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2.

O Augusto se mancava. Tirava o calção, mas deixava a cueca. Só depois de também ligar o chuveiro e se molhar é que tomava coragem: num golpe rápido, ela foi pro chão. A tromba balançou, só que o Gustavo ficou quieto. Não estava olhando. Mas quando viu...

— Eita desgraça! — falou, esfregando os olhos. — Ó a bengala do cara!

O Augusto sorria, agora achando uma brecha pra olhar a dele também.

— Nem é tão grande!

— O meu, né — o Gustavo falava, rindo.

Aí o Augusto repetia a risada, olhando o pinto do colega sem mais medo, achando aquilo o máximo. Só os dois no chuveiro do vestiário, a bola quicando no pé dos colegas lá fora, na quadra, tarde quente em Olinda.

— E quanto é que mede essa porra?

— 20...

— 20 centímetros, viado?

O Augusto fazia que sim, o sorriso terminando lá nas orelhas.

— Bicho picudo da porra! O meu tem só 15... — E metia a cara embaixo da água antes de olhar mais uma vez.

Ficava um silêncio embaraçado entre os dois, só o ruído da água jorrando e da bola quicando no concreto. O Augusto, em clara vantagem sobre o amigo naquele esquema, sabia que precisava compensar as coisas, fazê-lo não se sentir tão por baixo. Aí falou:

— Mas tu joga bola pra caralho, meu mano. Tu é fodão.

— Ah, só que quem mete gol nas mulher é tu, né?!

O Augusto ria.

— Nem é, pô.

— Tá doido! Se tu vier jogar mesmo com a gente, tu vai ganhar de todo mundo! Correndo com três pernas, até eu!

Agora, o peito não chacoalhava mais de medo: inchava de orgulho. Orgulho! O Gustavo falando bem dele, elogiando, assim, entre aspas, o cacetão, a habilidade que imaginava que tinha com as garotas e que ia ter no futebol. Ah!... É que, naquela conversa simples de chuveiro, o Augusto provava um sabor que nunca tinha posto na boca. Não sabia qual era o gosto dessas intimidades bem-vindas, dessas confissões fálicas dos caras. E ele estava tão empolgado que até quis confessar pro Gustavo que era virgem e que nunca tinha trepado com menina nenhuma, mas ficou quieto. Pensou que talvez aí já fosse intimidade demais.

O Gustavo foi que seguiu elogiando. Aí começou entregando quem do time tinha pinto pequeno mas comia geral — até reproduzia o tamanho com os dedos em pinça —, e que o professor tinha um combinado com os caras: quando vencessem um campeonato interclasse, ele arranjava umas novinhas pra rapaziada se divertir. Como nunca tinham vencido nenhum, o professor nunca tinha cumprido a promessa.

— Mas bó vencer esse ano — o Gustavo desligava o registro, ensaboava o sovaco, o olho rápido caçando de novo a tromba pendurada do Augusto.

— Bó simbora. Tu vai ser o nosso Neymar, né?

— E tu vai ser o nosso Mbappé correndo com três pernas!

Riram.

— Vou tacar um hat-trick naqueles pela-sacos de Recife, tu vai ver!

Dali, terminada a aula na quadra, a dupla voltava pra sala. Tinham o conto de português pra escreverem juntos. Melhor dizendo, pra colarem da Vanessinha zói de Fusca. A propósito, foi ao lado dela que o Gustavo foi sentar pra ver se descolava a tal da cola. Voltou depois pra junto do Augusto com a cara emburrada.

— E aí? Ela vai ajudar a gente?

— Vai é uma porra — ele bufou. — Acredita que a cabaçuda me esnobou?

— Vixe. Mas eu dou um jeito.

— Maninho, não vou saber te ajudar nisso, não... Essas coisas de escrever histórias, eu não sou bom...

— Sossega — o Augusto ficava dizendo —, vou bolar algo pra gente.

E bastou isso para o Augusto ferver de borbulhar. Mil histórias transavam ao mesmo tempo na sua cabeça, mas nenhuma era boa o bastante pra ele dividir com o Gustavo — o mesmo Gustavo que não sabia escrever uma só linha da pior história que o Augusto criasse. Nesse dia, ele foi pra casa pressionado a criar a mais impressionante de todas.

No seguinte, no intervalo da aula, o Gustavo levou o Augusto pra apresentar ele pra moçada. Era costume que se reunissem na arquibancada da quadra vazia e fizessem uma puta algazarra conversando até o sinal tocar para voltarem pra sala. O Gustavo foi chegando, cumprimentando geral naquele molejo risonho que só os caras têm, abocanhando o pedaço do lanche dum deles, e só então disse:

—Esse é o Augusto, amigo meu...

E trataram o Augusto que nem se fosse amigo deles também. Era outra novidade pro seu paladar pobre: ganhou apertos de mão e tapinhas no ombro, ganhou essa zoeira agradável que os caras só dedicam uns pros outros. Agora, não o olhavam mais com aquela restrição de sempre. O Augusto enfim entrava pra aquele culto restrito onde só os picas eram permitidos.

E quando o Gustavo foi dizendo que ele ia entrar pro time, o pessoal fez algazarra. Aí ele emendou aquela piada do Mbappé, com um sorriso sacana, dizendo que agora dava pra ganhar o interclasse porque o Augusto corria com três pernas, e a macharada explodiu.

— Agora nós ganha essa desgraça!

— Ô, o fessor vai ter que arranjar aquelas novinha lá pra gente!

O Augusto exultava. Passava de estranho caladão pra inspiração da rapaziada. Os caras davam tapas nos ombros dele, era impressionante. Quando um pegou o embalo e quis saber, meio com vergonha de perguntar, qual que era o tamanho da tromba, o Gustavo que respondeu afastando um pouco as mãos...

— Eita desgraça! — Explodiram! — Vai afolozar tudo as menina!

— Semana que vem, as menina daqui vem estudar tudo na cadeira de roda!

***

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