Capítulo 13
Os raios de Sol quentes atingiram o rosto de Audrey, anunciando a chegada da manhã. A princesa virou-se, cobrindo a face com o lençol, tentando afastar-se da luminosidade. Embora adormecida, no seu íntimo sabia que aquele sossego não duraria muito, não quando o Sol já nascera. Dormira vezes suficientes no mesmo quarto que uma certa pessoa para saber que, quando o Sol nascia, o dia começava.
No entanto, isso não implicava que Audrey não tentasse dormir mais um pouco... em vão.
- BOM DIA FLOR DO DIA!
Um corpo colapsou com o seu, esmagando-a. Audrey soltou um grito, abafado pelos cabelos morenos que lhe tapavam o rosto. Os olhos brilhantes da melhor amiga encararam-na, a expressão luminosa na sua face fazendo Audrey sorrir, contagiada.
- Bom dia, chata. Não podes voltar a dormir? Só mais cinco minutos. - protestou a filha da Bela Adormecida, tentando afastá-la, em vão.
- Nem mais cinco minutos nem menos, docinho! - Rhiara baixou a voz, segredando-lhe ao ouvido - Ainda tens que me ajudar a escolher o vestido.
Como previra, Audrey abriu de imediato os olhos, sentando-se de rompante e empurrando a melhor amiga para o lado. Os olhos castanhos arregalaram-se, em pânico.
- Oh não!!! Temos tanto por fazer! Não tens roupa nenhuma em Auradon, temos de arranjar-te o vestido mais bonito do mundo, afinal é a primeira vez que vais ser apresentada ao povo de Auradon...
- E a todos os outros reinos. É a primeira vez que toda a gente vai pôr os olhos na princesa de Corona. - Rhiara bufou, esboçando um sorriso amarelo - Sem pressão.
Audrey soltou um gritinho, pondo-se de pé. O entusiasmo tomara conta do seu rosto de boneca, os cabelos pintados em tons de rosa sendo rapidamente apanhados no topo da cabeça, para não a atrapalhar. Dirigiu-se ao roupeiro, tagarelando sozinha e atirando um e outro vestido ao chão, concentrada na sua tarefa.
Rhiara sorriu, feliz ao ver a melhor amiga assim. No dia anterior, quase a perdera. Agora, ali estava ela, cheia de vida e com uma aura renovada de esperança e alegria. A expressão da filha da Rapunzel suavizou-se, recostando-se na cama da amiga, ficando apenas a observá-la, pensativa.
No dia anterior, Audrey acordara do seu maior pesadelo, arrependida de tudo o que fizera.
"A filha de Aurora pestanejou, o rosto desfigurado pela tristeza e pelo arrependimento. Acabara de acordar, graças a Hades, e parecia atordoada, confusa. Os olhos castanhos pousaram em Rhiara, cujos braços a envolveram num abraço apertado, o suspiro de alívio escapando-lhe pelos lábios.
- Estás bem. - murmurou, apertando-a contra si.
- Diz-me que foi um pesadelo. - pediu Audrey à melhor amiga, abanando a cabeça - Por favor.
Rhiara esboçou um sorriso torto ao soltá-la. Não poderia fazer tal coisa, claro. Audrey engoliu em seco, as mãos no colo torcendo a barra do seu vestido, para lá de nervosa.
- Lamento imenso... Eu queria magoar-vos. - olhou para Ben e Mal, mordendo o lábio inferior - Peço imensa desculpa.
A Rainha de Auradon abanou a cabeça, aproximando-se dela. Fios do seu cabelo roxo soltaram-se do penteado que lhe tinham feito ao abanar a cabeça, os olhos verdes encarando a princesa com compaixão ao dizer:
- Eu é que te devo um pedido de desculpa há muito tempo, Audrey.
- E eu também.
Ben aproximara-se das duas, baixando os olhos. A forma como virara as costas a Audrey deixava-o com vergonha do seu próprio comportamento; eram amigos desde o nascimento, ela e Rhiara eram as suas melhores amigas e tinha abandonado ambas por egoísmo. A mão de Audrey puxou a dele, a outra agarrada a Mal, os olhos castanhos encarando o ex-namorado com ternura.
- É passado. Está tudo bem, Ben.
A filha da Rapunzel encostou a cabeça ao ombro de Ben, os três sorrindo uns para os outros, cúmplices. Nenhum deles diria em voz alta, mas tinham sentido falta do trio que formavam. Os seus caminhos tinham-se afastado e a vida continuara, as responsabilidades e as emoções separando-os.
Agora, estavam juntos novamente."
- Rhiara, o que estás a fazer?! Tens de tomar banho, pôr creme nessa cara ressequida para eu poder maquilhar-te e pentear-te! Despacha-te!
- Mas já escolheste o meu vestido? - questionou Rhiara, cruzando as pernas.
- Não... Mas já estou a pensar mais à frente! - Audrey parou à frente dela, a voz suavizando ao dizer-lhe - Estás bem? Infelizmente, a tua apresentação coincide com o fecho da barreira...
- Eu estou bem. - respondeu a princesa, automaticamente.
Não estava, claro. Cada vez que pensava no assunto, sentia uma revolta enorme, apesar de entender os motivos porque Mal e Ben o queriam fazer. Para Rhiara, não só era absurdo, como não era justo. Se não fossem pelos vilões como Hades e Uma, Audrey não estaria ali. Sem a ajuda deles, a sua melhor amiga estaria morta e Rhiara nunca lhes poderia mostrar a gratidão que eles mereciam. Estavam a fechá-los numa jaula, como se fossem animais. Compreendia a preocupação dos Reis de Auradon com o seu povo mas... Mal era da Ilha dos Perdidos; não deveria considerar também os habitantes da ilha o seu povo?
- Eu conheço esse olhar. - ripostou Audrey, apontando-lhe um cabide ao rosto - É o mesmo olhar que tinhas no rosto de cada vez que a tua mãe te impedia de sair do castelo. Estás revoltada, não estás?
- Não estou sempre? - brincou a morena, abanando a cabeça - Vá, menos conversa e mais atenção. Faltam poucas horas para a cerimónia e eu continuo sem vestido.
- Não por muito tempo. - Audrey piscou-lhe o olho, sacudindo os cabelos - Conhecemos a melhor estilista de Auradon, de certeza que ela nos arranja um vestido digno da tua pessoa. Vamos ter com a Evie!
Rhiara franziu o sobrolho.
- Eu pensei que não gostavas da Evie. De nenhum deles, na verdade.
- Não gostava da Mal. Os outros era só por acréscimo. - a filha de Aurora encolheu os ombros - Mas não tenho nada contra a Evie, acho que ela tem um excelente gosto. Vamos mulher, temos que nos despachar!!
A filha da Rapunzel soltou uma risada, deixando-se arrastar pela amiga. A imagem de Audrey deitada, o rosto pálido e sem vida, iria atormentá-la por um bom tempo. Recordou-se do momento em que a filha da Bela Adormecida se virara para ela com lágrimas nos olhos e lhe dissera:
"Desculpa não ter sido a amiga que merecias."
Rhiara abanara a cabeça, descartando aquela ideia. Audrey era a sua melhor amiga desde nascença, cometia erros como qualquer pessoa e toda a companhia que ela lhe fizera durante anos faziam com que fosse exatamente o que Rhiara merecia... E queria. Por muito que Audrey a tivesse magoado, já estava perdoada; a amizade que elas tinham superava qualquer coisa e aquela era só mais uma prova disso.
Embora ainda se fosse vingar pelo banho gelado que Audrey a fizera dar no Lago Encantado.
O povo de Auradon reunira-se. A Ilha dos Perdidos saudava-os ao longe, a muralha defronte para a entrada da ponte invisível que a ligava a Auradon pronta para receber os seus reis.
Escondida atrás de uma árvore, Rhiara respirava fundo, tentando acalmar-se. O seu coração batia fortemente, os olhos esmeralda fitando a Ilha com pesar. Pensou em Uma, em Gil... Em Harry. Eles tinham sido seus amigos, tinham-na aceite e gostado dela, mesmo com toda a mentira que inventara. Eles mereciam estar ali.
Passou as mãos pelo tecido dourado do seu vestido. Quando ela e Audrey tinham visitado Evie, a filha da Rainha Má achara de imediato um vestido para ela, ajeitando as medidas para lhe assentar perfeitamente no seu corpo. Segundo Evie, o dourado era a sua cor, já que lhe realçava os cabelos morenos e a pele bronzeada. O tecido era brilhante e Rhiara sentia-se como uma pequena estrela, os caracóis que Audrey lhe fizera no cabelo e a maquilhagem discreta nos seus olhos completando o look com que seria apresentada... ao mundo. No seu peito, um colar com o Sol da bandeira de Corona repousava. Na sua cabeça, a tiara que um dia pertencera a Rapunzel, digna da princesa de Corona.
Rhiara estava nervosíssima.
- Vais-te sair lindamente, querida.
A Rainha de Corona aproximara-se dela, magnífica no seu vestido lilás. Os olhos idênticos aos da filha brilhavam de orgulho, a mão acariciando a bochecha da mais nova com certo pesar.
- Rhiara...
- Mãe, está tudo bem. - interrompeu-a, dando-lhe a mão - Eu não te culpo por nada. Sei que tinhas receio do que me poderia acontecer fora das muralhas do castelo, fora de Corona... Estavas a tentar proteger-me. Não é o mesmo que Gothel fez contigo. - Rhiara apertou-lhe a mão, vendo os olhos da mãe marejaram-se de lágrimas - Não te arrependas de nada, mãe. A verdade é que, se não fosses tu, eu não estaria preparada para enfrentar o mundo real. A tua frigideira foi fantástica nesta jornada. - Rapunzel riu-se, limpando as lágrimas discretamente - Obrigada por me ouvires agora. Por não quereres me levar para Corona e me prender dentro do castelo de novo. - a mais velha abriu a boca, querendo protestar mas Rhiara piscou-lhe o olho, sorridente - Fizeste o melhor que sabias, mãe. Sem ressentimentos... Sem revolta. Eu entendo. E amo-te por isso.
- Oh querida! - a Rainha de Corona fungou, comovida - Eu só queria proteger-te... Continuo a querer.
- Eu sei. Mas acredita: eu sei me proteger sozinha. - a menina sorriu, fungando - Os meus pais certificaram-se que assim era.
Rapunzel sorriu, puxando a filha para um abraço. Criara uma menina com um bom coração e deu graças aos céus por Rhiara já não ser a adolescente revoltada que fora, com as suas razões. A aventura que vivera servira para ela crescer e Rapunzel quase agradeceu por ela ter conseguido fugir, tal como ela conseguira fugir da sua torre, tantos anos antes.
Quase, porque nunca iria admitir isso em voz alta.
- Não te esqueças que estás de castigo. - murmurou a Rainha ao ouvido da mais nova, que bufou - Um mês a limpar todas as tapeçarias do castelo. Sem pedires ajuda ao teu pai, ambas sabemos que ele faz tudo o que lhe pedires.
- O quê?! Que ultraje! O grande Eugene não cai no beicinho da filha, jamais! - brincou Rhiara, imitando o que o antigo Flynn Rider diria.
As duas riram, encaram-se por breves instantes. Rhiara ajeitou novamente o vestido, os olhos esmeralda desviando-se para a ilha, repletos de emoção. Rapunzel esboçou um sorriso triste, colocando uma mecha do seu cabelo atrás da orelha, dizendo:
- Não sei o que se passou estes dias mas... Quem quer que tenha roubado o teu coração, um dia achará o caminho de volta para ti. - a mais velha encostou a testa à da filha, a qual suspirava, entristecida - Se for para ser, será. Acredita nisso, querida.
Dito isto, a Rainha afastou-se, deixando-a sozinha com os seus pensamentos.
Mal e Ben acenaram ao seu povo, os sorrisos perfeitos no rosto, os olhos brilhantes. A filha da Maléfica parecia cada dia mais à vontade com a sua nova posição de Rainha, deixando para trás a menina que um dia fora uma rebelde numa ilha perdida. Rhiara inspirou fundo, as mãos pousadas suavemente ao lado do seu corpo à medida que se preparava.
- Antes de mais, boa tarde, Auradon! - saudou Ben, a coroa na sua cabeça pousando nos seus cabelos como se fosse lá o seu lugar - Gostaríamos de agradecer-vos por celebrarem o nosso noivado connosco. - olhou para Mal, o sorriso intensificando-se ao vê-la - Tenho muito orgulho em ter-te como minha Rainha.
Os olhos castanhos de Ben desviaram-se lentamente dos de Mal, procurando o ponto onde uma rapariga de olhos esmeralda e cabelos acastanhados tremia, nervosa. O Rei de Auradon soltou uma risada, dirigindo-se ao seu povo com um último olhar cúmplice a Mal:
- Gostaria primeiro do que tudo dar-vos a conhecer uma das pessoas que mais nos ajudou nestes últimos dias. Ela viveu a vida escondida e protegida mas, tal como as borboletas, chegou a altura de sair do seu casulo. É com prazer que vos apresento a minha amiga, a princesa de Corona, filha de Rapunzel... - fez uma pausa, fitando-a - Rhiara!
Ao ouvir o seu nome, a princesa estremeceu, o pé direito torcendo-se levemente ao caminhar, tal era o nervosismo que sentia. Muitas pessoas. Rhiara nunca estivera rodeada de tanta gente. À medida que ela passava, os cidadãos sorriam, acenando para ela, recebendo-a com simpatia e curiosidade. Lentamente, avançou até parar perto de Evie, que batia palmas junto dos outros. Ao seu lado, Audrey saltitava num pé para o outro, entusiasmada. O Rei e Rainha de Corona também ali a esperavam, o piscar de olho do pai e o sorriso gracioso da mãe deixando a filha de Rapunzel mais tranquila.
Atrás de si, conseguia sentir o odor da maresia, ouvia o bater das ondas, o oceano chamava por ela, tão perto. Ansiava por navegar nele, por viajar imenso, por conhecer novas pessoas e novos reinos.
A sua vida estava prestes a começar.
Do outro lado do mar, a Ilha dos Perdidos erguia-se, solitária, cinzenta... Esquecida.
Perto de Rhiara, um empregado gentil estendeu-lhe um copo, os quais eram entregues a todas as pessoas. Na muralha, Ben erguia o seu, sorridente, enquanto Mal encarava o chão, pensativa.
- Ergam os copos... Para a nova Rainha de Auradon!
Todos se juntaram ao Rei, brindando à sua Rainha. Todos, exceto Rhiara. Os olhos esmeralda estreitaram-se, analisando o rosto de Mal, sério.
A sua intuição dizia-lhe que algo estava prestes a acontecer.
O seu coração bateu mais forte.
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