Capítulo 22
Poucos minutos após eu telefonar para o Dani, ele apareceu na porta da minha casa. Só que, como eu tinha dado uma chave para ele, ele entrou sem bater e me encontrou sobre a bancada da cozinha. No mesmo lugar onde o Logan tinha tirado a bala de revolver do meu braço que era do mesmo lado do meu ombro agora ferido. É, eu devia treinar melhor os reflexos do meu lado direito.
E acho que foi a minha voz, e fato de eu ter dito que estava machucada, que preocupou o Dani e fez com que ele largasse tudo para vir até aqui. Com tudo eu digo o jogo de futebol onde ele estava.
Quando ele entrou, eu estava na cozinha, com sangue escorrendo pelo meu braço. Eu tinha comprado uns instrumentais médicos, já antecipando algo assim. Como uma cubeta metálica, seringa e soro para irrigação e lavagem, cabo e lâminas de bisturi e algumas pinças e materiais mais especifico para remoção de fragmentos de projétil de arma de fogo. Ou até, era bom estar preparada, para remoção de pedaços de vidros.
Só que eu acabei chamando o Daniel, porque percebi que não era capaz de fazer aquilo sozinha. Para isso eu precisava usar o braço esquerdo e, mesmo com a minha super coordenação motora, ele não funcionava tão bem quanto o direito. Então achei que eu não fosse conseguir.
Só que agora, olhando para o meu amigo, eu percebia que aquilo tinha sido um erro. Achei que por ele ser um estudante de medicina estivesse mais preparado. Ledo engano...
– O que aconteceu com você? – ele ficou horrorizado ao me ver. Como se nunca tivesse visto alguém sangrando antes.
O que talvez ele não tivesse visto mesmo, considerando que ele estava recém no primeiro ano da faculdade. Mas eu não tinha mais ninguém além dele para chamar.
– Eu fui salvar uma senhora de idade em um assalto. Ela era dona do mercadinho, tinha quase sessenta anos e, mesmo assim, o cara queria estuprá-la, acredita nisso?
O Logan tinha me pedido para não levar mais nenhum tiro, e eu estava tentando evitar isso por ele. E por mim também, é claro. Porque doía demais. Mas eu não podia ver aquilo acontecendo e simplesmente não fazer nada.
E mesmo levando um tiro, eu me dei melhor do que o cara. Fiquei tão braba que ele levou a maior surra. Uma surra controlada, é claro. Tipo, todos os órgãos internos dele ficaram intactos. Se bem que ele mereceu um chute com mais força em suas partes baixas...
Depois disso, ele ficou desmaiado, a mulher chamou a polícia e eu vim para casa tentar me curar sozinha. Só que, como estava difícil, em um impulso eu chamei o Dani. Que agora parecia pior do que eu, e prestes a desmaiar, ou a vomitar. Sendo que quem devia estar passando mal, pela dor, era eu. Só que... acho que eu já estava me acostumando a sentir dor.
Eu vivia pulando de lugares altos e fraturando o tornozelo, por exemplo. Que logo se curavam. Mas o meu ombro, enquanto houvesse qualquer corpo estranho dentro dele, não iria se curar.
O Dani disse que ia pedir ajuda, já que eu expliquei que não podia ir, de jeito nenhum, ao hospital. Eu não entendi o que ele quis dizer com pedir ajuda, porque, se eu tivesse entendido, nunca iria permitir.
E já que eu percebia que ele seria um total inútil nesse caso, eu estava concentrada em mim mesma, e em mexer dentro do meu ombro machucado com uma espécie de pinça. E isso doía muito! Por isso, nem vi quando o Dani telefonou para um amigo.
– Você está louca, Lila! – ele exclamou, horrorizado, quando voltou para a cozinha e viu o que eu estava fazendo. – Você pode lesionar um nervo, ou pegar um vaso sanguíneo, e ter uma hemorragia! Você não pode ficar mexendo aí dentro, sem o menor conhecimento de anatomia!
– Achei que você fosse estudante de medicina – eu comentei, apertando os lábios por causa da dor que eu me autoprovocava. – Que você tivesse algum conhecimento de anatomia. – falei de mau humor. O que era perfeitamente compreensível, acho.
– Não. Por enquanto, eu só mexi em cadáveres. E eles não sangram.
Então era isso, ele estava passando mal pela visão do sangue. Pobre Daniel, eu deveria alertá-lo que ele estava na profissão errada?
Eu, por outro lado, não me incomodava muito com sangue, acho que já estava me acostumando a ele. E, além disso, o cheiro não era dos piores.
– Comprei gaze – eu teria dito em uma voz entediada, se não estivesse sentindo dor – Posso fazer compressão, se eu começar a sangrar muito.
– Lila! – ele chegou mais perto, e segurou a minha mão, para tentar me fazer parar. – Você não está entendendo, se pegar um vaso importante, uma hemorragia pode ser fatal!
– Não, Daniel. É você quem não está entendendo. – eu consegui falar com uma voz mais normal, já que parei de mexer dentro da minha ferida. Já tinha, inclusive, retirado vários fragmentos metálicos lá de dentro. – Eu não sou uma pessoa normal. Não tenho hemorragias, e eu me curo rápido.
– Pelo menos, espere o Maurício chegar. Ele está terminando a faculdade, estava no futebol comigo agora, e ele tem mais conhecimento do que eu. Ele vai saber cuidar disso.
– Você chamou um estranho?! – agora fui eu quem ficou horrorizada – Para que ele veja como eu cicatrizo rápido? E que ainda por cima vai saber onde eu moro? Você só pode estar brincando, Daniel! – fiquei furiosa. Aquilo tinha sido tão estúpido!
– É... Acho que você tem razão... – ele disse, ao se dar conta do que ele tinha feito. – Eu nem pensei... Te ver assim me deixou tão apavorado, que eu nem pensei... Mas o Maurício é um cara legal, a gente pode confiar nele.
– Isso não importa, Daniel! O segredo não era seu, para que você arriscasse! Se fosse para contar para algum médico, que fosse para a sua mãe então!
– Ela é psiquiatra. – ele disse fazendo uma careta – Acho que está menos acostumada a ver sangue do que eu.
Eu revirei meus olhos. É, ele podia ser psiquiatra como a mãe. Ou radiologista. Qualquer coisa, menos cirurgião, pelo jeito, já que ele não tolerava sangue.
– Vou ligar para ele não vir... – o Daniel falou, sem jeito agora.
– Não. O que você vai fazer é ficar quieto, para que eu acabe aqui. E depois vai me alcançar um curativo.
– Curativo? – ele estranhou – Achei que você não precisasse dessas coisas.
– E eu não preciso. Procure algo para fazer um curativo no banheiro dos meus pais. Onde eles guardam os remédios.
– Tá – ele respondeu. Mas antes de sair, perguntou – Você vai ficar bem?
– Vou. – eu disse, ainda me sentindo irritada com ele.
É, ele não era o Logan. Então ele não entendia nada. Só que... ele era tudo o que me restava.
Então... falando no Logan, fiquei pensando nele, e no beijo, único e perfeito, para suportar a minha dor quando voltei a enfiar o instrumento metálico dentro do meu braço. O instrumento era mais eficiente do que uma faca, mas, considerando que o meu braço esquerdo não tão ágil, eu demorei bem mais do que o Logan para limpar a minha ferida.
Quando o Daniel finalmente voltou, já estava tudo feito. E foi então que a campainha da casa tocou.
– O Maurício chegou. – o Dani falou assustado.
Por um lado, a pele do meu braço já começava a fechar. Por outro, tinha uma quantidade considerável de sangue nas gases e nas toalhinhas brancas ao meu redor.
– Depressa. – eu disse – Coloque logo o curativo em mim.
– Só achei esparadrapo. – ele respondeu, já fazendo como eu pedia, colocando-o no meu braço. Agora que o sangue tinha parado de sair de mim, o Daniel estava até mais corado, aquela sua palidez fantasmagórica tinha passado. E estava mais eficiente também.
Era ridículo colocar curativo em uma pele onde logo não haveria ferida alguma, mas aquilo funcionaria como um disfarce, para que o tal de Mauricio não desconfiasse de nada.
Enquanto o Dani foi abrir a porta, eu fiquei arrumando a o local onde eu estava. Agora, a dor era mínima, e eu já era capaz de raciocinar melhor. Então achei melhor jogar fora muitas das gazes sujas. E achei melhor me hidratar também e tomar água, para repor o líquido que eu tinha perdido.
Ouvi o Daniel dando explicações, e pedindo desculpas para o amigo lá na sala. Antes que eles chegassem até mim.
– Ela estava sangrando muito – meu amigo dizia – e eu me apavorei. Depois vi que o corte era mais superficial do que eu pensava, e acabei estancando o sangue com gaze mesmo, e agora fizemos um curativo.
E daí o amigo dele não respondeu nada, pois me viu.
– Você está bem? – ele perguntou, me analisando. Olhando com atenção para o meu ombro, e para o sangue que ainda havia na minha roupa. Como ela era preta, não parecia ser muito.
– Estou. Parou de sangrar. – dei um sorriso meio sem graça.
Ele era alto e magro, e tinha os cabelos castanhos claros. Numa primeira olhada não tinha nada de especial. Mas, olhando como mais atenção, até que ele era meio bonitinho. Como o Barry Allen de The Flash, que eu tinha achado feioso e agora percebia que ele tinha um pouco de charme.
Assim era o tal de Maurício.
– Cara... – ele resmungou, olhando para o Dani – Quando você me ligou, achei que alguém estivesse morrendo, deixei tudo para trás, até o encontro que eu tinha com uma gata eu desmarquei. Mas a tua amiga parece estar bem.
– Sim. – eu respondi, já que o Dani pareceu contrariado e por isso não falou nada. Não tinha sido algo tão à toa assim, o que o fez ligar, mas ele não podia contar para o Maurício. – Ele se assustou um pouco, pela quantidade de sangue. Mas desde criança eu sou assim. Sangro muito, mas logo paro. – eu menti, e tentei ser simpática. – Aliás, tenho uma ideia. – acabei dizendo.
– O que? – foi o Dani quem respondeu, pois deve ter estranhado a minha expressão.
– Já que a gente estragou os planos do teu amigo – falei olhando para o Dani – e é sexta à noite, a gente podia sair. Eu chamo uma amiga e a gente sai os quarto.
– Você não estava machucada? – o tal de Maurício me analisou, parecendo meio desconfiado.
– Isso? – apontei para o curativo – Não é nada, nem está doendo mais. – O que era verdade. Resolvi acrescentar, para convencê-lo a ir com a gente. Achei uma pena ter estragado os planos dele por causa do "chilique" do Dani – E essa minha amiga é bem bonita.
– Tá bom então. – o Maurício acabou aceitando a ideia, e nós marcamos de nos encontrar mais tarde, na mesma boate onde eu comemorei meus 18 anos, depois de eu ter ligado para a minha amiga.
– Que amiga é essa? – o Dani perguntou ao ficarmos novamente sozinhos.
– Lá da confeitaria. Ela trabalha no caixa e é a única mais ou menos da minha idade, ela tem quase 21 anos. E nós ficamos amigas.
– Ah... e eu não sabia que você queria sair. Podia ter me dito.
– Sei lá. Tive a ideia na hora. É que eu percebi uma coisa... – eu disse, juntando o que ainda estava fora do lugar na cozinha.
– Que coisa?
– Que eu ainda sou jovem, que já faz dois meses que eles sumiram, e que eu não quero passar o resto da minha vida esperando pela volta deles. Então, percebi que eu preciso fazer novos amigos, e que eu preciso me divertir.
– Só isso? – ele me olhou desconfiado.
– É, só isso. Agora vou tomar um banho e me arrumar. Depois vamos para a sua casa, para que você se arrume.
– Está bem. Porque depois do que acabou de acontecer, eu realmente preciso de uma bebida. – ele disse, se sentando no sofá. E eu sabia que ele estava se referindo ao meu machucado, ele realmente havia ficado preocupado.
Mais tarde a gente passou na casa da minha amiga e ela foi de carona com a gente. E nos encontramos com o Maurício na frente da boate.
A Ágata, a minha amiga que era linda e que tinha longos cabelos escuros, estava com uma saia super justa e curta, que mal tapava a bunda, e que no momento em que eu a vi me chocou um pouco. Depois, eu barrei meus próprios pensamentos. Se ela usava essa saia, era porque ela gostava, e se sentia bem. Tipo eu com o meu decote. Embora eu estivesse com um blusa comportada agora, até para esconder o curativo para que eu continuava usando como disfarce. E não por haver qualquer ferida embaixo.
Se a minha amiga morena estava vestida assim, se ela queria se sentir sedutora como de fato estava, ou se só queria se divertir, era o direito dela. Porque, no caso dela, ela era maior de idade e dona de si mesma porque pagava suas próprias contas. E nem eu, nem nenhuma outra pessoa, tinha nada a ver com isso.
E se eu estava mais comportada, era porque estava a fim de estar assim. Toda de preto, como sempre, só que dessa vez usando uma saia ao invés de uma calça. Uma saia curta, mas não tanto como a da minha amiga. E eu não estava maquiada como ela. Isso porque eu não usava maquiagem nunca, e sem a minha mãe por perto nem sabia por onde começar. Além disso, eu não gostava mesmo.
Não é porque todo mundo pinta seu rosto para ficar mais bonita que eu preciso fazer isso também. Assim como a Ágata tem o direito de usar uma saia curta, eu tenho o direito a não usar maquiagem. Não sou obrigada.
Chegamos cedo, com a boate ainda vazia. Por isso era possível conversar, pois o burburinho ao nosso redor não estava tão alto.
A minha amiga me chamou em um canto, longe do Maurício e do Daniel, para perguntar.
– Os dois são uns gatinhos! – a Ágata falou, e ela parecia empolgada – Qual dos dois você quer? Eu topo ficar com qualquer um deles!
– Qual eu quero? – estranhei. Sei que estávamos em quatro, o que podia simular um encontro duplo, só que eu não tinha a menor intenção de ficar com nenhum deles. Pelo menos não enquanto o Logan estivesse nos meus pensamentos. – Pode escolher qualquer um, eu não quero nenhum deles.
– Verdade? – agora foi ela quem estranhou, mas, apesar disso, ela sorriu, me mostrando seus dentes perfeitos. – Então acho que vou investir no loirinho – ela se referiu ao Daniel – o outro parece muito sério.
E eu concordei. Apesar de não saber se o Maurício era sério mesmo, ou se só estava ainda chateado com a sua mudança de planos.
– Eu só quero me divertir. – expliquei, sorrindo também. Eu me sentia feliz por estar ali, e a sensação era boa – Conversar um pouco, ver gente e, principalmente, eu quero dançar.
– E eu quero tomar uma bebida. Os meninos já estão lá no bar. – ela falou me puxando.
Só que, como eu não queria beber, fiquei onde estava, esperando pela volta deles. Sem o colar, a bebida não fazia nenhum efeito em mim (eu já não precisava mais dele), por isso optei por não beber nada além de água. E eu não estava com sede agora.
E foi então que começou a tocar uma sequência de músicas dos anos 90. Algo do que, mesmo estando fora de moda, eu era super fã.
– O último vinil que você comprou não era desse cara? – o Daniel perguntou quando voltou, ao ouvir a música "You got it" do Roy Orbison tocando.
– Era. – respondi sorrindo. Eu era uma pessoa bastante musical, e músicas dos anos 90 não tocavam tanto quanto eu gostaria. Então aquilo me deixava feliz.
– Você curte vinis? – o Maurício perguntou, voltando da fila de bebida também, onde a Ágata ainda estava.
– Ahãm. – eu sorri – Eu curto música de velhos, como o Dani adora dizer. Tipo... sou super fã de quase tudo dos anos 90. Deve ser por influência do meu pai.
– Sério? – ele pareceu se empolgar – Você gosta do Iron Maiden? Ou do Metallica?
– Gosto, sim. – eu sorri – Inclusive o Daniel me deu um vinil do Iron de aniversário que já está quase gasto de tanto que eu ouvi. E tenho um vinil do Mettalica também. A minha música preferida é "Nothing else matters".
– Sério? – ele aumentou seu sorriso para mim – Eu também curto muito essa música. E acho que hoje em dia não se fazem mais músicas boas.
– Nisso a Lila discorda – o Daniel se meteu na conversa. – Ela gosta do One Direction e da Taylor Swift.
– Gosto mesmo. – falei. Não tinha a menor vergonha de admitir os meus gostos. Eu não iria mudar, nem mentir, para agradar ninguém. – Eles fazem músicas boas, e eu gosto de músicas boas. Gosto de Five seconds of summer também.
– Isso é bem discutível... – o Maurício sorriu, e depois continuou falando sobre seus gostos musicais. Muitos semelhantes aos meus.– ... e se você gosta de Taylor Swift, deve gostar de Madonna também. Eu curto as músicas dela.
E eu concordei com a cabeça. Embora desconhecesse totalmente a ligação entre a Madonna e a Taylor. Talvez... hum? A Madonna tivesse sido loira também em alguns momentos?
Só que... eu estava a fim de me divertir, e não de ter conversar musicais profundas. Por isso, cortei o Maurício, ao falar:
– Eu quero dançar. – já que estava tocando uma música da referida cantora mais velha no momento. Por isso, aliás, que o nome dela tinha sido citado.
– Então vamos. – o Maurício foi andando e me puxou pela mão, não dando chances para a Ágata e o Daniel nos acompanharem em um primeiro momento.
Tudo bem. Eu deixei ele me puxar porque... bem... até que estava sendo divertido. Era bom conhecer alguém diferente e conversar com um cara que não fosse o Daniel, para variar. Mas, depois, os outros dois se juntaram a nós. Só que o Maurício meio que monopolizou a minha atenção, e eu meio que deixei que ele fizesse isso.
Primeiro, porque eu devia isso a ele, eu acho. Por ter estragado a sua noite. Depois, porque eu estava me divertindo também. Ele era engraçado e não era nada sério como eu e a minha amiga tínhamos pensado a principio.
Falando na minha amiga, ela desistiu de tentar ganhar a atenção do Dani, e acabou indo conversar outro cara. Aliás, quando nós fomos embora, eu e o Dani, ela ficou na boate com esse outro, que era um conhecido da sua antiga escola.
E o Maurício, pouco antes de gente ir embora, já que não tínhamos feito nada além de dançar e conversar, pediu o meu telefone. Acho que não fizemos nada porque o Dani, com a sua vigilância pesada em cima da gente, não deu espaço. Porque eu sentia que o Maurício queria mais do que apenas dançar e conversar comigo.
Então, quando o Dani foi para o caixa pagar as nossas contas, me deixando para trás com o Maurício que preferiu pagar a dele depois, meu novo amigo não perdeu tempo e aproveitou para me beijar. E eu deixei que ele fizesse isso. Fazia dois meses que eu não era beijada, e eu estava cansada de estar sozinha.
E foi bom. Não perfeito, mas bom. E foi então que eu percebi uma coisa: eu não queria ficar sozinha. O amor da minha vida podia ter ido embora, e talvez para sempre, e eu não podia passar o resto da minha vida esperando por ele. Até porque, talvez, ele nunca mais voltasse.
Só que o Daniel, que viu a gente se beijando quando voltou da fila do caixa, não parecia ter gostado nada daquilo. Quero dizer, ele até que escondeu bem isso, mas eu o conhecia há muitos anos para perceber seu descontentamento.
Então, se eu iria ver de novo o Maurício, e acho que eu queria fazer isso, eu precisava conversar antes com o meu melhor amigo. E foi por isso que, quando o Dani me levou para casa e nós ficamos sozinhos, eu o convidei para entrar, dizendo que a gente precisava ter uma conversa.
Só que, assim que entramos, foi ele quem começou a falar. Porque ele tinha muito a dizer também.
E o Daniel me surpreendeu. Porque o que ele disse mudou tudo entre a gente.
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