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Escuro, fervente, assustador; tanto o quarto, quanto os olhos castanho-escuros de Junmyeon partilhavam da mesma aura sensual. A porta estava fechada, junto aos vidros das janelas retangulares. Verões já eram severos, e com a falta da circulação de ar, pareciam estar em uma sauna. Suor escorria pelas costas de Yixing, desenhando seu calor na camisa social, molhada de transpiração.
A China estava em silêncio naquele momento. Não, o mundo inteiro. Todos os outros naquele clube desapareceram, e as paredes à prova de barulho bloqueavam o som da música lá fora. Yixing conseguia ouvir a batida do seu coração no fundo da garganta. Lembrete de que estava vivo; não sabia por quanto tempo. Mais alguns segundos de espera, e morreria de tesão.
Junmyeon relaxava em uma poltrona de couro preta contra a parede, batucando os dedos calmamente nos apoiadores. Sentia ânsia, mas sabia esperar. Queria circular Yixing como um animal oportunista, aproveitar para olha-lo o quanto fosse permitido. Queimar sua pele, enxergar seus órgãos, conta-los a dedo e marcar suas digitais por toda parte.
Transformaria o jovem com postura de rei em um mero adorador devoto. Com sorte, destruiria seu ego límpido e bem lustrado. Desde logo segurava o desejo de rasgá-lo em pedaços, entretanto, sempre foi paciente. Não era Yixing que o faria perder sua postura.
Pela primeira vez, a vontade ardente de encerrar seu jogo de espera o consumia como uma só faísca consome a floresta inteira. Isto o irritava para caralho. Estalou a língua contra o céu da boca, levando uma das mãos até o queixo, analisando Yixing à sua frente.
Ele parecia um filhote abandonado, esperando suas ordens, paciente. Estava intrigado, não conseguia deixar de encarar cada gesto de Junmyeon. A camisa social com os primeiros botões abertos e a gravata frouxa. Sua calça marcando cada curva do corpo cheinho, justa, e as pernas bem abertas: parecia estar implorando para que Yixing se acomodasse em seu colo. O levasse à loucura. E o secretário queria o mesmo, mas não sabia se teria permissão. Então, manteve-se estático.
Olhares repousavam um sobre o outro, analisando cada pedaço. Tentavam se acostumar com a realidade que os atingia naquele momento. Nem faziam ideia de quanto aguardaram. E agora, não sabiam o que fazer.
Yixing foi o primeiro a tomar uma decisão. Lentamente, abaixou o corpo sarado, e se ajoelhou em frente à Junmyeon. Estavam há cerca de um metro de distância. O repousar ardente e castanho como furacão seguiu cada movimento dele. Seus joelhos rasparam contra o piso e coraram.
Um leve vento chacoalhou a montanha.
Tal ousadia fez Junmyeon sorrir com genuinidade. Foi sincero poucas vezes em trinta anos. Esteve esperando por alguém como ele em toda a sua vida.
Yixing percebeu como o abalou. Engoliu o seco. Estendeu as mãos para a frente, como quem carregava algemas imaginárias. Junmyeon brilhava vermelho-sangue. Seus olhos reluziam mais intensamente que a lua, iluminavam todo o quarto. Um arrepio agitou suas pernas, quebrando por vez a postura rígida, então as cruzou.
"Senhor Kim. Venho ao teu reino." Yixing iniciou. O tom caminhava na tênue linha entre adoração e desejo. "Seja feita a tua vontade."
Junmyeon girou o chicote favorito em suas mãos, experiente, porém o toque dos seus dedos ainda parecia delicado. Talvez por conta das unhas bem cuidadas, ou da pele iluminada pela luz entrando pela janela. Pairava em sua poltrona como um deus acomoda-se no trono mais alto do Olimpo. Perfeitamente no nível de seu orgulho. Alisou as pernas com as cerdas de couro, um sorriso jamais abandonava o expressar macabro de satisfação.
Yixing o encarava no fundo dos olhos. Queria fazer sua necessidade algo físico, para que Junmyeon pudesse senti-la, tocá-la e satisfazê-la. Curvou a cabeça, em uma reverência respeitosa, encostando a testa no porcelanato suado. No fundo, rezou para que aquilo fosse suficiente para trazer satisfação a Junmyeon. Estava dando o seu melhor, por mais que fosse obstinado no seu dia-a-dia.
Mas Junmyeon queria mais. Queria uma coroa feita das suas entranhas.
Caminhou até ele, quieto. Apenas os passos ecoavam no lugar. A escuridão deixava os fios pretos encobrindo o pescoço de Yixing ainda mais escuros. Alguns poucos escorriam em seus ombros por conta da cabeça baixa.
Junmyeon parou em frente a ele, e estendeu apenas um pé em sua direção. A ponta do oxford polido tocou sua bochecha, fazendo Yixing olhar. E então, tremer quando ela acariciou os lábios.
"Lambe."
O comando claro foi imposto pelo general severo que Junmyeon se tornava na cama. Estava testando se Yixing era mesmo disposto a aquilo. Não ia perder seu tempo com jogos que não poderia ganhar. Ou era a satisfação completa, ou nada. O meio termo foi feito para imbecis.
Yixing engoliu o seco. Encarou os sapatos, e então Junmyeon. A incerteza pintou seu rosto em uma careta. Sentia-se humilhado. Recolheu as mãos. Seu corpo repuxou-se para trás quando sentiu a ponta enterrar-se ainda mais contra a bochecha magra, numa repetição silenciosa.
"Isto é muito..." Foi só o que conseguiu dizer. O olhar pesado de Junmyeon o intimou a prosseguir.
Num golpe forte, sentiu seu cabelo ser puxado com força para trás entre os dedos que antes admirava. Quase o levantou do chão apenas com a força em seu couro cabeludo. Yixing chiou de dor, mas qualquer reclamação foi interrompida quando Junmyeon se abaixou, colocando seus rostos um de frente para o outro.
Descontentamento distorcia a face adorável. Qualquer rastro de fofura não existia mais naquela perturbadora criatura que disfarçava-se como o humano comum no escritório. Um calafrio atravessou a espinha de Yixing. Tentou quebrar o contato visual, mas foi impedido por outro chacoalhar forçado de cabeça.
"Eu não gosto de putas fracas. Não preciso delas." Cuspiu as palavras, em um rosnado. "Você vai ser uma, Yixing? Vai sair correndo feito uma putinha fraca e assustada, hm?"
O provocava, ficando cada vez mais perto. Já encostavam narizes. O secretário conteve um gemido de dor quando o aperto piorou. Apoiou-se com as mãos no chão, buscando equilíbrio. Seu pescoço estava ereto para cima, fazendo a nuca repuxar. Não conseguia sequer respirar, porém fazia questão de gravar cada detalhe das íris de Junmyeon. Se conseguisse escrever o desejo que via ali, tatuaria esta violenta poesia por todo o seu corpo.
Apoiou uma mão na parte de trás da cabeça de Junmyeon com dificuldade, usando de sua superioridade em força para juntar suas bocas em um beijo irascível. Não era bom com palavras, então esperava que seu corpo pudesse transmitir por cada poro o quanto queria dizer "não, não serei fraco, vou aguentar cada e qualquer coisa que quiser fazer comigo, porque é você".
E Junmyeon claramente pedia o mesmo. Retribuiu de imediato, enfiando a língua fundo, mapeando o interior molhado e amolfadado que estava só começando a descobrir. Ainda tinha tanto para ver de Yixing. Queria sentir na boca cada pedaço. Mastigá-lo vivo. E se ele o permitisse aventurar tão fácil daquela forma, iria acabar viciado. As mentes viajavam entrelaçadas, trocando energias, multiplicando o fervor; eram opostamente iguais. Vermelho e verde. Amarelo e roxo. Dois lados de um mesmo espectro. Yixing puxava a língua de Junmyeon e a prendia como se quisesse que fosse sua. E, naquele momento, sentia que era.
O beijo se encerrou tão subitamente quanto começou, quando o chefe largou seu cabelo num salto e sujou seu ombro com o sapato, o forçando a permanecer no chão, enquanto erguia a postura perfeita. Yixing não conseguiu conter o riso debochado ao ver os lábios cheios e molhados de Junmyeon, levando um chute que o desequilibrou como resposta.
Sentiu as costas batendo contra o piso, amortecendo como pôde com os braços. Olhou para cima, recobrando a respiração pesada de sofrimento. Era melhor ser obediente, ou teria consequências.
"Você tá fora da porra da sua mente?" Yixing viu a voz aguda de Junmyeon se elevar pela primeira vez. Franziu o cenho em surpresa. A doçura transformou-se numa tempestade de trovões. E o chefe parecia inabalável no meio dela. "Vou precisar abrir a porra da sua cabeça e colocar seu cérebro no lugar?"
"Não, eu sinto muito. Me perdoe." Yixing prontamente respondeu, acalmando o furacão antes que saísse do controle. Rastejou até ele, começando a lamber seu sapato como havia pedido antes, esfregando a língua obedientemente por onde pôde.
Levantou o pé de Junmyeon com as mãos, e beijou a sola, enquanto não desviava o contato visual. As ameaças não eram infundadas. Yixing sentia que seria destruído aquela noite. Estava tão ansioso por isso que seu interior queimava em excitação, soltaria fogo apenas de soprar.
Junmyeon nunca ficaria contente de o dar apenas uma noite inesquecível; faria com que a vida toda tivesse a inútil esperança de algum dia ter uma melhor. Viveria a espera de que outro amante o fizesse sentir o mesmo. E morreria miserável.
Suas desculpas foram bem-vindas. Ordens seguidas de forma correta faziam de vadias incorrigíveis, bons garotos. Junmyeon voltou a se sentar, tirando de vez a gravata num gesto preciso e difícil de acompanhar. Dava para ver que era um gênio fazendo e desfazendo o nó. Mais uma mentira que Yixing havia caído feito estúpido. Mais daquele sentimento delicioso de enganação.
Ergueu os dois dedos, em um gesto para que Yixing levantasse. Assim o fez, pronto para o próximo comando. Poderia até mesmo se acostumar com isto. Mergulhar nisto.
Junmyeon pegou a taça de vinho, afogando-se no álcool para conter sua vontade de afogar-se no secretário. Uma gota sedenta escorreu por seu lábio, impedida de ir além pela língua que ligeiramente a limpou.
O nível de anseio crescia junto da temperatura. A grande cama redonda no canto do quarto parecia cada vez mais atraente para Yixing. Por um segundo, queria que fosse fácil. Que pudesse tomar e ser tomado. Domar e ser domado. Mas sabia que era o desespero tomando conta de seu corpo. Não havia aprendido a ser paciente como Junmyeon. Nunca precisou de tanto auto controle antes.
"Tire suas roupas." Junmyeon libertou-o da escravidão de sua mente divagante. Não havia negociação. "Agora mesmo."
E encheu seu copo novamente, se negando a tirar os olhos de Yixing. A falta de atenção espirrou lentamente o líquido vermelho intenso em sua calça. Iria manchar, mas quem se importava? Bastava um estalar de dedos para mandar fazer outro terno exatamente em suas medidas. Tudo que quisesse, teria naquele instante. A visão do corpo nu de Yixing não era exceção à regra.
Começou pelo paletó em corte italiano, escorregando por seus bíceps cheios, fazendo questão de mover-se lentamente para dar uma visão completa ao seu chefe. Linho cor de cáqui encontrou o chão. Livre do acinturado fora da medida certa, a cintura fina de Yixing era ainda mais divina. Um marcador perfeito entre a fria parte de cima e a perigosamente quente parte de baixo.
Junmyeon mordeu os lábios. O vislumbre entretido ordenava de forma silenciosa para que continuasse. Foi a vez da camisa social seguir o mesmo destino. Yixing levou seus dedos à gravata, fingindo ter dificuldade com ela. Trocaram um leve sopro de narizes, em sarcasmo. A arremessou contra seus pés, seguindo para os botões, que foram deslaçados um de cada vez do tecido macio.
Por fim, seu peitoral definido finalmente estava à vista do abutre sedento por sangue que encarava cada linha bem delimitada em seu tronco. Yixing escorregou a palma em seu peitoral, sentindo a pele macia como se não fosse mais sua. Não pertencia mais a ele. Mostrou-se para seu dono com a ponta dos dedos delineando o abdômen, então levou o toque gentil para a linha V cavada. Sua lentidão parecia cada vez mais torturante. A provocação atingiu seu pico quando baixou a mão até seu órgão íntimo, o dando um leve aperto, e encerrando a pequena exibição.
Junmyeon controlou um revirar de olhos. Encostando a cabeça na mão com o cotovelo no apoiador, aproveitou sua visão privilegiada. A barra da cueca de Yixing enfeitava seus quadris, parcialmente coberta pelo cós baixo da roupa. Coxas grossas chamaram sua atenção, fazendo ele demorar seu olhar. Por isso, decidiu castigar a si mesmo; precisava se manter na linha. Não podia balançar o rabo só por ver um garotinho sem roupa.
Ergueu um dedo, fazendo um gesto para que Yixing parasse. E então, largou a taça ao lado dos pés. Sob a luz da lua, o corpo escultural pálido estava cinza, poderia até mesmo ser uma escultura. Ausente de vermelhidão, porém repleto de pontos pretos para enfeitar a pele. A magnitude de Yixing motivava qualquer um a se tornar um pintor; precisava ser eternizada. De novo, e de novo, e de novo. Em qualquer ângulo. Teriam de inventar novas cores para retratar cada nuance corretamente.
Junmyeon só não estava no topo do mundo, porque não havia subido em Yixing ainda.
Um tapinha na coxa ecoou pelo quarto. Junmyeon o chamava, com um grande sorriso. A expressão gentil que usava como máscara no escritório voltou ao seu rosto. Sabia quanto o secretário estava louco por aquilo, quanto o excitava. Cada fantasia que tinha criado em sua mente retornava e virava realidade, apesar de que com uma leve troca de lugar. Era um presente. Difícil de acreditar que o chefe realmente ainda tinha algo gentil dentro dele.
Precisou de alguns segundos para que Yixing processasse o que lhe foi pedido. Susto manchou sua expressão quando o chicote voltou a dançar nos dedos de Junmyeon, em ameaça. Regras foram feitas para serem quebradas, todavia aquela era tão deliciosa, que não podia negar um ato de gentileza. Acomodou-se no colo quente do chefe, e sentia-se tocado sem nem mesmo dedos estarem em sua pele. Os olhos dele bastavam. Penetravam cada canto da figura esguia.
Aquelas coxas eram cheias o suficiente para parecerem o assento mais confortável que Yixing já sentou. O leve incômodo de seus ossos traseiros tornou-se irrelevante, como qualquer outra coisa no mundo senão os dois. A mão de Junmyeon repousou com carinho em suas pernas, as acariciando onde alcançava: do início do quadril, até pouco abaixo do joelho, num toque delicado. Lento de propósito, irresistível sem querer.
Se dessem três desejos para Yixing agora mesmo, ele escolheria parar o tempo, e nunca precisaria usar os outros dois. Nada mais era necessário.
Trocavam olhar com tanto desejo que podiam fingir que eram amantes de longa data. Junmyeon escorregou as cerdas pesadas do chicote pelo corpo robusto. Yixing se encolheu. Parecia especialmente adorável com medo.
"Diga-me sua palavra de segurança." Um vento soprou as palavras em direção ao ouvido de Yixing com delicadeza. O olhou, incisivo. Queria uma resposta honesta.
"Hm. Senhor Kim, você não parece o tipo de homem que, sabe, se importe com isso."
Junmyeon cerrou o cenho com a acidental ofensa.
"Todos precisam de uma palavra de segurança." Depois de um momento sério, ergueu a cabeça, encostando os lábios na orelha alheia, querendo fazer graça da situação. "Ou acha que pode aguentar qualquer coisa?"
"Não. Por favor, me deixe escolher uma palavra de segurança." Yixing retrucou imediatamente, afastando sua cabeça, nervoso.
O chefe riu, tampando os dentes com a mão na boca. Quando não estava sendo um demônio, era adorável. Seus olhos apertados contra as maçãs do rosto cheias formavam uma curva perfeita. No escuro da sala, não era mais possível ver suas bochechinhas coradas. Yixing se pegou pensando que era uma verdadeira pena.
Tomou o rosto de Junmyeon entre suas mãos, o forçando a olhá-lo, e encostando as testas suadas. Observava cada pedaço do homem divino. Mandíbula contraída em surpresa. Olhos redondos e vigilantes. Nariz arrebitado. Cílios cheios. E os lábios com os quais trocou um beijo passional atrativamente molhados.
"Doçura."
As sobrancelhas de Junmyeon uniram-se no meio, confuso.
"Oi?"
"Doçura. Esta é minha palavra de segurança."
"Ah. Por quê?"
Yixing o soltou. Alternava entre fita-lo e admirar sua boca, fazendo suas íris pretas pularem de um lado para o outro dentro do globo. Seu coração também pulava forte, talvez pudesse ser ouvido, mas que se foda. Era todo dele. Todo.
"Porque vou lembrar facilmente só de te olhar, doçura."
Junmyeon nunca ficou tão chateado por ter que castigar alguém. Um som de chicote estalou alto quando cerdas atingiram a coxa de Yixing com força. O grito de dor veio junto. Foi tão rápido, que surpreendeu os dois. Seu chefe agiu por nervosismo. Este limpou a garganta, recuperando a dominância. Chega de sorrisinhos e gracinhas.
"Escolha suas palavras com cuidado daqui para frente."
"Junmy..."
Outra chicotada, ainda mais intensa. Sons desesperados de um berro sendo cortado por mordiscar de lábios. E então, mais uma. Yixing nunca quis tanto avançar nele.
"Senhor Kim para você. E não prenda os gritos."
A carne debaixo das calças queimava intensamente. Lágrimas encheram seus olhos, impedidas de escorrer pelos polegares de Junmyeon. Yixing sentiu a dor preencher todo o lugar do ódio em sua mente. Ela tomava tudo para si. Resquícios de sanidade foram brutalmente arrancados junto com suspiros pela queimação das coxas, do fundo da garganta.
Não era como entrar numa briga. Ou apanhar de alguém. Ou bater em alguém. Ou se machucar. A dor ia muito além de só faiscar seus nervos, ela o extasiou. O fez salivar: escorria pelo queixo e pingava no emaranhado de tecidos de ternos juntos. Fez seus olhos virarem para trás, quase entrar no crânio. E fez seu pênis repuxar e babar, molhando de leve a cueca. Tava gostoso para caralho.
Para o seu azar ou sorte, Junmyeon percebeu. E riu dele, de escárnio, de choque. Sabia que era pervertido, mas não tinha dimensão de quanto. Faria questão de descobrir. Não poderia dormir a noite se não fizesse.
Seria afável o bastante para recompensar sua perversidade. Preparou o pulso para a próxima chicotada, erguendo no ar. E foi com tudo. Ricocheteou em seu peito, rasgou o tecido da calça em uma linha no impacto. O grito de Yixing se perdeu em algum lugar na garganta, então apenas pigarreou forte, tombando a cabeça para trás.
Doía como o inferno. Mas queria pedir mais. Mais. Mais. Outra. Queria implorar, nem sua respiração vinha. O oxigênio limpou seus pulmões como se fosse a primeira vez. Como se tivesse nascido de novo. E então, deixou novamente quando sentiu mais uma. Diferente de antes, o som proveniente de seu desespero foi audível e reverberou na brisa abafada.
Junmyeon agarrou a mandíbula de seu secretário entre os dedos. Cravou suas unhas curtas em formato amêndoa na pele com pelos começando a despontar. Virou seu rosto de um lado para o outro e analisou a vermelhidão que o corou. O branco e preto não eram os únicos itens da paleta de cores de Yixing agora. Estava grato por isto. Rubor lhe fazia bem. Se possível, queria memorizar suas expressões, e jamais esquecer. Seria o protagonista de seus sonhos.
"As regras são claras. Eu mando, você obedece. Se não aguenta, implore para sair, e talvez eu conceda. Me irrite, e não sairá daqui inteiro. Você entendeu bem?"
Yixing seguiu os olhos com os seus enquanto a mão guiava seu rosto para a esquerda e direita. Secou as lágrimas com punhos, e se preparou para responder. Mas não foi rápido o suficiente. Junmyeon o empurrou com tudo no chão, como se sentisse asco dele. Como um inseto. Era assim que tratava meninos desobedientes. Rejeição, nojo, os sentimentos mais dolorosos. Ameaçou chutá-lo, erguendo o sapato alto no ar, mas Yixing interveio.
"Sim, sim, eu entendi, senhor Kim." Comprimiu o semblante, e se virou, esperando mais violência. Mas ela não veio.
"Minha piedade tem limites. Assim como minha paciência." Junmyeon parecia entediado, irritado. Massageou suas têmporas com os dedos, cogitando as possibilidades. Como poderia corrigi-lo? Qualquer outro, e não teria o trabalho. Mas Yixing valia a pena. Após algum tempo de consideração, voltou a se levantar. "Ponha as mãos para trás."
O secretário foi rápido desta vez, unindo seus punhos. Estalou de leve os dedos, acompanhando o caminhar de Junmyeon pelo quarto. Até mesmo o som de seus passos era sossegado. Parou no fim, de pé para um armário de alvenaria que parecia projetado para a parede. A cobria quase que por inteiro. Uma moldura dourada enfeitava o branco do móvel em ondulações. O escuro do quarto não permitia ver o que tinha na gaveta que foi aberta.
Queria analisar mais, mas desviou sua atenção quando Junmyeon voltou a andar até ele. Permaneceu ajoelhado no chão, devoto e deplorável. Alguns cortes ardentes começavam a despontar onde foi atingido. Respirou entre os dentes, chiando com o desconforto. Seu órgão íntimo pulsava contra o linho justo demais. Era uma bela visão. Podia esperar quantas luas fossem necessárias para que Junmyeon retornasse, porém bastaram alguns segundos.
Ele se ajoelhou atrás de Yixing, puxando suas mãos pacientes. Deixou sua respiração quente ser sentida contra as costas nuas. O metal gelado das algemas encostou em seus pulsos descobertos, causando um arrepio. Fechadura trancada, e Yixing tentou sem sucesso separar as mãos, para ter certeza. Tentou olhar Junmyeon por cima dos ombros, mas foi impedido quando a boca alheia alcançou seu pescoço e começou a disferir beijos lentos. As mãos delicadas passaram a escorregar em seu abdômen.
Yixing olhou para frente, permitindo fazer o que quisesse. Tanta rendição era perigosa. Desde cedo, a tentação de tocá-lo cercava Junmyeon. O arranhava por trás, apertava seu peitoral, fazia suas marcas por toda parte. A respiração de Yixing movimentava os corpos colados para cima e para baixo, em sincronia.
Tremeliques de nervosismo e tesão o agitavam às vezes; o faziam bambear contra o toque experiente do chefe. Em ocasiões normais, odiaria parecer tão inocente. Havia sido tocado incontáveis vezes antes, mas aquilo era diferente. Como um beijo de fênix, ele o dominava só pela ponta dos dedos. Estes, que passeavam como cobras selvagens, tão rastejantes e famintas, rondando cada centímetro do seu tronco. Estalos de lábios molhados ecoavam em seu ouvido esquerdo com os beijos no pescoço, na nuca, no ombro. Mordidas com as pontinhas dos dentes e chupões possessivos eram cortesia do serviço de primeira que fazia em sua pele.
"Meu, meu. Você é todo meu." Parecia uma criança clamando posse do brinquedo favorito. Impedindo que os outros roubem de sua vigia, agarrando forte pelas articulações. Yixing era seu boneco de prazer. Aguardando para ser usado a hora que Junmyeon quisesse. "Diga isto para mim, sim?"
"Sou todo seu, senhor Kim." Soprou como podia. A fala lutou para deixar sua garganta. Ronronou como um gatinho com a pressão torturante que seu pênis fazia no tecido. Não via a hora de poder se satisfazer, esgotar cada gota do leite quente com o chefe.
Zíperes nunca foram um problema para Junmyeon. Desceu o da calça com cuidado, molhando a ponta dos dedos com o tesão escorrendo para fora da cueca. Yixing respondia com resmungos sôfregos e chacoalhar de algema. Homens vocais eram o tipo favorito do chefe. Quando ele deixaria de impressioná-lo?
Livrou-lhe de todas as suas roupas, com leveza. Tal perfeição exposta o fez suspirar. As veias rígidas começavam a despontar do início do umbigo até a cabeça do membro, vivas, arroxeadas. Junmyeon sentiu vontade de delineá-las com a língua, pintar com saliva cada pedaço dele. Arrastou as unhas por suas coxas, apertando forte no machucado que cortava em linhas onde havia sido acertado anteriormente. Dor excruciante despertou Yixing do transe de prazer, o fazendo empurrar por instinto Junmyeon para trás com o corpo, que desequilibrou-se.
Seus olhos arregalaram em choque. Virou imediatamente como pôde para contemplá-lo. Com os braços amortecendo a queda, seu chefe respondeu em um sorriso cruel. Tinha fodido tudo. Qualquer outro parceiro e teria o culpado. Chamado-o de idiota, afinal, o que ele esperava?
Mas só o que fez foi tremer. Desculpas silenciosas alcançaram a percepção aguçada de Junmyeon. Levantou-se e limpou as mãos uma na outra, afastando a leve poeira do chão. E então deu um tapa com tudo em Yixing. Seu rosto virou violentamente, quase levando o corpo junto. Marcas vermelhas dos dedos finos despontaram de imediato. Descontou toda a sua frustração naquele pequeno ato de violência. E Yixing aguentou em silêncio. Conteve lágrimas que apareceram em seus cílios, torceu o beiço. O decepcionou, e pagaria as consequências.
"Vadia estúpida." Junmyeon rosnou. Afastou-se para o armário de novo. A cabeça baixa de vergonha do secretário nem fez questão de seguir. Curiosidade não era sua preocupação agora. Aquelas tatuagens de dor dadas pelo seu dono o mantinham vivo. Desejoso. Morrendo de vontade de finalmente ser o bastante. De ser o melhor submisso do mundo. "Você não merece nenhuma gentileza."
"Não, senhor Kim. Não sou digno de sua benevolência. Sinto muito."
"Guarde sua voz. Desculpas são inúteis." Yixing engoliu o seco. Apenas chacoalhou a cabeça, para mostrar que entendeu. O metal queimava contra seus pulsos, já começando a incomodar; era bem pesado.
O calor que vinha da aproximação súbita de Junmyeon chamou sua atenção. E então, um tecido delicado, fina seda preta, cobriu seus olhos. Este era o de menos. Seu braço foi brutalmente puxado para cima, o forçando a levantar. Vento encobriu o corpo nu. Sentia-se exposto e frágil, jamais esteve naquela posição. Todas as guardas e grandes muros que construiu por proteção foram derrubados. Junmyeon o fazia abrir mão do orgulho e dignidade.
Não sabia quão longe conseguiria ir por ele. Talvez parasse na borda entre ser humano e bicho. Seus passos seguiam incertos, e agora cegos, mas continuava a andar. Porque aquela maldita mão delicada o guiava. A mesma que segurou o chicote, que o bateu e tocou cada centímetro do seu corpo. Faria de tudo para permanecer sob sua tutela. Seus lábios estavam entreabertos. O fôlego corria contra seus pulmões. Entretanto, não sentia mais medo, porque tinha aquela mão cruel.
Junmyeon não conteve um vislumbre demorado. Alisou a palmatória de madeira clara que segurava com a palma, buscando por farpas. Cuidava muito bem de seus brinquedos, então sabia que não teria nenhuma. Um sorriso de animação surgiu em seus lábios, quase infantil. Comprimiu as bochechas como sempre fazia. Sua satisfação estava a um passo.
Logo, seguiu para o próximo item que dispôs sobre a mesa. Abriu o tubo de lubrificante, que liberou uma forte fragrância extasiante no ar; inspirou fundo, aproveitando. Após despejar o bastante em seus dedos, provou um pouco com a ponta da língua. Era perfeito para seu bonequinho.
Então andou até ele. Yixing mexia-se minimamente, aguardando com paciência. Quando sentiu a mão de Junmyeon alcançar suas costas, sorriu. Por um segundo, pensou que havia o deixado ali, sozinho. O pensamento lhe assombrou. Não aguentaria mais viver sem seu dono. O seguiria para onde fosse. Não porque era obrigado, como antes, porém porque precisava da sua presença como precisava beber água. Talvez mais.
Yixing era mais alto. Mais forte. Possuía uma postura de príncipe de gelo, inabalável, frio. Seus olhos negros não transmitiam sentimento algum, eram vazios de vida como a tundra congelada no inverno. Por tudo isso, experimentava uma face nova de si que nunca imaginou ser possível. Execrável e derretido. Muralhas viravam água com a aura de calor que exalava de Junmyeon. Nevasca, lindos raios de sol.
E quando a mão o inclinou de leve para frente, apoiando-se na base de suas costas, soube exatamente o que ia acontecer a seguir. Estava esperando por isso. Óbvio que já tinha feito antes, todavia estava longe de ser sua posição favorita. Ser o passivo, para ele, significava abrir mão de seu controle, de escolher o ritmo da transa. Isto não podia engolir. Junmyeon talvez pensasse da mesma forma, ou talvez só quisesse tê-lo com o mesmo desespero que antes achou que queria.
Submissão de repente pareceu caber-lhe melhor.
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