala, assim do nada. Só que mais brilhoso. E eu não podia ver nada nele, nem o meu reflexo, e nem o que havia atrás.
O Logan sorriu, eu já tinha choramingado pelo cachorro umas cem vezes. E ele me estendeu a mão.
– O portal não vai ficar muito tempo aberto.
– Eu sei. – eu disse já me levantando. Com uma das mãos peguei a minha mala e com a outra peguei a mão estendida do Logan. Nossos dedos se entrelaçaram em um encaixe perfeito. E isso me deu mais certeza de que eu fazia a coisa certa.
– Mesmo que eu tenha que organizar expedições, quando houver comida o suficiente eu quero buscar o meu cachorro. – repeti.
– Está certo. – ele sorriu para mim.
Depois disso, nós atravessamos o portal e partimos rumo ao desconhecido. E, talvez, como eu era uma princesa e ele era um príncipe, rumo ao nosso final feliz. Ou semifeliz, porque acredito que ninguém pode ser feliz o tempo todo. Só que isso não nos impede de tentar.
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