Nina

Abro a porta e entro na recepção do consultório, olho a mesa de Luigi e minha cabeça dói só de ver o tanto dê conta que estava em cima dela.

ㅡ É gata a coisa está só piorando. ㅡ Luigi entra na recepção com um envelope vermelho em mãos. ㅡ É do proprietário.

Pego de sua mão mas não abro, já poderia imaginar o que seria.

ㅡ Luigi você é um grade amigo, mas eu não posso deixar você ficar aqui mais uma semana. ㅡ suspiro. ㅡ Já vai fazer meses que não te pago. O seu salário e o aluguel estão atrasados. Vamos cair na real, as contas só acumulam e eu não consigo fazer nada. Só é questão de tempo até o proprietário me expulsar...se é que já não me expulsou. ㅡ digo me referindo ao envelope em minha mão.

ㅡ Eu disse que iria ficar com você até o último dia aqui. ㅡ ele diz sorrindo. ㅡ Sabe, você tem pacientes que não vão aceitar sua falência.

ㅡ Eu sei, mas não posso fazer nada a respeito. ㅡ digo ㅡ Você tem que procurar outro emprego Luigi, eu ainda vou conseguir sobreviver com alguns pacientes que atenderei na suas residências.

ㅡ Não quero outro emprego. ㅡ ele resmunga.

ㅡ Não é hora de agir como uma criança. Prometo que vou conseguir dinheiro para reabrir o consultório, e se até lá você quiser seu emprego de volta...estarei de portas abertas. ㅡ ele sorri e me abraça.

ㅡ Claro que vou querer. ㅡ ele suspira. ㅡ Cancelei todas as consultas marcadas e indiquei aquele seu amigo psicólogo.

ㅡ Obrigada, você é um anjo. ㅡ digo e ele sorri malicioso.

ㅡ Só quando eu quero. ㅡ sorrio e ele beija minha testa. ㅡ Bom, já limpei minha mesa e deixei algumas caixas no seu escritório. Eu já vou indo. ㅡ assenti e ele me encara. ㅡ Depois eu te ligo okay?

ㅡ Tudo bem. ㅡ sorrio e ele sai.

Eu e Luigi já sabíamos o que tinha naquele envelope...uma intimação. Já estávamos esperando por isso. O local que mantinha meu consultório é alugado, mas de uns tempos para cá eu não consegui pagar e acabei atrasando vários meses, o proprietário me ligava todos os dias me cobrando e ontem ele me avisou que hoje seria o ultimo dia que ficaria aqui.

Começo a arrumar minhas coisas, pego o retrato que esta com uma foto minha e da minha mãe. Minha mãe ficará decepcionada quando descobrir que não tenho mais um consultório, ela deu duro para pagar minha faculdade, eu não poderia simplesmente pedir ajuda dela...ela já fez muito por mim.

Luigi Conti...não é apenas um funcionário, ele é um amigo maravilhoso, conheci ele logo depois que me mudei para Milão, quando quis abrir meu consultório ele quem me ajudou a procurar o imóvel, foi ele quem se ofereceu para ser meu secretário e é claro que eu aceitei de primeira. Ele é um cara bacana e muito lindo, se não fosse gay seria um namorado ideal com toda certeza do mundo.

Coloco meu notebook na bolsa e escuto um barulho na recepção. Vou até a porta e me encontro com um homem que aparentava ter meia idade, estava de terno e gravata. Ele olhava a bagunça que estava ao seu redor.

ㅡ Senhor o consultório está fechado, não estou recebendo novos pacientes no momento. ㅡ digo e então ele me olha.

ㅡ Fechado? Por quanto tempo? ㅡ encaro ele. ㅡ Creio que não tem previsão para reabri-lo não é?

ㅡ Quem é....ㅡ ele me corta.

ㅡ Suponho que seja a doutora Santori, sou Alessandro Vetale, seu amigo me disse que estava com alguns problemas. ㅡ ele diz olhando mais uma vez ao seu redor.

ㅡ Que amigo? ㅡ pergunto.

ㅡ Doutor Righton...Enreico Rigton. ㅡ ele diz casualmente.

ㅡ Não acredito que Luigi contou pra ele. ㅡ resmungo.

ㅡ Tenho uma proposta. ㅡ ele me encara. ㅡ Creio que seja uma ótima psicóloga, estou precisando muito de uma e você precisa de dinheiro para reabrir seu consultório.

ㅡ Que proposta? ㅡ pergunto quando ouço a palavra ''dinheiro'' preciso muito dele se quiser ter meu consultório de volta.

ㅡ Conhece a produtora CJO? ㅡ ele pergunta.

ㅡ A produtora de Jogos? Já ouvi falar. ㅡ digo.

ㅡ Ela está passando por algumas dificuldades e preciso de uma psicóloga para resolve-las. ㅡ ele diz e eu franzi a testa. ㅡ Você ficara na empresa até resolve-los e ganhara muito bem por isso. Aceita?

ㅡ Que tipo de problema? ㅡ pergunto.

ㅡ Conivência entre os funcionários, falta de criatividade e etc, posso te passar os detalhes por e-mail se aceitar. ㅡ resumindo em minha linguagem...é um problemão dos grandes. Seria uma grande oportunidade, tanto profissional quanto financeiro. Mas não sei se será uma boa idéia. ㅡ Não precisa dar a resposta agora, mas seria um prazer tê-la dentro da empresa. Enrico me falou muito bem de você, disse que é muito apaixonada pela sua profissão e sei também que trabalha apenas com casos individuais. Um caso grande como esse seria uma ótima experiência não é? ㅡ ele tira um cartão de seu bolso e diz. ㅡ Quando se decidir me ligue.

Pego o cartão e ele sai. Pego meu celular e tento ligar para Luigi varias vezes e ele não atende. Mando uma mensagem para Enrico.

''Por que falou de mim para o senhor Alessandro? Você poderia muito bem ter pegado este caso.''

Não espero resposta, pego minhas coisas e vou para meu apartamento minúsculo. Ligo para Luigi até ele atender, quando ele atende falo para vir até minha casa. Não demora muito e logo ele chega.

ㅡ Qual a urgência? Pensei que tava morrendo ou alguma coisa do tipo. ㅡ encaro ele.

ㅡ Você só indicou Enrico para meus pacientes ou você falou com ele sobre minha condição? ㅡ ele sorri.

ㅡ Não falei com ele. ㅡ ele diz e semi cerro os olhos.

ㅡ Não seja cínico Luigi, te conheço e sei quando está mentindo. ㅡ pressiono ele e o mesmo solta um suspiro.

ㅡ Tudo bem, vamos dizer que talvez eu tenha comentado...

ㅡ LUIGI..ㅡ grito e ele da um grito agudo. ㅡ Você não comentou, você contou tudo.

ㅡ Nina olha só, eu passei quase 20 paciente seu pra ele, acha mesmo que ele iria acreditar em qualquer coisa que eu falasse? ㅡ Luigi está certo, mas eu realmente queria que ele não soubesse.

ㅡ É você tem razão. ㅡ digo e suspiro.

ㅡ Qual é o problema? ㅡ Luigi me encara.

ㅡ Ele me indicou para um trabalho, e tenho certeza que foi por pena. ㅡ Luigi levanta uma sobrancelha.

ㅡ Eu duvido muito. Eu, ele e qualquer paciente seu sabe que é uma ótima psicologa. Mas que trabalho é esse? ㅡ ele pergunta.

ㅡ Na CJO. ㅡ digo mostrando o cartão de Alessandro e ele grita surpreso.

ㅡ Diz que você aceitou...

ㅡ Ainda não. ㅡ ele segura meus ombros.

ㅡ O que você está esperando então? Essa empresa é uma das maiores empresa de jogos garota. Você vai ganhar muito bem, então poderá reabrir seu consultório e eu terei meu emprego de volta. ㅡ ele diz afobado. ㅡ Sem falar nos benefício..

ㅡ Benefícios? ㅡ ele me olha e da um sorriso malicioso.

ㅡ Os boys magia que aquela empresa possui. ㅡ ele diz se abanando e eu rio.

Meu celular vibra e vejo que é uma mensagem de Enrico.

''Te conheço e sei que está pensando que te indiquei por causa da sua situação, mas não é Nina. Foi porque você é a única psicologa que mora em Milão que conheço....brincadeira. O real motivo é que você é perfeita para esse caso, eu te admiro muito e está na hora de você se admirar também. Encare esse emprego como uma experiência única. Espero que aceite. Sei que ira conseguir. Boa sorte.''

ㅡ E você ainda acha que ele te indicou por pena? ㅡ diz Luigi atrás de mim. Ele me devolve o cartão digito o número e encaro Luigi. ㅡ Vai em frente e ganhe bastante dinheiro para me sustentar.

Reviro o olho sorrindo. Coloco o celular no ouvido e começa a chamar, eu tenho a consciência que depois dessa ligação não só minha vida profissional, mas a minha vida pessoal...mudará, não sei se é pra melhor ou pior.

ㅡ Senhor Alessandro?...Se a proposta estiver de pé, eu aceito.