ZERO.
PRÓLOGO.

Gerard estava no primeiro degrau da escada, quando escutou uma voz vindo do andar de cima. Conforme subia as escadas, se aproximando do topo, identificou que Kate era a dona da voz. As palavras ditas pela filha mais nova de Gerard, ficaram mais compreensíveis quando ele chegou ao segundo andar. O homem ajeitou o enorme casaco preto que usava e caminhou até o final do corredor, foi quando se deu conta que Kate não estava falando, mas cantando.

Ele se apoiou na porta, colocando a cabeça para dentro do quarto, e viu a filha sentada em uma poltrona, cantando enquanto balançava o bebê em seus braços. Gerard não conseguia ver o rosto de Kate, mas podia jurar que ela estava sorrindo. Se não estivesse vendo com os próprios olhos, não acreditaria que aquilo estava acontecendo.

O homem aplaudiu, o som ecoou pelo pequeno quarto e Kate se virou, arregalando os olhos ao notar seu pai na porta. 

━ Eu estava fazendo ela dormir. ━ Disse rapidamente, como se tivesse que se justificar por ser pega em um momento carinhoso com a bebê. ━ Ela gosta de música, dorme mais rápido se alguém estiver cantando.

━ Você não precisa parar, a música estava boa, os aplausos foram elogios. ━ Gerard disse. Apesar de ter soado sincero, aquela não era a verdade, tinha batido palmas para chamar atenção, para acabar com aquela cena que incomodava o Argent.

Era visível para qualquer um, o quanto Kate tinha mudado durante a gravidez, e mudado ainda mais após o nascimento de Althea. A mulher tinha  desenvolvido aquele olhar, um olhar direcionado apenas para Althea, como se ela fosse o sol e todo o resto girasse em torno dela. Gerard deveria estar feliz por sua filha estar demonstrando que poderia ser uma boa mãe, porém tudo que sentia era frustração, ao notar que sua influência sobre Kate estava diminuindo.

Katherine sempre foi determinada e cheia de opiniões fortes, porém facilmente manipulada por Gerard. Até mesmo quando ela acreditava estar cometendo um ato rebelde, havia uma influência do homem por trás e ela estava fazendo exatamente o que ele queria, sem que se desse conta.

Outra vantagem de ter Kate ao seu lado, era a falta de escrúpulos da mulher, ela estava disposta a quebrar as regras, algo que Chris se negava a fazer. 

━ Thea dormiu. ━ Ela disse, aconchegando a filha em seus braços.

━ Bem a tempo de você se juntar a nós na caçada dessa noite. ━ Colocou o corpo todo para dentro do quarto, e caminhou em direção a loira. ━ Já faz tempo desde a última vez que participou e você ama caçar.

━ Ela pode acordar. ━ Deu de ombros.  

━ É para isso que estamos pagando uma babá, se a Thea acordar, ela vai estar aqui para ajudar. 

A loira não disse nada, fingiu não ouvir.

━ Kate, eu sei que tem outro motivo para não querer ir.

Durante toda a vida da filha, foram poucas as vezes em que Gerard a viu assustada, ela detestava demonstrar fraqueza, era sempre durona, imparável, se colocava de frente com o perigo e não parecia temer. O momento em que o homem viu puro pavor no olhar e na expressão de Kate, foi quando ela notou que tinha sido mordida. 

━ Se algo acontecer dessa vez, não tenho nenhuma flor mágica para me salvar. 

Há milhares de anos, gotas de luz solar caíram do céu, em diferentes lugares do mundo, e a partir do contato dessas gotas com o solo, cresceram flores douradas. Elas eram especiais não apenas por aparência, sem dúvida eram belas e exóticas, porém o que as tornava tão especiais era seu poder, por terem origem sobrenatural, as flores tinham o poder de curar qualquer ferimento sobrenatural e impedir transformações. 

As flores eram extremamente raras, tendo um número limitado e sendo quase impossíveis de encontrar. A família Argent procurou durante anos, uma busca que passou de geração para geração, viajando de uma ponta a outra do mundo. Eles conseguiram encontrar três flores, concordando que só deveriam ser usadas em casos de grandes emergências, cada flor só podia ser utilizada uma vez, pois para conseguir a cura desejada, era preciso consumir a flor dourada.

Quando Kate foi mordida, ela não pensou duas vezes antes de comer uma flor. Os Argent tinham uma regra, eram as mulheres que tomavam as decisões, mas Gerard esperava que Kate ao menos convocasse uma reunião, dissesse para ele e para Chris que pretendia utilizar a última relíquia da família — afinal as outras duas tinham sido usadas por gerações anteriores — algo que também pertencia a eles. Gerard a amava, e doeria como o inferno perder sua filha, em uma reunião provavelmente votaria a favor de Kate consumir a flor, porém o que o irritava, é ela ter feito sem antes dizer algo para ele.

A história se tornou ainda mais complicada, quando na semana seguinte, a Argent descobriu que estava grávida. Nenhum deles sabia dizer se a flor causaria algum efeito no bebê, nada assim tinha acontecido na história da família antes. Gerard se animou com a possibilidade de sua neta adquirir as habilidades curativas, mas com o passar dos meses da gravidez, Kate começou a discordar das ideias do pai, queria sua filha o mais longe possível do sobrenatural.

━ Se ferir sempre foi uma possibilidade no nosso trabalho, Kate, e você nunca pareceu se importar ou se sentir intimidada com isso. ━ O homem disse. ━ É a nossa missão, temos o dever de caçar aqueles que nos caçam, proteger aqueles que não têm o conhecimento, vai estar tornando essa cidade melhor para a Thea.. E se você se ferir de novo, talvez não seja tão boa quanto pensa que é.

Ela se levantou da poltrona.

━ Eu sou a melhor. ━ Garantiu. ━ E vou resolver hoje, tudo o que você e o Chris estão levando dias para fazer.

Um sorriso discreto surgiu nos lábios do mais velho. Tinha conseguido exatamente o que queria. Como sempre.

━ Vamos ver.

━ Vão me assistir acabar com todos os lobisomens de Beacon Hills, antes de ir embora da cidade.

Kate entregou a filha nos braços de Gerard, e foi até o guarda-roupa pegar um casaco.

A expressão do homem mudou quando ela mencionou ir embora da cidade. Não era a primeira vez que Kate falava sobre isso, tinha tomado a decisão na semana anterior, se mudaria para criar Althea longe de Beacon Hills. Não importa o que dissessem, ela não estava disposta a mudar de ideia, mais uma coisa na lista das milhares de coisas que recentemente incomodavam Gerard.

━ Eu coloco ela no berço. ━ Ele disse. ━ Deixar os filhos é sempre difícil, mas Thea vai estar aqui quando você voltar.

O homem caminhou em direção ao berço, sorriu ao observar como a neta dormia pacificamente em seus braços. O sorriso se alargou no momento em que a colocou no berço e o punhado de cabelo loiro de Althea brilhou, tão dourado quanto a flor do sol. Ele brilhava aleatoriamente, ela era apenas um bebê, não tinha como saber controlar seu poder, mas um dia saberia, e Gerard teria planos para ela quando esse dia chegasse. Kate era um obstáculo no caminho dos planos que ele tinha para a neta, mas poderia facilmente remover.

Althea alcançaria seu potencial com mais facilidade sem Kate tentando agir como se ela fosse um bebê normal, o que não era. E Kate alcançaria ainda mais seu potencial como caçadora, sem ter Althea como uma preocupação. Elas seriam melhores se estivessem separadas, e elas ficariam longe, mas Gerard estaria perto para cuidar das duas.

━ Boa noite, minha flor. ━ Se inclinou para beijar a testa do bebê. Bom, ao menos seria uma boa noite para Gerard Argent.

━ Você tem que admitir, foi um péssimo tiro. ━ Kate riu, e Chris revirou os olhos em resposta.

━ E você falou sobre isso o caminho todo, tão irritante, Katherine. ━ Ele reclamou, mas um pequeno sorriso podia ser visto no canto de seus lábios, sentiria falta de toda a implicância da irmã mais nova quando ela se mudasse. Os Argent eram uma família complicada, mas ainda eram uma família.

━ Só estou esperando você admitir e… ━ Ela parou de falar assim que o carro se aproximou da entrada da casa. A expressão da loira mudou bruscamente. ━ Chris! Pai!

O carro ainda estava em movimento quando a mais nova abriu a porta, saindo e correndo em direção a porta. Chris estacionou, saindo do veículo e sendo seguido por seu pai. 

A porta estava escancarada, e o corpo da babá estava caído no chão sobre uma poça de sangue, Chris se abaixou para verificar se a mulher ainda estava viva, mas não encontrou nenhuma pulsação, notou que o sangue vinha do pescoço dela, que tinha sido cortado. Kate entrou correndo para dentro da casa, a sala estava bagunçada, móveis revirados, a mesa de centro quebrada e ao passar perto da cozinha, notou que o cômodo se encontrava na mesma situação, mas sua maior preocupação não era a casa e sim Althea, sua filha precisava estar bem.

Subiu as escadas correndo, seu coração batia descontroladamente, e suas mãos tremiam, não se lembrava de ter sentido tanto nervosismo e preocupação em toda a sua vida, podia estar correndo mas cada passo parecia lento, era invadida pelos piores pensamentos e sentimentos. 

━ Thea! ━ Exclamou ao entrar no quarto da filha. As luzes estavam apagadas e diferente dos outros cômodos, todos os móveis pareciam intactos.

Se aproximou do berço, desejando que sua garotinha estivesse ali, dormindo tranquila como da última vez que a viu, a pegaria nos braços e iriam embora naquela mesma noite, não importava se não tivesse para onde ir, qualquer lugar era melhor que Beacon Hills. Prometeu a si mesma que largaria tudo, sem mais arcos, sem mais caçadas, se isso significava que poderia encontrar sua filha dormindo em paz todas as noites. 

A dor que sentiu ao ver o berço vazio foi indescritível, soltou um grito que mais se assemelhava a um grunhido. Saiu do quarto desesperada, entrando em todos os cômodos daquele andar e depois seguindo para o andar debaixo, precisava encontrar sua filha, ela tinha que estar em algum lugar daquela casa. Quando terminou de procurar por toda a casa, estava de volta a sala, devastada, seus joelhos tremiam tanto que ficar de pé tinha se tornado uma tarefa impossível e ela teria caído no chão se não tivesse sido segurada por Gerard.

Ela não chorava, nunca, aquela foi a primeira vez que derramou uma lágrima em anos, desde o funeral de sua mãe. Um vazio enorme parecia ter surgido em seu peito, e só poderia ser preenchido por Althea, sentia um enorme pânico e preocupação, onde sua filha estava? Ela estava bem?

A polícia de Beacon Hills não demorou muito para chegar até a casa, analisando cada canto da cena do crime, cercando o local e questionando os vizinhos. As câmeras de segurança do quarteirão tinham sido destruídas na noite anterior, a polícia ainda não sabia quem era o responsável por isso, mas sem dúvida o caso estava ligado com o homicídio, roubo e sequestro na casa dos Argent. Um crime cruel e premeditado.

━ Nenhum dos moradores, além da Althea, estava na casa, minha esposa está passando a semana fora, ela levou nossa bebê para visitar a família materna… ━ Chris contou, respondendo uma das perguntas feitas pelo xerife. Gerard se afastou antes de ouvir o final da resposta.

O homem observou de longe, enquanto Kate discutia com um dos policiais, era visível para todos o quanto ela estava desesperada e furiosa, mas Gerard acreditava que ela poderia superar aquilo, mesmo que levasse algum tempo.

Ele pretendia visitar Verena no dia seguinte, agradecer a mulher pelos seus serviços executados com perfeição, ela ficaria com Althea até a investigação diminuir, então Gerard buscaria sua neta e a levaria até uma cabana, aquele seria o novo lar de Thea.. Ele franziu o nariz ao pensar no nome, era uma vida nova, ela precisava de um novo nome.. Flora, sua flor dourada, ela seria chamada de Flora.

E Kate não precisava se preocupar. Gerard cuidaria de Flora.

Oi leitores!

Assumo que eu estou quase dando pulinhos de animação, não via a hora de começar a postar essa fanfic, estou em surto completo. O prólogo trás explicações e Gerard sendo o maior cretino de todos, eu quero esse homem na cadeia! E no próximo capítulo temos as primeiras aparições da Althea/Flora e do Stiles.

Lembrando que não tenho a menor intenção de passar pano para os crimes da Kate, ela segue sendo a maior cretina do mundo, a única diferença é que ama a filha dela.

O que vocês estão achando da fanfic? Sei que é só o começo, mas o que acharam do prólogo? Opiniões me ajudam muito!

Obrigada por lerem!